domingo, 4 de setembro de 2022

Marzanna, Deusa do Frio

 

Marzanna, Deusa do Frio


Marzanna por Meggie M

Na mitologia eslava, Marzanna é a Deusa que representa o Frio e o Inverno. Ela possui vários nomes, mas todos seus epítetos são considerados malignos. Associada a roda da vida, a passagem do tempo e dos anos e assim representando o estágio final de velhice e morte dos homens. Ela é irmã de Zhiva (Verão) e Lada (Outono).

Ela possui também outros nomes, de acordo com a região. Mara (Ucrânia); Kyselica (Eslováquia); Marena (Rússia); Morena e Kikimora são algumas de suas variações de epítetos. Ela possui apenas um filho, Triglav, o Deus da Guerra, concebido numa relação com Chernobog, o Senhor das Trevas.

Sua aparência é extremamente variável. Se alguns a interpretam como sendo uma bruxa terrível, no estilo das representações concebidas pelo imaginário cristita medieval, de cabelos desgrenhados e sujos, de aparência velha e assustadora, outros a concebem como uma dama de branco, de cabelos loiros e pele clara e de uma beleza sobre humana. Essa variação de aparências denota como percebemos a função desta deusa. Se para alguns o frio do Inverno é estagnação torturante e ausência de comida que induz a morte, para outros o toque gélido de Marzanna não é senão uma carícia fresca em suas peles pálidas.

Em alguns países como Polônia, Rússia e Croácia o festival de Marzanna ocorre durante o inverno. Mas ao contrário de uma idolatria, a Deusa considerada maligna tem sua imagem feita de trapos e palha queimada ou atirada em lagos para se afogar e retornar ao submundo, carregando com ela o rigoroso inverno.

Alguns Epítetos…

A Esposa Traída: Alguns mitos dizem que nem sempre Marzanna foi maligna realmente. Ela era filha de Perun e deusa da primavera e das colheitas (por isso portando uma foice). Ela teria se apaixonado e se casado com seu irmão gêmeo, o deus Gerovit/Yarilo. Após uma traição ao casamento por parte de seu irmão, a enfurecida Marzanna teria decapitado seu irmão-esposo com a foice e abandonado seu cargo de senhora da primavera e das colheitas para assumir um lugar no submundo, chamado de Nawia.

Atormentadora de Homens: Sob esse epíteto, Moreana é a perseguidora de homens e mulheres. Ela caça pelas noites em forma de predadores e animais, tendo forte caráter vampírico por beber sangue humano. Narra uma história em que ela atormentou tanto um homem, que em meio a noite ele montou em seu cavalo branco e deixou sua própria casa para trás. Parando para dormir em uma estalagem longe de casa, ele se viu sendo sufocado por uma comprida trança de cabelos brancos. O dono da estalagem, ouvindo os sons da agonia do homem, pegou uma tesoura e cortou a trança, que voou pela janela a fora. Pela manhã, ambos acharam o cavalo branco caído morto no celeiro. O cavalo e a trança também eram manifestações de Moreana perseguindo a alma atormentada. A tesoura aberta mantida na janela ou oculta em algum ponto do quarto tem propriedades para evitar pesadelos e ataques astrais. Moreana também é descrita como o “peso sufocante de um pesadelo”.

Demônio da Cozinha: Sob este epíteto, Moreana era um demônio que habitava atrás das dispensas das cozinhas das casas. Se a cozinheira não orasse por proteção enquanto cozinhava, ela azedaria as comidas durante a madrugada. Comidas e bebidas azedavam e mofavam em sua presença.

Deusa Sazonal: No final de tudo, Marzanna ainda era uma Deusa da Estação do Inverno e sua existência era necessária, maligna ou não. Um de seus contos diz que um caçador se apaixonara por ela e foi preso em um espelho, num reino de inverno eterno, onde ela habitava quando não vinha causar o frio na terra. Outras histórias dizem que após matar seu marido adúltero ela se casou com Chernobog, o deus do submundo e das sombras e juntos governam o reino de Nawia/Nav, o local de habitação dos mortos, um abismo frio e congelante.

Moreana/ Marzanna em análise pode ser tida como análoga ao que Hékate representa para a magia. Ela é tida como maligna, mas é a senhora dos bruxos e bruxas, da Feitiçaria, tem sua conotação vampírica em algumas de suas formas e ocupa o trono de ‘senhora do abismo’ junto a seu consorte.

É um importante arquétipo, cujos mitos podem trazer mensagens relevantes e iniciáticas a nós.

Que seja lembrada e saudada a Senhora do Frio e nos cubra com suas bênçãos gélidas.

A.C.

Ba Nam I Aharman.