História de Iemanjá: sua origem, itans, nomes, como morreu e mais!
Quem é Iemanjá?
A Iemanjá é considerada o orixá mais famoso no Brasil sendo a única que tem feriados e festas em sua homenagem. Ela é reconhecida como a padroeira dos pescadores e rainha do mar, pois é capaz de decidir o destino deles a cada vez que se aventuram no mar.
O Brasil é um país enorme e tem uma costa litorânea gigantesca, portanto a pescaria é uma das atividades comerciais mais conhecidas das regiões. Assim, os pescadores sempre pedem a proteção de Iemanjá para que a pescaria possa ser bem sucedida e segura.
Os familiares dos pescadores também rezam para ela, para que possa interceder pelos seus entes queridos na pesca de cada dia. Nesse artigo, você verá tudo sobre Iemanjá - sua história, seus nomes, seus itans e muito mais. Confira!
A história de Iemanjá
Iemanjá possui inúmeras qualidades: ela é obstinada, protetora, apaixonada, fiel e dedicada. Possui um grande senso de hierarquia e é muito maternal. A seguir, você aprenderá mais sobre a mãe dos orixás e a rainha do mar. Acompanhe!
■Origem - A filha de Olokun
A história de Iemanjá chegou ao Brasil com a chegada dos escravizados africanos. Ela é uma orixá de uma religião do povo Egba, nativos da Nigéria, e seu nome significa "mãe cujos filhos são peixes".
Os Egba viviam próximos ao rio Yemanjá, na região sudoeste da Nigéria. No século XIX, havia muitas guerras entre os povos iorubas. Devido a isso, os Egba precisaram migrar, mas continuaram a homenagear e a cultuar Iemanjá, que, segundo eles, mudou-se e passou a viver no rio Ògùn.
■O casamento com Oduduá
Iemanjá, filha de Olokum, foi casada com Oduduá e, desta relação, teve dez filhos orixás. Por ter que amamentá-los, seus seios acabaram ficando enormes e Iemanjá sentia muita vergonha deles.
Assim, estava muito infeliz no seu casamento e resolveu sair da sua cidade e ir morar em Ifé. Em um dia qualquer, quando saiu em direção ao Oeste, sem nenhuma pretensão, ela esbarrou contra o rei Okerê e, logo, apaixonou-se.
26px; margin-bottom: 10px; margin-top: 20px; word-break: break-word;">■Iemanjá deixa Okerê
Orixá Iemanjá era muito envergonhada pelos seus seios e pediu para que o esposo Okerê nunca falasse mal dela. Por isso, ele concordou. Porém, um dia, ele ficou embriagado e começou a ofender Iemanjá, que ficou muito chateada e resolveu fugir.
Enquanto fugia, Iemanjá derrubou um pote que carregava consigo desde pequena. O pote continha uma poção, que se transformou em um rio que seguia em direção ao mar. Okerê não queria, de jeito nenhum, perder a esposa. Então, transformou-se em uma montanha, para barrar a passagem do rio.
Assim, para conseguir fugir, Iemanjá chamou seu filho, Xangô, que, assumindo um raio, partiu a montanha ao meio. Após isso, o rio pôde seguir livremente para o oceano e ela se tornou a rainha do mar.
■Iemanjá chora um rio
Infelizmente, Iemanjá teve vários problemas com seus filhos. Ossain, um dos seus, saiu de casa muito cedo e resolveu ir morar na mata para estudar vegetais. Ele fez uma poção e deu ao seu irmão, Oxossi, mas Iemanjá aconselhou que ele não bebesse. Ainda assim, ele não obedeceu a mãe.
Após tomar a poção, Oxossi foi viver com o irmão no mato. Depois que o efeito passou, ele quis voltar para a casa da mãe, mas esta estava tão indignada que o expulsou. Assim, Ogum a criticou por ter brigado com seu irmão, o que fez com que Iemanjá ficasse desesperada por estar em conflito com os três filhos.
Nessa versão da história, ela chorou tanto que acabou se derretendo e formou um rio, que seguiu direto para o mar.
■Orungã - Como Iemanjá morreu
De acordo com sua origem, um dos filhos de Iemanjá, Orungã, acabou se apaixonando pela própria mãe. Esperou um dia, quando seu pai não estava por perto, e tentou violentar Iemanjá, mas ela conseguiu escapar e saiu correndo o mais rápido que pôde.
Orungã acabou a alcançando, mas Iemanjá caiu no chão e acabou morrendo. No chão, o seu corpo começou a crescer muito e os seus seios acabaram se rompendo. Deles, saíram dois rios, que originaram os mares. Do seu ventre, saíram os Orixás responsáveis por governar dezesseis direções do planeta.
■Os nomes de Iemanjá
No Brasil, Iemanjá pode ser conhecida por diferentes nomes: sereia do mar, princesa do mar, rainha do mar, Dandalunda, Janaína, Inaé, Ísis, Mucunã, Maria, princesa de Aiocá e muitos outros.
Nas religiões cristãs, Iemanjá pode ser conhecida como Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Piedade, Virgem Maria, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora dos Navegantes.
Outros itans que contam a história de Iemanjá
Outros itans contam lendas e histórias de Iemanjá. Um deles afirma que ela era filha de Obatlá e Odudua, e que seu irmão era Aganju, com quem ela se casou. A seguir, você irá entender melhor as histórias da rainha do mar. Confira!
■Iemanjá e Exú
Uma lenda conta que, um dia, Oyá, Oxum e Iemanjá foram no mercado. Exu entrou no mercado também, mas estava carregando uma cabra. Com isso, ele se aproximou de Iemanjá, Oyá e Oxum e falou que tinha um compromisso com Orunmilá. Exu afirmou que sairia da cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios, mas disse que elas poderiam ficar com metade do valor.
Assim, elas separaram os dez búzios de Exu, Iemanjá contou os que sobraram. Mas, ao dividir por três e perceber que havia sobrado um de fora, elas começaram a brigar. Iemanjá queria ficar com o búzio, por ser a mais velha.
Por isso, as três discutiram por horas e não chegaram a nenhuma conclusão. Quando Exu voltou ao mercado e perguntou onde estava sua parte, elas deram para ele e pediram para que ele próprio dividisse os búzios delas. Assim, Exu deu três para cada e, para o último búzio, fez um buraco no chão, escondendo-o ali.
O orixá disse que o búzio seria para os antepassados. Assim, Iemanjá, Oyá e Oxum concordaram que Exu estava certo e, logo, aceitaram os búzios.
■Vergonha
Iemanjá possui um itan relacionado à vergonha. De acordo com ele, Euá era uma jovem e casta princesa, muito trabalhadora, graciosa, pura e silenciosa. Mas, um dia, ela conheceu um jovem guerreiro, que a engravidou, após seduzi-la. Euá decidiu esconder a gravidez de todo mundo.
Assim, ficou muito desesperada e, quando estava em trabalho de parto, fugiu para a floresta, pois não tinha ninguém em quem confiar. Lá, ela deu a luz a um filho homem, mas, sozinha na mata, desmaiou. O recém-nascido, então, foi pego por Iemanjá, que o levou para seu reino e lhe deu o nome de Xangô.
Euá, quando acordou e não viu seu filho, ficou desolada e se escondeu no cemitério, cobrindo o rosto para que ninguém pudesse reconhecê-la.
■Viagem premiada
15px; line-height: 24px; margin: 0px 0px 10px;">A orixá Iemanjá está relacionada à história da viagem premiada. Nela, Nanãmburuque fez uma viagem para África e, quando retornou, acabou dando a luz a um menino, que colocou o nome de Obaluaê.
Infelizmente, Obaluaê tinha lepra e, quando Nanãnburuque percebeu isso, não o quis mais e o abandonou. Assim, Iemanjá, que é irmã de Obaluaê, ficou com muita pena e resolveu cuidar dele. Criou Obaluaê e lhe deu o nome de pipoca com mel.
■Teimoso
De acordo com um de seus itans, Iemanjá foi avisada que não deveria deixar Odé, seu filho, ir na mata, pois ele se perderia e coisas terríveis aconteceriam. Logo, Iemanjá o avisou sobre isso, mas Odé, teimoso, não quis dar ouvidos.
Assim, Odé acabou se perdendo e foi recolhido por Ossaim, que se encantou por ele. Ossaim o vestiu com muitas penas e ensinou-o a usar arco e flecha. Iemanjá, dando falta de seu filho, foi procurá-lo com a ajuda de Ogum.
No entanto, Odé só foi encontrado após três anos e disse a Ogum que não queria retornar, pois estava apaixonado por Ossaim. Quando retornou, continuou utilizando o arco e a flecha.
■Segredos da noite
De acordo com um dos itans de Iemanjá, Orunmilá era um dos homens mais bonitos e charmosos, que tinha todas as mulheres, mas que não queria relacionamento com nenhuma. Ele era o detentor dos segredos da noite e precisava ser detido, pois não parava de enfeitiçar as pessoas.
Assim, Oxalá queria tirar essa maldade de Orunmila e ter os seus segredos, mas, para isso, precisava de uma mulher muito bonita que pudesse encantá-lo. Assim, Oxalá chamou Iemanjá para seduzir Orunmila e, juntos, fizeram um trato: ela faria o que ele quisesse, desde que, depois, pudesse voltar e reinar com ele.
Porém Iemanjá se apaixonou perdidamente por Orumnila e eles não conseguiram viver um longe do outro. Assim, ela tirou todos os feitiços e segredos dele e tiveram muito filhos Orixás.
■Revanche
Em uma das histórias de Iemanjá, quando Obá via seu reflexo, seja no espelho ou nas águas do rio, via a deformidade causada por Oxum e, por isso, decidiu se vingar. Logunedé era um menino bem travesso, que morava com sua avó, Iemanjá, e era filho de Oxum com Odé.
Iemanjá era sua mãe adotiva e cuidava muito bem dele, mas, um dia, ele conseguiu escapar dos seus olhos e foi passear pelo mundo. Andou bastante e se deparou com uma senhora com vestes de montaria, em cima de uma pedra no rio, e ela perguntou qual era o nome do menino.
Quando Logunedé respondeu, Obá, que era a senhora, ficou enlouquecido para realizar sua vingança e matar o filho de Oxum afogado. Assim, Obá convidou o menino para andar de cavalo marinho e o chamou para que entrasse no rio.
Mas, quando Logunedé estava se aproximando da pedra onde Obá estava, um furacão que o levou e o conduziu até a avó passou por ali. Assim, Obá explicou para a mãe que salvou o menino e pediu desculpas.
■Rapto
Oxalá (céu) e Oduduá (terra) tiveram dois filhos: Iemanjá e Aganjú. Assim, os filhos se relacionaram e, desta união, nasceu o Orungã.
O filho de Iemanjá, Orungã, apaixonou-se pela própria mãe e aproveitou da ausência do pai para raptar e violentar sua mãe. No entanto, Iemanjá, muito aflita e aterrorizada, conseguiu se soltar dos braços de Orungã e fugir.
■Menos favorecida
Olodumare mandou que Iemanjá fosse responsável pelos cuidados da casa de Oxalá - cuidado do trabalho doméstico e dos filhos. Assim, Iemanjá se sentia explorada e reclamava muito por ser a menos favorecida, já que todos os outros deuses recebiam oferendas e ela vivia na escravidão.
De tanto reclamar da situação, Oxalá acabou enlouquecendo com isso. O ori, que é a cabeça de Oxalá, não suportou todas as lamúrias de Iemanjá. Assim, Oxalá acabou ficando doente e Iemanjá, vendo o mal que fez ao marido, tentou curá-lo. Ela usou o ori (banha vegetal), esó (frutas), omitutu (água), obi (fruta nós-de-cola), eyelé-funfun e doces.
Iemanjá conseguiu curar o marido e ele, agradecido, foi até Olodumare, para pedir que deixasse Iemanjá ter o poder de cuidar das cabeças de todos. Por isso, até hoje, Iemanjá recebe oferendas e uma homenagem no dia do bori, que é um ritual propiciatório à cabeça.
■Chaurôs de Xapanã
Na história de Chaurôs, Xapanã (ou Obaluaiê) tinha lepra e as pessoas tinham medo e nojo de sua aparência. Por isso, ele sempre se escondia muito bem. Mas Iemanjá acabava tendo dificuldades para encontrá-lo e, assim, resolveu colocar nas suas roupas vários chaurôs.
Os chaurôs facilitavam a localização de Xapanã e, por isso, até hoje, quando se toca adejá e as crianças estão brincando, elas acabam simulando uma fuga.
■Enfeitiçado
Iemanjá sempre alertava Odé, seu filho, sobre os feitiços de Ossaim, seu irmão, mas, mesmo assim, este não lhe deu ouvidos e acabou sendo enfeitiçado. Assim, Odé acabou se afastando de toda a família enquanto estava sob o encanto de Ossaim.
Mas, quando o feitiço foi quebrado e ele voltou para casa, Iemanjá estava irritadíssima por Odé não ter ouvido os seus conselhos.
Assim, Odé acabou voltando para a floresta sob a influência de Ossaim, o que fez com que Ogun se revoltasse contra a própria mãe, Iemanjá. Odé acabou aprendendo todos os segredos da floresta com Ossaim e, hoje, ele defende as plantas e não deixa que quem não está preparado entre na mata.
■Cabeleira
Um das lendas de Iemanjá diz que Oxum tinha cabelo muito longos e Iemanjá roubou-os, enquanto Oxum estava ocupada. Logo, Oxum consultou seus búzios e viu que Iemanjá era a ladra, mas não conseguiu recuperá-lo.
Sem seus fios longos, Oxum acabou untando óleo, pano e tintura de índigo ao pouco cabelo que lhe restava e fez um coque. Assim, até hoje, quem a homenageia utiliza o cabelo desta forma.
■Coroação
No itan da coroação, Xangô queria tomar a coroa de Ogum. Para isso, deu-lhe um café com sonífero e foi para o local da cerimônia. Iemanjá mandou que as luzes fossem apagadas, para poder começar a cerimônia, e Xangô aproveitou a escuridão para cobrir-se com pele de ovelha e se sentar no trono.
A pele de ovelha era para que Iemanjá não visse que era Xangô. Assim, depois que Iemanjá colocou a coroa sobre a cabeça do filho, as luzes se acenderam e todos viram que era Xangô quem havia sido coroado. Mas já era tarde demais.
■Amor e ódio
10px;">Iemanjá teve muitos problemas em seus relacionamentos, e seu filho Xangô acabou herdando este azar no amor, sendo ele o responsável pelo fim de diversas relações.
Por exemplo, Xangô seduziu Oxum e a levou para o palácio do pai - outras lendas dizem que Xangô a tomou de Ogum e que eles tiveram uma relação de amantes. Assim, Ogum acabou se casando com Iansã, que também foi embora com Xangô.
Mas Oxum seduziu Iansã e a abandonou. Esta, depois, ficou com Odé, mas estes continuaram solitários na floresta. Da mesma forma, representando o amor e o ódio, Iemanjá se casou com Oxalá e o traiu com Orunmilá.
Como conhecer mais a história de Iemanjá?
Aqui, você pôde conhecer algumas das muitas lendas de Iemanjá, além de entender por que ela é tão venerada e adorada pelos brasileiros. Iemanjá não teve uma vida fácil: teve que fugir do próprio filho e ainda enfrentou muitos problemas com eles. Mas nunca deixou isso a abalar e, por isso, é considerada a rainha do mar.
Para se aproximar dela, você pode comemorar o dia de Iemanjá em fevereiro, entregando oferendas ao mar. Mas, caso esteja longe e ainda queira realizar uma homenagem e se conectar com ela, pode pegar um vaso de flor, encher ele de rosas brancas e oferecê-las a Iemanjá, pedindo proteção para todos os moradores da sua casa. Saiba que você não precisa estar perto do mar para se conectar com a mãe d'água!
Autor deste artigo
Bióloga, pesquisadora e apaixonada pelo universo das letras!