SACRIFÍCIO DE ANIMAIS NA UMBANDA
SACRIFÍCIO DE ANIMAIS NA UMBANDA
Por questão de necessidade quase que premente, e até porque hoje, 15 DE NOVEMBRO DE 2010, comemora-se oficialmente 102 anos de UMBANDA NO BRASIL, estou interrompendo a seqüência de postagens de estudos sobre Orixás Cósmicos e a aplicação desses conceitos na compreensão de alguns fenômenos mediúnicos para, mais uma vez (destas que a gente pensa não serem mais necessárias) elucidar um assunto que parece até hoje não ter sido compreendido por uma boa parte dos que se dizem umbandistas, mormente por aquela ala de africanistas (eu diria, mais acertadamente, pseudo-africanistas) que ainda insiste, embasada numa entrevista dada por Dona Zilméia a uma dupla de "repórteres umbandistas" há alguns anos atrás, que a palavra SACRIFÍCIO, que teria sido usada por ela para descrever o ritual que era pedido por Orixá Malê deveria fazer entender, por extensão de compreensão, que na Umbanda Original ou mesmo em qualquer Umbanda existisse essa ritualização - SACRIFÍCIO DE ANIMAIS!
Por que eu coloquei entre parênteses PSEUDO-AFRICANISTAS?
Porque, logo de cara, qualquer VERDADEIRO AFRICANISTA, qualquer conhecedor dos rituais de imolação nos Cultos Africanos (de onde eles também insistem que nasceu a "Umbanda"), tanto os realizados no intuito de Iniciações, quanto os de "troca de favores" (generalizando) perceberia que a ritualização descrita logo à seguir, segundo a tal revista, não têm absolutamente NADA a ver com IMOLAÇÕES ou SACRIFÍCIOS.
Qualquer um que diga que o exposto à seguir se trata de um Sacrifíco Ritual, de uma Imolação, só pode, ou estar de brincadeira, ou ser um beócio em termos de práticas ritualísticas africanas.
Desde quando ABATER um porco fora do Terreiro pode ser considerado um ritual de IMOLAÇÃO (sacrifício ritual)?
Desde quando ofertar um Sarapatel pode ser considerado um ritual de imolação (sacrifício ritual)?
Já pensaram agora se os VERDADEIROS ARICANISTAS (Babás, Dotés, Donés, Yalorixás, etc) resolverem fazer suas Iniciações desta forma? Mandando abater os 4 patas lá fora, com o ato realizado pelo dono do abatedouro ou outro qualquer que não um iniciado preparado para o ritual?
Já pensaram naquele "Exu" pedindo a menga e mandando abater o bichinho no açougue? É pra rir ou pra chorar?
E o pior de tudo isto é que os que afirmam que o que Dona Zilméia descreveu à seguir era realmente uma imolação, ainda se acham no direito de se dizerem "os defensores das tradições africanas dentro das Umbandas". Nem percebem que ao defenderem tal tese, além de demonstrarem que NÃO CONHECEM UMBANDA, ainda estão RIDICULARIZANDO A RITUALÍSTICA AFRICANA, tanto para iniciações, quanto para outro qualquer fim e desta forma, também nada conhecem do que dizem estarem "defendendo".
Suas ânsias em quererem ver CABELOS NASCENDO EM CASCAS DE OVOS e IMOLAÇÃO NA UMBANDA é tão intensa que nem se dão conta do despropósito de suas afirmativas.
Mas ... qual será, em verdade, a intenção de verem SACRIFÍCIO RITUAL onde nunca existiu, principalmente apoiando-se num claro tropeço linguístico de uma senhora de mais de 90 anos já naquela ocasião (sacrifício, se havia, era dos médiuns que ficavam em vigília das oferendas)?
A resposta é simples: "Se conseguirmos provar que Zilméia fazia Sacrifício de porco pra Ogum (como nos parece na tal revista), estaremos tranquilos para podermos afirmar que em Umbanda sempre houve sacrifícios e, melhor ainda, que quando sacrificamos galinhas, galos, bodes, cabras, etc, ESTAMOS FAZENDO UMBANDA".
Pobres cegos guias de mais cegos ainda!!!
A começar pelo animal escolhido (porco pra Ogum) e adentrando pelo ritual descrito por ela logo após, só vê imolação quem ainda acha que 2+2=16, 24, 32 ... etc.
Ao analisarmos esses comportamentos, o sentimento que nos causa é de pelo menos pena.
- Pena por tanto desconhecimento;
- Pena por tantas ilações sem fundamentos;
- Pena pelas distorções que acabam causando nas mentes de outros, principalmente os que estão conhecendo (ou tentando conhecer) UMBANDA agora, e também sobre como se procede um ritual de imolação nos Cultos aos Orixás Africanos, seus preparativos de antes e depois, bem assim como seus objetivos em cada situação;
- E mais pena ainda pelo EMPORCALHAMENTO (foi proposítal sim!) a que reduzem as tradições africanas que dizem defender.
Sobre este tal sacrifício, que seria então de porco pra Ogum como querem fazer crer aos inexperientes (já está bisonho por aí, porque porco não se dá pra Ogum em qualquer tipo de Culto de Nação e muito menos em Umbanda), teríamos que analisar os seguintes parâmetros:
1- Os repórteres nada conheciam sobre Sacrifícios de animais e reproduziram, simplesmente e sem qualquer maldade, o TROPEÇO LINGÜÍSTICO de Dona Zilméia (o que pode acontecer com qualquer um);
2- Os "repórteres" sabiam que NÃO SE MATA PORCO PRA OGUM, e, maldosamente, antecipando que seus leitores nada sabiam disto, publicaram este despautério, já pra criarem polêmica;
3- Os "repórteres", pegando Dona Zilméia "num contra-pé", como chamamos, e usando a palavra SACRIFÍCIO, trataram logo de ir publicando, com os mesmos objetivos citados anteriormente.
De minha parte prefiro acreditar no desconhecimento sobre a matéria por parte dos entrevistadores, porque no segundo caso, se fossem honestos, como pressuponho que sejam, e sabendo da impossibilidade, pelo menos deveriam ter dado uma chance à entrevistada (de mais de 90 anos) de corrigir-se, perguntando-lhe à seguir:
- "A senhora tem certeza de que SACRIFICA PORCO PRA OGUM?"
- A senhora tem certeza de que o que nos relatou é um SACRIFÍCIO DE PORCO PRA OGUM?"
- Seu Pai, o Sr. Zélio de Moraes, e o Cab. das Sete Encruzilhadas compactuavam com essa idéia de que faziam "SACRIFÍCIO DE PORCO PRA OGUM"?
Como não houve pedidos de confirmação deste tipo, só nos resta entender que, nem Dona Zilméia sabia como se procede um Sacrifício Ritual (e não sabia mesmo porque nunca fez) e muito menos os seus entrevistadores, a menos que ... a intenção tivesse sido esta mesma: a de deixar esse "gancho furado" para que nele os pseudo-africanistas, os desconhecedores das ritualizações que dizem defender, se mostrassem em toda a plenitude, desmascarando-se para que verdadeiros umbandistas começassem a entender por que caminhos proliferam as tais "vertentes pseudo-africanistas", tão defendidas por aí afora, comandadas por oborizados "de primeira viagem" em sua maior parte (com excessões), quando muito.
Se foi isto valeu mesmo, porque o que se viu de "experts" em "africanismo", o que se viu até agora de defesa do indefensável, apenas para que se tentasse justificar, dentro de Umbandas como a que eles praticam, uma ritualização que não é E NUNCA FOI DE UMBANDA ... foi uma enormidade.
Se estavam tentando defender a tese dos Sacrifícios embasados em uma prática que a TENSP desenvolvia, com certeza ganharam o tiro pela culatra e acabaram mostrando que não conhecem o que dizem defender e achincalhando o que dizem defender, por extensão!
-"Mas Claudio, e nas Umbandas em que os Exus pedem copagens (cortes)? A gente tem que retirá-las da lista de Umbandas?"
Eis aí, muito certamente, uma das grandes chaves para que se adentre ao conhecimento sobre: Até onde vai a UMBANDA e onde começa a QUIMBANDA, num Terreiro Traçado.
Este é, sem dúvida, o ponto onde a grande maioria se embola toda, confunde uma coisa com outra e acaba afirmando que TUDO É UMBANDA.
Mas isto é tema para próximas postagens.
Vamos finalizar esta matéria com uma entrevista dada por Zélio de Moraes feita por Lília Ribeiro, Lucy e Creuza para a revista Gira da Umbanda, ano 1 – numero 1 – 1972.
A revista foi editada por Atila Nunes Filho e traz na capa a chamada:
EXCLUSIVO: "Eu Fundei a Umbanda"
Essa mesma matéria foi reproduzida em 2008 (outubro de 2008) no Jornal de Umbanda Sagrada, após pesquisa realizada por Alexandre Cumino.
Quem sabe assim, depois de lerem esta reportagem e depois ainda de terem lido a entrevista que fizemos com a atual Dirigente da TENSP, Dona Lygia, aqui exposta na matéria ENTREVISTA COM DONA LYGIA CUNHA,(clique no link) os pseudo-africanistas, defensores do indefensável, consigam se convencer de que EM UMBANDA NÃO EXISTEM SACRIFÍCIOS ANIMAIS?
Vamos à matéria, com alguns realces meus.
Reportagem de : Lília Ribeiro, Lucy e Creuza.
Com 82 anos de idade, este homem é considerado por um pequeno grupo de umbandistas "o fundador da Umbanda".
Cabelos grisalhos, fisionomia serena e simples, Zélio de Moraes, através do seu guia espiritual, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, só sabe praticar o amor e a humildade.
"- Na minha família, todos são da marinha: almirantes, comandantes, um capitão-de-mar- e-guerra... Só eu que não sou nada..." – comentava sorrindo Zélio de Moraes, aos amigos que o visitavam, nessa manhã ensolarada.
E a repórter, antes mesmo de se apresentar, retrucou:
"- Almirantes ilustres, capitães-de-mar- e-guerra há muitos; o médium do Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém, é um só".
Levantando-se, Zélio de Moraes – magrinho, de estatura mediana, cabelos grisalhos, fisionomia serena e de uma simplicidade sem igual – acolheu-me, como se fôssemos velhos conhecidos. Nesse ambiente cordial, sentindo-me completamente à vontade, possuída de estranho bem-estar, esquecendo, quase, a minha função jornalística, iniciei uma palestra, que se prolongaria por várias horas, deixando-me uma impressão inesquecível.
Perguntei-lhe como ocorrera a eclosão de sua mediunidade e de que forma se manifestara, pela primeira vez, o Caboclo das Sete Encruzilhadas.
"- Eu estava paralítico, desenganado pelos médicos.
Certo dia, para surpresa de minha família, sentei-me na cama e disse que no dia seguinte estaria curado.
Isso a foi a 14 de novembro de 1908.
Eu tinha 18 anos.
No dia 15, amanheci bom.
Meus pais eram católicos, mas, diante dessa cura inexplicável, resolveram levar-me à Federação Espírita de Niterói, cujo presidente era o Sr. José de Souza. [neste ponto Zélio pode ter se confundido pelo fato de que nas reuniões Espíritas Kardecistas, PRESIDENTE era o título temporário dado a qualquer um que PRESIDISSE A MESA na ocasião, fato este que conheci pessoalmente].
Foi ele mesmo quem me chamou para que ocupasse um lugar à mesa de trabalhos, à sua direita.
Senti-me deslocado, constrangido, em meio àqueles senhores.
E causei logo um pequeno tumulto.
Sem saber porque em dado momento, eu disse:
"Falta uma flor nesta mesa; vou buscá-la".
E, apesar da advertência de que não me poderia afastar, levantei-me, fui ao jardim e voltei com uma flor que coloquei no centro da mesa.
Serenado o ambiente e iniciados os trabalhos, verifiquei que os espíritos que se apresentavam aos videntes como índios e pretos, eram convidados a se afastar.
Foi então que, impelido por uma força estranha, levantei-me outra vez e perguntei porque não se podiam manifestar esses espíritos que, embora de aspecto humilde, eram trabalhadores.
Estabeleceu- se um debate e um dos videntes, tomando a palavra, indagou:
- "O irmão é um padre jesuíta. Por que fala dessa maneira e qual é o seu nome?"
Respondi sem querer:
- "Amanhã estarei em casa deste aparelho, simbolizando a humildade e a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas" .
Minha família ficou apavorada.
No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na Rua Floriano Peixoto, onde eu morava, no número 30.
Parentes, desconhecidos, os tios, que eram sacerdotes católicos e quase todos os membros da Federação Espírita, naturalmente em busca de uma comprovação.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas manifestou-se, dando-nos a primeira sessão de Umbanda na forma em que, daí para frente, realizaria os seus trabalhos.
Como primeira prova de sua presença, através do passe, curou um paralítico, entregando a conclusão da cura ao Preto Velho, Pai Antonio, que nesse mesmo dia se apresentou.
Estava criada a primeira Tenda de Umbanda, com o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como a imagem de Maria ampara em seus braços o Filho, seria o amparo de todos os que a ela recorressem.
O Caboclo determinou que as sessões seriam diárias; das 20 às 22 horas e o atendimento gratuito, obedecendo ao lema: "daí de graça o que de graça recebestes".
O uniforme totalmente branco e sapato tênis.
Desse dia em diante, já ao amanhecer havia gente à porta, em busca de passes, cura e conselhos.
Médiuns que não tinham a oportunidade de trabalhar espiritualmente por só receberem entidades que se apresentavam como Caboclos e Pretos Velhos, passaram a cooperar nos trabalhos.
Outros, considerados portadores de doenças mentais desconhecidas revelaram-se médiuns excepcionais, de incorporação e de transporte".
Citando nomes e datas, com precisão extraordinária, Zélio de Moraes relata o que foram os primeiros anos de sua atividade mediúnica. Dez anos depois, o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciou a segunda fase de sua missão: a fundação de sete templos de Umbanda e, nas reuniões doutrinárias que realizava às quintas-feiras, foi destacando os médiuns que assumiriam a direção das novas tendas: a primeira, com o nome de Nossa Senhora da Conceição e, sucessivamente, Nossa Senhora da Guia, São Pedro, Santa Bárbara, São Jorge, Oxalá e São Jerônimo.
"– Na época – prossegue Zélio – imperava a feitiçaria; trabalhava-se muito para o mal, através de objetos materiais, aves e animais sacrificados, tudo a preços elevadíssimos. Para combater esses trabalhos de magia negativa, o Caboclo trouxe outra entidade, o Orixá Malé, que destruía esses malefícios e curava obsedados. Ainda hoje isso existe: há quem trabalhe para fazer ou desmanchar feitiçarias, só para ganhar dinheiro [e que se dizem UMBANDAS]. Mas eu digo: não há ninguém que possa contar que eu cobrei um tostão pelas curas que se realizavam em nossa casa; milhares de obsedados, encaminhados inclusive pelos médicos dos sanatórios de doentes mentais... E quando apresentavam ao Caboclo a relação desses enfermos, ele indicava os que poderiam ser curados espiritualmente; os outros dependiam de tratamentos material..."
Perguntei então a Zélio, a sua opinião sobre o sacrifício de animais que alguns médiuns fazem na intenção dos Orixás.
Zélio absteve-se de opinar, limitou-se a dizer:
"- Os meus guias nunca mandaram sacrificar animais, nem permitiriam que se cobrasse um centavo pelos trabalhos efetuados. No Espiritismo não pode pensar em ganhar dinheiro; deve-se pensar em Deus e no preparo da vida futura."
O Caboclo das Sete Encruzilhadas não adotava atabaques nem palmas para marcar o ritmo dos cânticos e nem objetos de adorno, como capacetes, cocares, etc.
Quanto ao número de guias a ser usado pelo médium, Zélio opina:
"- A guia deve ser feita de acordo com os protetores que se manifestam. Para o Preto Velho deve-se usar a guia de Preto Velho; para o Caboclo, a guia correspondente ao Caboclo. É o bastante. Não há necessidade de carregar cinco ou dez guias no pescoço..."
Considera o Exu um espírito trabalhador como os outros:
"- O trabalho com os Exus requer muito cuidado. É fácil ao mau médium dar manifestação como Exu e ser, na realidade, um espírito atrasado, como acontece, também, na incorporação de Criança. Considero o Exu um espírito que foi despertado das trevas e, progredindo na escala evolutiva, trabalha em benefício dos necessitados. O Caboclo das Sete Encruzilhadas ensinava o que Exu é, como na polícia, o soldado. O chefe de polícia não prende o malfeitor; o delegado também não prende. Quem prende é o soldado que executa as ordens dos chefes. E o Exu é um espírito que se prontifica a fazer o bem, porque cada passo que dá em benefício de alguém é mais uma luz que adquire. Atrair o espírito atrasado que estiver obsedando e afastá-lo, é um dos seus trabalhos.
E é assim que vai evoluindo. Torna-se portanto, um auxiliar do Orixá [lembremo-nos do que significa esta palavra - ORIXÁ - para a Umbanda Original, o que já explicamos em matérias anteriores].
Por que eu coloquei entre parênteses PSEUDO-AFRICANISTAS?
Porque, logo de cara, qualquer VERDADEIRO AFRICANISTA, qualquer conhecedor dos rituais de imolação nos Cultos Africanos (de onde eles também insistem que nasceu a "Umbanda"), tanto os realizados no intuito de Iniciações, quanto os de "troca de favores" (generalizando) perceberia que a ritualização descrita logo à seguir, segundo a tal revista, não têm absolutamente NADA a ver com IMOLAÇÕES ou SACRIFÍCIOS.
Qualquer um que diga que o exposto à seguir se trata de um Sacrifíco Ritual, de uma Imolação, só pode, ou estar de brincadeira, ou ser um beócio em termos de práticas ritualísticas africanas.
Desde quando ABATER um porco fora do Terreiro pode ser considerado um ritual de IMOLAÇÃO (sacrifício ritual)?
Desde quando ofertar um Sarapatel pode ser considerado um ritual de imolação (sacrifício ritual)?
Já pensaram agora se os VERDADEIROS ARICANISTAS (Babás, Dotés, Donés, Yalorixás, etc) resolverem fazer suas Iniciações desta forma? Mandando abater os 4 patas lá fora, com o ato realizado pelo dono do abatedouro ou outro qualquer que não um iniciado preparado para o ritual?
Já pensaram naquele "Exu" pedindo a menga e mandando abater o bichinho no açougue? É pra rir ou pra chorar?
E o pior de tudo isto é que os que afirmam que o que Dona Zilméia descreveu à seguir era realmente uma imolação, ainda se acham no direito de se dizerem "os defensores das tradições africanas dentro das Umbandas". Nem percebem que ao defenderem tal tese, além de demonstrarem que NÃO CONHECEM UMBANDA, ainda estão RIDICULARIZANDO A RITUALÍSTICA AFRICANA, tanto para iniciações, quanto para outro qualquer fim e desta forma, também nada conhecem do que dizem estarem "defendendo".
Suas ânsias em quererem ver CABELOS NASCENDO EM CASCAS DE OVOS e IMOLAÇÃO NA UMBANDA é tão intensa que nem se dão conta do despropósito de suas afirmativas.
Mas ... qual será, em verdade, a intenção de verem SACRIFÍCIO RITUAL onde nunca existiu, principalmente apoiando-se num claro tropeço linguístico de uma senhora de mais de 90 anos já naquela ocasião (sacrifício, se havia, era dos médiuns que ficavam em vigília das oferendas)?
A resposta é simples: "Se conseguirmos provar que Zilméia fazia Sacrifício de porco pra Ogum (como nos parece na tal revista), estaremos tranquilos para podermos afirmar que em Umbanda sempre houve sacrifícios e, melhor ainda, que quando sacrificamos galinhas, galos, bodes, cabras, etc, ESTAMOS FAZENDO UMBANDA".
Pobres cegos guias de mais cegos ainda!!!
A começar pelo animal escolhido (porco pra Ogum) e adentrando pelo ritual descrito por ela logo após, só vê imolação quem ainda acha que 2+2=16, 24, 32 ... etc.
Ao analisarmos esses comportamentos, o sentimento que nos causa é de pelo menos pena.
- Pena por tanto desconhecimento;
- Pena por tantas ilações sem fundamentos;
- Pena pelas distorções que acabam causando nas mentes de outros, principalmente os que estão conhecendo (ou tentando conhecer) UMBANDA agora, e também sobre como se procede um ritual de imolação nos Cultos aos Orixás Africanos, seus preparativos de antes e depois, bem assim como seus objetivos em cada situação;
- E mais pena ainda pelo EMPORCALHAMENTO (foi proposítal sim!) a que reduzem as tradições africanas que dizem defender.
Sobre este tal sacrifício, que seria então de porco pra Ogum como querem fazer crer aos inexperientes (já está bisonho por aí, porque porco não se dá pra Ogum em qualquer tipo de Culto de Nação e muito menos em Umbanda), teríamos que analisar os seguintes parâmetros:
1- Os repórteres nada conheciam sobre Sacrifícios de animais e reproduziram, simplesmente e sem qualquer maldade, o TROPEÇO LINGÜÍSTICO de Dona Zilméia (o que pode acontecer com qualquer um);
2- Os "repórteres" sabiam que NÃO SE MATA PORCO PRA OGUM, e, maldosamente, antecipando que seus leitores nada sabiam disto, publicaram este despautério, já pra criarem polêmica;
3- Os "repórteres", pegando Dona Zilméia "num contra-pé", como chamamos, e usando a palavra SACRIFÍCIO, trataram logo de ir publicando, com os mesmos objetivos citados anteriormente.
De minha parte prefiro acreditar no desconhecimento sobre a matéria por parte dos entrevistadores, porque no segundo caso, se fossem honestos, como pressuponho que sejam, e sabendo da impossibilidade, pelo menos deveriam ter dado uma chance à entrevistada (de mais de 90 anos) de corrigir-se, perguntando-lhe à seguir:
- "A senhora tem certeza de que SACRIFICA PORCO PRA OGUM?"
- A senhora tem certeza de que o que nos relatou é um SACRIFÍCIO DE PORCO PRA OGUM?"
- Seu Pai, o Sr. Zélio de Moraes, e o Cab. das Sete Encruzilhadas compactuavam com essa idéia de que faziam "SACRIFÍCIO DE PORCO PRA OGUM"?
Como não houve pedidos de confirmação deste tipo, só nos resta entender que, nem Dona Zilméia sabia como se procede um Sacrifício Ritual (e não sabia mesmo porque nunca fez) e muito menos os seus entrevistadores, a menos que ... a intenção tivesse sido esta mesma: a de deixar esse "gancho furado" para que nele os pseudo-africanistas, os desconhecedores das ritualizações que dizem defender, se mostrassem em toda a plenitude, desmascarando-se para que verdadeiros umbandistas começassem a entender por que caminhos proliferam as tais "vertentes pseudo-africanistas", tão defendidas por aí afora, comandadas por oborizados "de primeira viagem" em sua maior parte (com excessões), quando muito.
Se foi isto valeu mesmo, porque o que se viu de "experts" em "africanismo", o que se viu até agora de defesa do indefensável, apenas para que se tentasse justificar, dentro de Umbandas como a que eles praticam, uma ritualização que não é E NUNCA FOI DE UMBANDA ... foi uma enormidade.
Se estavam tentando defender a tese dos Sacrifícios embasados em uma prática que a TENSP desenvolvia, com certeza ganharam o tiro pela culatra e acabaram mostrando que não conhecem o que dizem defender e achincalhando o que dizem defender, por extensão!
-"Mas Claudio, e nas Umbandas em que os Exus pedem copagens (cortes)? A gente tem que retirá-las da lista de Umbandas?"
Eis aí, muito certamente, uma das grandes chaves para que se adentre ao conhecimento sobre: Até onde vai a UMBANDA e onde começa a QUIMBANDA, num Terreiro Traçado.
Este é, sem dúvida, o ponto onde a grande maioria se embola toda, confunde uma coisa com outra e acaba afirmando que TUDO É UMBANDA.
Mas isto é tema para próximas postagens.
Vamos finalizar esta matéria com uma entrevista dada por Zélio de Moraes feita por Lília Ribeiro, Lucy e Creuza para a revista Gira da Umbanda, ano 1 – numero 1 – 1972.
A revista foi editada por Atila Nunes Filho e traz na capa a chamada:
EXCLUSIVO: "Eu Fundei a Umbanda"
Essa mesma matéria foi reproduzida em 2008 (outubro de 2008) no Jornal de Umbanda Sagrada, após pesquisa realizada por Alexandre Cumino.
Quem sabe assim, depois de lerem esta reportagem e depois ainda de terem lido a entrevista que fizemos com a atual Dirigente da TENSP, Dona Lygia, aqui exposta na matéria ENTREVISTA COM DONA LYGIA CUNHA,(clique no link) os pseudo-africanistas, defensores do indefensável, consigam se convencer de que EM UMBANDA NÃO EXISTEM SACRIFÍCIOS ANIMAIS?
Vamos à matéria, com alguns realces meus.
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Reportagem de : Lília Ribeiro, Lucy e Creuza.
Com 82 anos de idade, este homem é considerado por um pequeno grupo de umbandistas "o fundador da Umbanda".
Cabelos grisalhos, fisionomia serena e simples, Zélio de Moraes, através do seu guia espiritual, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, só sabe praticar o amor e a humildade.
"- Na minha família, todos são da marinha: almirantes, comandantes, um capitão-de-mar- e-guerra... Só eu que não sou nada..." – comentava sorrindo Zélio de Moraes, aos amigos que o visitavam, nessa manhã ensolarada.
E a repórter, antes mesmo de se apresentar, retrucou:
"- Almirantes ilustres, capitães-de-mar- e-guerra há muitos; o médium do Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém, é um só".
Levantando-se, Zélio de Moraes – magrinho, de estatura mediana, cabelos grisalhos, fisionomia serena e de uma simplicidade sem igual – acolheu-me, como se fôssemos velhos conhecidos. Nesse ambiente cordial, sentindo-me completamente à vontade, possuída de estranho bem-estar, esquecendo, quase, a minha função jornalística, iniciei uma palestra, que se prolongaria por várias horas, deixando-me uma impressão inesquecível.
Perguntei-lhe como ocorrera a eclosão de sua mediunidade e de que forma se manifestara, pela primeira vez, o Caboclo das Sete Encruzilhadas.
"- Eu estava paralítico, desenganado pelos médicos.
Certo dia, para surpresa de minha família, sentei-me na cama e disse que no dia seguinte estaria curado.
Isso a foi a 14 de novembro de 1908.
Eu tinha 18 anos.
No dia 15, amanheci bom.
Meus pais eram católicos, mas, diante dessa cura inexplicável, resolveram levar-me à Federação Espírita de Niterói, cujo presidente era o Sr. José de Souza. [neste ponto Zélio pode ter se confundido pelo fato de que nas reuniões Espíritas Kardecistas, PRESIDENTE era o título temporário dado a qualquer um que PRESIDISSE A MESA na ocasião, fato este que conheci pessoalmente].
Foi ele mesmo quem me chamou para que ocupasse um lugar à mesa de trabalhos, à sua direita.
Senti-me deslocado, constrangido, em meio àqueles senhores.
E causei logo um pequeno tumulto.
Sem saber porque em dado momento, eu disse:
"Falta uma flor nesta mesa; vou buscá-la".
E, apesar da advertência de que não me poderia afastar, levantei-me, fui ao jardim e voltei com uma flor que coloquei no centro da mesa.
Serenado o ambiente e iniciados os trabalhos, verifiquei que os espíritos que se apresentavam aos videntes como índios e pretos, eram convidados a se afastar.
Foi então que, impelido por uma força estranha, levantei-me outra vez e perguntei porque não se podiam manifestar esses espíritos que, embora de aspecto humilde, eram trabalhadores.
Estabeleceu- se um debate e um dos videntes, tomando a palavra, indagou:
- "O irmão é um padre jesuíta. Por que fala dessa maneira e qual é o seu nome?"
Respondi sem querer:
- "Amanhã estarei em casa deste aparelho, simbolizando a humildade e a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas" .
Minha família ficou apavorada.
No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na Rua Floriano Peixoto, onde eu morava, no número 30.
Parentes, desconhecidos, os tios, que eram sacerdotes católicos e quase todos os membros da Federação Espírita, naturalmente em busca de uma comprovação.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas manifestou-se, dando-nos a primeira sessão de Umbanda na forma em que, daí para frente, realizaria os seus trabalhos.
Como primeira prova de sua presença, através do passe, curou um paralítico, entregando a conclusão da cura ao Preto Velho, Pai Antonio, que nesse mesmo dia se apresentou.
Estava criada a primeira Tenda de Umbanda, com o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como a imagem de Maria ampara em seus braços o Filho, seria o amparo de todos os que a ela recorressem.
O Caboclo determinou que as sessões seriam diárias; das 20 às 22 horas e o atendimento gratuito, obedecendo ao lema: "daí de graça o que de graça recebestes".
O uniforme totalmente branco e sapato tênis.
Desse dia em diante, já ao amanhecer havia gente à porta, em busca de passes, cura e conselhos.
Médiuns que não tinham a oportunidade de trabalhar espiritualmente por só receberem entidades que se apresentavam como Caboclos e Pretos Velhos, passaram a cooperar nos trabalhos.
Outros, considerados portadores de doenças mentais desconhecidas revelaram-se médiuns excepcionais, de incorporação e de transporte".
Citando nomes e datas, com precisão extraordinária, Zélio de Moraes relata o que foram os primeiros anos de sua atividade mediúnica. Dez anos depois, o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciou a segunda fase de sua missão: a fundação de sete templos de Umbanda e, nas reuniões doutrinárias que realizava às quintas-feiras, foi destacando os médiuns que assumiriam a direção das novas tendas: a primeira, com o nome de Nossa Senhora da Conceição e, sucessivamente, Nossa Senhora da Guia, São Pedro, Santa Bárbara, São Jorge, Oxalá e São Jerônimo.
"– Na época – prossegue Zélio – imperava a feitiçaria; trabalhava-se muito para o mal, através de objetos materiais, aves e animais sacrificados, tudo a preços elevadíssimos. Para combater esses trabalhos de magia negativa, o Caboclo trouxe outra entidade, o Orixá Malé, que destruía esses malefícios e curava obsedados. Ainda hoje isso existe: há quem trabalhe para fazer ou desmanchar feitiçarias, só para ganhar dinheiro [e que se dizem UMBANDAS]. Mas eu digo: não há ninguém que possa contar que eu cobrei um tostão pelas curas que se realizavam em nossa casa; milhares de obsedados, encaminhados inclusive pelos médicos dos sanatórios de doentes mentais... E quando apresentavam ao Caboclo a relação desses enfermos, ele indicava os que poderiam ser curados espiritualmente; os outros dependiam de tratamentos material..."
Perguntei então a Zélio, a sua opinião sobre o sacrifício de animais que alguns médiuns fazem na intenção dos Orixás.
Zélio absteve-se de opinar, limitou-se a dizer:
"- Os meus guias nunca mandaram sacrificar animais, nem permitiriam que se cobrasse um centavo pelos trabalhos efetuados. No Espiritismo não pode pensar em ganhar dinheiro; deve-se pensar em Deus e no preparo da vida futura."
O Caboclo das Sete Encruzilhadas não adotava atabaques nem palmas para marcar o ritmo dos cânticos e nem objetos de adorno, como capacetes, cocares, etc.
Quanto ao número de guias a ser usado pelo médium, Zélio opina:
"- A guia deve ser feita de acordo com os protetores que se manifestam. Para o Preto Velho deve-se usar a guia de Preto Velho; para o Caboclo, a guia correspondente ao Caboclo. É o bastante. Não há necessidade de carregar cinco ou dez guias no pescoço..."
Considera o Exu um espírito trabalhador como os outros:
"- O trabalho com os Exus requer muito cuidado. É fácil ao mau médium dar manifestação como Exu e ser, na realidade, um espírito atrasado, como acontece, também, na incorporação de Criança. Considero o Exu um espírito que foi despertado das trevas e, progredindo na escala evolutiva, trabalha em benefício dos necessitados. O Caboclo das Sete Encruzilhadas ensinava o que Exu é, como na polícia, o soldado. O chefe de polícia não prende o malfeitor; o delegado também não prende. Quem prende é o soldado que executa as ordens dos chefes. E o Exu é um espírito que se prontifica a fazer o bem, porque cada passo que dá em benefício de alguém é mais uma luz que adquire. Atrair o espírito atrasado que estiver obsedando e afastá-lo, é um dos seus trabalhos.
E é assim que vai evoluindo. Torna-se portanto, um auxiliar do Orixá [lembremo-nos do que significa esta palavra - ORIXÁ - para a Umbanda Original, o que já explicamos em matérias anteriores].
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Existe uma seqüência nesta matéria, mas o que aí está já dá muito bem para que entendamos sob que pilares de conhecimento foi anunciada a UM-BAN-DA, (Original, como costumo chamá-la)
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A gente ainda volta pra complementar este tema.