Em 1966 Vinicius de Morais cantou
"Coitado do homem que cai... No canto de Ossanha, traidor!
Coitado do homem que vai... Atrás de mandinga de amor..."
Compôs a música pois sabia
Da lenda do amor de Osanyin
Por um caçador.
Em 1966 Vinicius de Morais cantou
"Coitado do homem que cai... No canto de Ossanha, traidor!Coitado do homem que vai... Atrás de mandinga de amor..."
Compôs a música pois sabia
Da lenda do amor de Osanyin
Por um caçador.
Sim esta é a lenda de um homem
Que amou outro.
Sei que há quem desgoste dessas lendas
Mas o que importa?
Tudo que é história é para ser contada.
Era uma manhã tranquila
Quando Ogun chegou na cabana de Yemoja,
A boa mãe ja na labuta
Saudou seu amigo.
— Eepa Ogun! Que bons ventos o trazem?
— Yemoja hoje é dia de trabalho, eu e seu filho temos um combinado.
Sim Ogun estava lá
Atrás de seu amigo Odé Igbo.
Muitos acham que essa lenda
Fala de Oxóssi ou de Ibualama, mas não,
Quem saiu da casa foi um dos filhos de Yemoja,
O jovem Odé Igbo,
O caçador das matas densas.
O combinado era que Ogun iria
Para a Fazenda cultivar a terra
E Igbo para mata trazer caça.
Juntos foram para o trabalho,
E Yemoja observou o filho partir
Como fazia todos os dias,
Mas naquela manhã
Algo agitou seu coração,
Um mal presságio.
Quando os rapazes chegaram
Na encruzilhada
Ogun foi para a fazenda
E Igbo com seu arco e flecha
Se embrenhou na mata.
Yemoja tomada por um
Grande desassossego
Quis entender o que sentia
E saiu de casa correndo
Até encontrar na cidade
Seu grande amigo,
O advinho Orunmilá.
Ele sentado no chão
Tinha ali os búzios na mão
Pronto para o destino revelar.
— Diga lá Yemoja, o que te trás aqui?
Ela sentada diante dele contou:
— Meu filho saiu de casa, foi caçar na mata e quando ele partiu senti uma dor aqui dentro, meu coração ficou apertado.
Orunmilá jogou seus búzios
E a verdade oculta veio a tona.
— Seu filho não pode andar naquela floresta, ali é terreno de um homem muito poderoso, é a casa de Osanyin. Todo o cuidado é pouco.
— Mas... mas Osanyin não é mal, porque devo temer pelo meu menino?
— Osanyin não quer fazer mal a ninguém, mas quem disse que o bem dele é o seu? Yemoja, a conquista dele será a sua perda.
Yemoja não entendeu bem
Mas sentiu que devia manter Igbo
Longe da floresta.
De noite quando ele e Ogun voltaram
Trazendo legumes e caça
Ela sem pestanejar foi logo dizendo:
— Igbo amanhã você não pode ir caçar.
— Mas mãe? Porque?
— Não interessa, se eu disse que não vai então não vai.
Igbo olhou para a mãe
Com muito desgosto.
— Não me olhe assim, prometa que vai me obedecer.
— Prometo mãe.
Mas povo de Odé é bom em contar mentiras
E uma promessa naqueles lábios
É o mesmo que nada.
E de manhã antes da mãe acordar
Igbo pegou seu arco e flecha
Saltou pela janela e correu para a mata.
La dentro no meio das árvores
Ele mantinha a audição aguçada
Para restrear os bichos.
Ouviu um estalar nas folhagens,
Imediatamente retesou o arco
Pronto para a tirar,
Então ouviu um outro estalar
E girou o corpo mirando o outro lado,
Por fim ouviu mais um barulho
E quando virou com a flecha pronta
Na direção indicada
Deu de cara com um homem.
— Olá. — o homem disse sorridente.
— Oh... Oi. Quem é você?
— Sou Osanyin, o dono da floresta. Pode por favor tirar isso do meu rosto?
Odé Igbo se deu conta de que
Mantinha a flecha retesada
Apontada para a cabeça do outro.
— Ah... me desculpe, eu estava caçando. — ele abaixou o arco.
— Eu vi.
— Você disse que é o dono da floresta?
— Eu sou.
— Eu não sabia que tinha dono.
— Eu percebo que há muitas coisas que você não sabe.
Osanyin gostou do caçador
Ele era jovem, bonito e
Animado com a vida.
Passaram um bom tempo conversando
Osanyin e mesmo durante a caçada
Osanyin permaneceu ali ao lado dele em silêncio .
Yemoja acordou e foi fazer as coisas da casa
E então Ogun veio a porta
E chamou por Igbo.
— Ele não pode ir hoje Ogun, eu não quero ele sozinho na floresta.
— Eu sei, mas então ele pode ir me ajudar no roçado?
Yemoja concordou a foi acordar o filho
Mas quando foi até a esteira dele
A encontrou vazia, o arco e flecha
Também haviam sumido.
Desesperada ela foi até Ogun:
— Ele fugiu! Me desobedeceu!
— É coisa de moleque, não crie caso por isso.
— Mas Orunmilá me alertou que meu menino corre perigo se encontrar Osanyin!
— Mas Osanyin não faz mal a ninguém...
— Se Orunmilá disse então é verdade!
Ogun não questionou e
Junto com Yemoja foi para a floresta.
Durante o dia Igbo acabou
Por comentar com Osanyin
Que havia desobedecido a mãe.
— Então é melhor não ir para casa, eu conheço sua mãe, ela é brava com os filhos.
— Mas e pra onde eu vou?
— Durma na minha casa, é uma cabana na parte mais fechada da floresta, venha, vai ser melhor deixar sua mãe sozinha, se ela se preocupar com a sua ausência não vai brigar com você pela desobediência...
Igbo aceitou
E quando anoiteceu
Foi para a casa de Osanyin.
Mal sabia ele que tudo era um plano.
Osanyin ofereceu boa comida
E antes de dormirem
Trouxe uma bebida muito boa,
Igbo começou a beber e gostou muito.
— O que é isso? É tão bom...
— É uma de minhas receitas, eu conheço todas as ervas da floresta, com as... melhores... fiz essa bebida.
— É verdadeiramente boa. — Igbo deu mais um gole.
— Me diga Igbo, quem é a sua mãe mesmo?
— Eu ja disse, é Yemo... Ye... o que? O que você perguntou mesmo?
— O nome da sua mãe.
— Eu... eu tenho mãe?
— Não, não tem, você só tem a mim. — Osanyin riu e ofereceu mais um gole de bebida, a bebida que era na verdade a poção do esquecimento.
— E... onde é esse lugar? Onde eu estou?
— Aqui meu jovem caçador é a minha casa, e sua casa também.
— É?
— Sim.
— E o que você é meu?
— Tudo.
Ao longe eles começaram a ouvir
Os gritos de Yemoja e Ogun
Que buscavam o rapaz pela floresta
Gritando o nome dele.
— Quem está gritando?
— Ninguém importante. — Osanyin ofereceu mais bebida.
— Igbo... eles gritam o nome Igbo... quem é?
Osanyin satisfeito em
ver que o rapaz não lembrava
Nem do próprio nome riu
— Igbo? Nunca ouvi falar, não deve ser ninguém.
Yemoja e Ogun procuraram
Por todo dia
Por toda a noite
E quando amanheceu
Não tinham encontrado nada.
— Ogun! Você também é caçador! Não consegue rastrear meu filho?
— Não há rastro, não há nada, nem o menor sinal. As plantas deixam marcas quando as pessoas pisam nelas, mas todas as plantas servem a Osanyin, se ele ordenou que escondessem os rastros nós não encontraremos nada.
Voltaram para casa e esperaram,
Esperaram que Osanyin libertasse Igbo
Até o fim do dia.
Mas o dia passou e nada,
Depois mais um dia
Então uma semana
Uma mês
Um ano
Uma decada
E Igbo não mais voltou.
Um dia Osanyin se distraiu
E Igbo saiu pela floresta.
Ogun nunca deixou de buscar pelo amigo
E neste dia quando Igbo apareceu
Em uma clareira
Ogun se deparou com ele ali.
— Igbo! Igbo onde você se meteu? Eu te procuro a anos!
— Quem é Igbo? — o caçador se mostrava confuso.
Ogun conhece Osanyin
E de imediato compreendeu
A falta de memória do rapaz,
O levou para casa de Yemoja
E ela muito emocionada
Usou a água sagrada que dominava
Para lavar a cabeça do filho
E trazer de volta as lembranças.
Igbo se lembrou de tudo
Dela, de Ogun e principalmente de Osanyin.
Estranhamente ele sentia falta
De Osanyin.
Yemoja primeiramente teve paciência
Mas com o passar dos dias
Vendo o filho ficar na soleira da porta
Olhando para floresta o longe
Cheio de saudade
Ela foi se irritando.
— Te esperei por anos, chorei por anos e você fica ai querendo voltar para os braços daquele feiticeiro?
— Mãe eu sei do que vivi, apenas eu sei o que sinto.
— Ele te sequestrou!
— Sim, e ao lado dele fui feliz.
Igbo apenas ignorava
Os lamentos da mãe,
Já ela via no filho ingratidão,
Mal reconhecia o menino
Que antes era alegre e espoleta
Mas agora havia se tornado
Melancólico e distante.
O tempo continuou correndo
E Yemoja gastou sua paciência até o fim.
Um dia enquanto o rapaz
Estava a suspirar olhando para a floresta
Ela pôs o ponto final na história.
— Já basta! Pegue sua coisas e suma daqui.
Igbo a olhou assustado.
— E pra onde eu vou?
— Você sabe para onde ir.
Ogun não gostou disso,
Brigou com Yemoja por ela
Ter libertado o rapaz,
Mas já era tarde para reclamar,
Igbo se despediu dos dois felicíssimo
E eles ficaram observando
Ele se aproximar da margem da floresta
E Quando chegou lá
De de entre as árvores
Saiu Osanyin
Que tomou Igbo pela mão
E o levou para dentro da mata.
Ate os dias de hoje
Odé Igbo e Osanyin
Estão juntos na floresta.
Mito afro-brasileiro, dramatização por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Para ver a imagem em alta qualidade visitem meu BLOG no Link:
https://felipecaprini.blogspot.com/.../o-amor-de-osanyin...
Quem quiser encomendar desenhos, brasões e artes em geral pode me chamar no whatsapp 11944833724
Muito obrigado!