Hoje eu não vou contar
Um itan, pelo menos não
uma mitologia única.
Hoje eu vou contar tudo
O que aprendi nesses
Anos sobre as mulheres
Que Ínle amou.
Os Amores de Odé Ínle
Hoje eu não vou contar
Um itan, pelo menos não
uma mitologia única.
Hoje eu vou contar tudo
O que aprendi nesses
Anos sobre as mulheres
Que Ínle amou.
Antes de começar tenham
em mente que Ínle é Erinlé,
Pois Ínle é nada mais que
Uma forma de pronúnciar
O nome de Erinlé.
Agora eu vou contar a
Vocês a história da maneira
Que eu a imaginei que
Seria quando a ouvi.
Os pássaros estavam
Agitados nas copas das
Árvores.
Era uma noite quente,
E a mulher gravida sozinha
Acocorada nas raizes de
Uma grande árvore.
As corujas pousadas nos
Galhos olhavam para
baixo com seus grandes olhos.
Os gemidos e a respiração
agitada da mulher perturbavam
O silencio da mata.
Quem estava ali não uma
Mulher humana, não,
Quem paria sozinha na floresta
Era Ainá, uma das
Duzentas e uma Iyami.
Ainá trava os dentes,
E põe as mãos logo abaixo
Da virilha,
Então ali acocorada ela
Empurra, e empurra
e empurra.
E todos os bichos da mata
Se assustam com o som
Do choro da criança.
Ainá tremula segura o bebê
nos braços,
O abraça enquanto ele chora.
Mas ele não devia chorar,
Não podia fazer barulho.
Ninguém podia saber.
Ela põe a criança para mamar
Em seu seio, assim ele
Ficaria em silêncio.
Então ela olha para o rosro
Do bebê e percebe que
Ele era lindo.
E ali naquele momento
Ela decide ficar com ele.
E ela cria o menino ali
Na floresta.
Ela o ensinou a tudo
O que sabia,
E ele obviamente
Era brilhante por ser
Filho dela.
O tempo passa e ele
Cresce, cresce
e se torna
Um rapaz grande,
Forte e muito belo.
Ele se tornou um caçador.
E um dia na mata
Ele vê uma mulher.
Ja tinha visto muitas
Mulheres é claro,
Mas so convivia com
homens, com Oxossi,
Osayin e com Ogun,
Mas nunca tinha visto
uma figura tão deslumbrante
Como aquela mulher.
Em um traje azul, tecido
Diáfano enrolado a corpo,
O cabelo trançado com perfeição,
E as faces lisas como as de
Uma estátua de bronze.
Era tão bonita que ele
Imediatamente se encantou.
Ela era Yemanjá,
Uma Deusa do rio.
Ele era timido,
Mas receando que a
Oportunidade fosse única,
Ele foi até ela.
— Quem é você?
Yemanjá pergunta.
Ele não diz o nome,
Era um ensinamento
Deixado pela mãe
"Nunca diga seu nome dentro florestas, se as Iyami ouvirem irão enfeitiçar você!"
Então ele não diz.
Aquele local era terra
Onde habitavam muitos
elefantes, então ele
Se apresenta assim,
Com um apelido, um codenome,
Erinlé, ou Ínle.
Yemanjá gosta dele
E logo se casam.
Mas Yemanjá não é mulher
de viver entocada em mato,
Ela gosta de estar perto
Do povo, e assim leva
Ínle para morar com ela
Na aldeia.
Ínle achava que Yemanjá
era apenas uma mulher
dócil e de rara beleza,
Mas a convivência mostrou
que ela era muito mais
Que isso.
Ao conviver com ela
Ele se lembrava cada vez
Mais da própria mãe.
Yemanjá era feiticeira,
Escondia coisas, segredos,
Tinha poderes e dons
Que ele se assustava ao
Presencia-la usando
Dessas magias.
Mas Yemanjá tinha mais
Segredos, coisas profundas
E sinistras, e esses ele tentou
descobrir por anos,
Mas ela nunca revelou.
Ate que de tanto insistir,
Yemanjá acabou por contar.
Ínle se admirou muito,
E prometeu que guardaria
Esses segredos para sempre.
O tempo passou,
Os anos correram
E Ínle começou a ficar
Insatisfeito.
Ali naquele casamento
ele era somente um pagem,
Servia de companhia a Yemanjá
Mas ja não tinha vida própria.
A vida de Ínle é a floresta.
Então um dia,
mesmo ainda gostando dela,
Ele informou a Yemanjá
Que o casamento havia
chego ao fim,
Ele voltaria a floresta
E seria novamente um caçador.
— Depois de eu ter confiado meus segredos a você? Depois de tudo você vai partir?
Ele disse que sim,
Mas jurou que nunca
Revelaria estes segredos
A ninguém.
Yemanjá sorriu para ele,
Um sorriso frio.
O convidou para beber
E festejar, seria a despedida
da vida de casado.
Ele aceitou, e de noite
Sentou com ela dentro
Da choupana que viviam
E bebeu do vinho que
ela tão atenciosamente servia.
Erinlé bebeu dois ou três goles,
Sentiu a cabeça ficar pesada
E desfaleceu.
Yemanjá havia malejado
A bebida.
Ínle acordou de manha
Tossindo, engasgado com
A propria saliva,
Mas quando cuspiu viu
que não era saliva, era sangue.
A boca estava amortecida,
E ele ao sentar na esteira
Viu ali caido ao lado
Um pedaço de carne rosada.
Arregalou os olhos aterrorizado,
E enfiou os dedos na boca
Para ver se era mesmo
o que pensava.
Sim, na boca lhe faltava
A lingua.
Ele gritou, mas o que saiu
De sua boca foi um som
Incompreensível,
Sem língua ele não podia
Falar nada.
Yemanja entra na cabana
E diz como se não fosse nada:
— Agora eu sei que não vai contar nada pra ninguém.
Ele sai foge,
Corre para a floresta,
Não leva nada, apenas
Corre desesperado
Com as mãos tapando a boca.
Na floresta ele se acalma
e se lembra dos feitiços
que sua mãe lhe ensinara.
Pega um bagre no rio
E com o couro dele faz
A magia chamada Ajarô,
E assim trata a ferida na
Boca ate que a lingua
Crescesse novamente.
Mas mesmo após recuperar
A fala ele jamais revelou
A ninguém os segredos
Da Ex mulher.
Passaram muitos
Anos sozinho na mata
Receando contato com
Qualquer mulher.
Ogun o incentivava a
Voltar a viver normalmente,
Mas Ínle é bicho do mato,
Queria ficar quieto.
E o tempo passou.
Ínle ja não era um rapaz
E sim um homem maduro
Quando conheceu a beira
de um rio que cortava a mata
Uma mulher que reluzia
Como se fosse o próprio
Sol devido a tantas jóias
Douradas que usava.
Ela era Oxum.
Eles ficaram amigos,
Oxum ia ate o rio lavar
Suas muitas joias e pertences
de metal dourado brilhante.
Ele gostou dela, e conforme
iam se conhecendo
um sentimento crescia.
Oxum era muito diferente
De Yemanjá em questão
de personalidade.
Yemanjá era risonha,
Fácil de se manter uma conversa,
Mas Oxum não,
Ela a maior parte do tempo
Parecia estar focada em
Si mesma, em seus pensamentos.
Respondia as perguntas certeira
E ignorava outras coisas
que não lhe interessavam
fingindo que não tinha ouvido.
Ela vinha quando queria
E partia sem dizer quando
ou mesmo se ia voltar.
Inle ficou muito intrigado
com aquela mulher
E ficava atento para os
Momentos que ela viria.
Então em alguns momentos
Oxum cedeu as investidas
românticas de Erinle,
E eles se amaram ali
Nas margens do rio.
Essa relação durou por
Muito tempo.
Então ele certa vez
Ele a viu ali na beira
Do rio, tomou coragem e a
Pediu em casamento.
— Não.
Ínle ficou desconcertado,
Achou que também o amava.
— Não é sobre amor, é sobre futuro. Outro homem me pediu em casamento, um Rei. Eu não nasci para viver em uma choupana ou em uma caverna na floresta. Eu nasci da herança de Reis e Rainhas, o trono é meu lugar. Eu sinto muito mas essa é a última vez que me vê.
Ínle ficou arrasado,
Ele realmente a amava.
Mas percebeu outra coisa,
Oxum estava com a barriga
Inchada, volumosa.
Perguntou se ela estava
Carregando um filho.
— Sim, em breve darei a luz a meu filho.
Ele indagou se era o pai.
— O filho é meu. Tudo o que eu tenho é só meu.
E ela partiu o deixando
ali sozinho.
O coração de Inle
Ficou despedaçado.
Poucos dias depois
Surgiu um convite,
O povo de Okuku precisava
de um novo defensor.
Ogun indicou Ínle.
Ínle não lutava em guerras,
Mas estava tão desnorteado
Que foi e defendeu Okuku
De um exército de invasores.
E em Okuko ele foi
Apresentado a uma guerreira,
Uma mulher baixinha e
De personalidade forte,
Era Otin.
Otin era qualquer coisa
De fantástico,
Mesmo sendo uma mulher
Sem muita força física
ela era a maior guerreira
da região pois tinha
Técnica e inteligência
Acima da média.
E ele percebeu que Otin
Gostava dele.
Ela era muito divertida
e muito valente,
E ele também se apaixonou
Por ela.
Em pouco tempo se casaram,
Ergueram uma casa em Okuku
E ali fizeram sua morada.
Mas logo Ínle se sentiu sufocado.
Otin era a pessoa mais amavel
Do mundo, o tratava a pão-de-ló,
Mas esse carinho
Constante e em demasia
deixavam Ínle irritado.
Ele a amava,
Mas um caçador gosta
de calma e silencio,
E Otin não era nem calma
Nem silenciosa.
Então vieram as brigas
Onde ele esbrevejava e
Dizia o quanto odiava
Estar casado com ela.
— Eu só tento fazer o que é melhor pra você... mas... você não entende. Vive pensando naquela mulher, acha que eu não sei? Eu sou a pessoa que mais te ama no mundo, mas você ama aquela que lhe deu as costas.
Ínle se enervava quando
Otin era ciumenta,
Ele nunca mais havia sequer
Visto Oxum,
Então respondia com grosserias.
Mas aquilo era coisa da
Boca pra fora, ele não
Tinha a menor intenção
De desmanchar o casamento.
Mas Otin acreditou
nas palavras duras de Ínle.
Um dia ele saiu para caçar
e saiu sem avisar.
Quando chegou em casa
A noite, Otin não estava lá.
Ele saiu para procurar
e quando a encontrou
so teve poucos momentos
Com ela.
Otin achara que ele a
Tinha abandonado
E no auge de sua tristeza
ela desistiu de viver,
Abandonou a forma humana
E se transformou em um rio.
Inle foi testemunha
Daquele milagre,
E cheio de remorso
ele também se tornou
Agua, ele e esposa
Se tornaram rios,
Foram ali elevados
A Orixás.
Mas como Orixás
Eles não eram mais
Marido e mulher,
Otin era agora um
ser poderoso e independente,
Tinha um caminho próprio
a percorrer.
Então Ínle a deixou livre
e seguiu seu próprio rumo.
Havia passado por tantas
Coisas, tantas histórias
Que estava cansado.
E o tempo passou,
O tempo correu veloz.
Um dia Ínle quis ser
Gente de novo, então
saiu das águas de seu
rio em forma de homem.
Percorreu todo o trajeto
Das aguas ate que chegou
a um pântano, um local
Alagadiço onde os animais
de todos os tipos raros
Viviam felizes.
Inle nunca havia visto um
Pântano, então ficou
muito curioso.
Ele explorou cada canto
Daquele local,
E quando chegou ao centro
viu nos galhos de uma
grande árvore uma serpente
gigantesca e de couro amarelo.
Ele olhou a serpente e
Sentiu que ela não era um
Animal comum.
A serpente o encarou
E falou com ele.
— Quem é você que entra em minha casa sem ser convidado.
Inle se apresentou,
Contou quem era
e o que era.
A serpente então
Despencou da árvore
mas quando bateu
No chão ela não era
Mais serpente,
Era uma mulher.
Aquela era Abatan,
A Orixa dos pântanos.
Ela era calma e silenciosa,
Era sedutora e confiável.
Foi com ela que Ínle casou,
E é ela que é o par dele
No mundo até os dias de hoje.
Ínle teve muitas outras
aventuras, encarnou
em outras vidas onde
Foi chamado de Ibualama,
De Iyamokin, mas
No fim dessas jornadas
ele sempre volta para
Abatan, e juntos
Eles desfrutam
da calmaria da floresta,
Pois é na floresta
Que o coração de Ínle
Encontra a paz.
.
.
.
Que Odé Ínle seja louvado todos os dias!
Mitos dos Orixás, Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
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Hoje eu não vou contar
Um itan, pelo menos não
uma mitologia única.
Hoje eu vou contar tudo
O que aprendi nesses
Anos sobre as mulheres
Que Ínle amou.
Antes de começar tenham
em mente que Ínle é Erinlé,
Pois Ínle é nada mais que
Uma forma de pronúnciar
O nome de Erinlé.
Agora eu vou contar a
Vocês a história da maneira
Que eu a imaginei que
Seria quando a ouvi.
Os pássaros estavam
Agitados nas copas das
Árvores.
Era uma noite quente,
E a mulher gravida sozinha
Acocorada nas raizes de
Uma grande árvore.
As corujas pousadas nos
Galhos olhavam para
baixo com seus grandes olhos.
Os gemidos e a respiração
agitada da mulher perturbavam
O silencio da mata.
Quem estava ali não uma
Mulher humana, não,
Quem paria sozinha na floresta
Era Ainá, uma das
Duzentas e uma Iyami.
Ainá trava os dentes,
E põe as mãos logo abaixo
Da virilha,
Então ali acocorada ela
Empurra, e empurra
e empurra.
E todos os bichos da mata
Se assustam com o som
Do choro da criança.
Ainá tremula segura o bebê
nos braços,
O abraça enquanto ele chora.
Mas ele não devia chorar,
Não podia fazer barulho.
Ninguém podia saber.
Ela põe a criança para mamar
Em seu seio, assim ele
Ficaria em silêncio.
Então ela olha para o rosro
Do bebê e percebe que
Ele era lindo.
E ali naquele momento
Ela decide ficar com ele.
E ela cria o menino ali
Na floresta.
Ela o ensinou a tudo
O que sabia,
E ele obviamente
Era brilhante por ser
Filho dela.
O tempo passa e ele
Cresce, cresce
e se torna
Um rapaz grande,
Forte e muito belo.
Ele se tornou um caçador.
E um dia na mata
Ele vê uma mulher.
Ja tinha visto muitas
Mulheres é claro,
Mas so convivia com
homens, com Oxossi,
Osayin e com Ogun,
Mas nunca tinha visto
uma figura tão deslumbrante
Como aquela mulher.
Em um traje azul, tecido
Diáfano enrolado a corpo,
O cabelo trançado com perfeição,
E as faces lisas como as de
Uma estátua de bronze.
Era tão bonita que ele
Imediatamente se encantou.
Ela era Yemanjá,
Uma Deusa do rio.
Ele era timido,
Mas receando que a
Oportunidade fosse única,
Ele foi até ela.
— Quem é você?
Yemanjá pergunta.
Ele não diz o nome,
Era um ensinamento
Deixado pela mãe
"Nunca diga seu nome dentro florestas, se as Iyami ouvirem irão enfeitiçar você!"
Então ele não diz.
Aquele local era terra
Onde habitavam muitos
elefantes, então ele
Se apresenta assim,
Com um apelido, um codenome,
Erinlé, ou Ínle.
Yemanjá gosta dele
E logo se casam.
Mas Yemanjá não é mulher
de viver entocada em mato,
Ela gosta de estar perto
Do povo, e assim leva
Ínle para morar com ela
Na aldeia.
Ínle achava que Yemanjá
era apenas uma mulher
dócil e de rara beleza,
Mas a convivência mostrou
que ela era muito mais
Que isso.
Ao conviver com ela
Ele se lembrava cada vez
Mais da própria mãe.
Yemanjá era feiticeira,
Escondia coisas, segredos,
Tinha poderes e dons
Que ele se assustava ao
Presencia-la usando
Dessas magias.
Mas Yemanjá tinha mais
Segredos, coisas profundas
E sinistras, e esses ele tentou
descobrir por anos,
Mas ela nunca revelou.
Ate que de tanto insistir,
Yemanjá acabou por contar.
Ínle se admirou muito,
E prometeu que guardaria
Esses segredos para sempre.
O tempo passou,
Os anos correram
E Ínle começou a ficar
Insatisfeito.
Ali naquele casamento
ele era somente um pagem,
Servia de companhia a Yemanjá
Mas ja não tinha vida própria.
A vida de Ínle é a floresta.
Então um dia,
mesmo ainda gostando dela,
Ele informou a Yemanjá
Que o casamento havia
chego ao fim,
Ele voltaria a floresta
E seria novamente um caçador.
— Depois de eu ter confiado meus segredos a você? Depois de tudo você vai partir?
Ele disse que sim,
Mas jurou que nunca
Revelaria estes segredos
A ninguém.
Yemanjá sorriu para ele,
Um sorriso frio.
O convidou para beber
E festejar, seria a despedida
da vida de casado.
Ele aceitou, e de noite
Sentou com ela dentro
Da choupana que viviam
E bebeu do vinho que
ela tão atenciosamente servia.
Erinlé bebeu dois ou três goles,
Sentiu a cabeça ficar pesada
E desfaleceu.
Yemanjá havia malejado
A bebida.
Ínle acordou de manha
Tossindo, engasgado com
A propria saliva,
Mas quando cuspiu viu
que não era saliva, era sangue.
A boca estava amortecida,
E ele ao sentar na esteira
Viu ali caido ao lado
Um pedaço de carne rosada.
Arregalou os olhos aterrorizado,
E enfiou os dedos na boca
Para ver se era mesmo
o que pensava.
Sim, na boca lhe faltava
A lingua.
Ele gritou, mas o que saiu
De sua boca foi um som
Incompreensível,
Sem língua ele não podia
Falar nada.
Yemanja entra na cabana
E diz como se não fosse nada:
— Agora eu sei que não vai contar nada pra ninguém.
Ele sai foge,
Corre para a floresta,
Não leva nada, apenas
Corre desesperado
Com as mãos tapando a boca.
Na floresta ele se acalma
e se lembra dos feitiços
que sua mãe lhe ensinara.
Pega um bagre no rio
E com o couro dele faz
A magia chamada Ajarô,
E assim trata a ferida na
Boca ate que a lingua
Crescesse novamente.
Mas mesmo após recuperar
A fala ele jamais revelou
A ninguém os segredos
Da Ex mulher.
Passaram muitos
Anos sozinho na mata
Receando contato com
Qualquer mulher.
Ogun o incentivava a
Voltar a viver normalmente,
Mas Ínle é bicho do mato,
Queria ficar quieto.
E o tempo passou.
Ínle ja não era um rapaz
E sim um homem maduro
Quando conheceu a beira
de um rio que cortava a mata
Uma mulher que reluzia
Como se fosse o próprio
Sol devido a tantas jóias
Douradas que usava.
Ela era Oxum.
Eles ficaram amigos,
Oxum ia ate o rio lavar
Suas muitas joias e pertences
de metal dourado brilhante.
Ele gostou dela, e conforme
iam se conhecendo
um sentimento crescia.
Oxum era muito diferente
De Yemanjá em questão
de personalidade.
Yemanjá era risonha,
Fácil de se manter uma conversa,
Mas Oxum não,
Ela a maior parte do tempo
Parecia estar focada em
Si mesma, em seus pensamentos.
Respondia as perguntas certeira
E ignorava outras coisas
que não lhe interessavam
fingindo que não tinha ouvido.
Ela vinha quando queria
E partia sem dizer quando
ou mesmo se ia voltar.
Inle ficou muito intrigado
com aquela mulher
E ficava atento para os
Momentos que ela viria.
Então em alguns momentos
Oxum cedeu as investidas
românticas de Erinle,
E eles se amaram ali
Nas margens do rio.
Essa relação durou por
Muito tempo.
Então ele certa vez
Ele a viu ali na beira
Do rio, tomou coragem e a
Pediu em casamento.
— Não.
Ínle ficou desconcertado,
Achou que também o amava.
— Não é sobre amor, é sobre futuro. Outro homem me pediu em casamento, um Rei. Eu não nasci para viver em uma choupana ou em uma caverna na floresta. Eu nasci da herança de Reis e Rainhas, o trono é meu lugar. Eu sinto muito mas essa é a última vez que me vê.
Ínle ficou arrasado,
Ele realmente a amava.
Mas percebeu outra coisa,
Oxum estava com a barriga
Inchada, volumosa.
Perguntou se ela estava
Carregando um filho.
— Sim, em breve darei a luz a meu filho.
Ele indagou se era o pai.
— O filho é meu. Tudo o que eu tenho é só meu.
E ela partiu o deixando
ali sozinho.
O coração de Inle
Ficou despedaçado.
Poucos dias depois
Surgiu um convite,
O povo de Okuku precisava
de um novo defensor.
Ogun indicou Ínle.
Ínle não lutava em guerras,
Mas estava tão desnorteado
Que foi e defendeu Okuku
De um exército de invasores.
E em Okuko ele foi
Apresentado a uma guerreira,
Uma mulher baixinha e
De personalidade forte,
Era Otin.
Otin era qualquer coisa
De fantástico,
Mesmo sendo uma mulher
Sem muita força física
ela era a maior guerreira
da região pois tinha
Técnica e inteligência
Acima da média.
E ele percebeu que Otin
Gostava dele.
Ela era muito divertida
e muito valente,
E ele também se apaixonou
Por ela.
Em pouco tempo se casaram,
Ergueram uma casa em Okuku
E ali fizeram sua morada.
Mas logo Ínle se sentiu sufocado.
Otin era a pessoa mais amavel
Do mundo, o tratava a pão-de-ló,
Mas esse carinho
Constante e em demasia
deixavam Ínle irritado.
Ele a amava,
Mas um caçador gosta
de calma e silencio,
E Otin não era nem calma
Nem silenciosa.
Então vieram as brigas
Onde ele esbrevejava e
Dizia o quanto odiava
Estar casado com ela.
— Eu só tento fazer o que é melhor pra você... mas... você não entende. Vive pensando naquela mulher, acha que eu não sei? Eu sou a pessoa que mais te ama no mundo, mas você ama aquela que lhe deu as costas.
Ínle se enervava quando
Otin era ciumenta,
Ele nunca mais havia sequer
Visto Oxum,
Então respondia com grosserias.
Mas aquilo era coisa da
Boca pra fora, ele não
Tinha a menor intenção
De desmanchar o casamento.
Mas Otin acreditou
nas palavras duras de Ínle.
Um dia ele saiu para caçar
e saiu sem avisar.
Quando chegou em casa
A noite, Otin não estava lá.
Ele saiu para procurar
e quando a encontrou
so teve poucos momentos
Com ela.
Otin achara que ele a
Tinha abandonado
E no auge de sua tristeza
ela desistiu de viver,
Abandonou a forma humana
E se transformou em um rio.
Inle foi testemunha
Daquele milagre,
E cheio de remorso
ele também se tornou
Agua, ele e esposa
Se tornaram rios,
Foram ali elevados
A Orixás.
Mas como Orixás
Eles não eram mais
Marido e mulher,
Otin era agora um
ser poderoso e independente,
Tinha um caminho próprio
a percorrer.
Então Ínle a deixou livre
e seguiu seu próprio rumo.
Havia passado por tantas
Coisas, tantas histórias
Que estava cansado.
E o tempo passou,
O tempo correu veloz.
Um dia Ínle quis ser
Gente de novo, então
saiu das águas de seu
rio em forma de homem.
Percorreu todo o trajeto
Das aguas ate que chegou
a um pântano, um local
Alagadiço onde os animais
de todos os tipos raros
Viviam felizes.
Inle nunca havia visto um
Pântano, então ficou
muito curioso.
Ele explorou cada canto
Daquele local,
E quando chegou ao centro
viu nos galhos de uma
grande árvore uma serpente
gigantesca e de couro amarelo.
Ele olhou a serpente e
Sentiu que ela não era um
Animal comum.
A serpente o encarou
E falou com ele.
— Quem é você que entra em minha casa sem ser convidado.
Inle se apresentou,
Contou quem era
e o que era.
A serpente então
Despencou da árvore
mas quando bateu
No chão ela não era
Mais serpente,
Era uma mulher.
Aquela era Abatan,
A Orixa dos pântanos.
Ela era calma e silenciosa,
Era sedutora e confiável.
Foi com ela que Ínle casou,
E é ela que é o par dele
No mundo até os dias de hoje.
Ínle teve muitas outras
aventuras, encarnou
em outras vidas onde
Foi chamado de Ibualama,
De Iyamokin, mas
No fim dessas jornadas
ele sempre volta para
Abatan, e juntos
Eles desfrutam
da calmaria da floresta,
Pois é na floresta
Que o coração de Ínle
Encontra a paz.
.
.
.
Que Odé Ínle seja louvado todos os dias!
Mitos dos Orixás, Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
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