Minha irmã esteve longe de nós por vinte anos.
Sempre fugindo, sempre tendo de mudar de casa, de endereço, e tudo isso por conta de um ex marido que a perseguia
Minha irmã esteve longe de nós por vinte anos.
Sempre fugindo, sempre tendo de mudar de casa, de endereço, e tudo isso por conta de um ex marido que a perseguia.
Rodrigo queria matar minha irmã, por três vezes quase conseguiu.
Não houve lei ou policia que o impedisse, estava sempre a caçando, sempre a encontrando.
Foi então que um dia recebi um telefonema, minha irmã estava internada na Santa Casa, havia sido beleada no pescoço no meio da rua em plena luz do dia.
Graças a Deus foi superficial, mas quando fui buscá-la no hospital e trouxe para minha casa fiquei desesperada, eu sabia que Rodrigo sabia onde eu morava e ele iria vir uma hora ou outra.
Uma das minhas vizinhas vendo meu desespero acabou me convidando para ir falar com a Pombagira dela, Dona Figueira.
Figueira é uma mulher muito pratica, sempre gostei disso nela, e a praticidade foi tanta que naquela noite de consulta ela me disse sem rodeios:
— Não posso ajudar, o homem é maluco... o que sei fazer é mandar ele pra cova, isso e faço, mas nesse caso só piora as coisas. Se ele morrer... a alma vai vir atrás de sua irmã. Uma alma reivosa machuca mil vezes mais que uma uma bala.
Perguntei então qual a solução, o que poderia ser feito, e ela disse que tinha uma conhecida que podia ajudar muito, que era pesada nos feitiços.
O nome da moça era Rosa dos Ventos.
Na semana seguinte fui até o terreiro que Dona Figueira indicou, ai que foi a minha surpresa pois o lugar estava todo enfeitado com pandeiros e leques presos as paredes, fitinhas coloridas caindo do teto e todo mundo com roupas de Ciganos.
Ai que me dei conta que aquilo era uma gira de Ciganos mesmo, e já desconfiei pois havia sido ensinada que esse tipo de entidade não faz mal de forma alguma, e o que eu buscava era uma magia fatal.
Como já estava ali, entrei.
A festa era mesmo animada, de cara vi Pablo lá todo galante com as moças da casa, Zoraide ensinando banhos de fertilidade as mulheres casadas e mais tanto de ciganos de lá para cá.
Cheguei em um deles e perguntei sobre Rosa dos Ventos, o Cigano apontou para a entrada de um corredor e por ali eu fui.
O corredor acabava em um quintal, estava escuro com exceção de uma vela em cima de uma mesinha, ao lado estava sentada em uma cadeira de palha trançada uma mulher de vestido no mesmo modelo das outras Ciganas porém em tecido furta-cor.
Senti algo esbarrar em mim, estava escuro então não pude ver quem era mas era alguem chorando, voltou pelo mesmo corredor que eu tinha ido.
Me aproximei, a Cigana apontou para a cadeira em frente a ela, sentei e comecei a falar sem nem mesmo perguntar se ela era a Rosa dos Ventos.
Mas ela era sim.
No fim do meu relato ela pediu que eu estendesse o braço, fiz isso e ela pegou meu relogio de pulso, tirou de mim e segurou nas mãos, assoprou sobre ele e me devolveu.
— Sua irmão tem que entregar esse relógio ao homem, ele tem que tocar nele.
Perguntei se era só aquilo, e ela disse que sim.
— Um dia eu fui menina e era bonita demais. A beleza é boa para as mulheres que tem proteção, as sozinhas no mundo acabam sendo amaldiçoadas pela beleza, é ser bonita que te torna alvo fácil. Eu tinha um pai, mas ele não me amava como filha, ele me queria como mulher. Eu tive de fugir, mas ele sempre me achava, sempre e sempre. Até o dia que aprendi a trancar alguém dentro do vento, dentro do tempo. E até hoje meu pai está preso. O marido mal de sua irmã vai ser preso no mesmo lugar, mas ele precisa tocar no relógio, e só ele como homem pode tocar, se qualquer outro homem tocar no relógio vai sofrer injustamente.
Sai dalí achando aquilo tudo uma grande de uma palhaçada, o que um relógio velho iria fazer para nos defender de um matador?
Mas tudo bem, voltei para casa e continuei cuidando da minha irmã.
Um mês e alguns dias se passaram e uma tarde eu chegava do trabalho quando ouvi minha irmã gritando dentro de casa, então corri para ver o que era.
Ela estava com o rosto machucado, arranhado, e Rodrigo andando pela sala de casa, ele ergui os braços e corria na direção dela mas do nada ele mudava de direção. O vi tropeçar e cair sobre o sofá, depois bater o corpo contra uma parede, depois ir para na cozinha sem nem se dar conta.
O relógio estava no chão, o coloquei sobre o rack ao lado da televisão e esqueci lá.
Rodrigo tocou o braço no relógio quando entrou na casa, tocou naquilo.
A policia chegou, levou Rodrigo em uma viatura mas ele no mesmo dia foi levado ao hospital municipal, o delegado alegou que ele estava insano.
Me lembro de ir ao hospital acompanhar minha irmã no exame de corpo de delito e de ir até o corredor da psiquiatria. Um policial estava guardando a porta de uma das salas, perguntei se podia espiar pela janelinha de vidro grosso que ficava na porta e ele deu de ombros, fiquei nas pontas dos pés e vi Rodrigo lá dentro.
A sala era com paredes forradas com espuma e ele estava andando de um lado para o outro, as mãos rente ao corpo presas por uma grossa tira de couro, ele olhava para todos os lados e ia caminhandoa até bater e uma parede, depois voltava e andava para o outro lado. Achei que estava cego mas ele olhou para mim e falou comigo por um momento, perguntou onde ele estava.
Sai dali com calafrios.
Rodrigo ainda está na mesma situação, é interno de um sanatório judicial aqui perto de casa, ele está assim há quatorze anos.
Levei o relogio de volta a Rosa dos Ventos e perguntei a ela o que tinha acontecido.
— Nada demais. O meu talento é saber sempre para onde ir e saber sempre onde estou. Aqui, no céu ou no inferno eu sei entrar e sair, sei estar, eu consigo estar em qualquer lugar. A unica coisa que fiz com o moço foi tirar isso dele, ele não sabe onde está, nunca sabe. A cada segundo acha que está em um lugar novo. As vezes acha que está na escola que estudou quando menino, as vezes está na casa da mãe... as vezes está no meio da rua. Ele se vê em todos os lugares menos onde realmente está. Ele também não sabe quando está, não sabe quanto tempo se passa em suas... andanças. Isso significa que para nós ele está assim há dias ou anos... mas ele... ele dentro de sua mente perturbada está preso naquilo há seculos. É triste, não é?
Ela sorriu e foi dançar.
Eu nunca mais fui ve-la, sou muito grata mas tive e tenho muito medo.
Rosa dos Ventos é uma cigana diferente do que qualquer um espera, diferente de tudo que já vi.
Ela não é má, não achem que vi maldade nela, e talvez o problema seja esse.
Não há bondade nem maldade, ela faz as coisas porque pode fazer, porque quer.
Eu nunca mais fui ve-la, já minha irmã vive lá adorando aquela cigana como se fosse santa em dia de procissão.
Salve dona Rosa dos ventos...
Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
Quer saber sobre os mistérios da vida? Sobre sobre os seus caminhos?
Ou descobrir quem são suas entidades?
Venha jogar Tarô comigo!
O jogo simples custa 45,00 e dá direito a 5 perguntas em até uma hora.
O jogo completo (tradicional) custa 80,00.
Me chame no whatsapp
11944833724
Ou simplesmente clique no link:
https://wa.me/message/3AXPJWLXRT4QM1
Sempre fugindo, sempre tendo de mudar de casa, de endereço, e tudo isso por conta de um ex marido que a perseguia.
Rodrigo queria matar minha irmã, por três vezes quase conseguiu.
Não houve lei ou policia que o impedisse, estava sempre a caçando, sempre a encontrando.
Foi então que um dia recebi um telefonema, minha irmã estava internada na Santa Casa, havia sido beleada no pescoço no meio da rua em plena luz do dia.
Graças a Deus foi superficial, mas quando fui buscá-la no hospital e trouxe para minha casa fiquei desesperada, eu sabia que Rodrigo sabia onde eu morava e ele iria vir uma hora ou outra.
Uma das minhas vizinhas vendo meu desespero acabou me convidando para ir falar com a Pombagira dela, Dona Figueira.
Figueira é uma mulher muito pratica, sempre gostei disso nela, e a praticidade foi tanta que naquela noite de consulta ela me disse sem rodeios:
— Não posso ajudar, o homem é maluco... o que sei fazer é mandar ele pra cova, isso e faço, mas nesse caso só piora as coisas. Se ele morrer... a alma vai vir atrás de sua irmã. Uma alma reivosa machuca mil vezes mais que uma uma bala.
Perguntei então qual a solução, o que poderia ser feito, e ela disse que tinha uma conhecida que podia ajudar muito, que era pesada nos feitiços.
O nome da moça era Rosa dos Ventos.
Na semana seguinte fui até o terreiro que Dona Figueira indicou, ai que foi a minha surpresa pois o lugar estava todo enfeitado com pandeiros e leques presos as paredes, fitinhas coloridas caindo do teto e todo mundo com roupas de Ciganos.
Ai que me dei conta que aquilo era uma gira de Ciganos mesmo, e já desconfiei pois havia sido ensinada que esse tipo de entidade não faz mal de forma alguma, e o que eu buscava era uma magia fatal.
Como já estava ali, entrei.
A festa era mesmo animada, de cara vi Pablo lá todo galante com as moças da casa, Zoraide ensinando banhos de fertilidade as mulheres casadas e mais tanto de ciganos de lá para cá.
Cheguei em um deles e perguntei sobre Rosa dos Ventos, o Cigano apontou para a entrada de um corredor e por ali eu fui.
O corredor acabava em um quintal, estava escuro com exceção de uma vela em cima de uma mesinha, ao lado estava sentada em uma cadeira de palha trançada uma mulher de vestido no mesmo modelo das outras Ciganas porém em tecido furta-cor.
Senti algo esbarrar em mim, estava escuro então não pude ver quem era mas era alguem chorando, voltou pelo mesmo corredor que eu tinha ido.
Me aproximei, a Cigana apontou para a cadeira em frente a ela, sentei e comecei a falar sem nem mesmo perguntar se ela era a Rosa dos Ventos.
Mas ela era sim.
No fim do meu relato ela pediu que eu estendesse o braço, fiz isso e ela pegou meu relogio de pulso, tirou de mim e segurou nas mãos, assoprou sobre ele e me devolveu.
— Sua irmão tem que entregar esse relógio ao homem, ele tem que tocar nele.
Perguntei se era só aquilo, e ela disse que sim.
— Um dia eu fui menina e era bonita demais. A beleza é boa para as mulheres que tem proteção, as sozinhas no mundo acabam sendo amaldiçoadas pela beleza, é ser bonita que te torna alvo fácil. Eu tinha um pai, mas ele não me amava como filha, ele me queria como mulher. Eu tive de fugir, mas ele sempre me achava, sempre e sempre. Até o dia que aprendi a trancar alguém dentro do vento, dentro do tempo. E até hoje meu pai está preso. O marido mal de sua irmã vai ser preso no mesmo lugar, mas ele precisa tocar no relógio, e só ele como homem pode tocar, se qualquer outro homem tocar no relógio vai sofrer injustamente.
Sai dalí achando aquilo tudo uma grande de uma palhaçada, o que um relógio velho iria fazer para nos defender de um matador?
Mas tudo bem, voltei para casa e continuei cuidando da minha irmã.
Um mês e alguns dias se passaram e uma tarde eu chegava do trabalho quando ouvi minha irmã gritando dentro de casa, então corri para ver o que era.
Ela estava com o rosto machucado, arranhado, e Rodrigo andando pela sala de casa, ele ergui os braços e corria na direção dela mas do nada ele mudava de direção. O vi tropeçar e cair sobre o sofá, depois bater o corpo contra uma parede, depois ir para na cozinha sem nem se dar conta.
O relógio estava no chão, o coloquei sobre o rack ao lado da televisão e esqueci lá.
Rodrigo tocou o braço no relógio quando entrou na casa, tocou naquilo.
A policia chegou, levou Rodrigo em uma viatura mas ele no mesmo dia foi levado ao hospital municipal, o delegado alegou que ele estava insano.
Me lembro de ir ao hospital acompanhar minha irmã no exame de corpo de delito e de ir até o corredor da psiquiatria. Um policial estava guardando a porta de uma das salas, perguntei se podia espiar pela janelinha de vidro grosso que ficava na porta e ele deu de ombros, fiquei nas pontas dos pés e vi Rodrigo lá dentro.
A sala era com paredes forradas com espuma e ele estava andando de um lado para o outro, as mãos rente ao corpo presas por uma grossa tira de couro, ele olhava para todos os lados e ia caminhandoa até bater e uma parede, depois voltava e andava para o outro lado. Achei que estava cego mas ele olhou para mim e falou comigo por um momento, perguntou onde ele estava.
Sai dali com calafrios.
Rodrigo ainda está na mesma situação, é interno de um sanatório judicial aqui perto de casa, ele está assim há quatorze anos.
Levei o relogio de volta a Rosa dos Ventos e perguntei a ela o que tinha acontecido.
— Nada demais. O meu talento é saber sempre para onde ir e saber sempre onde estou. Aqui, no céu ou no inferno eu sei entrar e sair, sei estar, eu consigo estar em qualquer lugar. A unica coisa que fiz com o moço foi tirar isso dele, ele não sabe onde está, nunca sabe. A cada segundo acha que está em um lugar novo. As vezes acha que está na escola que estudou quando menino, as vezes está na casa da mãe... as vezes está no meio da rua. Ele se vê em todos os lugares menos onde realmente está. Ele também não sabe quando está, não sabe quanto tempo se passa em suas... andanças. Isso significa que para nós ele está assim há dias ou anos... mas ele... ele dentro de sua mente perturbada está preso naquilo há seculos. É triste, não é?
Ela sorriu e foi dançar.
Eu nunca mais fui ve-la, sou muito grata mas tive e tenho muito medo.
Rosa dos Ventos é uma cigana diferente do que qualquer um espera, diferente de tudo que já vi.
Ela não é má, não achem que vi maldade nela, e talvez o problema seja esse.
Não há bondade nem maldade, ela faz as coisas porque pode fazer, porque quer.
Eu nunca mais fui ve-la, já minha irmã vive lá adorando aquela cigana como se fosse santa em dia de procissão.
Salve dona Rosa dos ventos...
Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
Quer saber sobre os mistérios da vida? Sobre sobre os seus caminhos?
Ou descobrir quem são suas entidades?
Venha jogar Tarô comigo!
O jogo simples custa 45,00 e dá direito a 5 perguntas em até uma hora.
O jogo completo (tradicional) custa 80,00.
Me chame no whatsapp
11944833724
Ou simplesmente clique no link:
https://wa.me/message/3AXPJWLXRT4QM1