quinta-feira, 2 de junho de 2022

DUINE é uma palavra em gaélico irlandês (uma língua céltica) e significa “companheiro, um igual”.

 DUINE é uma palavra em gaélico irlandês (uma língua céltica) e significa “companheiro, um igual”.


Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas, céu, crepúsculo e textoDuine

DUINE é uma palavra em gaélico irlandês (uma língua céltica) e significa “companheiro, um igual”. São o corpo de praticantes que compõem as esferas públicas e comunitárias de nossas práticas. Formado por aquelas pessoas que estão iniciando seu caminho ou que não buscam votos e iniciações, possuem uma aderência e comprometimento flexíveis, dadas suas características. Assumem os compromissos conforme aparecerem e se envolvem em atividades à medida que a comunidade se organiza em eventos, celebrações ou ritualísticas. Não é um caminho iniciático embora seja repleto de aprendizados, ser Duine não é um cargo ou Iniciação e sim um modo de viver, o Politeísmo céltico não se ocupa somente das esferas religiosas, lembre-se disso, pois há condutas morais a seguir. Todo caminho religioso exige dedicação e entrega em termos de estudo, envolvimento comunitário e práticas espirituais, sejam de cunho doméstico ou comunitário. Quando alguém decide por seguir uma religião, como a Umbanda, por exemplo, será orientado em que direção ir, quais obrigações tomar e quais suas competências enquanto praticante desta fé. Não é diferente com o Politeísmo céltico, embora algumas relações possam soar e até mesmo ser difusas. Assim como em todo território nacional existem micro práticas exclusivas de uma casa de Umbanda, ou linha, que pode chegar inclusive a interpretações muito diferentes de temas centrais, vemos isso também em nosso cenário. Diferente da Umbanda onde o número de praticantes e centros é imenso, permeando a cultura popular brasileira, nossa fé segue sendo restrita em termos de adesão, muito culpa de sua elitização na Europa mas principalmente porque estamos em pleno processo de construção onde cada pessoa precisa tomar para si uma gama de responsabilidades que já não existem mais em religiões estabelecidas. A construção do futuro de nossa religião depende de cada pessoa envolvida nela já que o proselitismo não faz parte de nossas obrigações, inclusive evitamos. No Brasil existem muitas práticas do chamado Druidismo tão diferentes entre si e tantas vezes completamente desalinhadas com qualquer ancestralidade céltica que é impossível definir com clareza e objetividade o que é ou no que se acredita. Somente após isso ser feito e mantendo uma comunidade estabelecida começam a surgir novos fiéis. O que temos é uma evasão de pessoas após um período de poucos anos para outros caminhos ou para uma perigosa mescla entre tradições que se contradizem. Fazemos um trabalho duro e diário em traduções, criação de manuais e estabelecimento de trabalhos públicos para conseguirmos colocar nossa fé em uma posição na sociedade que seja minimamente funcional. Temos ferramentas como vídeos, blogs, sites e até mesmo este livro que tens nas mãos, isso tudo é o trabalho pioneiro que ficará na história do estabelecimento do Politeísmo Céltico no Brasil. Alguns anos atrás somente pessoas bilíngues e com alguma estabilidade financeira tinham acesso às práticas de nossa fé, o que sem nenhuma sombra de dúvida somente causou danos e vai totalmente de encontro com a própria estrutura céltica de acesso ao saber. Graças ao trabalho de pessoas fortes e obstinadas é que posso dizer que qualquer pessoa com interesse verdadeiro e que sinta seu coração se aquecer com nossas crenças poderá se juntar a nós e compor parte de nossa belíssima comunidade, que, diga-se de passagem, só cresce - e de forma muito saudável. Crianças podem ser ensinadas, adolescentes podem ser ajudados e adultos podem encontrar conforto e luz conosco, desde que seja algo que queiram para sua vida poderão fazê-lo.

O que faço para começar ?

Primeiramente precisa saber do que se trata e sentir algo acender dentro de você. Sentimentos como “retorno ao lar”, “sentir-se em casa” são comumente relatados por pessoas antigas no caminho – elas sentiram-se inclinadas a seguir adiante e fazer sua história conosco. Vou ensinar algumas práticas neste livro que poderão definir você como uma pessoa Duine iniciando assim seu caminho. Estamos em um país continental onde as distâncias nem sempre permitem que estejamos juntos em uma congregação- não ainda - fazendo o caminho muitas vezes ser fisicamente solitário, mas virtualmente comunitário. Em toda sociedade há papéis e locais diferentes para vivermos e sermos felizes com isso. O que seria de nós sem médicas e garçons? Sem enfermeiras ou artistas? Para que nosso mundo funcione cada um precisa assumir seu papel e vivê-lo, crescer com ele. Não importa onde ou como, você é importante para nós com aquilo que sabe fazer de melhor pois todos os papéis são únicos e extremamente importantes para o movimento da vida. Se gosta de ler ou traduzir material pode vir a ensinar os outros ou ainda se for uma das pessoas que gostam de ervas poderá desenvolver um trabalho neste sentido, pode simplesmente querer fazer os pães para as celebrações da comunidade – não importa o que, seu trabalho importará! Um bom Duine é aquela pessoa que se compromete, realiza atividades, sugere e atua em melhorias na comunidade. Ainda que seja em uma frequência que possa pensar ser insatisfatória, acredite, qualquer ação tem um grande impacto para nós.

Os pilares Duine

A vivência Duine está ancorada numa tríade muito poderosa e significativa. Tríades são fórmulas célticas de compartilhar conhecimentos e saberes e a dos Daoine é: “Um bom Duine tem que querer, trabalhar para integrar e atuar diariamente.” - Querer se trata da ação da vontade, de estar disposta. Não adiantam de nada os impulsos da vontade se não são levados à ação através de atitudes. O querer vem mostrando a necessidade de participar e ser proativa. Todos temos vontades mil, mas quais delas de fato são nossas querências? Quais delas irão de fato se concretizar diante de nós através de nossa ação? - Integrar diz respeito àquilo que está completo, que não está tocado, vindo do latim “integrum” que também designou o vocábulo “íntegro” e “integridade”. Nesse sentido fala de ser inteira e completa frente a comunidade, é manter-se pertencente. Integrar também nos remete ao ato de agregar ações, movimento este que somente virá se formos integrantes de corpo e alma daquilo que nos propomos. - Atuar vem do latim “agere” significando “fazer, colocar em movimento, estimular, realizar”. Quando um ator sobe ao palco ele está se colocando em movimento e dando vida a uma personagem, e através dela contará uma ou mais histórias. Quando queremos e nos tornamos integrados é natural que a atuação individual apareça e através do exemplo se coletivize. Isso significa que quando assumimos o papel de protagonismo frente ao todo vamos atuar diretamente com nossas ações e isso fomentará nos outros um impulso vívido de também querer, de integrar-se e atuar criando uma corrente que nunca se quebrará. Asarlaí Podemos traduzir Asarlaí[5] como uma feiticeira ou feiticeiro, alguém que passou por um treinamento formal em nossa congregação, que recebeu iniciações e que atua magicamente em sua vida e na sua família. Uma pessoa Asarlaí não atende a comunidade, não faz feitiços para terceiros e toda sua prática é voltada para si própria e outras pessoas com as quais tenha laços familiares, possuindo certa autonomia nesses assuntos mas que ainda precisa de orientação de um Dalta[6] ou de um Naofa. Daltaí Aqui temos uma pessoa que está em formação para se tornar sacerdotisa. É uma posição temporária e que serve como espaço de estudo, aperfeiçoamento e entendimento dos trabalhos que envolvam a comunidade toda, rompendo a bolha da atenção individual e familiar. Seria o equivalente ao “iniciado” de outras muitas tradições pagãs. Naofa São as pessoas formadas como sacerdotes e sacerdotisas da religião céltica e que servem à comunidade, prestam serviços religiosos, realizam ritos públicos, ritos de passagem e que fazem a manutenção de nossa Tradição.

Pesquisado e editado por Negah San oz