domingo, 4 de setembro de 2022

Paganismo Eslavo – Parte I

 

Paganismo Eslavo – Parte I


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“Enquanto na floresta, oh sim, no escuro
Acenderam fogo em ritual
Voz do chifre sagrado
Irmãos glorificaram os deuses”

-Arkona, ‘Goi, Rode, Goi!

Os eslavos são uma ramificação dos indo Europeus, presentes principalmente na Europa central e oriental. Após o século VI eles se dispersaram pelo leste e centro Europeu e pela Ásia central. Os povos eslavos possuem entre si características genéticas e culturais extremamente ligadas, o que resulta desde um sentimento de proximidade e laços fortes a uns até a hostilidade entre outros. Geograficamente são divididos entre ocidentais (sendo: tchecos, eslovacos, morávios, poloneses, silesianos e sórbios), orientais (sendo: bielorrussos, russos e ucranianos) e eslavos do sul (sendo:bosníacos, búlgaros, croatas, macedônios, montenegrinos, sérvios e eslovenos).

A palavra “Eslavo” deriva do “slovo” que significa “conversa, palavra”. Daí a ideia de que seria um povo que se entendesse, falasse a mesma língua, tivesse pontos em comum.
Atualmente os Eslavos são em uma maioria esmagadora católicos, o que fez suas crenças pagãs diminuírem bastante em presença . Por ser uma tradição passada oralmente,com poucos livros sobre o assunto, torna-se ainda mais desconhecida e o material disponibilizado na net é muito pouco detalhado e esparso. 
Mito da Gênese:

No começo do mundo
Não havia nem céu nem terra
Tudo era um mar azul
E na névoa do mar,uma árvore verde
E nos seus galhos,três pombas
Três pombas realizavam um conselho
Um conselho sobre como criar o mundo
“Vamos até o fundo do mar
Vamos juntar areia seca
Vamos espalhar areia seca
Para que se torne terra negra
Vamos buscar pedras douradas
Vamos espalhar pedras douradas
Para que tenhamos um céu brilhante
Um céu brilhante,um Sol radiante
Sol e Lua radiantes
Lua e Estrela da manhã
Estrela da manhã e pequenas estrelas

-Canção sobre a Criação

Segundo o mito da criação eslava, no inicio havia apenas Rod dentro de um ovo. Lada, o amor, nasceu logo em seguida e auxiliou Rod a quebrar a casca e deixar sua prisão. Então o deus se viu livre para criar os outros deuses e o fez a partir de seu próprio corpo. Ele arrancou seus olhos, boca, mãos… Até que todo seu corpo houvesse desaparecido (mas ainda assim ele se manteve presente) e deixasse o governo do mundo para Svarog.

No começo nada havia além do grande Oceano primordial. E Bielobog, vendo-se sozinho ansiou por companhia. Virando a sua volta reparou na sua sombra… E Chernobog nasceu. 
“Façamos a terra” disse Bielobog
“Façamos a terra” disse Chernobog. “Mas onde arrumaremos areia?”
“Há muita areia no fundo do mar. Vá buscar alguma para nós, mas antes de alcançá-la você deve dizer “Pelo meu poder e pelo de Bielbog!”
Então o deus negro desceu, mas ao invés de fazer como recomendado ele apenas falou “Pelo MEU poder” e por duas vezes mergulhou sem conseguir alcançar o fundo. Na terceira vez ele obedeceu e conseguiu alcançar a areia. 
style="box-sizing: inherit; color: black;">Com suas grandes unhas ele cavou e recolheu terra,mas escondeu em sua boca um grão,para que ele tivesse seu próprio domínio. 
Bielobog então pegou a areia e espalhou pelos quatro cantos. Logo a terra cresceu e secou. O grão na boca de Chernobog também secou, multiplicou-se e cresceu, fazendo o deus cuspir diversas vezes para livrar-se de toda quantidade. E onde ele cuspia nasciam altas montanhas.
Frustrado por não ter conseguido sua terra, Chernobog esperou que Bielobog dormisse. Então foi até ele e ergueu-o com o intuito de atira-lo no grande Oceano. Mas a terra havia crescido demais e Chernobog não via onde jogar o irmão. O dia clareou e Bielbog acordou. 
“Olhe como nossa terra cresceu! Deveríamos abençoa-la” disfarçou o deus da sombra.
“Eu já o fiz” respondeu o Branco. “Noite passada quando você me ergueu para atirar-me ao oceano eu a abençoei pelos quatro cantos.” 
Envergonhado, Chernobog recolheu-se para longe do irmão. 
Por sua vez, Bielbog preocupava-se com o tamanho que a terra adquiria. Ela crescia sem parar e o céu não conseguia cobrir mais toda terra. Ele mandou então mensageiros para inquirirem o irmão sobre como cessar o processo. 
Chernobog havia acabado de criar o bode. Ao verem o deus montado em tal criatura os mensageiros de seu irmão riram dele, que se sentindo ofendido, recusou-se a contar o que perguntaram. Bielbog então enviou uma abelha para espionar o irmão. 
Divagando sobre a ignorância de Bielbog, Chernobog confidenciou ao Bode “Que deus estúpido! Ele não sabe que deve colher uma baqueta e marcando os 4 cantos deve dizer ‘É terra o suficiente’ para cessar o crescimento?” 
O zumbido de excitação da abelha foi ouvido pelo deus das trevas que logo lançou a maldição “Que aquele que a enviou passe a a vida comendo de seu excremento!”

Voltando ao Branco a abelha contou em detalhes o que ouviu. E assim Bielbog o fez e a terra cessou de crescer. Ao contar-lhe da maldição ele riu-se e respondeu “Bom, então que não haja nenhum excremento mais doce que o seu!”

style="box-sizing: inherit; color: maroon;">A primeira Bruxa:

Logo após a criação da humanidade uma jovem foi a floresta colher cogumelos. Uma chuva forte a pegou de surpresa, mas sendo inteligente ela se abrigou sob uma árvore e removeu suas roupas, que guardou na cesta. Ao cessar da chuva ela estava ainda seca. O deus das florestas, Weles, surpreendeu-se com o feito e a questionou sobre qual mágika ela usava para manter-se seca na chuva. 
“Eu lhe ensino a não se molhar se você me ensinar o segredo da sua mágika também” ela lhe respondeu. Ludibriado pela beleza da jovem, Weles aceitou e a mostrou os segredos de sua magika. 
Quando ela contou que apenas havia guardado suas roupas no cesto ele ficou cheio de ódio, mas não podia culpar nada além de si mesmo. Então saiu entristecido enquanto a primeira bruxa surgia.

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‘Stribog by Andrey Shishkin’

Animais Totem:

Os Eslavos, bem como os indígenas, possuem a crença nos animais totem. Para eles o arquétipo de um animal era adotado por uma pessoa de acordo com suas semelhanças. Matar ou comer um animal sagrado ou seu próprio totem era evitado e visto com maus olhos. Havia também lendas sobre um “animal irmão” cuja ligação era tão intensa com a pessoa que se um morresse o outro iria logo em seguida. 
Os animais sagrados principais eram:

-Abelhas: por fornecerem mel eram associadas aos deuses benéficos. Havia inclusive esbaths especiais para elas.
-Pássaros: Um pássaro com duas cabeças é frequentemente símbolo de coisas importantes ou bandeira de países. Para os eslavos seu canto era voz de deuses. Ovos também era simbolismos de criação,a qual os próprios pássaros deveriam ter sido criados para auxiliar. 
-Urso: O animal mais sagrado. Simbolizando a força e a totalidade da Russia e dos povos eslavos. 
-Cavalos: Os guerreiros eslavos eram exímios cavaleiros. O animal era respeitado e cultuado em templos. Antes de batalha um cavalo que acreditava-se ser cavalgado pela deidade cultuada no templo era utilizado como oráculo. 
-Serpentes: Frequentemente símbolos da terra. Eram adoradas quando em forma meio-humana, mas também poderiam ser símbolos do fim do ciclo e destruição quando representadas por exemplo, aos pés da árvore da vida, entrelaçadas a suas raízes. Por influencia de gregos era também símbolo de cura e medicina.
-Aranhas: Símbolos do sol, tendo suas patas como raios do astro. Aranhas de ouro eram talismãs poderosos e acessórios muitas vezes vistos. 
-Lobos: Sempre enigmáticos e temidos. Eram ditos como criações de Chernobog por atacarem vilas. Os sacerdotes eram chamados Volkhvy, palavra originada de Vielk, ‘Lobo’ em eslavo. Em alguns locais dizia-se que todos os magos possuíam a habilidade de se transformarem em lobos.

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Crenças, Superstições e Afins: 

-O Círculo
Na Russia, Polônia e outros países eslavos praticantes de magia, o circulo mágico era usado não apenas como proteção para o magista, mas também como contenção para o Mal ou ameaças. Aprisionava-se num circulo para conter, sendo desta forma um símbolo de proteção por sí só e não necessariamente posto a volta da pessoa ou entidade. 

-Encruzilhadas
Encruzilhadas eram locais sagrados altamente respeitados e utilizados em evocações. Amuletos eram confeccionados ou dispensados nestes locais tão importante para os eslavos quanto para os africanos. 

-Cinturão Mágiko 
Um talismã poderoso. Um ritual poderoso para proteção.
Um cinto de couro era devidamente consagrado e preparado. Do lado de dentro era escrito uma oração para um dos deuses da Luz (ou não… Depende de quem está usando). No lado de fora eram dispostos inúmeros sigilos com o intento e símbolos da divindade, dispostos ao longo do cinto que era então enrolado na cintura do magista quando necessário. Quando não usado, era guardado devidamente.

-Nós 
A magia dos nós era muito utilizada como forma de “prender” um inimigo. Consagrava-se uma corda a um Deus negro e mentalizava-se o intento a cada nó que era dado pelo magista. A corda mais tarde era guardada e queimada após a concretização ou despachada na casa do alvo.

-Ladanki 
Amuletos feitos de um saquinho de pano ou couro contendo inscrições magikas, amuletos, ervas, pedras, etc. Eram usados no pescoço ou carregados no cinto, bolsas ou bolsos. Equivalentes as bolsas gris gris do Vodu. 

-Lechebnik 
Palavra para “Livro mágico”. Nenhum “czarwonica” (feiticeiro) valia algo sem o seu.

-Pysanky 
Ovos decorados com símbolos. Usados para rituais de fertilidade do solo ou de pessoas. 

-Spoiling

Era o termo utilizado para “maldição”. As formas de maldição mais usadas no Leste europeu, era achar a pegada de alguém na neve ou na lama e medir a pegada com uma corda ou barbante. A corda era então cortada na medida correta e depois queimada. 
Cavar a terra da pegada e enterrar esta terra perto da casa do alvo era uma forma de trazer a desgraça. 
As mais usadas eram cuspir diante da pessoa ou atirar terra no caminho que ela cruzava ao passar, enquanto mentalizava o intento.
Queimar uma vela negra enquanto visualiza o alvo era uma forma de ataque usada a distancia. 

-Szeptem 
Era a palavra para “sussurrar”. Sussurros eram formas de encantar objetos e mandar feitiços pelo vento.

-Portas
A soleira das portas era considerado um local mágico. Nunca era cruzada com o pé esquerdo. 
Palavras para proteção podem ser escritas nestes locais ou maldições também.
Pendurar amuletos de proteção sempre foi um hábito.

-Zagavory era a palavra para magika verbal. Os povos que a utilizavam gostavam de consagra-las ao vento, dizendo-as enquanto o vento soprava.

-Zawlanie é o nome dado a palavras de poder. Eram sigilos verbais criados pelo magista para focar suas energias. Diz-se que certas palavras devem ser pronunciadas durante o sono para se projetar ao mundo dos sonhos.

-Znak 
style="box-sizing: inherit;" />Eram os amuletos em geral. Aneis, bolsinhas, cordoes,etc.

A Deusa da Morte Evocada:
-Uma lenda Eslava dizia que para proteger sua vila de um surto de Cólera, a Deusa do Inverno e da Morte Morana foi invocada de uma maneira interessante.
As mulheres mais velhas escolhiam nove jovens  moças. Durante a noite, as velhas cercavam a vila em uma formação de círculo. As jovens nuas e de cabelos soltos portavam crânios de animais mortos e brandiam foices e outros objetos assustadores enquanto invocavam a deusa. O ritual era feito sem conhecimento de homem algum. Isso afastava os espíritos malignos. No entanto se algum homem testemunhasse o rito,era eliminado imediatamente.

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by Anna Pavleeva

 

A.C. 

Post escrito originalmente para o fórum ‘Via Sinistrae’ em 11/2011