Magia negra, e o Grimórios Satânicos
Há quase tantas definições de magia por quantos os magos que existam, porem uma delas parece ser comummente aceite, e que é: «magia é a ciência e a arte de causar mudanças e eventos em conformidade com um desejo.»
A obra Malleus Maleficarum ( 1486), dos demonologistas Jacob Sprenger ( 1438 – 1495), e Heinrich Kramer, ( 1430 – 1505), afirma expressamente que se é verdade que os poderes e efeitos da magia negra, da bruxaria e dos trabalhos de magia negra não se podem ver, porem a natureza está cheia de coisas que não se podem ver e porem são reais, como o magnetismo que atrai ou repulsa metais, tal conforme também afirmou são Agostinho ( 354 – 430), no XX livro da sua obra «A Cidade de Deus». Sprenger e Kramer afirmam no Malleus, que «O poder do Diabo é influenciar a vontade do homem» Por isso, o poder da magia negra é influenciar a vontade do homem, seja através das tentações dos pecados que o aliciam, seja pelos castigos que o atormentem caso teime em não ceder aos fins de uma bruxaria. Seja como for, aquilo que uma bruxaria faz é vergar a vontade do homem, seja a bem e pelas delícias das tentações, ou seja a mal e pelos infernais castigos dos tormentos. Afirmavam igualmente os demonologistas Sprengere Kramer, que «abjurar a fé cristã, é a raiz da bruxaria». Sobre as amarrações amorosas, diz o Malleus Maleficarum que o Diabo pode levar as pessoas ao amor ou ao ódio, e que o faz de duas maneiras, uma visível, e uma invisível. A maneira visível é fazendo-se manifestar num corpo, e persuadindo a pessoa a pecar. Foi assim que o Diabo fez com Adão e Eva no paraíso, e também como abordou Jesus no deserto, aparecendo-lhe numa forma visível. A maneira invisível, é perturbando o intelecto da pessoa, seja lançando-lhe tentações deliciosas que a fazem desviar do caminho certo, ou então castigando-o com duros castigos para o demover de permanecer no caminho que está. È justamente assim que as influencias diabólicas agem na vitima embruxada, ou seja, de maneira invisível, e invisivelmente perturbando a criatura amaldiçoada, até leva-la a ceder aos intentos do bruxedo. E por isso, a pessoa não tem alternativa senão ceder. E ela cede sempre.
Assim sendo, os ocultistas normalmente concordam que se «a magia é a ciência e a arte de causar mudanças e eventos em conformidade com um desejo», pois no caso da magia negra, tais mudanças e eventos são alcançados através do recurso a invocações de espíritos de trevas, assombrações, aparições e demónios. ( Para saber mais, leia: Magia negra, o que é a magia negra)
Os livros de magia negra onde se encontram contidos e registados os saberes ocultos que permitem celebrar trabalhos de magia negra, chamam-se Grimórios.
Pois na verdade, os mais fortes trabalhos de magia negra, assim como as mais fortes amarrações de magia negra, são feitas com recurso aos ensinamentos dos mais fortes e ancestrais Grimórios.
Um grimório é por definição um livro feitiços, encanamentos e bruxedos, contendo conhecimentos ocultos e formulas esotéricas para se executarem invocações de demónios, espíritos e assombrações, assim como os métodos para as controlar por forma a se produzirem os efeitos mágicos desejados. Nos grimórios também constam orientações quanto a procedimentos de rituais mágicos, até mesmo a nível das roupagens que se devem trajar no decorrer de uma celebração. Na antiguidade, chamavam-se-lhes os «livros negros». Alguns dos mais famosos grimórios eram atribuídos ao rei Salomão, havendo alguns deles sido redigidos em Constantinopla, antes da sua captura pelos Turcos. Os mais antigos encontram-se sempre escritos á mão, e uma cópia de um dos mais famosos grimórios – a Chave de Salomão – encontra-se preservada no museu Britânico. O Papa Honório III ( 1150 – 1227), possuiu um grimório de magia negra. Uma cópia desse grimório foi mais tarde feita em versão impressa no ano de 1629, e depois traduzida para várias línguas. Os mais célebres Grimórios pertencem ao rei Salomão, a Albertus Magnus (1200-1280), assim como a alguns Papas e bruxos lendários. Entre os mais notáveis, encontram-se: o Liber Spirituum, ou «O Livro do Oficio dos Espíritos», um grimório demonológico a que Johannes Trithemius ( 1462 – 1516), faz menção nos seus escritos; o manual hebraico chamado Shemamphoras; o Oupnekhat, um manual escrito em sânscrito e traduzido para Persa em 1802; o Grimoirium Verum, de Alibeck o Egípcio (1517); o Le Grimoire du Pape Honorius atribuído ao Papa Honorio III; o Tonalamalt, um antigo manual Mexicano; o Y-Kim, uma obscura obra do seculo IV; o Hell’s Coercion, atribuído a Johannes Faustus; o The Great and Powerful Sea Ghost de Faustus; o Lemegeton, ou A Chave Menor de Salomão, onde se descreve a hierarquia demoníaca; A Chave de Salomão, cuja a autoria é atribuída ao rei Salomão; O Testamento de Salomão, um relato do século X sobre a construção do templo de Salomão com a ajuda de demónios; o Liber Pentaculorum, que provavelmente é o mesmo que o tratado De Necromantia ad Filium Roboam que o padre Gretser, um Jesuíta Alemão encontrou na biblioteca do Duque da Baviera ; o Ars Almadel, um manual com instruções para contactar espíritos através de uma edificação; O Livro de Raziel, supostamente derivado do The Book of Signs , um livro magico atribuído a Adão.
A palavra grimório, que originalmente designava um livro escrito em latim, na verdade parece ter origem numa derivação da palavra «grammaria», que em latim significava «gramáticas»; Isto é: originalmente tratava-se de um livro escrito em latim, onde constavam saberes escritos na erudita gramática da língua Romana, e que apenas os eruditos conseguiam ler. Posteriormente, com o passar do tempo, a palavra começou a significar um livro onde estavam inscritos saberes ocultos, que apenas os conhecedores conseguiam ler e compreender. Nesses livros ocultos, estavam inscritas várias receitas fosse para curar, fosse para amaldiçoar, assim como formulas para invocação de demónios, e como deles obter certas vantagens. Na verdade, os tratados de magia já existiam muito antes do aparecimento da palavra «grimório». Eles existiam já entre os famosos bruxos do Egipto, assim como nas civilizações da Antiguidade. E porem, depois do advento do cristianismo a Igreja passou a designar esses escritos heréticos e satânicos como «grimórios». O notório filosofo Roger Bacon ( 1214 – 1294), escreveu importantes grimórios como o «Letter of the Secret Workings», assim como escritor, filósofo e teólogo Albertus Magnus ( 1205 – 1280), escreveu os célebres «Book of Charms», «The Book of the Moon», entre muitos outros tratados. Um dos mais reputados autores medievais sobre grimórios, foi o notório abade germânico Joahannes Trithemius ( 1462 – 1516). O abade beneditino foi autor de mais de oitenta títulos versando sobre preciosos saberes ocultos, e leu todos os grandes grimórios.
Entre esses famosos grimórios, estava o «The Book of the Four Kings», ao qual Trithemius chamou de uma obra «pestilenta», e que atribui a origem destes «trabalhos amaldiçoados» a são Cipriano, o bruxo, (f. 258 d.C),. A fama duradoura de são Cipriano, vem não da sua vida religiosa, mas sim do facto dele ter sido um grande bruxo antes da sua conversão, e ter celebrado um Pacto com o Diabo. Trithemius menciona igualmente um Treatise of Necromancy que ensina a como forçar os espíritos de trevas a obedecerem ao bruxo, assim como a obra do demonologista Pietro d’Abano ( v. século XIII), que continha iguais saberes de magia negra. Outro dos trabalhos que recebeu considerável atenção de Trithemius foi o Picatrix. A obra consiste em quatro volumes traduzidos em Espanha do Arábico para Latim em 1256, e contem ensinamentos considerados diabólicos. Em 1456, Jean Hertleib, o medico pessoal de Albrecht III, ( 1401- 1460), duque da Baviera, menciona o Picatrix como a obra mais impressionante e perturbadora que ele já havia encontrado nos assuntos do oculto. O padre, escritor e médico francês François Rabelais, ( 1494 – 1553), faz menção da obra ao situar em Toledo, Espanha, a existência do padre satânico que era o autor do diabólico Picatrix, e que era o doutor de uma escola satânica. O livro conseguiu sobreviver aos tempos, e foram depois feitas diversas traduções para Francês, Italiano, Alemão e Hebreu.
Um dos primeiros grimórios sobre magia negra e bruxaria, foi o Formicarius de Johannes Nider,(1380 – 1438), um reputado teólogo alemão. O grimório foi escrito em 1435, e publicado em 1475. Já o primeiro livro de demonologia a ser impresso mecanicamente, foi «Fortalicium Fidei», no ano de 1545, do celebre demonologista Alphonsus de Spina ( n. 1941), um influente Bispo franciscano Espanhol. Já Jean Vineti, um padre Dominicano Francês, publicou em 1450 o «Tratactus Contrademonum Invocatores», no qual combatendo os cépticos que descriam do oculto, Vineti confirma e comprova a realidade da existência de demónios, da magia negra, das bruxas e da bruxaria. Já o notório Grimório Errores Gazariorum de 1450, aborda os Sabbat Satânicos onde as bruxas se entregam á adoração de Satanás, assim como lhe manifestam veneração através de obscenos rito heréticos, entregando-se depois a profanos festins de luxuria com demónios, para depois celebrarem os seus mais fortes trabalhos de magia negra. O culto satânico é por isso comprovado, verificando-se que a sua existência é uma realidade que causa sérios efeitos de magia negra. O primeiro grimório escrito em Francês, é o La Vauderie Lyonois, uma compilação feita pelo padre e inquisidor de Lyon, França, região na qual existiram notórios cultos satânicos, alguns deles dentro da própria Igreja, em conventos e abadias. Soube-se assim da existência de freiras e padres satânicos, e das suas lendárias missas negras. Henri Bouget ( 1550-1619), foi um notório demonologista francês, autor da obra Discours exécrable des Sorciers (1603), nos quais muitos aspectos da magia negra e bruxas são sistematizados.
17px;">Quando se fala sobre a natureza e a forma como funcionam os trabalhos de magia negra para o amor e amarrações, podemos encontrar as mais adequadas respostas no célebre Manual de Munique ou Liber Incantationum . O Manual de Munique é famoso um grimório de magia negra do século XV, encontrado na Baviera. O célebre grimório de magia negra revela conhecimentos sobre a magia demoníaca, hoje em dia chamada magia negra, que é a magia que apela a espíritos de trevas e demónios para operar as suas finalidades. O grimório encontra-se escrito maioritariamente em latim, havendo porem algumas partes escritas em vernáculo, e é consensual que os seus autores eram clérigos, padres, monges ou freis profundamente versados nas artes da magia negra, havendo mesmo quem afirme que se tratavam de padres satânicos, ou seja, padres que de tal forma fascinados pelo oculto, acabaram por entra em contacto com o demónio, profanando depois os seus votos do sacramento sacerdotal, e celebrado Pacto com o Diabo. O grimório oferece formulas para conjurar todo o tipo de demónios. Uma das finalidades dessas inovações, é precisamente infestar alguém com demónios, de forma a faze-la ceder aos desejos amoroso ou eróticos de outrem. Cedendo a possessão demoníaca abandona a vitima, e porem andando a vitima a resistir ao bruxedo, então a infestação demoníaca persiste, sempre aumentando paulatinamente, até ao ponto de poder levar a vitima á loucura, ou até á fatalidade. Por isso mesmo, a pessoa não tem alternativa senão ceder. E ela acaba sempre por ceder.
Existe um famoso grimório de magia negra do século XVIII chamado Petit Albert. ou Petit Albertus. O grimório teve um enorme sucesso nos círculos do oculto, especialmente entre bruxas veneradoras de Satanás, e os efeitos dos seus bruxedos são tão certeiros que se tornaram lendários. Nos círculos do oculto afirma-se que seu autor foi o notório frade dominicano, Bispo e ocultista Germânico Albertus Magnus, ( 1205 – 1280), motivo pelo qual a obra se chama «Pequeno Albertus», pois que muitas bruxas olhavam para este grimório como um pequeno mestre que as acompanha, e que era do célebre Bispo Alberto.O grimório foi sendo passado de mão em mão em versões manuscritas, até que foi publicado em 1602. Nesse grimório pode-se encontrar uma poderosa formula de magia negra para fazer qualquer mulher ou homem vergar amorosamente á vontade de quem a bruxa dirigir aquele trabalho de magia negra. A formula de magia negra inclui o encantamento «esa, seu masmo caldi male ame es», e quando usado conforme os ritos certos de um bruxedo de magia negra, ele fará com que a pessoa embruxada não tenha descanso senão quando se entregar a quem a bruxa decretou, e lhe faça a sua vontade. E por isso, a pessoa não tem alternativa senão ceder. E ela cede sempre.
Entre os grandes demonologistas da historia como Jean Bodin (1520-96), um jurista e filosofo francês, autor da notória obra «De lá Demonomanie des Sorcieres», e Pierre de Lancre ( 1553 – 1631), autor de varias obras influentes, tais como Tableau de L’Inconstance de Mauvais Anges de 1613, L’Incredulité et Mescréance du Sortilége de 1622, e De Sortilége de 1627, encontra-se também o notório Pierre Le Loyer ( 1550 – 1634), autor do Discours Et Histoires Des Spectres publicado em 1605. Sobre o uso de pedras mágicas na bruxaria e magia negra, Le Loyer afirma na sua obra que «no que diz respeito aos demónios que essas rochas aprisionam em anéis, através de encantos» havia grandes segredos que os bruxos da escola de Salamanca e Toledo dominavam, e que estavam inscritos no famosos grimório Picatrix. Através desse grimório, Le Loyer descreve como se podiam invocar demónios Mercurianos para bruxedos relacionados com riqueza, demónios Saturninos para bruxedos relacionados com maldiçoes e vinganças, demónios Marciais para bruxedos que vençam contendas, e bruxedos Venusianos para demónios afrodisíacos que eram capazes de despertar os amores vais arrebatadores em qualquer pessoa que se desejasse, alterando o temperamento e comportamento dos homens. Era dessa forma que muitas bruxas lançavam os mais fortes bruxedos, incluindo as mais fortes amarrações que acabavam por fazer qualquer homem ou mulher ficarem arrebatadamente enamorados e irresistivelmente apaixonados por quem os mandasse embruxar.
Os primeiros e originais grimórios
Os verdadeiros e ancestrais grimórios encontram-se normalmente escritos á mão. Estão elaborados dessa forma, pois foram escritos antes da invenção da imprensa por Johannes Gutenberg ,(1400-1468), e porem outros continuaram mesmo assim a ser escritos manualmente, a fim de manter tais livros no maior dos secretismos, evitando assim a perseguição da igreja. Mas há ainda outra explicação: é que muitas das vezes a forma como um grimório era elaborado, ocorria conforme certos processos místicos, que faziam do livro não apenas um livro sobre magia, mas sim artefacto magico em sí mesmo. Alguns grimórios foram escritos em pele de bodes negros, outros com tinta que continha sangue, etc. Há vários artefactos históricos produzidos com saberes ocultos, e que por isso ganhavam propriedades sinistras e sobrenaturais, como o celebre violino de 1691, cujo o revestimento foi pintado com uma formula de verniz que continha algumas gotas de sangue de uma jovem mulher falecida num parto, e que tornou o violino num instrumento capaz de transmitir sensações e e uma sedução quase hipnótica a quem o escutava em deleite, ao passo que amaldiçoando o seu proprietário a um pacto infernal. Ou seja: neste caso destes Grimorios produzidos de uma certa forma diabólica, o próprio livro assumia características místicas e espirituais, tornando-se portador de certas forças e entidades espirituais,e por vezes até de maldiçoes de magia negra.
Os primeiros e mais antigos grimórios, apareceram em dois formatos: um era uma espécie de pequeno livro de bolso, de vinte e cindo a cinquenta paginas, destina a ser rapidamente consultado pelo bruxo em qualquer ocasião de necessidade, ou quando a bruxa ia celebrar um trabalho de magia negra, ou quando a bruxa se deslocava a algum local para ir executar uma bruxaria. O segundo formato era um livro enorme, por vezes de proporções gigantescas, para ser consultado no lar da bruxa. Estes últimos, nunca foram impressos, e são apenas encontrados na forma de manuscrito, em coleccções de bibliotecas e museus. Estes livros normalmente já são diferentes dos normais grimórios que se podem encontrar nos dia de hoje, uma vez que muitos deles contem bruxedos incorporados ao próprio livro. Por exemplo: há rumores sobre grimórios que foram encadernados em pele humana de mortos pagãos que nunca conheceram o baptismo, e cujo o próprio livro foi objecto de uma magia negra. Nesses casos, tais livros costumam vir acompanhados de uma maldição, a fim que apenas bruxas e bruxos de verdade os possam consultar. Nesses casos, o próprio grimório não apenas contem ensinamentos de magia negra, como se torna em si um objecto de magia negra. Há porem uma regra universal quanto a todos os ensinamentos de magia negra contidos nestes grimórios, e isso é a regra do secretismo. Essa regra tem sempre sido sublinhada por todos os demonologistas e bruxos. Muitos grimórios sublinham que revelar a fórmula de um bruxedo a um não-iniciado, torna essa magia negra completamente ineficaz. Há ensinamentos que afirmam que até o simples facto de revelar um ensinamento a um aprendiz não-iniciado, pode automaticamente anular o bruxedo. Sobre isso, disse notório ocultista Cornelius Agrippa ( 1486 – 1535),:
«Toda a arte mágica abomina o publico e a publicidade. Ele procura sempre ser oculto, é fortalecido pelo silencio, mas destruído pela declaração, e o seu efeito não ocorre por ter sido exposto ou a tagarelas, ou descrentes, ou a ambos».
Uma característica comum a muitos grimórios, é terem sido escritos num Latim desarticulado, sem lisura nem correcção gramatical, uma autentica amalgama de mistura de palavras de Latim, com Grego e Hebraico, numa miscelânea fortemente truncada e distorcida. Muitas vezes a incompreensível distorção acontecia, porque aquilo que importava era a melodia dos encantamentos. Por vezes estes encantamentos estavam até dispostos em letras misturadas formando um símbolo que apenas o bruxo conseguia compreender e pronunciar. Há que relembrar que invocar demónios e espíritos de trevas é perigoso, e uma pessoa incauta, leiga ou ignorante que usar erradamente de uma invocação, pode sofrer uma fatalidade. Por isso, as bruxas encriptavam esses encantamentos de forma incompreensível aos olhos dos desconhecedores, para impedir a divulgação de segredos aos leigos. Por outro lado, durante a Idade Media, para prevenir as perseguições da Inquisição, houveram também formulas que foram escritas como se fossem dirigidas a Jesus e aos santos, quando na verdade se dirigiam a demónios e a Deuses Pagãos. Os antigos encantamentos dos tempos pagãos não desapareceram, eles simplesmente evoluíram. Por vezes, estavam diante dos olhos de toda a gente, e porem apenas aqueles que tinham a chave para os compreender, é que sabiam os segredos por detrás de certa oração, reza ou mezinha aparentemente cristianizada. A estrutura dos velhos bruxedos e encantamentos pagãos não tinha mudado, simplesmente a terminologia é que se tinha adaptado para sobreviver. Depois, para esconder os segredos mágicos dos encantamentos inscritos nos grimórios, usaram-se também várias técnicas como a aliteração , ( repetição de letras ou silabas ou sons numa frase), homofonia, ( uso da semelhança de sons de pronuncia), palíndromos, (palavras que se podem ler para a frente para trás de igual forma), acrónimos ( aquilo a que se chama as siglas), etc. Todos estes, e muitos outros segredos, podem ser encontrados nos mais ancestrais grimórios de magia negra.
O médico bávaro Joahannes Hartlieb ( 1400-1468), foi um daqueles que se dedicou a pesquisar sobre as artes proibidas da magia negra, e catalogou uma serie de grimórios. Porem, sendo o seu próprio livro – o catalogo sobre grimórios -, uma porta aberta ao conhecimento desses grimórios – normalmente mantidos ocultos e em segredo – , o dr Hartlieb debateu-se com o perigo que a sua própria obra representava, caso caísse nas mãos erradas. O dr Hartlieb deu assim valiosas referencias sobre alguns dos mais míticos e famosos Grimórios de magia negra, sendo eles:
Sigillum Salomonis,
Clavicula Salomonis,
Hierarchia,
Shemhamphoras,
Algumas destas obras eram atribuídas ao rei Salomão, o famoso monarca hebraico que terá reinado entre 970 a 928 aC. Sobre a verdade da vida e obra deste lendário rei, atestou o historiador Flavius Josephus, que no primeiro século depois de Cristo, aludiu sobre a magia salomónica, dando testemunho dos seus poderes. Foi então que se soube que foi através de magia negra e trabalhos de magia negra – invocando, controlando e comandando demónios – , que o rei Salomão conseguiu a histórica tarefa de erguer o majestoso Templo de Jerusalém.
Outro famoso Grimório conhecido de todos os eruditos de magia negra, é o Picatrix. Nos finais do sec XIV, um historiador árabe chamado Ibn Khaldun falou sobre o livro, avisando sobre os temíveis ensinamentos diabólicos ali contidos, e dizendo mesmo que o livro era digno apenas de padres do diabo. Sobre este grimório, assim escreveu o historiador:
« aquelas são ciências que mostram como almas humanas se podem preparar para exercer influencias e mudanças neste mundo dos elementos, com ou sem a ajuda de seres ou elementos celestiais. Há duas formas de o fazer, a primeira é a bruxaria, e a segunda a arte dos talismãs. Estas ciências foram proibidas e banidas por muitas religiões, porque (…) requerem que os seus praticantes se relacionem com seres espirituais, que não Deus [ como demónios, espíritos de trevas, assombrações, aparições, almas de mortos…].».»
O livro foi originalmente escrito em arábico entre 1047 e 1051, algures em Espanha. O rei Afonso X de Castilha, encomendou uma tradução para espanhol em 1256. Hoje em dia, calcula-se que ainda existam dezassete copias que tenham sobrevivido á voracidade dos saques, destruição e devastação da santa Inquisição. A influencia deste livro pode ser observada na própria obra do celebre ocultista Agrippa von Nettesheim, um contemporâneo de Faustus, o celebre doutor que fez o lendário pacto com o demónio.
Outro famoso grimório veio a conhecer-se durante o julgamento de Jubertus da Bavária. Era um julgamento de caça ás bruxas, neste caso um bruxo. Jubertos era acusado da pratica de magia negra, e na verdade ele foi assistente de um bruxo chamado Johannes Cunalis, que era um padre. Porem, o padre Cunalis tinha-se secretamente convertido á magia negra, assim tornando-se um padre satânico. Jubertos serviu a auxiliou ao padre Cunalis nas suas artes de magia negra, a quem viu estar na posse de um livro de necromancia, através do qual o padre invocava espíritos de mortos e demónios. O ajudante testemunhou assim que o padre Cunalis usou desse livro para fazer pacto com demónios, e por diversas vezes usou dos seus poderes infernais para realizar espantosos feitos. Muitas das suas bruxarias eram famosas e vendidas a preço de ouro, inclusive as magia de amor, ou as AMARRAÇÕES. Foi dito pelo ajudante, que o livro era de tal forma poderoso, que o simples acto de o abrir podia lançar demónios a este mundo, e ser uma fonte de infestações e possessões demoníacas para curiosos que o fossem tocar. Por isso, assim se soube que o temível grimório apenas era manejado pelo próprio padre satânico, e após a sua morte este desapareceu misteriosamente, dizendo a lenda que ao longo dos séculos tem vindo a ser vendido e revendido por fabulosas fortunas, nos círculos dos amantes e conhecedores do oculto.
Outro grimório famoso foi o Enchiridion de Papa Leão III.
O Códex Latinus Monacensis, é um outro manuscrito que foi descoberto, e encontra-se na biblioteca da Baviera. Escrito em alemão, porem com formulas magicas em italiano. O livro continha o resumo de uma versão do liber consecraciounum , uma lista de espíritos, fórmulas para os invocar, um manual para magia astral, listagem dos dias adequados para a feitura de símbolos mágicos.
O Manual de Munique, atribuído por alguns a Roger Bancon – famoso padre e filosofo Inglês – ( 1214 – 1292), descreve formas de invocação de demónios, deixa avisos sobre as formas pelas quais os espíritos tentarão perturbar o conjurador, assim como dá indicações sobre os métodos para lidar correctamente com uma conjuração.
Houveram também outros poderosos Grimórios de magia negra inspirados em saberes hebraicos e arábicos na Idade media, como o Lemegeton e Liber Officiorum, onde se catalogam os vários reis, duques, marqueses e condes dos infernos.
Obras famosas de demonologia
Há várias obras de demonologia historicamente marcantes e influentes, como o De lá Dèmonomanie des Sorciers ( 1580), de Jean Bodin, o Tratactus de Confessionibus Maleficorum et Sagarum ( 1589), de Peter Binsfeld, o Daemonologie ( 1597), de James I , o Disquisitionum Magicarum ( 1599) de Henri Boguet, o Compendium Maleficarum ou o Compendio das Bruxas ( 1608) de Francesco-Maria Guazo, o Tableau de de l’Inconstance des Mauvais Anges ( 1612), de Pierre Lancre, ou o De Demonalitate ( 1700) de Luduvico Maria Sinistrari.
Jacques Collin de Plancy ( 1793 – 1881), foi um célebre ocultista e demonologista Francês, que publicou diversas e reputadas obras sobre demonologia. O seu famoso «Dictionnaire Infernal» , um tratado de demonologia, foi publicado em 1818.
Todas estas e muitas outras, foram obras históricas de célebres demonologistas, onde estão inscritos muitos dos mais precisos saberes da bruxaria e da magia negra .
Quando o grande poeta Italiano Dante Alighieri ( 1265 – 1321), escreveu o seu poema épico Divina Commedia ( 1304 – 1208), ele era para representar uma jornada no caminho para Deus, e porem tornou-se um dos textos mais preciosos na descrição de demónios e das hierarquias infernais. O texto possuía tantas referencias invulgarmente acertadas e extraídas de antigos conhecimentos clássicos da Antiguidade, que passou a ser observado por muitos como uma fonte de informação nas ciências ocultas da demonologia. A obra tornou-se de tal forma proeminente, que alguns dos demónios ali mencionados passaram a constar de grimórios de magia negra escritos posteriormente.
O Códex Latinus Monacensis, é um manuscrito que foi descoberto, e encontra-se na biblioteca da Baviera. Escrito em alemão, porem com formulas magicas em italiano. O livro continha o resumo de uma versão do liber consecraciounum , uma lista de espíritos, fórmulas para os invocar, um manual para magia astral, listagem dos dias adequados para a feitura de símbolos mágicos. O Manual de Munique, atribuído por alguns a Roger Bancon – famoso padre e filosofo Inglês – ( 1214 – 1292), descreve formas de invocação de demónios, deixa avisos sobre as formas pelas quais os espíritos tentarão perturbar o conjurador, assim como dá indicações sobre os métodos para lidar correctamente com uma conjuração de magia negra.
Já são Tomás de Aquino, ( 1225-74), deixou um legado de escritos nos quais se descreveu sobre as bruxas, e sobre a forma como os demónios incubbus as procuravam para com elas realizarem actos lascivos, e através da luxuria firmarem com elas Pactos demoníacos. No caso dos bruxos eles seriam procurados por demónios sucubbus , e o mesmo sucederia. Foi são Tomás de Aquino o primeiro a documentar a forma como bruxas e demónios podiam gerar sinistros e temíveis efeitos através dos seus trabalhos de magia negra, e foi também o primeiro a mencionar claramente a mágicas das «Ligatures», – hoje em dia chamadas amarrações – através das quais as bruxas podiam interferir nos relacionamentos humanos. O tema foi mais tarde aprofundado por Jean Bodin.
Jean Bodin ( 1520-96), foi um jurista e filosofo francês, autor da notória obra «De lá Demonomanie des Sorcieres» de 1580 . As obras deste demonologista veio lançar luz sobre o poder dos trabalhos de magia negra, e das amarrações. Jean Bodin foi um dos primeiros autores da falar do termo «amarrações», ás quais chamou «ligatures», através das quais as bruxas podiam constranger as pessoas espiritualmente, levando-as a – sob a influencia de castigos espirituais infligidos espiritualmente á alma da pessoa embruxada – agir de certa forma desejada pelo bruxedo . As amarrações eram chamadas de Aiguillette em França, e de Ghirlanda dele Streghe em Itália. O notório demonologista Jean Bodin observou estes bruxedos pessoalmente em 1567, vendo que havia dezenas formas diferentes de celebrar amarrações, todas elas com efeitos temíveis, infestantes e inescapáveis.
James I ( 1566 –1625) foi não apenas rei de Inglaterra, como o autor de um dos mais influentes compêndios de demonologia, um tratado sobre bruxaria intitulado «Demonologie» (1597).
William Perkins ( 1555 – 1602) foi outro notório demonologista Inglês, cuja a obra «Discourse of the Damned Art of Witchcraft» rivalizou com a obra de James I, a maior autoridade nos assuntos da bruxaria e magia negra nos inícios do século XVII. Perkins não tinha paciência para as vozes que negavam a bruxaria, e alegavam que a magia negra era uma fantasia. O demonologista não apenas comprovava solidamente a existência da magia negra e dos trabalhos de magia negra através da Bíblia, como a acrescia provas empíricas e concretas de observações feitas a casos reais e testemunhados. A sua obra «Discourse» foi publicada na Alemanha em 1610, e o seu pensamento rapidamente espalhou-se por toda a Europa.
Praticamente noventa anos depois, outros demonologistas famosos como Cotton Mather ( 1663 – 1728) de Nova Inglaterra apontavam os estudos de William Perkins como referencias incontornáveis sobre a magia negra, a bruxaria, as bruxas, e os trabalhos de magia negra. A obra de Perkins, assim como as provas documentais que reuniu, – tal como as de Cotton Mather – ainda hoje comprovam sobra a realidade da existência de bruxas, de bruxaria, de magia negra e de trabalhos de magia negra. Cotton Mather foi o autor de obras como «Wonders of the invisible world», (1693) , um livro muito influente nos círculos do oculto e da demonologia, que acabou por ter reflexos nos escritos de Joseph Glaville, mais concretamente na obra «Saddicismus Triumphatus» de 1862.
Já o célebre Malleus Maleficarum foi criado em 1486 por H. Kramer e Jacob Sprenger, ambos membros da Ordem Dominicana. O Malleus Maleficarum de H. Kramer e Jacob Sprenger, acabou sendo sancionado como um instrumento de inquisitório oficial contra magias negras, bruxarias e heresias, através da bula papal Summis desiderantes affectibus promulgada a 5 Dezembro 1486 pelo Papa Inocêncio VIII.
O grimório De lamiis et pythonicis milieribus, ( ou, «On Witches and Female Soothsayers»), é um tratado de bruxaria escrito em 1489 pelo jurista e professor Universitário Ulrich Molitor (1442-1507).Nos seus escritos, Molitor narrou como por volta do anos de 1553 haviam dias famosas bruxas em Berlim, que eram capazes dos mais prodigiosos resultados com os seus trabalhos de magia negra. No século XV, o teólogo ermita Gotschalcus Agostinianos (1411-1481), foi autor do Preceptor, publicado em Colónia em 1841, e Preceptorium em 1489.
Ao longo dos séculos, vários foram os Papas ligados á magia negra e ao estudo das magia demónica, que possuíram grimórios de magia negra. O famoso Le Grimoire du Pape Honorius , é um grimório de magia negra atribuído ao Papa Honorio III ( 1150 – 1227). Já o Papa Silvestre II, cujo o pontificado durou de 909 a 1003, embrenhou-se profundamente no estudo das artes da magia negra, sendo proprietários de diversos livros de magia negra, e tal facto foi atestado no século XII, pelo historiador William of Malmesbury. Do escandaloso Papa Alexandre VI, (1431-1503), o Borgia oriundo de Espanha, sabe-se sobre o célebre caso incestuoso, assim como consta que terá celebrado Missa Negra dentro dos muros do próprio Vaticano, onde ocorreram extravagantes festins de luxuria e deboche. Já o Papa Bonifácio VIII (f.1303), praticou ritos de magia negra. O Papa foi várias vezes visto a celebrar rituais satânicos, nos quais sacrificava um galo, aspergindo depois o sangue para um fogo, e seguidamente recitando encantamentos demoníacos em Latim, lidos a partir do seu grimório de magia negra. Estes eventos foram testemunhados e documentados de 1303 a 1311.
Outra obra também reveladora de muitos segredos sobre bruxas, foi escrita no século XVI, Peter Binsfeld, um bispo, juiz e caçador de bruxas alemão, que escreveu De confessionibus maléficorum at sagarum – «confissões das bruxas» , 1598 – , onde estabeleceu uma relação directa entre os 7 pecados mortais e 7 demónios regentes do inferno, ou 7 demónios.
Em Espanha, Alfonso de Spina ( n. 1941) na sua obra Fortalium Fidei ( 1458) ou «Fortaleza da Fé», afirmava a realidade da existência dos Sabbats satânicos, da magia negra e das bruxas. Já a obra de Pedro Cirvelo , o notório Opus de Magica Superstitione,( 1521), foi a obra mais influente em Espanha dos assuntos da magia negra , das bruxas e da bruxaria.
Torquemada, ( 1420 – 1498), foi o autor do notório Hexameron, do qual ainda existe uma edição de 1582 por Antoine de Harsy, onde se aborda os fenómenos das aparições demoníacas, da demonologia, da magia negra e do mundo do espírito.
No «compendium maleficarum» , ou o «O COMPÊNDIO DAS BRUXAS» de 1608, do padre Italiano Francesco-Maria Guazo (n. 1570) , são descritas as varias finalidades para que uma bruxaria podia servir, assim como os seus poderosos efeitos. O padre observou pessoalmente casos de bruxaria, de magia negra e possessões demónicas, tendo sido testemunha dos poderosos efeitos da magia negra.
Mais de 120 manuscritos do XVI que falam sobre o Diabo e as suas formas de actuar neste mundo, foram encontrados e catalogados em bibliotecas na Alemanha. Eram tratados para uso em educação pastoral. Um deles era o Tratactus , um tratado que se debruçava sobre os poderes do demónio.
Um padre dominicano Raimundo de Tarrega ( falecido a 1371) tinha um grimório de magia negra chamado De invocatione Daemonum. O livro tornou-se conhecido através do julgamento realizado por Nicholas Eymeric, (1320-1399), o Inquisidor geral de Aragão. Com esta revelação, ficou-se a saber que até no seio da ordem Dominicana da Igreja, havia sacerdotes entregues ás artes da magia negra, ou seja, padres satânicos. Alguns autores da época designam a magia negra enquanto magia demónica, pois visa essencialmente invocar a demónios, almas de mortos e assombrações.
No século XVII, o jurista eclesiástico e demonologista Pierre de Lancre ( 1553 – 1631), foi enviado para a zona Basca, a fim de investigar o que ali se passava, pois havia fortes rumores da existência de cultos heréticos a deuses pagãos e demónios. Em sequência dessa investigação, eis que em 1608 descobriu-se a existência de um jovem padre chamado Pierre Bocal, que aos domingos celebrava a missa cristã, e porem durante as restantes noites da semana realizava ritos nos quais usava uma cabeça de bode enquanto oficiava veneração ao Diabo, e aos velhos deuses pagãos. Estava assim comprovada a existência de padres satânicos na região, e ficou-se assim a saber que naquela zona eram celebradas Missas Negras, assim como realizados Sabbats Satânicos, e que ali proliferavam bruxas e bruxos. Nem Lancre estava fora do alcance da magia negra. Na noite de Setembro de 1609, Lancre viu pelos seus próprios olhos uma Missa Negra ser recitada e oficiada no seu próprio quarto de cama, apesar dele estar de tal forma embruxado, que assistiu a tudo paralisado e impedido de qualquer reacção. O demonologista Pierre de Lancre testemunhou todas estas realidades, e foi com fundamento nas suas observações e notas pessoais que o demonologista escreveu varias obras influentes, tais como Tableau de L’Constance de Mauvais Anges de 1612, L’Incredulité et Mescréance du Sortilége de 1622, e De Sortilége de 1627. Quando o demonologista Lancre faleceu, o seu túmulo foi curiosamente inscrito em Euskera, o dialecto Basco da mesma terra onde o demonologista havia entrado em contacto com a magia negra e o satanismo. Após a sua morte, toda a sua vasta obra de grimorios de magia negra foi deixada a um filho ilegítimo que era um padre Jesuíta. Porem, nem Lancre estava fora do alcance da magia negra. Na noite de Setembro de 1609, Lancre viu pelos seus próprios olhos uma Missa Negra ser recitada e oficiada no seu próprio quarto de cama, apesar dele estar de tal forma embruxado, que assistiu a tudo paralisado e impedido de qualquer reacção.
Muitos foram os tratados de magia negra que a Igreja considerou obras proibidas, pois que revelavam saberes ocultos que permitem lidar com demónios e espíritos de trevas. Porem, alguns desses grimórios sobreviveram, e começaram a ser impressos no século XVI: Um desses grimórios era o Thesaurus Necromantiae de Honorius, cuja a origem é anterior a 1376, altura em que é mencionada pela Igreja. O teólogo e Inquisidor Espanhol Nicholas Eymerich ( 1320 – 1399), no seu Directorium, afirmou ter lido esta misteriosa obra satânica, e que ela permite a invocação de demónios. A obra foi já atribuída por alguns a Roger Bancon – famoso padre e filosofo Inglês (1214 – 1292), e descreve formas de invocação de demónios, assim como deixa avisos sobre as formas pelas quais os espíritos tentarão perturbar o conjurador, assim como dá indicações sobre os métodos para lidar correctamente com uma conjuração.
Um dos grimórios que atingiu um estatuto quase lendário, chamava-se The Agrippa, e recebeu o nome do seu autor, o célebre ocultista Henry Cornelius Agrippa von Nettesheim, ( 1486 – 1535), um contemporâneo de Faustus – o notório doutor que fez o lendário pacto com o demónio –, e autor do influente «De occulta Philosophia» (1531-33). Afirmava-se que o livro não podia ser eliminado pelo fogo, nem pela água, nem pela venda. Afirmava-se também que o livro tinha o tamanho de um homem, e que tinha de ser preso a uma viga de uma casa para poder ser consultado. Neste caso, o próprio livro era um artefacto mágico invocatório de demónios, e a sua própria presença ou posse podia contaminar o proprietário ou leitor com influencias demoníacas.
Johann Weyer (1515 – 1588) foi um demonologista Alemão, discípulo de Cornelius Agrippa ( 1486 – 1535), autor da obra «Pseudomonarchia Daemonum» de 1577, um famoso grimório de magia negra.
Reginald Scot ( 1538- 1599) , foi um demonologista Inglês, autor do livro «Discoverie of Withcraft» de 1584, um livro com preciosos ensinamentos sobre conjurações de espíritos.
John Dee ( 1527 – 1608), foi um célebre erudito e ocultista. O notório ocultista Dee, foi astrólogo pessoal da Rainha Maria I de Inglaterra, ( 1516 – 1558), e de Elisabete I de Inglaterra ( 1533 – 1603). John Dee interessou-se vividamente pelo contacto com os espíritos, havendo praticado ritos necromânticos. Foi o autor do notório Liber Mysteriorum, (escrito de 1581 a 1583), ou o «Livro dos Mistérios». Nessa obra, são estudados diversos e fortes encantamentos. O célebre matemático e ocultista Inglês John Dee, era um homem de grande erudição, que serviu pessoalmente a própria Rainha de Inglaterra Elizabeth I ( 1533 – 1603). A Biblioteca de John Dee continha grimórios como o Malleus Maleficarum ( 1486), dos demonologistas Jacob Sprenger ( 1438 – 1495), e Heinrich Kramer, ( 1430 – 1505); o «Compendium Maleficarum» , ou o «Compêndio das Bruxas» de 1608, do notório padre e demonologista Italiano Francesco-Maria Guazo (n. 1570); o Fustis Daemonum de Hieronymus Meg; e o De Praestigiis Daemonum do notório demonologista Johanes Weyer ( 1515 – 1588), discípulo do célebre ocultista Cornelius Agripa ( 1486 – 1535). Dee foi igualmente amigo pessoal do célebre jurista e filosofo francês Jean Bodin ( 1520-96), autor da notório grimório «De lá Demonomanie des Sorcieres» , publicado em Paris, no ano de 1580. John Dee foi autor do Monas Hieroglyphica ( 1583), nos quais se debruçou sobre o estudo de certos sigilos ocultos, e o seu poder invocatório de entidades e forças espirituais.
Por volta de 1817, existiu uma edição de um grimório intitulado Die goldne Tabella Rabellina, que continha a imagem de um corvo com um anel no seu bico, e vários sigilos ocultos. O notório bibliotecário Friederich Adolf Ebert (1791 – 1834) da Biblioteca real de Dresden, procurou avidamente por este livro, até conseguir obter um exemplar. Já no ano de 1750, foi impresso um outro grimório de nome Trinum perfectum magiëb alboe, que continha selos e sigilos cultos escritos á mão, e que fornecia instruções sobre como comandar espíritos. Este grimório pertenceu á coleção do famoso escritor Johann Wolfgang Goethe ( 1749 – 1832). Era com grimórios desta natureza, que bruxos da Idade Media realizam os mais fortes trabalhos de magia negra.
Em 1802, um caçador de tesouros de nome Jens Clemmensen, conseguiu chegar á posse de um grimório chamado «Ciprianus den XII & Faustus Dreyfaices Höllen Schwang», e o livro encontra-se até aos dias de hoje na Real Biblioteca Dinamarquesa. Na Dinamarca e na Suécia, os grimórios eram conhecidos por svartkonstboken ou svartboken, ou os «Livros Negros», ou os «Livros de Trabalhos Negros».
Os grimórios Alemães de magia negra, inspirados nos ensinamentos e s. Cipriano, o bruxo, atingiram grande popularidade. Por volta dos anos de 1830, um certo livreiro e antiquário de nome Johann Scheible, reuniu um precioso catálogo de grimórios e livros antigos sobre magia negra. Também o pastor protestante Georg Conrad Horst, ( 1769- 1832), escreveu mesmo uma ampla enciclopédia de seis volumes sobre magia negra, de nome Daemonomagie oder Geschichte des Glaubens und Zauberei. ( 1821-26). Outros grimórios apareceram contendo influências de s. Cipriano, o bruxo, como um grimório de Fausto, e o Petit Albert. O famoso grimório Francês de magia negra do século XVIII chamado Petit Albert. ou Petit Albertus. O grimório teve um enorme sucesso nos círculos do oculto em França, especialmente entre bruxas veneradoras de Satanás, e os efeitos dos seus bruxedos são tão certeiros que se tornaram lendários. O seu autor foi o notório frade dominicano, Bispo e ocultista Germânico Albertus Magnus, (1205 – 1280), motivo pelo qual a obra se chama «Pequeno Albertus», pois que muitas bruxas olhavam para este grimório como um pequeno mestre que as acompanha, e que era do célebre Bispo Alberto. O grimório foi sendo passado de mão em mão em versões manuscritas, até que foi publicado em Lyon, no ano de 1602. Na verdade, muitos ensinamentos dos escritos de s. Cipriano o bruxo acabaram por ser inscritos pelo Bispo Albertus Magnus no seu Petit Albert.
Por volta de 1775, foi publicada uma obra Alemã de nome D. Faustus Original Geister Commando, datada de 1510 em Roma, e revista pelo Dr. Habermann. A obra seria fruto dos conhecimentos do célebre Fausto ou Johann Faust ( 1488 – 1538), um bruxo e conjurador de demónios cujo o nome foi adoptado pelo notório poeta e dramaturgo Inglês Christopher Marlowe ( 1564 – 1593), na sua obra Tragical History of Doctor Faustus (1589), e também descrito no célebre Faust do famoso Johann Wolfgang Goethe ( 1749 – 1832). Este grimório transpunha conhecimentos de magia negra de s. Cipriano, o bruxo, assim como continha ensinamentos de Salomão, sigilos mágicos, e os nomes secretos que permitem invocar certos demonios, em particular Mephistopheles, que era o espirito demoníaco familiar do bruxo Faustus. A obra é uma raridade conservada ainda hoje na conceituada British Library. Outro livro de magia negra da mesma época, foi o Die Egyptische Geheimnisse, de Albert Magnus. Tambem foi célebre um outro grimório de magia cigana, intitulado Romanusbüchlein, publicado em Veneza no ano de 1788. Todas estas obras eram herdeiras de fragmentos de conhecimentos de magia negra de s. Cipriano, o bruxo.
Na Dinamarca e na Noruega do seculo XVIII, foram descobertos os restos de um texto intitulado «Cyprianus, kef od hell and Black Magic», ( ou: Cipriano, a chave do Inferno e da Magia negra). Em Holsten, na Dinamarca, acreditava-se que s. Cipriano, o bruxo, (f.258 d.C), era um malvado expulso do Inferno, ao passo que na Noruega os livros de descreviam-no como um grande aluno do Diabo e das artes de magia negra.
Em 1770, na Dinamarca imprimia-se o primeiro Livro Preto de são Cipriano.
Na Alemanha, foi encontrado um grimório intitulado «Cypriannus Höllenzwänge», também de s. Cipriano, o bruxo.
Na Escandinávia, nem todos tinham meios para possuir um grimório como o de s. Cipriano, o bruxo, pelo que apenas professores, clérigos e soldados acabavam por conseguir adquirir tal preciosidade. Um dos donos do Livro Negro, foi um oficial militar Norueguês de nome Ulrich Christian Heide (f. 1785). Tratava-se de um militar culto, que estudou na academia militar, e tinha na sua biblioteca pessoa escritos como os do célebre Iluminista Voltaire ( 1694 – 1778). Porem, o notório militar interessava-se também pelos segredos do oculto, e era proprietário de um dos famosos grimórios de s. Cipriano. Sabe-se que o duque de Luxemburgo tinha um Livro Negro de são Cipriano, o bruxo, com o qual praticou diversos bruxedos que lhe concederam vitorias militares e pessoais espantosas.
Já no século XIX, o célebre ocultista Francês Eliphas Levi ( 1810-75) deixou escritos de grande importância, alguns dos quais levantavam o véu sobre aspectos ocultos das bruxas, da bruxaria e da magia negra, fazendo revelações sobre um bode sabático, ou o bode de Mendes, ou Baphomet. O demonio com cabeça de bode, era o demonio das bruxas que presidia á celebração dos Sabbat Satânicos, e era o Deus venerado pelos Templários. Na visão de Eliphas Levi, o bode representava o poder supremo do Universo, visão que os Templários também partilharam.
O manuscrito de Abra-Melin, O livro da Magia Sagrada de Abra-Melin, o Mago , entregue por Abraão a seu filho Lamech, foi copiado e traduzido do hebraico pelo alquimista, mago e demonologista hebreu Abraão, também chamado «o Judeu» por volta dos anos 1362 – 1460. A obra na sua tradução francesa, acabou arquivada na Biblioteca do Arsenal, em Paris. A obra foi escrita como se o autor Abraão tivesse aprendido os segredos da magia de Abra-Melin no Egipto, e daí em diante os tivesse usado para influenciar o curso da historia da Europa no inicio do século XV. A obra contém diversas fórmulas e procedimentos litúrgicos para a invocação de espíritos e demónios, com as mais diversas finalidades. MacGregor Mathers ( 1854 -1918), foi um ocultista britânico que publicou o texto de Abra-Melin em 1898, e desde então tem havido diversas reimpressões.
Há vários outros importantes estudos sobre demónios e demonologia: na França é celebre o Traité sur lá magie, le sortilége, les possessions obsessions, et maleficies (1732), de Antoine-Louis Dauguis e publicado por Pierre Prault, actualmente uma obra valiosa quando encontrada em leilões ou antiquários da especialidade. Já na Alemanha, Bibliotheca Magica do teólogo Heberhard Hauber ( 1695 – 1765), assim como o Geschichte de Teufels ( 1869) de Georg Gustav Roskoff ( 1814 – 1889). Na Inglaterra, as Narratives of Sorcery and Magic ( 1851) de Thomas Wright ( 1711 – 1786). O tema da magia negra, dos demonios e da demonologia, foi desde sempre uma realidade que longe de ser uma crendice atribuível a ignorantes, foi antes sistemática e seriamente abordada pelos mais eruditos pensadores ocidentais.
Joseph Glaville ( 1636 – 1680), foi um filosofo e um clérigo, também autor de um compêndio sobre bruxas e bruxaria, o «Philosophical considerations about Witches and Witchcraft», de 1666. Joseph Glanvill foi um padre e ocultista Inglês que testemunhou pessoalmente casos impressionantes reais de magia negra, bruxaria e trabalhos de magia negra. Capelão do rei Carlos II ( 1630 – 1685), o padre foi também autor da obra Sadacismus Triumphatos ( 1681), que resultou da investigação de dezenas de casos verídicos que envolviam eventos sobrenaturais. O ocultista foi considerado o pai da investigação científica do paranormal, e trabalhou em conjunto com o notável cientista físico-químico Robert Boyle. Glanvill investigou pessoalmente e documentou o caso das bruxas de Somerset.
Jacques Collin de Plancy ( 1793 – 1881) célebre ocultista e demonologista Francês, autor do influente «Dictionnaire Infernal», um tratado de demonologia publicado em 1818, ao passo que em 1910, o místico e demonologista Norte-Americano Arthur Edward Waite ( 1857 – 1942), publicou o seu célebre Book of Black Magic and Pacts , ou «Livro da Magia Negra e Pactos», onde revela hierarquias demoníacas, assim como formulas para a invocação de espíritos infernais.
O Grand Grimoire é o titulo de um famosos grimório mencionado pelo místico e demonologista Norte-Americano Arthur Edward Waite ( 1857 – 1942), autor do notório Book of Black Magic and Pacts ( 1910), ou «Livro da Magia Negra e Pactos». A mais antiga publicação do Grand Grimoire, remonta a 1421. O Grand Grimoire é descrito por Waite como um dos mais fantásticos dispositivos infernais para invocar demónios, até os mais relutantes em se manifestarem. Também conhecido como «Le Dragon Rouge», ou «o Dragão Vermelho», este grimório de magia negra concentra um importante capítulo sobre os procedimentos ocultos para invocar o demónio Lucifuge Rofocale. O nome «Lucifuge» significa «mosca-luz», e certos demonologistas atribuem-lhe uma relação directa a Lucifer, que significa «portador de luz». Acredita-se por isso que Lucifuge seja um dos nomes atribuídos a Lucifer, já depois da sua queda, e de ter assumido plenamente o seu estatuto de demónio, associando-a á «mosca», coisa que também o demónio Beelzebub o fez, cujo o nome na verdade significa «senhor das moscas», o príncipe do submundo.
Houve um importante grimório que sobreviveu aos tempos, e que se chamava «A arte de Cipriano». Na Arte de Cipriano, é fornecida uma serie de cinco selos mágicos que desenhados num espelho com uma tinta vermelha especialmente preparada para a finalidade, e acompanhados dos correctos encantamentos de magia negra, permitiam fazer com que um demónio invocado permanecesse reflectido naquele espelho pelo tempo desejado, e aceitasse as missões que lhe fossem incumbidas. A obra «A Arte de Cipriano» foi preservada num manuscrito de Frederick Hockley ( 1809-1885), um importante coleccionador de material oculto.
Aquando da destruição de um asilo para pacientes mentais em Ghent, na Bélgica, cujo e edifico remontava ao século XVI; foi descoberta uma arca escondida dentro de uma parede. A arca continha o manuscrito de um bruxo, que apesar de se encontrar parcialmente danificado pela humidade , porem ainda era legível em certas e importantes passagens. Chamou-se ao documento o «Manuscrito de Ghent», e presentemente ainda é um dos misteriosos grimórios de magia negra que sobreviveram até aos nossos dias. Em França um dos mais famosos grimórios ainda em circulação nos dias de hoje, são o Grand Albert e o Petit Albert, cuja a origem remonta a 1706, havendo sido reimpresso por Jacques-Antoine Garnier em 1723. Na Alemanha, o «Romanus Büchlein», (1788), ou o «Pequeno Livro dos Romanos», ainda hoje gozam de grande popularidade em certos círculos do oculto. O texto foi reimpresso por Johann Scheible, e foi uma das principais fontes da magia negra e do Vodu holandês que mais tarde floresceu na Pensilvânia, Estados Unidos da América.
Francis Barret ( n. 1770 ), foi um notório ocultista inglês, autor do The Magus, publicado em 1801. Na sua obra, o demonologista segue as velhas tradições europeias da demonologia, e cataloga uma hierarquia de demónios que foram os Deuses Pagãos da Antiguidade, e que durante uma parte da história da humanidade se quiseram fazer adorados como um Deus.
Arthur Edward Waite ( 1857 – 1942), foi um ocultista Inglês nascido dos Estados Unidos da América, e criador do célebre baralho de Tarot Rider-Waite. Para alem disso, Waite foi o autor da obra Unknown World, de 1895, um reportório de vastos conhecimentos sobre o oculto.
Grimórios como estes, foram e ainda são usados na feitura dos mais fortes trabalhos de magia negra.
A verdade é que os grimórios de magia negra e os seus trabalhos de magia negra não são meras superstições nem crendices, pois o facto é que são tão temidos hoje, como o foram no passado. Ainda em pleno século XX, – 1959 – um editor alemão foi condenado em tribunal por publicar um Grimório. Ora, ninguém condena outrem em tribunal por uma fantasia, ou algo que não existe, nem causa efeitos concretos. Ninguém condenaria alguém por conduzir um carro embriagado, se na verdade os carros não existissem , e se dirigi-los embriagado não pudesse resultar em graves danos. Logo: hipocrisias á parte, a magia negra e os seus efeitos são bem concretos, assim como tem sido provados, comprovados e testemunhados desde já séculos.
Pois bem:
Nas amarrações – que são bruxarias de magia negra, e trabalhos de magia negra – são estes ancestrais e ocultos saberes que são usados, assim invocando-se a espíritos de trevas, assombrações e aparições, por forma a que as entidades invocadas cerquem e infestem a criatura que se deseja embruxar, a fim que ela ceda á amarração, ou teimando em não ceder então fique amaldiçoada de bruxaria negra, e assim seja até – demore aquilo que demorar – ela ceda, ou acabe em desgraça. Seja como for, a vitima da amarração de magia negra nunca mais se livra do bruxedo, nem da sombra de quem a mandou amarrar. Nunca mais. E por isso, a pessoa não tem alternativa senão ceder. E ela cede sempre. Sempre.