Eu conheci Rainha das Sete Encruzilhadas
Em um terreiro ali pras bandas ja jaçanã.
Me lembro como se fosse hoje
De uma situação que aconteceu,
Não sei dizer bem os motivos
Mas em um dia de consulta
Eu conheci Rainha das Sete Encruzilhadas
Em um terreiro ali pras bandas ja jaçanã.Me lembro como se fosse hoje
De uma situação que aconteceu,
Não sei dizer bem os motivos
Mas em um dia de consulta
Uma senhora chegou no terreiro
Com um buquê de rosas enorme
E uma garrafa de espumante importado.
Dona Sete do mesmo modo que estava
Sentada em seu trono
(uma cadeira de palha, terreiro simples)
Ficou, acenou com a mão para a mulher sair.
A senhora com a voz trêmula
Disse que tinha trazido aquilo
E também o dinheiro
Mas dona Sete sem dar qualquer importância
Acenou novamente indicando
Que a mulher tinha de sair dali.
A mulher muito constrangida
Apanhou as rosas e a bebida,
Deu meia volta e se foi.
No fim da noite, quando as pessoas
Ja estavam indo embora
Eu perguntei a ela o que havia
acontecido com aquela senhora
E Rainha me contou.
Anos antes o filho mais velho
Da mulher estava doente,
Pelo que pode entender era
Algo incurável, terminal.
A senhora fez de um tudo
Pois era de uma família muito rica,
Mas há coisas que o dinheiro não compra.
Foi então que lhe indicaram
Ir falar com dona Sete.
Ela não é uma pombagira muito dada
A curas de doenças e coisas do tipo,
Mas acabou aceitando ajudar
Em troca de pagamento.
Então assim foi firmado
E em três meses o filho da mulher
Estava curado.
Só que, a mulher não voltou
Mais no terreiro,
Ela simplesmente esqueceu
De quem havia curado o rapaz.
Dona Sete falou que se fosse
Algo como uma amarração ou
Qualquer outra coisa ela teria
Simplesmente desfeito o feitiço,
Mas em um caso de cura como ela
Poderia recolocar a doença no garoto?
Ela não é uma boazinha, mas também
Não é má a esse ponto,
Então invés de desfazer quaisquer
Benefícios de saude que tinha dado,
O que fez foi mexer em outro lado.
A mãe tinha vindo atrás de salvar
Um filho, mas agora que não tinha
Cumprido sua palavra
Iria perder aquilo que mais amava.
Com uma gargalhada
Dona Sete me disse que simplesmente
Apanhou um fio solto na saia,
Uma linha que estava descosturando,
Então com a arrancou o fio com força,
Só isso, ali estava feito um feitiço.
Por eu não ter entendido muito bem
Perguntei o que significava puxar
O fio da saia, ela disse
"Foi o desejo do meu coração, quando rompi a linha da barra da minha saia, rompi também a ligação do coração do rapaz para com a mãe".
Então estava feito,
A mulher teria ali o rapaz saudável,
Mas filho ele não mais seria,
Pois ao romper da linha
O amor que ele tinha pela mãe
Simplesmente desapareceu.
Dona Sete contou que não demorou
Muito e a mulher veio atrás dela,
Veio finalmente pagar o que devia
E pedir para que fosse feito um trabalho
Para amansar o rapaz pois
Ele estava muito rebelde.
Dona Sete aceitou o pagamento
Do primeiro trabalho
Mas se negou a aceitar o novo,
E quando a mulher perguntou o motivo,
Dona Sete confirmou que havia sido ela
A responsável por afastar o rapaz dela,
E que aquilo era um castigo
Pela audácia de não ter cumprido
O acordo.
Então a mulher fez algo
Que é inimaginável de se fazer,
Dona Sete mostrou o rosto para mim
E disse rindo que a mulher ao ouvir
Aquelas palavras a atacou,
Deu um estalado tapa no rosto da Pombagira.
Sim meus caros,
Qualquer um de nós que conhece
A respeita as entidades sabe
Que isso é uma atitude que ninguém
Que não queria uma guerra
Deve tomar.
Dona Sete disse que não reagiu,
Sentou no trono diante da mulher
Apanhou a barra da saia
E foi puxando fios, puxava rindo
E cada vez que um rompia ela dizia
"seu marido, seu pai, sua filha, seu outro filho, sua irmã, sua tia, seu primo, sua mais intima amiga..."
E foi puxando fios ate ter nas mais
Um bolo de linha, a qual queimou
Na chama de uma vela.
A mulher após fazer muito escândalo
Se foi, mas não passou nem uma semana
E retornou, agora o ar de braveza
Havia passado, vinha chorosa
Pedindo ajuda, disse que havia
Tido sérias rusgas com absolutamente
Toda a família, e que agora
Morava sozinha no apartamento
Antes habitado por todos,
O marido foi o Primero a ir
Depois um a um se foram,
E que nem mesmo os vizinhos
A cumprimentavam mais.
A mulher veio com uma bolsa
Cheia de dinheiro e pediu para
Dona Sete desfazer o que tinha feito
Mas a Pombagira disse não.
Assim se passaram os anos,
A mulher havia procurado outras
Entidades de outros terreiros
Mas nenhuma havia assumido
Empreitada contra os mandos de Dona Sete,
A mulher agora vivia sozinha
Em uma casa vazia
Sem ter o amor de absolutamente ninguém.
Fiquei muito contrariado
Ao saber desta história
Pois ao mesmo tempo que
Tive muita pena da senhora,
Reconheci também que o ato
Cometido contra a Pombagira
Era dos mais graves.
Dona Sete percebendo meus
sentimentos confusos, falou:
"No mundo tudo tem um lugar, tudo tem um peso. Ninguém acorrentou a mulher e a obrigou a vir ter comigo, ela veio porque quis, o destino que a castiga foi alcançado por ela com as próprias mãos. Dizem que quem pode mais é Deus, mas Deus só age nos caminhos de sabedoria, os tolos podem clamar a ele o quanto quiseres que não se livrarão do chicote que merecem. Não tenha pena, tenha medo, o medo lhe ajudará a não cair em buraco igual."
Muitas vezes tive a oportunidade
De falar com Dona Sete,
Ser agraciado por sua presença
E ouvir dela as histórias de quando
Em vida havia sido rainha
Mas terras do velho continente,
Mas mesmo em meio a tantas
Graças e bandolices, jamais
Fugiu de minha mente
Que ali haviam limites que
Não podiam ser ultrapassados
E que se fossem
O preço viria e seria alto.
Saravá a Pombagira Rainha das Sete Encruzilhadas!
Felipe Caprini, memorias de terreiro
Espero que tenham gostado!
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