Conjurando os anjos cabalísticos
No mês retrasado, eu falei um pouco sobre os 72 anjos do Shem HaMephorash ou Shem Vayisa Vayiet, também conhecidos como anjos cabalísticos. Vimos como os 72 nomes triliterais de Deus são constituídos a partir de 3 versículos do livro do Êxodo e como, somados às fórmulas divinas Yah e El, nas tradições do ocultismo cristão do século XVI em diante, eles geram o nome desses anjos, como Vehuiah, Yeliel, Sitael, etc., até Mumiah. Cada um deles, por sua vez, tem os seus poderes específicos, um sigilo e um versículo dos salmos para se fazer sua conjuração, além de muitas outras atribuições. Se no texto anterior pudemos entender o conceito por trás desses nomes e acompanhamos a história de como essa prática se desenvolve, hoje, como prometido, vamos ver ao que interessa de fato, que é como é possível trabalhar com eles na prática.
Há muitas vantagens em trabalhar com esses anjos. A primeira é que eles são setenta e dois. É anjo pra cacete. Não importa qual a sua necessidade, seja ela mais mundana ou mais espiritual, é provável que dê para identificar um anjo que seja capaz de supri-la. Vamos dar alguns exemplos:
- O 6º anjo, LELAHEL (lamed-lamed-he), auxilia na aquisição de conhecimento, para curar doenças e obter o amor das pessoas e boa reputação (seu versículo para invocação é salmo 9:11 e ele está associado ao arcano menor do 7 de paus, decano de Marte em Leão)
- O 13º anjo, IEZALEL (yud-zayin-lamed), governa a amizade, reconciliação e fidelidade conjugal (salmo 98:4, arcano 2 de espadas, decano da Lua em Libra)
- O 16º anjo, HAKAMIAH (heh-quf-mem), contra traidores, opressores e para obter vitória sobre inimigos (salmo 88:1, arcano 3 de espadas, decano de Saturno em Libra)
- O 25º anjo, NITH-HAIAH (nun-tal-he), obter sabedoria e descobrir segredos ocultos, sobretudo os que dizem respeito à magia, desenvolvimento de novas técnicas e proteção contra magia maléfica (salmo 9:1, arcano 8 de paus, decano de Mercúrio em Sagitário)
- O 56º anjo, POIEL (peh-vav-yud), obter prestígio, fortuna e conhecimento filosófico (salmo 145:15, arcano 5 de ouros, decano de Mercúrio em Touro)
- O 57º anjo, NEMAMIAH (nun-mem-mem), obter prosperidade (salmo 115:11, arcano 6 de ouros, decano de Lua em Touro)
Nem todos oferecem poderes que são imediatamente úteis para nós em nossa vida moderna. Tem alguns, com umas atribuições meio curiosas, como o 15º anjo, Hariel, cujo nome deve ser invocado contra “aqueles que blasfemam contra a religião” e muitos anjos para proteção em viagens marítimas (Elemiah, Ieiael, Damabiah, etc). Mas, no geral, é fácil encontrar um anjo capaz de ajudar com o que você precisa, e os principais interesses, como amor, cura e prosperidade já estão bem representados nos nomes acima. No mais, na minha opinião, é mais prático e desenrolado chamá-los do que é fazer magia astrológica, que depende do timing dos planetas, ou invocar divindades, com as quais é preciso construir uma relação devocional. O trabalho do magista versátil gira em torno de construir uma caixa de ferramentas mágica, por assim dizer, um fundo de recursos que você possa aplicar para qualquer situação. Se você ainda não tem nada do tipo, é possível que o trabalho com esses anjos já baste, constituindo uma prática bem robusta por si só.
Beleza… mas como proceder, então?
O Tarô dos Anjos
O método mais simples para se trabalhar com os 72 anjos, se você tiver uns 150 reais sobrando, é adquirir o Angel Tarot, de Travis McHenry, ao qual eu pretendo dedicar algumas palavrinhas, porque, além de belíssimo, é também muito útil (não é publicidade, OK, até porque eu tenho algumas críticas e ainda vou explicar como você pode fazer sem ele). Como eu falei no texto anterior, temos uma tradição de atribuir os 72 anjos aos 36 arcanos menores (fora os ases, e aí ficam dois anjos por arcano, um diurno e o outro noturno)… porém, não é isso que este tarô faz. Na verdade, ele atribuiu os anjos um por carta. Como são 72 anjos e 78 cartas num tarô, cabem todos os 72 e mais 6 arcanjos de bônus: Miguel, Gabriel, Metatron, Haniel, Samael e Uriel. O Occult Tarot, do mesmo autor, segue a mesma lógica, só que aí temos os 72 demônios da Goécia, equivalentes aos 72 anjos, mais 6 outros demônios famosos, Baphomet, Azazel, Moloch, Belzebu, Lúcifer e Lucifuge Rofocale.
A minha única crítica a esse trabalho é que não fica claro a princípio qual o critério usado para fazer a distribuição entre os anjos e os arcanos – eu primeiro pensei que ele fizesse a sequência mais ou menos em ordem, mas também não é isso. O Louco é sim Vehuiah, o primeiro anjo do Shem HaMephorash, mas Yeliel, o segundo, não é o Mago e sim o 2 de paus – o Mago é o anjo 25, Nith-haiah, enquanto a Sacerdotisa é o anjo 44, Ielahiah, e assim por diante. Considerando como Nith-haiah é um anjo que ensina magia, o que é condizente com sua atribuição aqui com o Mago, mais o fato de que Samael ficou como o Diabo; Uriel, descrito como “o anjo que anuncia desastres”, com a Torre; e Haniel, arcanjo de Vênus, com os Amantes, parece claro que o critério é um tanto subjetivo, baseado nos poderes de cada anjo e como isso teria mais ou menos a ver com os sentidos de cada carta, pela interpretação do autor.
Se você adere a uma distribuição mais fechadinha e sistemática, como é a feita pela Golden Dawn, talvez torça o nariz ou então fique tentando bater a cabeça para entender o porquê de Ariel ou Airiel, por exemplo, o 46º anjo e descobridor de segredos, ser o Cavaleiro de Copas (abaixo), qual o sentido conceitual disso e tudo o mais (no sistema da GD, ele é o anjo noturno do arcano 9 de copas). Eu pessoalmente não me incomodo não… até porque 1) o sistema da GD não é perfeito, por isso desviar dele não é, por si só, nenhuma falha, e 2) eu já desisti de tentar procurar uma verdade absoluta nas associações do tarô e prefiro ver a coisa toda mais como um exercício criativo. Dito isso, essa arbitrariedade acaba sendo sim um pequeno problema, porque na soma dos 6 arcanjos para fechar as 78 cartas, não faz muito sentido ter entrado um arcanjo planetário menos conhecido como Haniel, enquanto Rafael, um dos arcanjos mais importantes, ficou de fora. O mesmo sistema se aplica ao Occult Tarot.
Feita essa crítica, eu recomendo sim imensamente a aquisição desse baralho. Como podem ver, cada carta contém 1) o nome do anjo, 2) uma ilustração (que, graças ao bom Deus, não é aquelas típica ilustração bregona de anjo), 3) o que esse anjo faz, 4) e o seu sigilo, bem como também o seu nome na escrita malachim (um tipo de alfabeto hebraico alternativo, que consta em Agrippa e que, como o nome indica, tem associações angelicais). Há ainda um último elemento, que é a imagem de um pantáculo derivado do Tozgraec, segundo o livreto, o que eu presumo que seja Le Secret des Secrets par Tozgraec, mas é uma obra que eu ainda não li, por isso não posso comentar sua adequação ou modo de usar.
Com o Angel Tarot, então, fica extremamente simples o trabalho com esses anjos, como ele mesmo explica no livreto. Basta você acender duas velas no seu altarzinho, com a carta do anjo a ser invocado entre elas, recitar uma fórmula de conjuração e fazer o seu pedido, depois encerrar com a licença para partir. E, no mínimo do mínimo, é isso. Eu vou repassar a conjuração logo abaixo, no final deste texto, traduzida para o português, e aí vocês podem utilizar, se quiserem.
Eu a princípio estava com um pé atrás em compartilhar assim a conjuração que consta lá, mas, a bem da verdade, não se trata de um texto original, mas derivado de um livro do autor francês Robert Amberlain, La Kabbale Pratique, de 1951. É desse mesmo volume que Travis McHenry parece derivar os poderes dos anjos, seus salmos e outras equivalências, mas o método dele é bastante simplificado em comparação com o que vemos no Robert.
Quem gosta de um trabalho um pouco mais elaborado, mas não tanto assim (o Robert é bem velha-guarda, nesse sentido), eu recomendaria o seguinte passo a passo:
- Acender as velas e realizar um ritual ou prece preliminar. Eu já recomendei algumas possibilidades aqui num texto anterior. A prece preliminar usada nos rituais angelicais de Rufus Opus, a Prece Cabalística de Lévi ou a fórmula dos PGM usada pelo Sam Block são boas opções.
- Cada anjo tem um versículo de um salmo associado. Assim, feita a prece preliminar, convém recitar o salmo todo e depois repetir, umas três vezes, o versículo em questão. Isso sintoniza o espaço para receber o anjo. Se você puder recitar em hebraico, melhor ainda (latim e grego também são legais).
- Concentrar-se no sigilo do anjo (na carta) e recitar a conjuração.
- Visualizar as letras hebraicas do nome do anjo na sua testa, em dourado, e entoar seu nome até sentir a mudança de energia que anuncia a presença do anjo.
- Agora você faz o seu pedido, medita sobre a energia do anjo, consagra um talismã, tenta uma comunicação ou qualquer coisa assim.
- Por fim, agradecer e despedir-se.
O autor não fala nada de incensos, mas acender um incenso de olíbano e/ou mirra sempre cai bem. Há outras possibilidades, se você for se orientar pelas correspondências — se estiver se fiando em algum livro que afirma que um anjo tal está associado, por exemplo, a Vênus, você pode recorrer a incensos venusianos. Mas olíbano e mirra são genéricos o suficiente para não dar problema, de modo geral.
Não há necessidade de usar ferramentas, mas pode deixar as suas ferramentas elementais no altar, se tiver e, se você for de usar varinha, pode direcioná-la na direção da carta durante a conjuração. Bola de cristal e mesa da arte, estilo Trithemius, podem ser usadas para evocação, se você quiser ter um tête-à-tête com o anjo, mas também não é obrigatório.
Agora, é importante frisar que não é todo mundo que está disposto a desembolsar 150 reais num tarô novo só para invocação de anjos. Eu sou muito fã de magia de baixo orçamento e acho bom que as pessoas saibam se virar bem só com papel caneta, vela e incenso. Além do mais, é uma abordagem muito cretina a de “se você quer fazer tal coisa, é só comprar isso aqui”. O tarô é bonito e útil se você for trabalhar com esses anjos com frequência, mas papel e caneta já bastam.
Simplesmente pegue um papel bom, de preferência um canson que é mais grosso, e desenhe o sigilo do anjo. Se possível, eu recomendo incluir também as letras em hebraico (ou no alfabeto malachim) junto com o desenho. Aí, na hora do ritual, em vez de usar uma carta, você coloca o papel com o sigilo entre as velas, depois guarda o sigilo com cuidado. E é isso.
Eu pessoalmente não testei, mas acredito que seja possível uma abordagem à moda da Golden Dawn também (como descrito no texto anterior). Você faz o Ritual menor do Pentagrama, o Ritual menor do Hexagrama e o Pilar Médio, então pode emendar ou o Ritual Maior do Hexagrama do planeta associado ao anjo ou do seu signo zodiacal — Nemamiah, por exemplo, segundo alguns autores, está associado a Capricórnio e, por isso, cai sob a regência de Hanael, o arcanjo desse signo. Então você prossegue com a conjuração, como faria com qualquer outro anjo nesse sistema. Nemamiah também está associado ao decano da Lua em Touro, sendo o arcanjo diurno desse decano, cuja correspondência, no sistema da GD, é com o arcano menor do 6 de ouros. Por isso, se você tiver um outro baralho para magia por aí, pode incluir essa carta no seu altar, junto com o sigilo do anjo.
Cada anjo também tem um horário ao qual é associado. Para continuar o exemplo de Nemamiah, o anjo da prosperidade, vemos em Amberlain que ele rege o período entre as 18h40 até às 19h e entre os dias 1 a 5 de janeiro. Apesar de ser possível chamá-lo em qualquer horário, a invocação é mais forte nos dias e horários que ele rege, o que pode ser útil, por exemplo, caso você queira consagrar um talismã para efeitos de longo prazo (é fácil encontrar pingentes com as letras hebraicas dos 72 nomes, que podem ser talismanizados).
No mais, todas as regras de magia angelical se aplicam: é recomendável você limpar bem o ambiente e o seu próprio corpo, tomando um bom banho antes, e colocar roupas limpas ou sua túnica ritual de sempre. Manter uma dieta, abstendo-se de carne e álcool, possivelmente jejuando no dia antes do ritual (dentro das suas possibilidades) e abster-se por uns dias de práticas sexuais também ajuda muito a melhorar a sua condutividade. E, apesar de as fontes tradicionais não falarem nada sobre o assunto, eu recomendo também um jejum de redes sociais e coisas do tipo, que deixam a gente estressado e envolvido em discussões sem sentido e atrapalham demais tudo que envolve a espiritualidade. É bom lembrar que os anjos, via de regra, não são de receber oferendas – Nineveh Shadrach[1] diz, em vez disso, que o melhor é você abençoá-los, em nome do Altíssimo ou seja lá como você preferir chamar as forças do divino. Sobre o assunto, recomendo ler o seu Magic That Works (capítulo 5), onde ele inclui um exemplo de uma dessas bênçãos, mas você sempre pode compor a sua própria.
Práticas de rotina
Não há nada de errado em conjurar os anjos do Shem HaMephorash para tratar de questões específicas e pontuais. Se você brigou com alguém recentemente, pode ser uma boa ideia fazer um ritual com Iezalel, por exemplo, buscando reconciliação. Mas, como com qualquer entidade, um trabalho sustentado a longo prazo permite criar uma relação mais íntima, o que não apenas melhora os resultados como também melhora a sua conexão com o divino.
Digamos que você queira desenvolver um trabalho mais aprofundado com Nemamiah para fins de prosperidade. Uma boa ideia pode ser invocá-lo durante um de seus dias, em seu horário, para consagrar um talismã, depois fazer uma invocação simplificada toda semana ou talvez até mesmo todos os dias. Com o tempo, a tendência é que fique cada vez mais fácil chamá-lo e poder aproveitar melhor o contato com as suas energias espirituais. Ou, então, em vez de escolher um anjo específico com base nas suas necessidades, você pode se orientar pelo anjo que rege a sua data de nascimento (pode haver alguma variação de autor a autor, no entanto) e estabelecer uma relação mais estreita com esse nome.
Outra possibilidade, que exige um pouco mais de planejamento, é mapear no calendário os dias de cada anjo e invocar todos em sequência, que é o que um amigo nosso fazia, com bons resultados. Você não precisa pedir nada aos anjos para conjurá-los, é possível apenas invocar sua energia e meditar nela durante uns instantes, para propósitos de aproximação. Se você tem planos para trabalhar com Goécia com o método do Dr. Rudd, que foi discutido no texto anterior, criar uma relação com esses anjos anteriormente pode ser uma boa ideia.
Por fim, temos as práticas descritas por Damien Echols em Angels and Archangels, que ele batizou de Celestial Lotus e Shem Operation. A Celestial Lotus é uma versão modificada do ritual do pentagrama, mas, não para banimento e sim invocação das forças divinas, com o propósito de equilibrar não apenas as nossas energias elementais, mas também planetárias. Num primeiro momento, ele não apenas invoca os quatro arcanjos do RmP tradicional ao seu redor, mas todos os 10 arcanjos associados à Árvore da Vida – depois soma os 12 arcanjos zodiacais e, por fim, no terceiro estágio, os 36 arcanjos dos decanos. Uma vez dominada a Celestial Lotus, você pode prosseguir para a Shem Operation, que é um ritual mais longo, que pode durar até 3 horas, no qual você chama todos os 72 anjos ao seu redor de uma vez. É meio doido e demorado, e eu não espero que muita gente tenha interesse em fazer, mas a quantidade de energia acumulada nesse processo é certamente avassaladora e há de ser útil para acelerar o seu desenvolvimento espiritual.
Para quem tem interesse em ler mais sobre esses anjos, existem alguns livros a que você pode recorrer. Vale a pena ler mais de um, mas eu recomendo ater-se a um sistema específico por vez, porque nem sempre todas as atribuições são fixas (os salmos, por exemplo, variam bastante) e aí pode dar confusão. Alguns livros que tratam do assunto são:
- Damien Echols, Angels and Archangels – uma boa introdução à magia angelical, continuando o trabalho em seu High Magick; com frequência bebe dos outros livros aqui citados;
- Monica Buonfiglio, Anjos Cabalísticos e Magia dos anjos cabalísticos – grandes clássicos do ocultismo brasileiro (porém, como dito, convém ler com um grão de sal e filtrar as partes muito New Age);
- Frater Dalton, A nobre arte de invocação dos 72 anjos – um ebook de um ocultista jovem, mas com bastante experiência com magia angelical, inclui os sigilos e as atribuições;
- Damon Brand, The 72 Angels of Magick – um livro curtinho, com linguagem simples, que parte do sistema Gallery of Magick, de Brand; seu trabalho envolve a invocação prévia do arcanjo Raziel;
- Maximus Avery, Book of the Hidden Name – inclui métodos para trabalhar com os anjos, sigilos, atribuições, dicas para trabalho meditativo, talismãs, etc., etc.;
- Robert Amberlain, La Kabbale Pratique (Practical Kabbalah, na tradução para o inglês) – longo livro sobre várias práticas de Cabala cristã, os anjos aparecem no capítulo V;
- Sandra Tabatha e Chic Cicero, Tarot Talismans: Invoke the Angels of the Tarot – trata do trabalho com esses anjos dentro do sistema da GD, em associação com o tarô.
A Conjuração
Abaixo segue o texto da conjuração que consta no livreto do Angel Tarot. O texto é longo, o que eu acho útil, porque movimenta bastante energia e dá uma certa satisfação que uma invocação curtinha não dá, na minha opinião. Vocês vão reparar que há um viés explicitamente cristão aí, o que não é de surpreender ninguém, dado que as práticas com esses anjos se desenvolvem nesse contexto de uma Cabala europeia cristã. Para quem se incomodar com o uso de fórmulas cristãs, acredito que seja possível substituí-las sem maiores prejuízos por lugares-comuns das invocações judaicas, e uma olhada breve em livros como o Sefer HaRazim ou o Livro do Arcanjo Raziel há de fornecer inspiração o suficiente para isso. Sem mais delongas, então, a conjuração:
“Eu te conjuro em nome dos 24 anciões, em nome dos 9 coros aos quais tu pertences, Ó anjo! Eu te conjuro em nomes dos anjos, arcanjos, tronos, dominações, principados, potestades, virtudes, querubim e serafim! Em nome das quatro misteriosas potestades que carregam o trono do Altíssimo e que têm olhos à frente e atrás; em nome de tudo que contribui à nossa salvação! Eu te conjuro, Espírito da Luz, em nome do Deus verdadeiro, o Deus da vida! Em nome dos sete candelabros do mistério à destra de Deus! Em nome das sete igrejas da Ásia! Em nome de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardis, Filadélfia e Laodiceia.
Eu te conjuro pelo céu e pela terra, pelo sol e pela lua, pelo dia e pela noite; por tudo que existe na criação e todas as virtudes nela encerradas; pelos quatro elementos primordiais; por tudo que possa ser dito ou pensado pelo Criador soberano, por meio de Sua vontade suprema e a hora celestial na qual Ele reina; por meio Daquele que tudo gerou a partir do nada; por meio das falanges gloriosas às quais tu pertences; por meio dos santos, por meio daqueles que, noite e dia, clamam sem cessar:
“Santo, santo, santo é o Senhor Deus dos Exércitos. O Céu e a Terra estão cheios de Tua glória. Glória a ti, Ó Senhor altíssimo.”
Eu te conjuro, Ó inteligência iluminadora, mensageiro da luz! Eu te conjuro em nome de Uriel, guardião do norte! Eu te conjuro em nome de Rafael, guardião do sul! Eu te conjuro em nome de Miguel, guardião do leste! Eu te conjuro em nome de Gabriel, guardião do oeste! Eu te conjuro, Ó divino mensageiro, pelos sete candelabros de ouro que queimam diante do altar de Deus, pela companhia dos benditos que seguem os passos do cordeiro imaculado! Eu te conjuro, Ó anjo celestial, em nome de todos os santos escolhidos por Deus após e antes da criação do mundo, porque seus méritos são aprazíveis a Deus! Eu te conjuro, Ó poder invisível, porém imanente, e eu te conjuro por meio do poder redobrado do nome do Senhor; por meio da glória de seu nome divino, manifesto no mundo, onde os mais belos atributos de Deus encontram expressão.
Eu te conjuro e te imploro, Ó anjo, em nome destes atributos! Que tu venhas da tua morada celestial ao chamado destas sílabas! Que tu concedas, Ó poder iluminador, a esta invocação, e desças a este local, a fim de instruir teu servo indigno. Eu te conjuro em nome de Adonai Melech, Mestre do Reino da Forma! Eu te conjuro em nome de Shaddai, o espelho da verdade! Eu te conjuro em nome de Hod, senhor e mestre das palavras divinas! Eu te conjuro em nome de Netzach, essência soberana da beleza! Eu te conjuro em nome de Tiffereth, princípio do reino da glória! Eu te conjuro em nome de Geburah, princípio da justiça infinita! Eu te conjuro em nome de Chesed, a misericórdia divina! Eu te conjuro em nome de Binah, a sabedoria incriada! Eu te conjuro em nome de Kether, o horizonte da eternidade! Eu te conjuro, Ó professor celestial, em nome do Tetragrama! Eu te conjuro em nome de Eheyeh! Eu te conjuro em nome de Elohim! Eu te conjuro em nome de Eloah!
Que assim seja, pelo nome abençoado do Senhor.
Eu te imploro, Ó anjo celestial, em memória do arco-íris de sete cores que surgiu nos céus, revelando assim a aliança entre Deus e Noé, o patriarca! Eu te conjuro em memória da nuvem luminosa que cercou a Arca da Aliança, revelando assim a aliança entre o Eterno e os filhos de Abraão. Eu vos conjuro, Ó potestades celestiais, em memória dos sinais que Vós fizestes aparecer nos céus, brevemente, antes da destruição do Templo! Eu vos conjuro, Ó espíritos da luz e da verdade, em memória dos sinais que acompanharam o nascimento do Salvador; em memória das aleluias nos vales de Belém; em memória de Tua mensagem aos pastores; em memória da estrela cintilante que guiara os magos! Que o Teu sinal seja, para mim, o símbolo da proteção que tu concedes a este ritual divino! Eu te imploro, Ó anjo celestial, em memória dos sinais que tu transmitira aos apóstolos!
Desce, Ó espírito da luz, e mostra Teu consentimento e Teu auxílio!”
* * *
[1] Eu gosto especialmente do Nineveh Shadrach por ele ser, assim como eu, devoto de Ishtar. Em Magic That Works, seu trabalho angelical se mescla com o trabalho com as divindades mesopotâmicas, fórmulas hebraicas e árabes, sem nenhuma interferência entre essas correntes. Apesar de ele não tratar da magia com os 72 anjos aqui, deixo o seu livro como recomendação também.