SACRIFÍCIO DE ANIMAIS NA UMBANDA - CONTINUAÇÃO
SACRIFÍCIO DE ANIMAIS NA UMBANDA - CONTINUAÇÃO
Havíamos deixado pendente aquela pergunta sobre se deveríamos tirar das listas das Umbandas os terreiros em que Exu pede cortes e vamos tentar, pelo menos, explicar por mais exemplos, como é que se formam essas TORRES DE BABEL, sobre as quais já nos referimos em postagens anteriores, todas, ou quase todas, criadas em função do desrespeito aos conceitos iniciais, tanto de palavras, quanto de ritos específicos deste ou daquele culto, religião, etc., conceitos estes que não podem mudar com o tempo por fundamentarem (embasarem, servirem de apoio, esteio, arrimo) esses mesmos cultos e religiões, o que parece não ser compreendido por uma grande maioria de adeptos que sequer entende o que sejam FUNDAMENTOS DE UM CULTO e por isto também não entendem que: MUDANDO-SE OS FUNDAMENTOS, ESTÁ-SE MUDANDO O PRÓPRIO CULTO.
Pois muito bem. Partindo da UMBANDA ORIGINAL (a que se iniciou pelo Cab. das Sete Encruzilhadas e Zélio de Moraes), estudando as gravações em áudio que foram feitas com o médium, a entrevista citada na primeira parte deste tema e outros tantos textos que se espalharam pela Internet, veremos que até o 1º Congresso de Espiritismo de Umbanda realizado em 1941, a UMBANDA ORIGINAL (bem assim como as que dela derivaram) nasceu tendo como FUNDAMENTOS:
1- LEMA BÁSICO: Trabalho com Espíritos para a Caridade no sentido de amor fraternal;
2- ISENÇÃO de sacrifícios animais, rito este AUSENTE até hoje em quaisquer das VERDADEIRAS DERIVAÇÕES DA UMBANDA;
3- Humildade, tanto nos comportamentos dos médiuns, quanto nas vestimentas utilizadas durante os rituais;
4- Aberta para que se pudesse aprender com os Espíritos que soubessem mais e ensinar aos Espíritos que soubessem menos;
E ... sem pressa, como sempre deve ser ... vamos tentar entender o porquê de dizerem (erradamente) que em algumas Umbandas existe o rito de cortes.
O que se sabe (é só acompanhar a história) é que logo após o 1º Congresso acima referido, que teve como tema de discussão o ESPIRITISMO DE UMBANDA, começaram a pulular autores de "livros de umbanda" (antes somente Eliezer Leal de Souza havia escrito algo), cada um tentando impingir aos seguidores de suas seitas e ao público, suas formas de culto misturados como aconteciam nas MACUMBAS CARIOCAS que era uma mistureba de tudo e qualquer coisa (leia-se de João do Rio - AS RELIGIÕES DO RIO, publicado em 1904). E isto foi tão marcante - esta ânsia de se escrever e divulgar o que seria umbanda segundo suas crenças - que o senhor Lourenço Braga, por exemplo, publicou em 1942 (logo após o Congresso) o seu livro "UMBANDA (magia branca) e QUIMBANDA (magia negra).", tendo na ocasião, inclusive, feito sua própria proposta sobre quais seriam as 7 Linhas de Umbanda (vide http://registrosdeumbanda.wordpress.com/2009/10/04/as-sete-linhas-segundo-lourenco-braga/), tendo depois, em 1955, ele mesmo feito modificações tipo RECALL, como os que hoje vemos a toda hora anunciados por fabricantes que, na ânsia de venderem seus produtos rapidamente, só vão fazer as correções algum tempo depois e mesmo assim se alguns notarem as falhas.
Paralelamente, e como já dissemos antes, muitos praticantes de cultos mistos (pra não chamá-los de macumbas), já antes do Congresso e principalmente após este, passaram a adotar o rótulo de "umbandas" por conta de diversos fatores, tendo-se entre estes o fato de a Umbanda ter arregimentado para suas hostes pessoas de certo destaque social, digamos assim, o que de certa forma a tornou menos perseguida pela polícia que naquela época já invadia terreiros africanistas e mistos que acabavam auto-denunciados pelo ruído que provocavam com seus tambores, o que a Umbanda então criada não usava.
Nesta leva de cultos mistos o chamado Culto Omolocô, trazido para o Brasil por Maria Batayó, e que desde sua orígem já seria um culto misto por ter se originado numa região africana entre Angola e a terra dos Yorubás (Lokojá, parte Yorubá e Lunda-Quioco, parte Angola) teve aqui uma disseminação maior por conta de Tancredo da Silva Pinto que por sua vez, cismou que Omolocô era Umbanda, apenas porque, como muitos ainda pensam e defendem como tese, em seus cultos eram permitidos os chamados CATIÇOS, que seriam os Espíritos de Pretos Velhos, basicamente, Caboclos e Exus, esquecendo-se este que antes de ser só pela presença destas entidades, Umbanda já nasceu com DIRETRIZES e FUNDAMENTOS que nenhum culto Omolocô, Ketu, Angola, Jêje, Fon, etc., tinha em suas bases, destacando-se a relação ESPÍRITO/CARIDADE, pois todos esses cultos, mistos ou não, não tinham a CARIDADE ATRAVÉS DOS ESPÍRITOS (Catiços para eles) como fundamentação, como base de suas ritualísticas, sem querer adentrar por mais fundamentos até contrastantes.
Só por não assumirem este fundamento acima, já não deveriam se auto-rotular umbandas .... mas muitos o fizeram. E o que começou a ser passado a público por essa auto-rotulação?
Que em umbanda havia TOQUES de atabaques; que em umbanda havia roupas especiais para Espíritos trabalharem; que em umbanda exu era orixá; que em umbanda havia "saída de santo"; que em umbanda se cortava ou se imolava pra isto ou aquilo e tantas outras coisas mais que, na verdade, eram práticas dos cultos mistos que se auto-rotularam mas que acabaram entrando para a CRENÇA POPULAR como Umbanda pelo tanto de "sabedoria" que se espalhou e foi amplamente divulgado através de livros dos "autores pós Congresso".
Bem, como hoje quase todo mundo está inclinado a aceitar tudo o que se mistura como umbanda, o que podemos concluir?
Que na verdade a Umbanda, que nasceu para ser diferenciada das Macumbas Cariocas desde seu mais básico fundamento, hoje pode ser considerada A PRÓPRIA MACUMBA CARIOCA, de tantas misturas de crenças, práticas e ritualizações que se vê serem apregoadas como "de umbanda".
Mas ... voltando à REAL e sendo até bastante flexível no que pode ser considerado Umbanda e o que não pode, e passando a considerar alguns adendos como técnicas de terreiro (mas não fundamentos porque não existem em todos), sem fugir dos fundamentos verdadeiros da Umbanda podemos aceitar o uso de atabaques, bem assim como a entrada dos exus (entre outros) nas Umbandas como Povo Auxiliar, por sinal de grande valia quando são orientados para trabalharem de acordo com a Lei, até porque essa foi u'a máxima também deixada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas quando falou de ENSINAR AOS QUE MENOS SOUBESSEM.
Aceitando então a presença de nossos COMPADRES e sabendo que eles vieram (e vêm) da QUIMBANDA, culto no qual A LEI PROVÉM DELES MESMOS e que também se difere da Umbanda em seu fundamento mais básico (ESPÍRITO/CARIDADE), desde o início os cultos mistos que aceitavam exus, e se auto-rotularam umbandas, sabiam que exus viriam para a umbanda principalmente para aprenderem com a Lei e as entidades que já a obedeciam e no intuito de largarem as práticas de escambo às quais estavam totalmente ligados e pelas quais trabalhavam sem refletirem no fato de estarem fazendo bem ou mal, mantinham-nos sob vigilância de diversas formas evitando que as práticas mais pesadas de Quimbanda, às quais estavam acostumados, fossem praticadas nos terreiros que acabaram sendo reconhecidos como Umbandas Cruzadas.
Cruzadas por que? Porque em suas giras, CRUZAVAM LINHAS (formas) DE TRABALHO (Umbanda/Quimbanda) de acordo com a necessidade, dando a esses Espíritos a oportunidade de trabalharem sem as antes obrigatórias trocas de favores e "presentes" (escambo) ao mesmo tempo em que iam se aclimatando à nova realidade - TRABALHO PARA A CARIDADE!!!
Na medida em que um exu se adaptava mais à nova Lei, era considerado (por nós, encarnados) BATIZADO NA LEI DE UMBANDA e na seqüência, quando o exu já tinha se adaptado totalmente à nova Lei e já não fazia jogo de interesse de forma alguma, era então considerado COROADO NA LEI DE UMBANDA, o que, como já expliquei antes, não queria dizer que ele traria uma coroa em sua cabeça, até porque este título lhe era dado por nós, os encarnados, apenas.
Outros cultos mistos, no entanto, sequer se preocuparam em entender que exu estava ali, principalmente para aprender sobre a Lei, e as novas técnicas de trabalho, e os deixavam trabalhar em seus terreiros da mesma maneira que trabalhavam em suas Quimbandas e, embora esses outros cultos também se auto-rotulassem umbandas e fossem reconhecidos como UMBANDAS CRUZADAS, passaram a receber maiores influências e domínios do povo da rua e das calungas, como também eram conhecidos os compadres, justamente pelo poder de sedução que esses Espíritos são capazes de exercer, principalmente sobre pessoas mais necessitadas de "uma força", como se costuma dizer, e mais ainda sobre os IMEDIATISTAS que, antes de sequer pensarem em mudarem em si muitos dos fatores que os levam a decaír, preferem dar logo uma solução aos problemas causados ou criados muitas vezes por eles mesmos, pelo caminho mais curto, o caminho do "EU LHE PRESENTEIO E O SENHOR ME QUEBRA O GALHO"!!!
Como conseqüência deste comportamento, vemos ainda hoje alguns terreiros que se dizem de umbanda serem dirigidos por Exus, Pomba Giras, Pelintras, etc., que mantém "Pretos Velhos", "Crianças" e "Caboclos" sob suas tutelas e fazem suas próprias leis.
Como a gente sabe que isto é uma completa INVERSÃO DE VALORES, só podemos concluir que essas entidades que se apresentam como "pretos velhos", "caboclos" e "crianças" nestes terreiros, estando sob a tutela de exus, só podem ser menores que eles ou, por outro lado, tão exus (em termos energéticos, vibracionais) quanto eles.
Pois muito bem. Nesses terreiros em que exu trabalha como aprendeu na quimbanda junto aos seus, é claro que os cortes, principalmente dos animais de duas patas, costumam ser "remédio" para grande parte dos males que afligem os necessitados, porque foi assim que exu aprendeu a trabalhar e nada lhe foi ensinado de outras técnicas que, mesmo mais lentas, não tão imediatistas, acabam chegando aos mesmos fins sem a menor necessidade de menga, ejé, sangue. Mas o problema é que esses terreiros também são chamados de umbandas e muitas vezes nem se tratam por CRUZADAS, donde advém o início de toda essa confusão que leva a crer que em umbanda há cortes e menga nos trabalhos.
Mas agora vamos organizar e tentar entender como funcionam as coisas dentro de um terreiro CRUZADO de verdade, que tenha giras específicas de exus comandadas por Coroados ou apenas Batizados na Lei de Umbanda, sendo este terreiro DE UMBANDA DE FATO E DIREITO por se fundamentar nas bases lá atrás citadas - ESPÍRITOS - CARIDADE.- HUMILDADE EM TODOS OS SENTIDOS.
Ainda em relação a esta classificação dos exus dadas por nós, os Coroados são os que não exigem mais a menga para seus trabalhos - isto é um fato por já terem aprendido a trabalhar sem. Os Batizados apenas, dependendo de cada situação, podem ou não usar o corte e a menga, mas os que são considerados PAGÃOS NA LEI DE UMBANDA, com certeza vão pedir cortes e trabalharão ainda por "trocas de favores", não sendo isto uma maldade deles especificamente, mas sim uma TÉCNICA DE TRABALHO que aprenderam e com a qual estão sintonizados por não terem tido a oportunidade de estar em contato com entidades que lhes poderiam ensinar outras técnicas.
Primeiro ponto a ser observado - Os terreiros ditos CRUZADOS são aqueles que adotam GIRAS DE EXUS, sejam elas em dias específicos ou como parte da Gira Geral, como continuidade das GIRAS DE CABOCLOS E PRETOS VELHOS;
Segundo ponto a ser observado - Sendo a Gira de Exu uma continuidade da Gira dos Velhos e Caboclos, no momento em que ela acontece, diz-se estar VIRANDO A BANDA (claro que você já deve ter ouvido isto). E diz-se isto por que? Porque neste momento está-se SAINDO DA UMBANDA (ou fechando-a) E INICIANDO A PARTE QUIMBANDA da Gira Geral. A partir daí, qualquer pedido de corte que possa existir está acontecendo NA GIRA DE QUIMBANDA que o terreiro de Umbanda está realizando.
Como a Gira de Quimbanda está sendo realizada no terreiro de Umbanda (Cruzada), a maioria dos observadores confunde as coisas e, não entendendo que a partir daquele ponto é Quimbanda e NÃO UMBANDA, acredita que possíveis cortes pedidos fazem parte da Umbanda, quando NÃO FAZEM!
Em outros terreiros, já se anuncia a Gira de exus para tal dia e, esquecendo-se também de que GIRA DE EXU é o mesmo que GIRA DE QUIMBANDA, se a banda for comandada por exus apenas Batizados na Lei de Umbanda ou os não Batizados (Pagãos na Lei), os cortes (as copagens) podem fazer parte das práticas rituais, pelos motivos já expostos acima.
Ora, se você acompanhou bem o exposto e passar a observar que na grande maioria das vezes quem pede cortes é exu, seja em terreiros de Umbanda Cruzada, seja em terreiros de Quimbanda pura, entenderá a confusão que se forma por não entenderem (e alguns fazerem questão de não entender) que a Umbanda, nos terreiros Cruzados, termina onde começa a Quimbanda e que a partir daí, dependendo da direção da chefia espiritual e material do terreiro, podem OU NÃO acontecer ESCAMBOS E COPAGENS.
Um outro exemplo que explica melhor ainda encontramos nos terreiros que fazem Giras específicas de Ciganos. Veja bem e analise friamente que você vai entender direitinho porque, além desse povo não ser povo de Umbanda e sim agregado, quando se faz Giras específicas para ciganos seguindo-se a ritualística, as crenças, as divindades, as lendas,etc., que esse povo traz como "seus fundamentos", fica claro que a Umbanda está fora, ainda que esta Gira ou Sessão esteja acontecendo dentro de um terreiro de Umbanda, por vontade de seus dirigentes.
Partindo-se deste princípio, então, se as ciganas ou ciganos pedirem ouro e pedras preciosas pra enfeitarem seus médiuns (e isto acontece sim, em alguns locais) será que podemos dizer que PEDIR OURO é princípio de Umbanda ou que Umbanda exige ouro em seus trabalhos?
Voltando então àquela pergunta que tenho certeza que muitos fariam sobre o tirar da lista das Umbandas os terreiros onde exus pedem cortes ...
A resposta é ... não sei! Cada um que reflita e julgue por si se deve ou não porque o mais importante que se deve entender é que Gira de Exu é Gira de QUIMBANDA e, sendo Coroado, Batizado ou não, se exu pedir corte vai fazer pelo que aprendeu NA QUIMBANDA e não na UMBANDA!
-"E o caboclo lá do terreiro que também pede corte, Claudio? Ele se apresenta como caboclo e não exu e também pede! E aí, como é que fica?"
Ele é caboclo, certo? Mas não se engane porque ele, antes de ser um Caboclo (índio como deve estar se apresentando) da Lei de Umbanda é, verdadeiramente, evolutivamente e energeticamente, tão quimbanda quanto os outros exus. A diferença é que não se apresenta como tal, apenas isto. As técnicas e táticas de trabalho de uma entidade servem para que se note seu grau de conhecimento e de aplicação da Lei de Umbanda. Se ele necessita e faz uso de cortes e menga ele é um Quimbanda ou Quimbandeiro e não um Umbanda.
E como tem gente que se fere à toa e tem a tendência de ver sempre ataques às suas crenças quando alguém tenta colocar as coisas nos devidos lugares, principalmente não sendo estas as orientações que têm por pura crença (muitas vezes sem qualquer embasamento), é importante dizer aqui que não se está menosprezando o trabalho desta ou daquela entidade, trabalhe ela como Quimbanda ou como Umbanda, mas apenas separando o que é da Umbanda, o que é da Quimbanda, o que é do Ciganismo, etc., para que não se diga mais que Umbanda tem cortes (da Quimbanda) ou que adore a Santa Sara (do Ciganismo), só porque alguns terreiros assim ajam. Sabendo separar até onde vai a Umbanda nos terreiros e onde começam as outras práticas que esses terreiros adotam, complica-se menos a Umbanda e entende-se melhor esse emaranhado de cultos e crenças.
Num resumo que creio, vai tornar tudo mais fácil ainda de se entender, veja bem:
1- Entidades da Lei de Umbanda (Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Exus e Pomba Giras Coroados na Lei) NÃO PEDEM CORTES, não trabalham com menga;
2- Entidades da Quimbanda (Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Exus e Pomba Giras não batizados na Lei) podem pedir (ou não) cortes, seja trabalhando no terreiro específico de Quimbanda ou na Quimbanda dentro do terreiro de Umbanda Cruzada.
Espero que possa tê-lo(a) ajudado a entender o que muitos parecem não querer!
Fraterno SARAVÁ a todos!
Pois muito bem. Partindo da UMBANDA ORIGINAL (a que se iniciou pelo Cab. das Sete Encruzilhadas e Zélio de Moraes), estudando as gravações em áudio que foram feitas com o médium, a entrevista citada na primeira parte deste tema e outros tantos textos que se espalharam pela Internet, veremos que até o 1º Congresso de Espiritismo de Umbanda realizado em 1941, a UMBANDA ORIGINAL (bem assim como as que dela derivaram) nasceu tendo como FUNDAMENTOS:
1- LEMA BÁSICO: Trabalho com Espíritos para a Caridade no sentido de amor fraternal;
2- ISENÇÃO de sacrifícios animais, rito este AUSENTE até hoje em quaisquer das VERDADEIRAS DERIVAÇÕES DA UMBANDA;
3- Humildade, tanto nos comportamentos dos médiuns, quanto nas vestimentas utilizadas durante os rituais;
4- Aberta para que se pudesse aprender com os Espíritos que soubessem mais e ensinar aos Espíritos que soubessem menos;
E ... sem pressa, como sempre deve ser ... vamos tentar entender o porquê de dizerem (erradamente) que em algumas Umbandas existe o rito de cortes.
O que se sabe (é só acompanhar a história) é que logo após o 1º Congresso acima referido, que teve como tema de discussão o ESPIRITISMO DE UMBANDA, começaram a pulular autores de "livros de umbanda" (antes somente Eliezer Leal de Souza havia escrito algo), cada um tentando impingir aos seguidores de suas seitas e ao público, suas formas de culto misturados como aconteciam nas MACUMBAS CARIOCAS que era uma mistureba de tudo e qualquer coisa (leia-se de João do Rio - AS RELIGIÕES DO RIO, publicado em 1904). E isto foi tão marcante - esta ânsia de se escrever e divulgar o que seria umbanda segundo suas crenças - que o senhor Lourenço Braga, por exemplo, publicou em 1942 (logo após o Congresso) o seu livro "UMBANDA (magia branca) e QUIMBANDA (magia negra).", tendo na ocasião, inclusive, feito sua própria proposta sobre quais seriam as 7 Linhas de Umbanda (vide http://registrosdeumbanda.wordpress.com/2009/10/04/as-sete-linhas-segundo-lourenco-braga/), tendo depois, em 1955, ele mesmo feito modificações tipo RECALL, como os que hoje vemos a toda hora anunciados por fabricantes que, na ânsia de venderem seus produtos rapidamente, só vão fazer as correções algum tempo depois e mesmo assim se alguns notarem as falhas.
Paralelamente, e como já dissemos antes, muitos praticantes de cultos mistos (pra não chamá-los de macumbas), já antes do Congresso e principalmente após este, passaram a adotar o rótulo de "umbandas" por conta de diversos fatores, tendo-se entre estes o fato de a Umbanda ter arregimentado para suas hostes pessoas de certo destaque social, digamos assim, o que de certa forma a tornou menos perseguida pela polícia que naquela época já invadia terreiros africanistas e mistos que acabavam auto-denunciados pelo ruído que provocavam com seus tambores, o que a Umbanda então criada não usava.
Nesta leva de cultos mistos o chamado Culto Omolocô, trazido para o Brasil por Maria Batayó, e que desde sua orígem já seria um culto misto por ter se originado numa região africana entre Angola e a terra dos Yorubás (Lokojá, parte Yorubá e Lunda-Quioco, parte Angola) teve aqui uma disseminação maior por conta de Tancredo da Silva Pinto que por sua vez, cismou que Omolocô era Umbanda, apenas porque, como muitos ainda pensam e defendem como tese, em seus cultos eram permitidos os chamados CATIÇOS, que seriam os Espíritos de Pretos Velhos, basicamente, Caboclos e Exus, esquecendo-se este que antes de ser só pela presença destas entidades, Umbanda já nasceu com DIRETRIZES e FUNDAMENTOS que nenhum culto Omolocô, Ketu, Angola, Jêje, Fon, etc., tinha em suas bases, destacando-se a relação ESPÍRITO/CARIDADE, pois todos esses cultos, mistos ou não, não tinham a CARIDADE ATRAVÉS DOS ESPÍRITOS (Catiços para eles) como fundamentação, como base de suas ritualísticas, sem querer adentrar por mais fundamentos até contrastantes.
Só por não assumirem este fundamento acima, já não deveriam se auto-rotular umbandas .... mas muitos o fizeram. E o que começou a ser passado a público por essa auto-rotulação?
Que em umbanda havia TOQUES de atabaques; que em umbanda havia roupas especiais para Espíritos trabalharem; que em umbanda exu era orixá; que em umbanda havia "saída de santo"; que em umbanda se cortava ou se imolava pra isto ou aquilo e tantas outras coisas mais que, na verdade, eram práticas dos cultos mistos que se auto-rotularam mas que acabaram entrando para a CRENÇA POPULAR como Umbanda pelo tanto de "sabedoria" que se espalhou e foi amplamente divulgado através de livros dos "autores pós Congresso".
Bem, como hoje quase todo mundo está inclinado a aceitar tudo o que se mistura como umbanda, o que podemos concluir?
Que na verdade a Umbanda, que nasceu para ser diferenciada das Macumbas Cariocas desde seu mais básico fundamento, hoje pode ser considerada A PRÓPRIA MACUMBA CARIOCA, de tantas misturas de crenças, práticas e ritualizações que se vê serem apregoadas como "de umbanda".
Mas ... voltando à REAL e sendo até bastante flexível no que pode ser considerado Umbanda e o que não pode, e passando a considerar alguns adendos como técnicas de terreiro (mas não fundamentos porque não existem em todos), sem fugir dos fundamentos verdadeiros da Umbanda podemos aceitar o uso de atabaques, bem assim como a entrada dos exus (entre outros) nas Umbandas como Povo Auxiliar, por sinal de grande valia quando são orientados para trabalharem de acordo com a Lei, até porque essa foi u'a máxima também deixada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas quando falou de ENSINAR AOS QUE MENOS SOUBESSEM.
Aceitando então a presença de nossos COMPADRES e sabendo que eles vieram (e vêm) da QUIMBANDA, culto no qual A LEI PROVÉM DELES MESMOS e que também se difere da Umbanda em seu fundamento mais básico (ESPÍRITO/CARIDADE), desde o início os cultos mistos que aceitavam exus, e se auto-rotularam umbandas, sabiam que exus viriam para a umbanda principalmente para aprenderem com a Lei e as entidades que já a obedeciam e no intuito de largarem as práticas de escambo às quais estavam totalmente ligados e pelas quais trabalhavam sem refletirem no fato de estarem fazendo bem ou mal, mantinham-nos sob vigilância de diversas formas evitando que as práticas mais pesadas de Quimbanda, às quais estavam acostumados, fossem praticadas nos terreiros que acabaram sendo reconhecidos como Umbandas Cruzadas.
Cruzadas por que? Porque em suas giras, CRUZAVAM LINHAS (formas) DE TRABALHO (Umbanda/Quimbanda) de acordo com a necessidade, dando a esses Espíritos a oportunidade de trabalharem sem as antes obrigatórias trocas de favores e "presentes" (escambo) ao mesmo tempo em que iam se aclimatando à nova realidade - TRABALHO PARA A CARIDADE!!!
Na medida em que um exu se adaptava mais à nova Lei, era considerado (por nós, encarnados) BATIZADO NA LEI DE UMBANDA e na seqüência, quando o exu já tinha se adaptado totalmente à nova Lei e já não fazia jogo de interesse de forma alguma, era então considerado COROADO NA LEI DE UMBANDA, o que, como já expliquei antes, não queria dizer que ele traria uma coroa em sua cabeça, até porque este título lhe era dado por nós, os encarnados, apenas.
Outros cultos mistos, no entanto, sequer se preocuparam em entender que exu estava ali, principalmente para aprender sobre a Lei, e as novas técnicas de trabalho, e os deixavam trabalhar em seus terreiros da mesma maneira que trabalhavam em suas Quimbandas e, embora esses outros cultos também se auto-rotulassem umbandas e fossem reconhecidos como UMBANDAS CRUZADAS, passaram a receber maiores influências e domínios do povo da rua e das calungas, como também eram conhecidos os compadres, justamente pelo poder de sedução que esses Espíritos são capazes de exercer, principalmente sobre pessoas mais necessitadas de "uma força", como se costuma dizer, e mais ainda sobre os IMEDIATISTAS que, antes de sequer pensarem em mudarem em si muitos dos fatores que os levam a decaír, preferem dar logo uma solução aos problemas causados ou criados muitas vezes por eles mesmos, pelo caminho mais curto, o caminho do "EU LHE PRESENTEIO E O SENHOR ME QUEBRA O GALHO"!!!
Como conseqüência deste comportamento, vemos ainda hoje alguns terreiros que se dizem de umbanda serem dirigidos por Exus, Pomba Giras, Pelintras, etc., que mantém "Pretos Velhos", "Crianças" e "Caboclos" sob suas tutelas e fazem suas próprias leis.
Como a gente sabe que isto é uma completa INVERSÃO DE VALORES, só podemos concluir que essas entidades que se apresentam como "pretos velhos", "caboclos" e "crianças" nestes terreiros, estando sob a tutela de exus, só podem ser menores que eles ou, por outro lado, tão exus (em termos energéticos, vibracionais) quanto eles.
Pois muito bem. Nesses terreiros em que exu trabalha como aprendeu na quimbanda junto aos seus, é claro que os cortes, principalmente dos animais de duas patas, costumam ser "remédio" para grande parte dos males que afligem os necessitados, porque foi assim que exu aprendeu a trabalhar e nada lhe foi ensinado de outras técnicas que, mesmo mais lentas, não tão imediatistas, acabam chegando aos mesmos fins sem a menor necessidade de menga, ejé, sangue. Mas o problema é que esses terreiros também são chamados de umbandas e muitas vezes nem se tratam por CRUZADAS, donde advém o início de toda essa confusão que leva a crer que em umbanda há cortes e menga nos trabalhos.
Mas agora vamos organizar e tentar entender como funcionam as coisas dentro de um terreiro CRUZADO de verdade, que tenha giras específicas de exus comandadas por Coroados ou apenas Batizados na Lei de Umbanda, sendo este terreiro DE UMBANDA DE FATO E DIREITO por se fundamentar nas bases lá atrás citadas - ESPÍRITOS - CARIDADE.- HUMILDADE EM TODOS OS SENTIDOS.
Ainda em relação a esta classificação dos exus dadas por nós, os Coroados são os que não exigem mais a menga para seus trabalhos - isto é um fato por já terem aprendido a trabalhar sem. Os Batizados apenas, dependendo de cada situação, podem ou não usar o corte e a menga, mas os que são considerados PAGÃOS NA LEI DE UMBANDA, com certeza vão pedir cortes e trabalharão ainda por "trocas de favores", não sendo isto uma maldade deles especificamente, mas sim uma TÉCNICA DE TRABALHO que aprenderam e com a qual estão sintonizados por não terem tido a oportunidade de estar em contato com entidades que lhes poderiam ensinar outras técnicas.
Primeiro ponto a ser observado - Os terreiros ditos CRUZADOS são aqueles que adotam GIRAS DE EXUS, sejam elas em dias específicos ou como parte da Gira Geral, como continuidade das GIRAS DE CABOCLOS E PRETOS VELHOS;
Segundo ponto a ser observado - Sendo a Gira de Exu uma continuidade da Gira dos Velhos e Caboclos, no momento em que ela acontece, diz-se estar VIRANDO A BANDA (claro que você já deve ter ouvido isto). E diz-se isto por que? Porque neste momento está-se SAINDO DA UMBANDA (ou fechando-a) E INICIANDO A PARTE QUIMBANDA da Gira Geral. A partir daí, qualquer pedido de corte que possa existir está acontecendo NA GIRA DE QUIMBANDA que o terreiro de Umbanda está realizando.
Como a Gira de Quimbanda está sendo realizada no terreiro de Umbanda (Cruzada), a maioria dos observadores confunde as coisas e, não entendendo que a partir daquele ponto é Quimbanda e NÃO UMBANDA, acredita que possíveis cortes pedidos fazem parte da Umbanda, quando NÃO FAZEM!
Em outros terreiros, já se anuncia a Gira de exus para tal dia e, esquecendo-se também de que GIRA DE EXU é o mesmo que GIRA DE QUIMBANDA, se a banda for comandada por exus apenas Batizados na Lei de Umbanda ou os não Batizados (Pagãos na Lei), os cortes (as copagens) podem fazer parte das práticas rituais, pelos motivos já expostos acima.
Ora, se você acompanhou bem o exposto e passar a observar que na grande maioria das vezes quem pede cortes é exu, seja em terreiros de Umbanda Cruzada, seja em terreiros de Quimbanda pura, entenderá a confusão que se forma por não entenderem (e alguns fazerem questão de não entender) que a Umbanda, nos terreiros Cruzados, termina onde começa a Quimbanda e que a partir daí, dependendo da direção da chefia espiritual e material do terreiro, podem OU NÃO acontecer ESCAMBOS E COPAGENS.
Um outro exemplo que explica melhor ainda encontramos nos terreiros que fazem Giras específicas de Ciganos. Veja bem e analise friamente que você vai entender direitinho porque, além desse povo não ser povo de Umbanda e sim agregado, quando se faz Giras específicas para ciganos seguindo-se a ritualística, as crenças, as divindades, as lendas,etc., que esse povo traz como "seus fundamentos", fica claro que a Umbanda está fora, ainda que esta Gira ou Sessão esteja acontecendo dentro de um terreiro de Umbanda, por vontade de seus dirigentes.
Partindo-se deste princípio, então, se as ciganas ou ciganos pedirem ouro e pedras preciosas pra enfeitarem seus médiuns (e isto acontece sim, em alguns locais) será que podemos dizer que PEDIR OURO é princípio de Umbanda ou que Umbanda exige ouro em seus trabalhos?
Voltando então àquela pergunta que tenho certeza que muitos fariam sobre o tirar da lista das Umbandas os terreiros onde exus pedem cortes ...
A resposta é ... não sei! Cada um que reflita e julgue por si se deve ou não porque o mais importante que se deve entender é que Gira de Exu é Gira de QUIMBANDA e, sendo Coroado, Batizado ou não, se exu pedir corte vai fazer pelo que aprendeu NA QUIMBANDA e não na UMBANDA!
-"E o caboclo lá do terreiro que também pede corte, Claudio? Ele se apresenta como caboclo e não exu e também pede! E aí, como é que fica?"
Ele é caboclo, certo? Mas não se engane porque ele, antes de ser um Caboclo (índio como deve estar se apresentando) da Lei de Umbanda é, verdadeiramente, evolutivamente e energeticamente, tão quimbanda quanto os outros exus. A diferença é que não se apresenta como tal, apenas isto. As técnicas e táticas de trabalho de uma entidade servem para que se note seu grau de conhecimento e de aplicação da Lei de Umbanda. Se ele necessita e faz uso de cortes e menga ele é um Quimbanda ou Quimbandeiro e não um Umbanda.
E como tem gente que se fere à toa e tem a tendência de ver sempre ataques às suas crenças quando alguém tenta colocar as coisas nos devidos lugares, principalmente não sendo estas as orientações que têm por pura crença (muitas vezes sem qualquer embasamento), é importante dizer aqui que não se está menosprezando o trabalho desta ou daquela entidade, trabalhe ela como Quimbanda ou como Umbanda, mas apenas separando o que é da Umbanda, o que é da Quimbanda, o que é do Ciganismo, etc., para que não se diga mais que Umbanda tem cortes (da Quimbanda) ou que adore a Santa Sara (do Ciganismo), só porque alguns terreiros assim ajam. Sabendo separar até onde vai a Umbanda nos terreiros e onde começam as outras práticas que esses terreiros adotam, complica-se menos a Umbanda e entende-se melhor esse emaranhado de cultos e crenças.
Num resumo que creio, vai tornar tudo mais fácil ainda de se entender, veja bem:
1- Entidades da Lei de Umbanda (Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Exus e Pomba Giras Coroados na Lei) NÃO PEDEM CORTES, não trabalham com menga;
2- Entidades da Quimbanda (Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Exus e Pomba Giras não batizados na Lei) podem pedir (ou não) cortes, seja trabalhando no terreiro específico de Quimbanda ou na Quimbanda dentro do terreiro de Umbanda Cruzada.
Espero que possa tê-lo(a) ajudado a entender o que muitos parecem não querer!
Fraterno SARAVÁ a todos!
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