Em tudo que passei,
Que vivi, nunca tive
Ódio no coração.
Tive muita raiva, fúria,
Mas ódio não.
Porém ao ser traída
Por aqueles que eu
Verdadeiramente amava
Mudou tudo.
Me encheu de Ódio.
Em tudo que passei,
Que vivi, nunca tiveÓdio no coração.
Tive muita raiva, fúria,
Mas ódio não.
Porém ao ser traída
Por aqueles que eu
Verdadeiramente amava
Mudou tudo.
Me encheu de Ódio.
Era fim do quarto século após Cristo.
Não que algum de nós entedesse
O que era Cristo, afinal um
Homem morto per Roma
Não inspirava muita admiração.
Mas nós entendiamos sim
De guerra, e os Romanos
Estavam a nossa porta
Afim roubar nossas terras
E escravizar nosso povo.
Minha mãe,
Rainha Voadika de Cantábria,
Já entendia que o tempo do
Povo das montanhas estava
chegando ao fim, mas ainda
Assim resistia.
Ela era sábia, e prevendo
Que o futuro seria Latino,
Decidiu batizar os dois filhos
com nomes comuns em Roma.
Eu me chamava
Cassandra Calpúrnia,
Meu irmão era Otaviano.
Eu era a mais velha,
A herdeira do trono de Cantábria.
Quando minha mãe faleceu
Os sacerdotes logo trataram
De me preparar para a coroação.
Eu tinha apenas dezessete anos.
Pelo costume de nosso povo
Fui recolhida para ser purificada
Durante doze dias de rituais
No templo do Deus Dagda,
Deus maior de nossa gente,
O templo maior era
No meio da floresta.
Me lembro como se fosse hoje,
Era madrugada do quarto dia,
Estava me banhando na tina
De pedra sagrada de Dagda,
Aguas perfumadas cheias
de óleos e essências.
Mas aquele momento sagrado
foi interrompido
Quando o templo foi invadido
por um agrupamento de
Soldados Romanos.
Gritei por ajuda, ninguém
veio em meu socorro.
Me arrancaram nua da água
E me levaram para fora.
Estava muito frio, eu cobria
Os meu seios com os braços
E me encolhia enquanto tremia.
Tive vontade de chorar
mas aguentei.
A minha comitiva estava
Parada atras dos Romanos,
Todos com expressões
Cheias de medo,
Eram reféns assim como eu.
Ali no meio dos soldados
Um general se aproximou,
Desenrolou um papiro e leu
Em voz alta, falando em Latim:
"É sabido e confirmado que Otaviano Calpúrnia, filho da Rainha Pagã Voadika de Cantábria, jurou lealdade ao Imperio Romano."
Todos os soldados em volta
Berraram em coro
"Ave Império".
O general prosseguiu:
"O Imperador, nosso amado e venerável Theodósio o Grande, recebe com alegria o Rei Otaviano de Calpúrnia como mais um entre seus veneráveis vassalos, após este ter aceitado de bom grado a conversão a fé verdadeira, a fé de cristo."
Meu coração ficou gelado.
Otaviano um Rei?
E ainda por cima um
Rei cristão?
Meu irmão havia me traído,
Era um golpe.
"Sendo assim, Cantábria passa a ser regida pelas leis Romanas. Isso significa que nenhuma mulher pode ocupar posição de soberania. É sabido que esta mulher diante de nós, Princesa Cassandra Calpúrnia, tinha por direito o trono de Cantábria segundo as leis antigas de seu povo, mas... com a nova legislatura imperial ela, ou seja você..."
O general sacou a espada
E colocou a ponta dela no
Meu quiexo, me obrigando
a erguer a cabeça.
"Está a partir deste momento deposta de quaisquer direitos ao trono. Entretanto... o Rei Otaviano imagina que você, princesa Cassandra, tem o apoio popular, coisa que pode incitar revoltas dentro do reino. Portanto, para o bem geral de Cantabria você Cassandra Calpurnia esta condenada a morte."
Os soldados riram,
E varios disseram que
Antes de eu ser degolada
Deveria servir para diverti-los
Um pouco.
O general, no auge de sua
perversidade decidiu fazer
Uma competição,
Disse que por eu ser uma
Rainha deveria ser "usada"
Apenas pelo melhor dentre
Os soldados.
Eu seria solta na floresta,
Me dariam algum tempo
Para correr, depois os soldados
Entrariam na floresta
E o primeiro que me encontra-se
Poderia fazer o que quisesse
comigo.
Eu seria caçada como
Um animal
Em um jogo imundo.
Esse era o jeito Romano
De se divertir, assim
Como faziam assistindo
massacres no coliseu,
A matança e a crueldade
Os contemplava
Mais do que qualquer
outra coisa.
Fui empurrada na direção
Nas árvores, e imediatamente
comecei a correr,
Meus pés doiam ao pisar
Descalça no solo
Cheio de pedras e galhos secos,
Fazia tanto frio que
A minha pele doía
Contra o vento.
Corri por alguns minutos,
Estava tão escuro que não
era possível ter uma real
Ideia de para onde estava indo,
E então ouvi o barulho
dos passos pesados e metal
Das armaduras tilintando,
Os soldados corriam
Atras de mim.
Eles riam, debochavam,
Estavam se aproximando.
Então senti uma dor aguda
No ombro, haviam atirado
Uma flecha em mim.
Continuei correndo,
A flecha fincada ardia,
Corri mais, e minha vista
Começou a ficar turva,
Os soldados estavam a menos
De duzentos metros
E iam me alcançar logo.
Estava sem forças,
Era uma garota magra
E pequena, e não aguentava
mais correr.
Então vi na penumbra
Uma grande árvore com
Um vão oco no tronco,
E achei que podia me
Esconder ali.
Me enfiei no buraco,
E para a minha surpresa
Despenquei por um poço
Muito profundo,
Pois o buraco não tinha chão,
Cai por varios metros
Me estabacando em uma
Poça, algo que eu acreditei
ser lama.
Me vi dentro de uma caverna
No subsolo da floresta.
Ah como eu agradeci a Dagda!
Os Romanos jamais
Iriam em encontrar ali,
Eu estava salva.
Mas em seguida eu
Percebi que sozinha
não conseguiria sair de lá,
Então estava condenada
A morrer ali a mingua.
Fiquei escutando
Os passos dos Romanos
Na superfície, estavam
vasculhando tudo.
Me ergui da lama e com
Certa dificuldade caminhei
para a parte mais profunda
Da caverna, talvez pudesse
achar alguma saida.
Estava cansada, meu ombro
Doía muito, mas continuei.
Então vi na escuridão
Dois pontos vermelhos,
Pareciam tochas muito ao longe,
Porém esses pontos Desapareciam
As vezes.
Segui rumo a eles, tinha ouvido
falar que os antigos Druidas faziam
templos subterrâneos para a
Deusa Epona, se houvessem
Druidas ali eles poderiam curar
Meu ombro e me esconder.
Andei alguns metros rumo
As tochas, mas paralisei de
Terro quando uma voz aspera,
Voz que soava como a de
Um velho moribundo
Soou baixinho na caverna:
— le tuá debrá hatí...
Eu não entendia aquela língua,
Mas sabia que era do povo
Do deserto, minha mãe
Matinha comércio com alguns
Mercadores Sassânidas.
Limpei a garganta e tentei
falar na lingua dele:
— anáhe... salam ...
— Fala Latim?
Fiquei aliviada.
— Sim, eu sou cantábrica mas sei falar latim.
— Que bom, seu árabe é uma merda. Falemos em latim então.
— Desculpe senhor, eu não posso ve-lo, onde o senhor esta?
— Como não me vê? Esta olhando em meus olhos desde que caiu nesse maldito buraco.
Fixei meu olhar
Nas tochas distantes
E finalmente entendi que
Não eram tochas, eram
Um par de olhos flamejantes
me encarando a poucos
Metros.
— Quem é o senhor?
— Eu sou Baal-Berith.
— Qual é a sua tribo? Seu povo?
— Djin.
Eu sabia o que era Djin,
Para os árabes eram seres
Poderosos do deserto,
Seres muitas vezes malignos.
Por mais que eu fosse
Uma mulher de fé,
Eu não acreditava nas
Lendas dos estrangeiros,
E ao me deparar com
Uma eu tive muito medo.
Senti o ar falhar, minha
Voz tremeu:
— O s-senhor é como os filhos de Carman?
— Carman? Não menina, nada tenho com sua Deusa Bruxa, eu sou um filho de outro Deus. Eu sou o que os Romanos chamam de Demónio.
E ele se fez visível,
Todo o corpo acendeu
Envolto em uma luz avermelhada,
Vi ali meio deitado, escorado
em uma grande pedra.
Com mais de quatro metros
O ser tinha a pele vermelha,
Chifres enrolados como
os de uma cabra montanhesa,
Barba e cabelos grisalhos,
Olhos amarelos, dentes grandes
Envoltos por lábios negros,
De suas costas brotavam um
Par de asas de couro.
Ele estava ferido, uma enorme
Lança dourada de cabo quebrado
Varava o largo peito.
Soltei um grito agudo de terror.
— Menina não tenha medo, eu sou como você, um fugitivo.
— O-Os Romanos lhe f-fizeram isto?
— Não... humanos não podem me ferir... foram os Malach, eles me caçam.
— O que é... Malach?
— Aquilo que os Romanos chamam de "Anjo". Me escondi aqui sob a terra, mas os Malach continuam rondando a região atrás de me achar. Menina, me ajude... tire essa lança do meu peito.
— Eu? Mas se o senhor é um Demónio, e os Romano falam de Demónios como se fossem Deuses, então porque não remove sozinho?
— Não posso, essa lamina foi feita para ferir a minha espécie, mas não a sua. Você pode remover, mas eu sozinho não.
— Se eu fizer isso, o que impede de me matar logo em seguida?
Baal-Berith ficou calado,
Então entendi que ele
Realmente pretendia me
Matar assim que eu
Terminasse de ser útil.
— Posso lhe fazer uma promessa inquebrável.
— E como eu poderia ter certeza?
— Se tu comerdes da minha carne e aceitar que eu possua seu corpo por um breve período, eu não irei lhe fazer mal.
— E porque eu aceitaria algo tao absurdo?
— Porque essa lança me paralisa, mas não me mata. Mas a fome e sede e o frio logo irão tirar a sua vida, em quatro ou cinco dias estará morta. Se aceitar este pacto comigo eu poderei sair daqui em segurança, os Malach não me verão se eu estiver oculto dentro de ti, principalmente se tu comer a minha carne e beber meu sangue. Isso sera um pacto, um casamento.
Olhei em volta, eu ainda
Estava nua e ferida,
Meus pés dormentes pelo frio.
E iria morrer de qualquer
Jeito, então decidi arriscar.
Fui até o Demónio, e
segurando com ambas as mãos
A haste da lança, a puxei,
Era pesada e eu tinha um
Ombro ferido quase não pude,
Mas acabei por conseguir
remover aquilo.
BaalBerith suspirou aliviado,
E imediatamente seu corpo
Reluziu e ele sentou e
Esticou as asas.
Observei a ferida em seu peito
Fechar e cicatrizar em segundos.
Ele ficou ali sentado me olhando,
Seus olhos pareciam cheios
De malicia.
Cobri meus seios e virilha
Com os braços receando
Que aquele ser monstruoso
Quisesse cometer alguma
Violência para comigo.
— Não seja estupida menina, eu sinto muito desejo por você, mas não é como os que os machos da sua espécie sentem. Não tenho a menor vontade de copular com alguém tão minúscula e... me desculpe falar, mas insossa. Eu te olho assim pois tenho fome.
— Achei que iria fazer o pacto comigo.
Ele bufou aborrecido.
— E vou. Não tenho escolha. Escute isto.
Estendeu a mao na minha
Direção, seu dedo indicador,
Cuja a ponta era maior que
Meu rosto inteiro,
Encostou na lateral de minha
cabeça, e quando minha
Orelha tocou a pele vermelha
Eu ouvi o farfalhar de muitas
Asas e vozes femininas que
falavam, conversavam entrei
Si em tom de cantoria lírica.
— O que é isso?
— Malach, estão bem acima de nós, sondando a floresta atras de mim.
Então Baal-Berith
Afastou a mão de minha orelha,
Observei ele mover as
Unhas negras a cumpridas
Sobre a propria coxa e ali
Arrancar um naco de
Carne de cor marrom escura
Do tamanho de uma maçã.
— Quem é você? Por qual nome teus pais te chamam?
— Sou Cassandra Calpúrnia, Rainha de Cantábria.
— Cassandra, você aceita ter comigo uma aliança eterna?
— Aceito.
Com a ponta da unha encostou
Aquilo na minha boca.
— Tome e coma pois isto é o meu corpo.
Mordi, a carne era saborosa
E doce, fibrosa mas macia,
Era como mastigar tâmaras
Bem maduras.
Em seguida o demónio fez um
Gesto riscando o ar com
As unhas dos dedos menores,
Ali apareceu
um cálice de ouro que ele
Apanhou e encheu
Com o sangue espesso que
Vazava da ferida na coxa.
Me ofereceu o cálice e disse:
— Beba dele, pois isto é o sangue da aliança, que é derramado em favor de ti, para a ampliação da tua resistência as potestades da noite.
Bebi, era quente e espesso,
O gosto era como o de
Uma enfusão de muitas ervas,
Era tanto que vazou pelas
Laterais da taça e escorreu
Pelo meu rosto e corpo.
E então senti a mão
De Baal-Berith agarrar
Minha cintura e me erguer
no ar, gritei a plenos
Pulmões quando as unhas dos
dois dedos da outra mão
Rasgaram a carne de meu peito,
E as usando como pinça
ele removeu meu coração.
Vi diante de meus olhos
o órgão ainda pulsando.
Vi o demónio engolir aquilo
Que era o cerne da minha vida.
Então ele arrancou mais um
Naco de carne de coxa
e enfiou no buraco vazio
De meu peito.
Aquele carne se moldou
Na forma de um novo
coração humano.
A ferida se fechou
e ele me pôs no chão
Sem dizer absolutamente nada.
Tomada de um sono
Avassalador, me deitei
E dormi.
Quando abri meus olhos
Estava no alto de um monte,
Em meio a fumaça e a odor
De enxofre.
Era o vulcão Etna.
Baal-Berith estava ao meu
Lado.
Me explicou que havia
possuido meu corpo pelos
Ultimos doze anos.
Eu realmente me senti
Mais velha, meus cabelos
Estavam tao cumpridos
Que iam até os joelhos,
E estava vestida com
Uma túnica negra.
Não tive reação ao saber
Que havia perdido doze
Anos de minha vida,
Me sentia fria, apática.
Baal-Berith me beijou
Nos lábios e disse que
Pelo fato de ter permanecido
Seguro, escondido
Dentro de mim pela dezena
De anos, Nosso casamento
Seria inquebrável e eterno
Pois ambos haviam cuprido
Suas obrigações.
Como pagamento eu
Receberia todo o conhecimento
absorvido dele,
Pelo coração demoniaco
Que batia em meu peito.
Então ele se lançou para
Dentro da boca do vulcão,
Me deixando livre
Para seguir com minha vida.
Senti desejo de voltar para casa,
E assim que pensei em Cantábria,
De repente me vi diante
dos portões do palácio Real.
Haviam quatro guardas
Romanos ali, e eu os matei,
O sangue deles jorrou em
Jatos que tingiram as paredes
Caiadas do lugar.
Entrei, cada Romano que encontrei
Estraçalhei, e somente após
matar uns vinte ou trinta
é que me dei conta de que
os matava sem sentir nada.
Alias, sentia sim um pouco
de prazer ao ver a luz
Se apagando daqueles olhos.
Invadi a sala do trono
e lá estava meu irmão
Com a coroa sobre a cabeça.
Não tenho como explicar
O calor que senti no peito
Quando o vi.
Ao lado dele estava
uma mulher e duas crianças,
Eram os Reis e Príncipes de
Cantábria?
Usurpadores!
Alguns momentos depois
Eles eram apenas liquido
Vermelho escorrendo
Pelo piso do salão.
Eu estava coberta de sangue
mas me sentei no trono
E coroei a mim mesma,
Cassandra Calpúrnia,
A verdadeira Rainha.
Meu povo me recebeu
Com festejos e alegria,
Me saudavam como
A esposa verdadeira
Do Deus Dagda.
Armei minha gente
Com espadas, escudos
e lanças, e com o auxílio
dos dons que agora
Eu tinha, amaldiçoei toda
A minha gente,
Os tornando tão violentos
No campo de batalha
Que os romanos não
Conseguiam resistir,
Eram estraçalhados sem
A menor chance de se defender.
Cantábria se tornou independente
E eu a Rainha mais temida
De toda a Europa.
Me chamavam de Regina Mestiza,
Que quer dizer "A Rainha mestiça"
Pois acreditavam que eu era
Uma semideusa.
Reinei por nove anos
até dar a luz a minha
Primeira filha, a chamei
De Maria, como a mãe do
Cristo Romano.
Maria era alta e magra, loura
como o soldado Romano que
Eu havia usado em uma noite
De festa e que provavelmente
Era seu pai.
Antes de degolar o porco eu
Lhe prometi que se ficasse
Grávida iria nomear o bebê
com o nome da sagrada mãe
da igreja de Roma.
Sim, uma zombaria a mais
Sempre dava tempero as coisas.
Depois de Maria pari outra
Menina que nomeei Roza.
Esta era de pele cor de canela,
A gerei com um mercador árabe.
Por fim um menino, Septimus.
Septimus era preto e alto,
Exatamente como o
Africano que havia sido
meu amante por alguns meses.
Os tres cresceram sob o peso
de minha espada, eram
Os generais de meu exército.
De todas as pessoas,
As únicas que eu amava
eram meus três filhos.
Eram valentes como eu,
Mas não fortes como eu.
Jamais dei a eles a minha
Força verdadeira,
Não queria que fossem
Condenados como eu sabia
que eu seria.
Mas conforme as decadas
Foram passando, Maria
se tornou um tanto inquieta.
Eu sabia que estava esperando
A minha morte para enfim
Se tornar Rainha.
Mas eu estava a cinquenta anos
No trono e ainda parecia
jovem.
Alias a minha aparência era
Mais jovial que a de meus filhos.
Nao sei dizer quando entenderam
Que eu nunca iria morrer,
Mas vi a mudança no olhar
deles depois que os cabelos
brancos surgiram em suas
Cabeças
E eles viram que na minha não.
Então começaram a se rebelar.
Foi difícil, mas eu tive de
Ensina-los do modo mais drástico
que princesas e príncipes
Não falam mais alto que Rainhas.
Eles tinham de ser punidos.
Então removi deles o livre arbítrio.
Sim eu podia fazer isso.
Não poderia com as pessoas
Comuns mas com aqueles gerados
A partir do meu sangue eu
Podia dominar perfeitamente.
Se ordenasse que Maria não
Dormissse por uma semana,
Os olhos dela permaneciam abertos
Pelos sete dias.
Se ordenasse a Roza que
Matasse os proprios filhos,
Ela me traria as cabeças em
Bandejas de prata.
Se ordenasse a Septimus que
Queimasse as aldeias de seus
amigos, eu sentiria em poucos
Instantes o cheiro da fumaça.
E fiz bem,
Logo os três passaram
a ser como cordeirinhos
Respeitando a cumprindo
as minhas vontades.
O meu desejo era a Lei.
Então no aniversário de
Ciquenta e cinco anos
de Maria ela me pediu
Permissão para fazer uma
Grande festa,
E eu claro que permiti.
Me lembro do salão
repleto de nobres.
Me lembro do vinho
estar estranho.
Me lembro de sentir
muito sono.
E então não me
Lembro de mais nada
Com clareza.
Na escuridão que
Se seguiu, ouvi a voz
de Baal-Berith soando
em meus ouvidos.
Ele me contou que meu
Maior erro foi ter revelado
Sobre meu casamento
Demoníaco a eles.
Ao contar a minha história
eu dei aos três a ideia de
Como poderiam me eliminar.
Maria me envenenou,
Mesmo sabendo que eu
Não morreria.
Tudo que ela queria era
Me fazer dormir.
Meus filhos
Levaram meu corpo
inerte para o subterrâneo
Do palácio, me despiram
E... me devoraram.
Comeram cada pedaço de minha
carne e lamberam cada
Gota de meu sangue
Na esperança de adquirir
poder, queriam emular
O ato que eu tinha cometido
com Baal-Berith.
Mas não deu certo,
Nenhum deles ganhou
grandes poderes,
Pois um pacto para ser
Válido tem de ser feito
Por livre vontade,
E não por traição.
Ali no piso umido do
Quarto de pedra onde
Meus filhos estavam
a me devorar, eu voltei
A vida por um breve instante.
Meu esqueleto já branco,
Sem carne alguma,
Se tremeu, e os ossos do
Meu maxilar bateram.
E eu disse:
"MALDITOS SEJAM OS TRAIDORES, MALDITOS SEJAM OS MATRICÍDAS! NENHUM DE VÓS, NENHUM DA VOSSA DESCENDENCIA, NENHUM QUE FOR MACULADO PELA SOMBRA DE QUEM EU FUI, NENHUM TERÁ DESCANSO. NÃO VERÃO NEM A LUZ DO PARAISO, NEM AS TREVAS DO INFERNO, FICARÃO ONDE ESTÃO, ATÉ QUE EU VOLTE, OS JULGUE E OS CONDENE!"
Então meus filhos
sentiram medo.
Medo que eu fosse me
Levantar a qualquer momento
e fustiga-los com fúria maior
que a de mil dragões,
Eles decidiram quebrar meu
corpo em sete partes.
Em sete caixas de marfim imperial,
que é o nome dado a maldita
madeira da figueira branca,
Que árvore que corta qualquer
tipo de magia ou encanto,
Eles trancaram meus ossos
E minha coroa com fechadura
e chave de prata,
Chave confiada sempre a herdeira
Do sangue de minha filha
Mais velha.
Então eu não pude voltar
A vida.
Cada geração após meus
Filhos tem se dedicado
a esconder as caixas
E a mantelas seguras.
Mas para que eu os
Indentifique, cada geração
tem involuntariamente
Assumido os nomes dos tres
Desgraçados.
Todas e todos que tem parte
Comigo se chamam e se chamarão
Maria, Rosa e Sete.
Minha alma tem hibernado
Pelos séculos dentre os
Séculos, esperando o dia
em que serei libertada.
E quando as caixas forem abertas
E meu corpo for remontado
Eu irei retornar,
E serei grande
E serei pior que quaisquer
Demónio do inferno.
Eu sou feita de ÓDIO.
Felipe Caprini, Contos das Muitas Marias
Segunda Temporada — Conto 10
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