sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Energizando-se com o Ritual do Pilar Médio

 

Energizando-se com o Ritual do Pilar Médio

Desde o meu primeiríssimo texto n’O Zigurate, chamado “Dicas para uma prática diária”, quando ainda nem era O Zigurate, eu venho prometendo falar do Middle Pillar Ritual, ou Pilar Médio. No contexto, essa menção era como parte do meu roteiro diário para iniciantes, que consiste em banimento, energização, atos devocionais e meditação — e o Pilar Médio entra aí na parte da energização. Essa rotina de Ritual menor do Pentagrama + Pilar Médio deriva do programa da Golden Dawn, tal como era recomendado aos neófitos (sendo estes os únicos rituais que eles poderiam fazer), pois, se o RmP permite dar uma limpada na aura e no espaço, o Pilar Médio vai agir mais diretamente nos centros de energia do seu corpo sutil. A limpeza propiciada pelos dois rituais não é, de forma alguma, uma limpeza pesada, por isso nem pense que você pode fazer uma vez por semana e já está bom. Tem que fazer diariamente.

As instruções para se fazer o Pilar Médio são simples (o que é raro para algo saído da Golden Dawn), pois todo o ritual consiste apenas em visualizações e vibrar nomes divinos[1].

Estando já relaxado e respirando pausadamente, você começa visualizando um facho de luz brilhante que desce do centro do universo para o topo da sua cabeça, onde forma uma luz branca radiante. Damien Echols, em seu High Magick, dá as instruções de visualizá-la como uma esfera de cerca de 30 cm de diâmetro. Então você deve inspirar e expirar quatro vezes, sentindo a esfera tornando-se mais e mais brilhante. Depois, mantendo essa visualização, você vibra o nome divino EHYEH (ou EHEYEH) — a lógica dos nomes divinos já será explicada na sequência. Feito isso, você inspira e, ao expirar, visualiza que a luz desce num facho até a sua garganta. Você vai repetir o processo, agora vibrando o nome divino YHWH ELOHIM. O tetragrama pode ser soletrado, como yod-he-vav-he, mas há uma tradição entre os magistas também de pronunciá-lo como “Yehowah”[2]. De novo, a luz desce com a exalação, agora parando na boca do seu estômago (o chamado plexo solar). O nome divino a ser vibrado aqui é YHWH ELOAH VEDAATH. Mais uma vez a luz desce, agora até o púbis, onde você vai visualizar outra esfera de luz, vibrando o nome EL SHADAI. Por fim, ela desce até formar uma esfera abaixo dos seus pés, e você vibra o nome ADONAI HAARETZ. Para finalizar, Echols recomenda que você visualize a luz descendo até o centro da Terra, onde ela conecta você a uma imensa esfera de energia verde, o coração da Mãe Natureza.


Diagrama da Árvore da Vida cabalística na versão da Cabala hermética, por Frater Ponderator, na Wikipedia.

E é isso, esta é a versão mais simples do Pilar Médio. Para quem nunca fez, eu recomendo começar assim. Uma outra recomendação para iniciantes é repetir as vibrações dos nomes de 3 a 5 vezes, o que faz com que o ritual demore mais, mas é importante porque você precisa de muito trabalho ainda para começar a sutilizar o seu corpo energético (a não ser que você já tenha uma prática energética anterior). Com o tempo você pode reduzir o número de repetições até uma só, mas certamente não no seu primeiro ano fazendo esse ritual.

Depois de acostumado e já não precisando mais de uma cola para conferir os nomes divinos, você pode começar a trabalhar com cores (antes disso, convém visualizar as esferas todas com a cor branca). Nesse quesito, há duas possibilidades:

  • A versão do Echols segue as cores das sephiroth da Árvore da Vida da Cabala hermética: branco na coroa, cinza perolado na garganta, dourado no plexo, púrpura no púbis e preto sob os pés.
  • A versão mais clássica de Israel Regardie segue as cores dos elementos: branco na coroa (elemento do espírito), cor de lavanda na garganta (ar), vermelho no plexo (fogo), azul no púbis (água) e bordô sob os pés (terra).

Eu já falei da questão dos elementos num texto anterior, sobre magia elemental, e vamos tratar disso aqui também, mais adiante. Mas, antes, para pôr um fim a esta parte das instruções, temos ainda duas possibilidades de encerramento. Depois que você pega o jeito, convém concluir o ritual com a circulação da energia.

A primeira possibilidade é a chamada “chuva de luz”, em que você visualiza a luz abaixo dos seus pés subindo até a base da sua espinha e de lá disparando até o topo da sua cabeça, no ritmo da sua respiração. Lá, ela se espalha e desce como uma chuva, ou melhor, um chafariz, sobre todo o seu corpo. Então ela se acumula abaixo dos pés e você repete o processo umas quatro vezes. A segunda possibilidade é concentrar-se no topo da cabeça e então fazer a luz descer pelo seu lado esquerdo, passando pelo ombro, pelo lado do corpo até o pé, para subir então pelo lado direito até a coroa. Depois a luz desce pela frente, até o pé, e volta subindo por trás. Você repete o processo umas quatro vezes também e encerra com a luz subindo dos pés até a coroa em uma espiral. A terceira possibilidade, mais complexa e recomendável depois que você pega o hábito, é combinar as duas coisas, fazendo primeiro a chuva, depois a passagem pelos lados.

O Pilar Médio tem muitos benefícios, pois o uso dos nomes divinos e visualizações, como dito, permitem limpar e energizar os centros de energia… os famosos chakras. Se você se consultar com um curador prânico, que vai medir o grau de ativação e limpeza dos seus chakras, ele será capaz de perceber as alterações (e se você já foi paciente da Maíra, certamente ela já reparou e comentou quando você começou ou parou de realizar suas práticas). Sim, o Pilar Médio trabalha com apenas 5 centros energéticos, ao passo que a maioria dos ocidentais fala em 7 chakras, e a Cura Prânica trabalha com 11 (mais uma infinidade de minichakras), mas isso não é exatamente um problema. São apenas formas diferentes de mapear o corpo energético com mais ou menos detalhes. É certo que, para trabalhar com questões mais específicas, um maior grau de precisão é necessário[3], mas, para usos gerais, os cinco centros ativados pelo Pilar Médio já ajudam bastante. Além de aumentar a vitalidade e a disposição de uma maneira geral, essa prática realizada com constância ajuda a abrir a coroa (importante para práticas espirituais, independente da tradição) e a sutilizar o corpo energético, o que melhora a qualidade e a quantidade de energia que você é capaz de movimentar, facilitando também o desenvolvimento da clarividência e a preparação para viagem astral.

Agora vamos esmiuçar um pouco o ritual.

Os nomes divinos

De onde vêm os nomes divinos usados no Pilar Médio? Bem, como tudo na Golden Dawn, a resposta está na Árvore da Vida cabalística.

A resposta para a pergunta “o que é a Árvore da Vida?” preenche, fácil fácil, um livro inteiro, por isso eu vou ser criminosamente sucinto em tentar resumir o conceito. Na Cabala, entende-se que Deus, em toda Sua plenitude, chamado Ein Sof (Sem Fim) em seu momento anterior à Criação, não manifestado, está tão distante da Criação que não conseguimos sequer concebê-Lo. Por isso há graus que separam Deus de sua manifestação no mundo — Ele ainda permeia todas as coisas, mas é como se, a cada etapa, ele se tornasse mais diluído, até chegar no mundo material. Estas etapas são as 10 sephiroth (singular sephira, a palavra está ligada à raiz semítica para “contagem”), e o arranjo em que elas estão dispostas constitui a Árvore da Vida. Cada uma delas é uma etapa dessa manifestação, formando a base de toda a existência, mas também representa conceitos abstratos, geralmente na forma de pares de opostos como Sabedoria e Entendimento (Chokhmah e Binah) ou Misericórdia e Severidade (Chesed e Geburah). Até aí tudo bem, né?

Cada uma das 10 sephiroth tem uma série de coisas que lhes são associadas, e a lógica é que, invocando-se o poder da sephira, você consegue afetar essas coisas, por tabela. Para isso, recorre-se a técnicas como o uso de nomes divinos, fórmulas do Antigo Testamento, invocação de anjos, etc. E, sim, cada sephira tem um nome divino próprio que corresponde a um dos aspectos de Deus, apesar de que há diferenças entre quais são os nomes usados pela Cabala judaica e pela Cabala hermética. Daí que, por exemplo, se você quiser praticar magia de prosperidade no sistema da Golden Dawn, costuma-se recorrer ao planeta Júpiter, que se encaixa na sephirah de Chesed, regida pelo arcanjo Tzadikiel e correspondente ao nome divino EL. Todos estes elementos seriam incluídos num ritual desses.

O relevante, para o Pilar Médio, é que a forma da Árvore da Vida é antropomórfica, de modo que as sephiroth equivalem a partes do corpo. É daí, inclusive, que deriva o nome do ritual, pois: à direita, encontra-se o Pilar da Misericórdia, onde ficam as sephiroth que representam o lado mais bonzinho de Deus, à esquerda situa-se o Pilar da Severidade, onde fica seu lado mais terrível — e, no meio, as sephiroth que equilibram os dois, o Pilar Médio. Elas são Keter, Daath, Tiffereth, Yesod e Malkut e correspondem mais ou menos às partes do corpo onde visualizamos as esferas de luz neste ritual. E os nomes associados a essas sephiroth são, pelo menos no sistema da Golden Dawn[4], EHYEH, YHWH ELOHIM, YHWH ELOAH VEDAATH, SHADAI EL CHAI e ADONAI HAARETZ.

É possível trabalhar com as outras sephiroth também? Sim! E Regardie, inclusive, em seu The Art of True Healing (uma leitura que eu recomendo bastante para se entender melhor este ritual, para quem conseguir suportar o estilo meio chato do Regardie) fala das possibilidades de se utilizar as técnicas do Pilar Médio para isso. Nesse texto ele também explora as possibilidades deste ritual para cura, o que pode ser interessante para quem trabalha mais exclusivamente com o sistema da GD, mas há escolas mais especializadas em cura energética (ahem, não digo quais), e, na minha opinião, em matéria de resultados, vale mais a pena estudá-las do que investir no Pilar Médio para isso.


Ilustração do Pilar Médio feita por Damien Echols para o seu livro.

As cores

A partir da associação entre os centros energéticos do corpo e a Árvore da Vida dá para entender também a associação feita por Echols com as cores das esferas. No topo da cabeça, equivalente ao chakra da coroa (a tradução literal do nome Keter), temos um branco brilhante, que é a cor de Keter. A garganta puxa a cor de Chokhmah, porque Daath não tem uma cor específica (Daath é… uma sephirah complicada[5]); o plexo é dourado, pois Tiffereth corresponde ao Sol, ao passo que Yesod, no púbis, corresponde à Lua, que é púrpura no sistema da GD. As cores de Malkut são ou uma mistura de preto, bordô, oliva e citrino (equivalente aos quatro elementos) ou só preto mesmo.

Já a versão de Regardie demonstra uma preocupação com os elementos… e abre toda uma discussão sobre as configurações elementais do corpo.

Christopher Wallis (pesquisador, iniciado no Tantra Xaivista não dual e autor de O Tantra Iluminadotem um texto, que eu já citei outras vezes, sobre a disposição dos elementos na anatomia oculta do corpo, pois nos tabelões ocultistas e New Age que costumamos ver por aqui as pessoas tendem a associar certos chakras com certos elementos — Akasha, éter, espírito, quintessência nos superiores, ar no cardíaco, fogo no plexo, água no sexual e terra no básico. Esta é a sequência mais comum nas práticas orientais de nyasa, em que os elementos são “inseridos” nos chakras, por assim dizer, por meio de mantras e visualizações. Essa associação direta entre cada chakra e cada elemento acabou se cristalizando, diz Wallis, apenas porque é a sequência mais comum, mas não é a única distribuição possível. 

Como Wallis comenta, nada impede que você altere a sequência, de acordo com o seu entendimento, mas é claro que cada variação terá efeitos diferentes. Eu ainda não encontrei nenhuma fonte que diga, com todas as letras, que o Pilar Médio se baseia nas práticas de nyasa (o que é uma possibilidade, pois a Golden Dawn já tinha importado o trabalho com tattwas para o seu pathworking), mas é difícil não enxergar as equivalências, inclusive na distribuição dos elementos: a grande diferença é que o ar, no Pilar Médio, se situa na sephirah de Daath, na garganta, e não no coração… mas também não faz muita diferença, porque uma esfera de 30 cm de diâmetro no meio da garganta certamente pega o coração também por tabela (ou, então, como se vê em Regardie, ele é pego pela esfera de fogo no plexo). As correspondências aqui fazem sentido, porque a relação entre o elemento ar e a garganta e pulmões é evidente; a água se associa ao sexo por conta do simbolismo dos poderes de gestação, as águas primordiais, a água do ventre e o sêmen como água; e a terra se associa aos pés e ao chakra básico[6] por motivos também óbvios. Quanto ao centro do fogo, Regardie diz o seguinte: “A associação do fogo com este centro é particularmente adequada, pois o coração é notoriamente associado à natureza emocional, com o amor e os sentimentos mais elevados. Com que frequência não falamos de paixões ardentes, a chama do amor, e assim por diante?”

Embora essa atribuição faça muito sentido, eu não diria que ela é a primeira opção dentro da tradição do esoterismo ocidental (mais um motivo para se suspeitar de suas origens possivelmente importadas). Quem já estudou o Magia Prática, de Franz Bardon, deve ter reparado no exercício da lição do grau 4 que consiste em absorver os elementos via respiração pelos poros e concentrá-los em partes do corpo, segundo a disposição: cabeça=fogo; peito=ar; ventre=água; bacia e pernas = terra. Não é a mesma coisa, porque Bardon não está trabalhando com centros de energia, mas a ideia está aí. Apesar de Bardon ser posterior à Golden Dawn, ele não inventou essas técnicas sozinho e certamente se baseou em fontes prévias. Sua distribuição também começa da cabeça aos pés e segue a ordem do elemento mais sutil ao mais pesado. Há, pelo menos, duas escolas esotéricas prévias que estabelecem essa mesma ordem e que podem ter servido de inspiração.

Primeiramente temos a Cabala judaica. O tetragrama YHWH, quando disposto em forma humana, como se observa na obra de Charles Poncé, constitui a seguinte figura:


A primeira letra, yod, Y, corresponde ao elemento fogo, e forma uma cabeça. O peito e braços são a letra heh, H, correspondente ao elemento ar[7]. Vav, W, é o restante do tronco, elemento água. E o segundo heh são as pernas, terra. 

A outra escola é a geomancia. A ordem das figuras geomânticas também se orienta pela sequência que vai dos elementos mais sutis para os mais grosseiros, fogo-ar-água-terra, por isso, quando dispostos em forma humana, aplica-se a mesma configuração que a cabalística (isto, acredito, se dá como um desenvolvimento independente e não sugere necessariamente uma influência mútua entre as escolas hermético-geomântica e os cabalistas). Para as duas ou três pessoas por aí que se interessam em magia geomântica, isso possibilita uma prática energética alternativa ao Pilar Médio orientada por esse mesmo arranjo. Esse trabalho já foi explorado por Sam Block, e ele tem um post em seu blog onde ensina uma técnica que ele batizou de Via Elementorum, cuja função é igualmente a de energizar os centros do corpo sutil e manter o equilíbrio elemental.

Quais diferenças poderíamos observar entre o trabalho com os elementos segundo o Pilar Médio de Regardie (a versão nas cores do Echols, afinal, não trata dos elementos) e este outro arranjo mais clássico à tradição ocidental? Bem, eu convido as pessoas a experimentarem e testarem pessoalmente. Considerando que ar e terra mantêm-se nos mesmos lugares, a principal diferença se dá na aplicação de fogo na cabeça, perto do chakra ajna, e água no plexo. Pelo que eu entendo dos elementos e dos chakras, aplicar o elemento fogo no ajna em vez do plexo há de ter um efeito mais estimulante sobre os processos de pensamento, que são o domínio do ajna, ao passo que a água no plexo pode ter o efeito de acalmá-lo. O plexo solar é um chakra importantíssimo, pois está ligado ao nosso ego. Quando forte e saudável, a pessoa tem uma noção bastante sólida de identidade e sabe se impor no mundo, ao passo que ela se torna banana quando ele se vê debilitado. Acontece ainda que a irritação, a humilhação e a raiva são sentimentos ligados ao plexo, manifestando-se especialmente quanto mais sujo ele estiver… e, dada a situação da média mundial e o nosso estilo de vida contemporâneo, ele fica sempre sujo. Por isso, eu acredito que dar uma acalmada no plexo com o elemento água pode ser uma boa solução… contanto, pelo menos, que você não tenha já um plexo excessivamente fraco[8].

Mas espere, tem mais!

Jason Miller, em The Sorcerer’s Secrets, oferece mais uma variação sobre o Pilar Médio, uma prática que ele chama de “O Pilar e as Esferas”. Eu não vou descrevê-la em detalhes, mas o básico consiste em visualizar um pilar de energia na sua coluna, recitando as fórmulas descendat columba (desce a pomba) e ascendat serpens (ascende a serpente), depois visualizar esferas de luz no corpo entoando a fórmula IAO (diferente da versão de Regardie ou do Sam Block, Miller usa uma única fórmula em todos os pontos energéticos).

A distribuição de Miller também difere das que já vimos, pois ele trabalha com o elemento da quintessência na coroa, ar na garganta, água no coração, fogo no plexo e terra no períneo. Eu vou deixar vocês refletirem em casa sobre o sentido dessas variações todas.

Mais duas versões possíveis

Este texto está correndo o risco de virar aqueles do Polishop de “não é só isso, ligue agora e você receberá também inteiramente grátis…”, mas eu tenho um ímpeto de colecionar técnicas e aqui é o lugar certo para despejar tudo que eu sei de variações do Pilar Médio. Como eu sempre digo, eu gosto de oferecer várias opções às pessoas, a fim de evitar o famoso fenômeno de “este ritual tem coisa x que eu não curto, não vou fazer”.

Scott Stenwick, um grande magista que entende muito do sistema da Golden Dawn/Thelema e de magia enoquiana[9], também elaborou uma variação própria chamada NAZ OLPIRT (“Pilares de Luz”… e, não, eu também não sei como pronuncia, a pronúncia do enoquiano é um negócio doido). Nela, você entoa as fórmulas MADRIAX, IAD, EHNB, EXARP, BITOM, HCOMA, NANTA e CAOSGO com visualizações respectivamente acima da cabeça, no ajna, na garganta, no peito, no plexo solar, no umbigo no períneo e abaixo dos pés. Há mais alguns detalhes, gestos e tudo o mais envolvidos, mas o fundamental é isto, e ar, fogo, água e terra são inseridos na ordem de Regardie (as outras fórmulas não são ligadas aos elementos). Para quem quiser conferir, é só olhar no blog dele também. Se alguém estiver pegando pesado no trabalho enoquiano — e o respeitável Frater Goya, no momento, está ministrando um curso de magia enoquiana no Espaço Merkaba — , o NAZ OLPIRT me parece perfeito como exercício diário complementar.

Por fim, eu não poderia não falar da versão thelêmica do Pilar Médio, o Selo de Onze Partes (Elevenfold Seal). Como se sabe, Crowley foi treinado na ordem da Golden Dawn, mas, posteriormente, ao receber o Livro da Lei de Aiwaz, conceber a Thelema e anunciar a chegada do Éon de Hórus, ele reescreveu alguns rituais da ordem para aproveitar melhor a energia do novo Éon. Assim ele elaborou versões do Ritual menor do Pentagrama, na forma do Rubi-Estrela, do Ritual menor do Hexagrama, na forma do Safira-Estrela, e do Ritual Maior do Pentagrama, que é o Liber V vel Reguli. O Reguli, na verdade, é um pouco mais complexo, porque tem dois movimentos, chamados de “Juramento do Encantamento”, que é o Selo, e o “Encantamento” propriamente, onde o magista desenha os pentagramas no ar de fato. Apesar de ser parte do Reguli, o Selo pode ser usado separadamente, e em seus roteiros para rituais Scott costuma dizer que você pode ou fazer a sequência Ritual menor do Pentagrama, Ritual menor do Hexagrama e Pilar Médio ou Rubi-Estrela, Safira-Estrela e Selo de Onze Partes. Quem quiser ler sobre o ritual, incluindo seu passo a passo, pode consultar este link aqui.

O Selo de Onze Partes difere das outras técnicas vistas neste texto, porque 1) não tem associação com os elementos e 2) não depende de visualização de esferas de luz, mas sim usa certos gestos combinados com fórmulas thelêmicas. É evidente que esta é a versão do Pilar Médio mais indicada a thelemitas e aspirantes.

Temos, então, pelo menos cinco versões possíveis de uma mesma prática – isso sem contar o nyasa original, de que eu não tratei aqui porque não entendo o suficiente das práticas orientais para comentar. E John Michael Greer, no fórum do seu site ecosophia, ainda oferece uma versão para politeístas, com divindades pagãs e um template para cada um construir uma versão própria. Considerando o que vimos acima sobre as possibilidades de variar a distribuição dos elementos e havendo a liberdade de você poder elaborar a sua própria variação, se você souber o que está fazendo, as possibilidades são infinitas, e certamente cada praticante há de encontrar a versão que lhe sirva melhor (e eu mesmo tenho um ritual próprio). Porém, vale enfatizar que esse trabalho não é brincadeira. É importante ter um conhecimento profundo da anatomia energética, dos elementos e da tradição na qual você está se inserindo a fim de evitar cometer alguma bobagem. Se você não sabe o que está fazendo, é muito fácil causar um desequilíbrio energético sério, e aí precisar de alguém para te socorrer. Por isso eu recomendo começar com alguma dessas formas mais consagradas e depois ir experimentando aos poucos com possíveis variações.

Para quem tiver mais interesse sobre o Pilar Médio e rituais da Golden Dawn, temos um breve curso sobre o assunto aqui mesmo n’O Zigurate. Inscreva-se no nosso canal no Telegram, clicando aqui, e você ficará sabendo na hora que uma nova turma for anunciada.

***

[1] Por vibrar entende-se entoar esses nomes de modo que ressoe com todo o peito e não só pronunciá-los. É o modo típico de lidar com fórmulas divinas nos rituais da Golden Dawn.

[2] Eu prefiro soletrar, porque evita a blasfêmia judaica de pronunciar o tetragrama e porque Yehowah ou Jeová é uma vocalização meio espúria, concebida, se não me engano, por jesuítas.

[3] O protocolo da Cura Prânica, por exemplo, para trabalhar com alergias, envolve limpar e energizar, com um tipo de prana especial, o chakra básico e todos os chakras menores que são subordinados a ele, incluindo os das duas mãos, dos braços, cotovelos, pernas, axilas, joelhos e pés. Problemas específicos exigem soluções específicas, e eu confesso que esse grau de detalhe foi uma das coisas que fez com que esta escola me ganhasse.

[4] A Cabala judaica, como se vê na obra de Aryeh Kaplan, trabalha com nomes levemente diferentes para cada sephirah. Os cabalistas judeus também não pronunciam o tetragrama e o substituem por Elohim ou Adonai.

[5] Os cabalistas judeus são enfáticos com o fato de que há 10 sephiroth e não 11, por isso Daath só é contada se não contar Keter. Na Cabala judaica, Daath une em si todas as sephiroth, mas na Cabala hermética ela representa o abismo que o magista deve atravessar em seu processo de ascensão. É um dos pontos em que as duas tradições mais divergem.

[6] O chakra básico se situa na base da coluna, mas há também chakras menores nos pés que são subordinados ao básico.

[7] De novo, a Cabala hermética diverge da judaica aqui ao atribuir heh ao elemento água e vav ao ar.

[8] Quem vai saber avaliar se o seu plexo solar é forte ou não, é claro, é um curador prânico ou outro terapeuta energético com um treinamento semelhante, mas você pode ter uma ideia com base nos sintomas. Sinais de um plexo fraco incluem 1) exibir uma falta de coragem que leva a uma tolerância apática por situações ruins (incluindo trabalho e relacionamento) e costuma gerar ressentimento e desejos frustrados e 2) não conseguir se impor, e as pessoas passarem por cima de você com frequência. É basicamente o estado inicial de uma grande parte de protagonistas de filme americano do final dos anos 90 e começo de 2000, tipo Beleza Americana, Clube da Luta, Endiabrado, etc.

[9] Para quem não sabe do que se trata, é um sistema de magia cerimonial baseado no material recebido pelo mago elisabetano John Dee e seu vidente Edward Kelley. Ele envolve o contato e diálogo com os chamados “anjos enoquianos” e o uso de um idioma que seria supostamente o idioma usado por eles, cujo poder místico, dizem, é ainda superior ao do hebraico.