Quando ele me pede ajuda...
Eu ajudo.
Não me julguem por não saber
Dizer não, as coisas do coração
São muito complicadas.
Aquela desgraçada foi a dona
Do meu coração na época em
Que eu tinha um.
Quando ele me pede ajuda...Não me julguem por não saber
Dizer não, as coisas do coração
São muito complicadas.
Aquela desgraçada foi a dona
Do meu coração na época em
Que eu tinha um.
Quando me chamou cochichou
Em meu ouvido o local onde
Rosa Vermelha escondia duas
Caixas de Madeira,
Onde Rosa Caveira escondia
Outra, onde Quitéria escondeu
outra.
Entreguei a Padilha essas quatro
Caixas e ela me mostrou
Ter posse de uma, então ali
Eram cinco. Pediu que eu
Fosse atras de mais uma caixa,
E dessa vez me orientou a ser
Extremamente cuidadoso pois
Teria de Roubar de Júlia.
Ah Júlia era uma miúda
Que mesmo após morta
O povo chamava de Menina.
Não estava confortável com isso,
Mas Padilha fazia beicinho,
Me beijava atras das orelhas
até eu dizer que sim a todas
as maluquices dela.
Era uma noite escura, chuvosa,
Os relâmpagos eram a unica
Luz que clareava a noite.
Fui sorrateiro ate a morada
De Menina, uma casa de dois
Andares abandonada
Em São Pedro, vasculhei
A casa todos os quartos,
Mas não encontrei nada.
Quando ja estava de saída
Atravessei matagal
Que outrora havia sido um
Belo jardim e fui surpreendido
Por Menina sentada em
Um balanço velho amarrado
Ao galho de uma árvore,
Estava la com a costumeira
Cara de Sonsa, tinha apoiado
No colo a caixa que eu procurava.
Bateu os pés no chão e parou
O balanço.
Rimos da repetição de palavras.
Ela estendeu os bracinhos curtos,
Eu apanhei a caixa.
Não entendi o que ela quis dizer,
Apanhei a caixa me virei de costas
Pronto para ir embora,
E então Menina gritou
Um grito tão agudo e tão alto
Que me deixou um pouco tonto.
Aquilo era o alarme.
Corri para a cidade, pelas ruas
Da Cabo Frio, em uma encruzilhada
foi surpreendido por três delas,
Pelos brilho dourado, purpura e prata
Eu reconheci Dama da Noite,
Maria Mulambo e Rosa Caveira.
Inclinei o corpo e como um
Corisco eu desviei delas,
As unhas negras e pontiagudas
de Dama da Noite por pouco
não me rasgaram.
Elas vieram atrás, mas na
Corrida não eram pario para mim.
Quando o pavimento da
Cidade acabou, entrei na floresta
E continuei a corrida deixando as
Trêspara trás, mas então me
Preocupei quando vi o vulto
Vermelh correndo entre os troncos
A minha direita, era Rosa Vermelha,
E ela sim poderia me ganhar
Em uma corrida, então
dei o melhor de mim
corri como o vento e ja
Estava chegando no local
Combinado quando Rosa Vermelha
Conseguiu agarrar meu braço,
Mas não parei de correr,
Por uns duzentos metros
Corremos assim, agarrados.
Ela enfiou uma de suas
pernas entre as minhas,
Caímos, na verdade rolamos
Por vários metros.
A caixa saltou de minhas mãos
e deslizou pelo gramado
Umido de chuva.
Nisso me dei conta que
ja estava no local combinado,
O cemitério da Boa Fé.
Rosa Vermelha olhou
Para o lado e gritou:
Olhei para a direita e la estava
Maria Padilha, ela apanhou a caixa
no gramado, e sorridente disse:
Eu sorri e ergui o polegar para ela,
Ela gargalhou e deu as costas,
Desaparecendo atras de um mausoléu.
Rosa se levantou aturdida.
Ela abriu a boca assustada e correu
Atrás de Padilha, e enquanto
Eu ficava em pé vi passarem
Correndo Rosa Caveira, Navalha
Mulambo, Quitéria, e Dama da Noite,
E assim que passaram ouvi
Gritos e uma luminosidade
alaranjada banhar as tumbas,
Então as segui para ver
O que ia acontecer.
O que eu vi foi fantástico,
Um tanto absurdo mas sem
Dúvida fantástico!
Sete Saias rodopiava na ponta
Dos pés como uma bailarina
E de sua figura saia fogo!
Ela trançava um círculo perfeito
girando e erguendo atras de si
Uma parede de chamas vermelhas
Impedindo as recém chegadas
de passar.
Ouvi Navalha falar:
Saltei sobre o telhadinho
de um mausoléus,
Queria ver o que sete Saias
Protegia das outras,
Ali de cima vi que
no meio do círculo estava
Maria Padilha e uma mulher
de vestido Branco, elas
Estavam abaixadas posicionando
Todas as caixas, as quais
Contei serem sete,
Na posição de uma cruz deitada.
Ela mostrou a Padilha
Uma chave de prata e a
Segurando com a mão tremula
Ela fez menção de abrir uma
Das caixas, mas parou e
Olhou para Padilha receosa.
A tal Sete Catacumbas
engoliu em seco
E foi abrindo caixa por caixa,
E então ela e Padilha se
Afastaram.
Sete Saias parou com o giro
Pirotécnico e caiu de joelhos no
Chão, arfando, o fogo se
Extinguiu e Quitéria deu
Um passo a frente
berrando furiosa:
Dama da Noite também berrou:
Ouvi estalos altos, nisso as
Tampas das caixas se
Partiram e lascas de madeira
Voaram para todos os lados.
Ossos humanos flutuaram para
Fora de seus delas e
Se ergueram no ar,
Como se fossem influênciados
Por magnetismo os ossos foram
se unindo, montando um
Esqueleto perfeito,
Que se pôs ereto flutuando
a um metro do chão.
Então a última caixa liberou
Uma peça dourada,
Uma coroa de puro ouro
Com rubys incrustados
Que flutuou até pousar no
Topo do crânio do esqueleto.
O que se seguiu foi uma ventania
tão absurdamente forte
Que eu mesmo sendo um
Espírito de homem morto
Tive de me agarrar a estátua
de um anjo erguida ali
Sobre o telhadinho.
Então aconteceu, do esqueleto
saltou uma luz vermelha
Uma bolinha minúscula
Que cresceu e cresceu
ate criar tronco, cabeça,
braços e pernas, e em um
Piscar de olhos pisou no
Solo do cemitério uma mulher
de vestes vermelhas em
Estilo medieval, com os
Olhos e labios cheios de kajal
E com a cabeça adornada pela
Coroa dourada, os ossos cairam
Displicentes pelo gramado
Mas a coroa permaneceu sobre
A cabeça daquele espírito.
Era notoriamente uma Rainha.
Todas que estavam ali cairam
De joelhos, e eu fiquei atónito
ao ver obediência nelas.
Então vi pelas posturas rígidas
Dos corpos que aquilo não era
Uma escolha, elas foram impelidas
Por alguma força da qual desconheço
A se ajoelhar.
A Rainha foi caminhando entre
Elas, dando tapinhas leves
nas bochechas de cada uma
Tal qual se faz nas ancas de um
Cavalo ao avalia-lo na hora
Da compra.
Os lábios de todas se selaram.
A Rainha virou o rosto
E encarou Padilha que
Se erguia do chão.
Então ela fez uma vénia debochada.
Padilha sorriu a apontou para cima,
Rainha ergueu a cabeça,
E eu também, o céu chuvoso estava
Preto de tao escuro, mas de repente,
Por um curto instante a escuridão
Foi cortada pelo clarão de
Um relâmpago e eu vi muitos,
Dezenas daquelas sombras escuras
Voando sobre nós, circulando
o lugar como urubus atras
De carniça. No extremo alto,
No exato meio da roda de alados
Vi um maioral entre eles,
Um que era alto e forte
E que me fez sentir medo.
A Rainha balbulciou incrédula.
Rainha deu alguns passos
Para trás temerosa.
A Rainha se virou girando,
Fazendo seu vestido abrir
No ar, mas antes que pudesse
Fugir, Maria Padilha a agarrou
Pelos cabelos e pisou na barra
Da saia da soberana, que caiu
Estabacada no chão.
Então vi Padilha
Se inclinar, agarrar
A nuca da Rainha.
Padilha abaixou o rosto
e forçou nela um denso
Beijo nos lábios.
Então a Rainha caiu desfalecida,
O corpo inerte.
Padilha tocou com o dedo
Indicador o exato
ponto entre os seios da Rainha.
Dali surgiu uma luz dourada
Que Maria Padilha apanhou
Com ambas as mãos,
Levou ate a boca e...
Engoliu.
Por algum tempo ficou
com os olhos fechados
Saboreando aquilo,
que eu suspeitava
ser a alma da Rainha.
Então abriu os olhos
Exibindo agora iris vermelhas
Fulgurantes.
Todas as moças ali ajoelhadas
E caladas puderam finalmente
se mover e falar, o poder
da Rainha não as dominava mais.
Padilha ergueu o queixo
E gritou aos seres que voavam
Sobre nós:
E eles desceram, eram seres
Tao brancos que as peles
Até tomavam um tom acinzentado,
Os cabelos longos e louro prateados,
As asas de plumas alvas como a neve
e os olhos de iris de prata
Cheios de maldade.
Eram dezenas, centenas...
E o último a descer foi o líder,
Lúcifer era o único a ostentar
asas e cabelos negros como petróleo,
Ele pousou ao lado de Padilha
E sorriu para ela.
Ela por si ergueu a mão
E ele apanho a beijou sobre
Os dedos.
Disse com o tom de voz
Mais afinado que ja ouvi.
Ela acariciou-lhe a bochecha
E saiu caminhando, ajudou
Sete Saias a ficar em pé e
Saíram as duas de braços dados.
Corri atras delas e as parei
Na entrada no cemitério.
E ela gargalhou, se virou e junto
Com a amiga sumiu
Na escuridão da madrugada.
A daquela noite, por muitos
e muitos anos o que existiu
Aqui nesta terra foi o mais
Puro império do terror.
Felipe Caprini, Contos das Muitas Marias
Segunda Temporada — Conto 13 (Final)
Espero que tenham gostado!
Não copie sem dar os créditos! Seja Honesto!
11944833724
Muito obrigado!