sábado, 14 de maio de 2022

Elas acendem velas pretas E começam a magia A magia é negra A ambição é escura A meta é fazer algo inimaginável. Elas costuram casais de bonecos Alguns elas amarram juntos Outros elas separam.

 Elas acendem velas pretas
E começam a magia
A magia é negra
A ambição é escura
A meta é fazer algo inimaginável.
Elas costuram casais de bonecos
Alguns elas amarram juntos
Outros elas separam.

Elas acendem velas pretas
E começam a magia
A magia é negra
A ambição é escura
A meta é fazer algo inimaginável.
Elas costuram casais de bonecos
Alguns elas amarram juntos
Outros elas separam.
Elas degolam a galinha de penas pretas
Elas enrolam o coração de um boi
Em lã vermelha
Elas fervem pimenta dedo de moça
No vinho tinto
E fazem a magia negra.
As três são belíssimas
Mas na penumbra da madrugada
Ninguém consegue identificar
Os belos rostos.
As três estão no meio na mata
Caçando a serpente grávida.
As três são frutos do ensinamento
Passado no porão de um bordel
De uma a outra desde a época
Que Évora rastejada nas cidades Mouras.
As três estão na encruzilhada de terra
Enterrando no meio dela
Uma caixa com os ossos de um porco
E os fios de cabelo de uma pessoa
Que foi amaldiçoada.
Elas varrem a porta da casa da beata
E jogam o pó na cova do suicida
E da criança morta pela peste.
Elas se debruçam no rochedo
Na beira da praia
E lançam na água salgada
Um sapo com a boca costurada.
Sussurram no ouvido do homem
sentado a mesa de um bar,
O que ele faz depois é coisa
Que jamais faria.
Quando elas passam
O olho do homem não consegue ver
Mas os cães uivam de pavor
Os cavalos batem os cascos
E os gatos... os gatos nada temem.
Elas enterram um melão
Recheado com vísceras para
Fazer uma vida não nascer.
Elas surrupiaram a camisa
De um rapaz e nela deram três nós
Depois atiraram no fundo de
Um poço seco.
Elas cantam com vozes de sereia
Um canto tão belo que hipnotiza
Mas a letra das cantigas
É aterradora.
Elas foram até a capela dos velórios
E bordaram na face interna
Do paletó de um morto
O nome de uma mulher,
E esta enlouqueceu.
Elas dançam uma ciranda alucinada
Murmurando as coisas que fizeram.
Elas zombam dos que delas tem medo
Mas sabem que o medo é justificado.
A voz suave de cada uma
As vezes reverbera em uma gargalhada
Que é similar ao som de um trovão.
Elas rodopiam em cima de lápides
E laçam almas perdidas tal qual
Touros em um rodeio.
Elas não tem medo nem do Deus
Nem da Deusa,
Nem os antigos pagãos
Nem os novos filhos da Cruz
Lhe causam nada além de risos.
Um conselho bom é ser amigo delas
Pois os que ela julgam inimigos
Passam a vida lambendo o pó da terra.
Elas continuam a andar
Bamboleando os quadris.
Na maioria das vezes elas
Tem cheiro de perfume
Mas em outros momentos cheiram
A bebida, a rosas, a velas e a morte.
Não há livro sagrado
De cruz entalhada em madeira
Nem água benta em pia batismal
Nem reza santa
Com credo e ave Maria
Que cause nelas o mais leve arrepio.
De vez em quando elas vão a igreja
Ver a missa e dar boas gargalhadas.
Com véus negros sobre os rostos
Acendem velas de libra
Sobre o altar de Santos
Crentes que a chama agrada
Aquele de sete nomes.
Quando a missa acaba
Escolhem um ou dois
E destes fazem capacho.
Elas não gostam de luz acesa,
De lampada de casa nova,
Elas não gostam do dia,
Do sol amarelo que para elas
É como açoite na Carne.
Amam a noite
Amam a luminosidade fraca
E esbranquiçada da lua.
A lua é testemunha das diabruras delas.
Não se deve desafiar uma Maria
Mas elas amam os desafios
E semprem vencem.
Sempre vence quem não tem
Pudor de fazer trapaça.
Elas tem gente viva a serviço delas
E os chamam de Cavalos.
Alguns cavalos pensam que elas
Trabalham para eles
E elas deixam que pensem assim
Quando no fim é o contrário.
Elas são terríveis.
As vezes elas travam guerras entre si
Mas logo que uma meta as une
La estão as três juntas
Caçando na madrugada.
Vindo de braços dados na estrada
Com os olhos aguçados
Como os da coruja rasga-mortalha
A procurar aquele que naquela noite
Se arrependerá do dia do próprio parto.
A mais velha tem quatrocentos anos
As mais novas trezentos cada
E cada ano que passa elas ficam maiores.

🐱Maria Quitéria,
Amargura na forma de uma boneca.

🌹Maria Padilha,
Soberba esculpida em ouro.

♠Maria Mulambo,
O desprezo bordado em fio de seda.

Alguns dizem que as doutrinaram
E eu pergunto
Será a mente humana tão fraca
A ponto de se iludir assim?
As Marias gargalham e dizem:

-Sim.

Saravá a Maria Quitéria!
Saravá a Maria Padilha!
Saravá a Maria Mulambo!

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Felipe Caprini, Feliz dia das Bruxas!
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