Essa história que vocês irão ler
Eu consegui do modo mais inusitado.
Um dia Rosa Vermelha
Estava junto a outras moças
Essa história que vocês irão ler
Eu consegui do modo mais inusitado.
Um dia Rosa Vermelha
Estava junto a outras moças
Muito chegadas
No fim de uma gira nós
conversávamos sobre a personalidade
da Pomba gira Menina,
Então Rosa sem perceber acabou
Comparando a si mesma com
O caminho que menina percorreu.
Ali enquanto falava eu podia ouvir
Um pedacinho da história da
própria rosa vermelha.
Talvez se eu tivesse perguntado diretamente ela jamais teria
contado, mas em momento de
distração ela revelou um vislumbre
Do seu passado.
O que vocês vão ler Não é exatamente
O que ela me contou e sim o que
Se passou em minha cabeça
Enquanto ouvia dela o relato.
⚘⚘
Um salão de cabeleireiro
E um cabaré tem algo em comum
Ambos não funcionam as segundas-feiras.
Já era manhã de segunda-feira,
A madrugada de domingo tinha
sido agitada com o cabaré lotado
de clientes.
Como todos sabem aquele cabaré
em questão é aquele do qual vieram
tantas pombagiras famosas hoje
Em dia.
O cabaré pertencia a Dona
Maria Quitéria.
Ela já muito cansada
Mandou fechar as minhas portas
assim que o último cliente
Fosse levado para fora,
E digo levado para fora porque
os últimos sempre eram carregados
Já que estava embriagados.
Assim que o último saiu
Um homem entrou puxando
Com certa ignorância uma menina,
Uma garota de vestidinho velho
Remendado em vários lugares.
Pelas roupas do homem era claro
Que ele não era um cliente,
No cabaré é só entravam
aqueles que tinham dinheiro
E pela vestimenta aquele Senhor
Estava mais para mendigo do que
para alguém da sociedade.
Quitéria fez sinal para que os
Rapazes que faziam a proteção da casa
Deixassem o homem passar.
Quando se aproximou ele fez uma
Reverência desajeitada
E apontando para a menina
Ele disse:
— Minha senhora por acaso gostaria de fazer um negócio? Olhe para essa menina, veja como é bonita, tem até os olhos verdes. Tem apenas 14 anos, está um pouco suja mas com o banho vai ver como é bonita.
Quitéria olhou para a criança
um tanto quanto espantada.
— Fazer negócio? O senhor sabe muito bem que a coroa impede de pessoas brancas sejam escravizadas.
— Sei sei, mas o que o rei não vê não lhe tira pedaço.
— Onde você encontrou essa menina?
— Na minha casa, ela é minha filha, mas pode ser sua se pagar.
Quitéria suspirou aborrecido,
Família pobres venderem suas
filhas bonitas
Para a prostituição era algo
comum naqueles tempos
Mas Quitéria jamais havia
comprado alguém,
Todas as moças da casa
Já tinham vindo até ela
Pelo menos com alguma experiência
E sempre de livre vomtade
Ou seja todas já eram da vida
quando chegaram ali.
— O senhor me desculpe mas eu não compro moças.
— É uma pena, é uma pena mais ainda para ela porque se aqui ninguém quer comprar vou ter de oferecê-la aquelas casas perto do porto.
Quitéria olhou horrorizada para o homem:
— O senhor não se atreveria a levar a menina a um daqueles bordéis sujos? Sabe que se fizer isso eles irão maltratá-la, já a colocarão para trabalhar imediatamente atendendo dezenas por dia e a maior probabilidade é que ela morra em dois ou três anos de alguma doença.
— É triste não é? Mas se a senhora não quer comprar... significa que ela teve Muito azar.
O homem deu as costas e empurrou
a menina com violência,
Já estava perto da porta da saída
Quando Quitéria chamou de volta,
Enfiou a mão dentro de uma fenda imperceptível em sua saia
E atirou para o homem uma bolsinha
Com moedas de ouro o suficiente
para comprar uma casa.
— Eu fico com ela, mas se o senhor voltar aqui ou mesmo passar perto desta casa eu vou pedir para os meus rapazes te darem certo aviso com as mãos, se é que me entende.
O homem olhou em volta e viu os dois brutamontes parados perto da porta
— A senhora não se preocupe que nem na cidade eu vou ficar, com esse dinheiro vou refazer minha vida em outro lugar.
O homem deu as costas e foi embora
E aquela menina ficou ali olhando
para Quitéria sem saber o que fazer.
— Qual é o seu nome, meu bem?
— Rosana, se for do seu agrado.
Quitéria apanhou do arranjo de flores
em cima de uma das Mesas uma rosa
e colocou no cabelo da menina
— Isso aqui não é um lugar para criança, entende? Mas se eu não tivesse feito isso o seu destino seria muito pior do que aqui. Você sabe o que nós fazemos nesta casa?
Rosana Balançou a cabeça de
um lado para o outro indicando
que não.
— Você por acaso sabe o que é que acontece na intimidade entre um homem e uma mulher?
Novamente Rosana negou saber.
Quitéria ficou muito confusa
Pois geralmente as meninas que eram
vendidas pela família eram aquelas que
já não eram mais virgens,
Sempre vítimas de abusos dentro
Da própria casa
Mas Após examinar o corpo de Rosana
Quitéria constatou que ela era intocada.
Então as opções que lhe foram dadas
Foram a de trabalhar na casa como
Uma faxineira até que pagasse a dívida
com Quitéria
Ou se preferisse podia se tornar
uma moça do cabaré.
A princípio Rosana
Não viu diferença entre uma coisa
e outra mas logo foi colocada
para dormir no mesmo quarto
de uma outra rapariga
Apenas alguns anos mais velha,
Uma mocinha petulante de
nariz arrebitado
Chamada Maria Padilha.
Dormiam juntas em um único
colchão de palha,
Já que os grandes quartos luxuosos
Eram dados para as moças que
rendiam muito dinheiro
E não para as rapariguinhas muito novas.
Ao chegar ali Rosana Pensou que
seria maltratada
Pois já estava acostumada a receber
a brutalidade e a ignorância,
Mas Maria Padilha por mais
que fosse um tanto quanto
ácida e irônica
Tratava Rosana com muito carinho.
Padilha tinha apenas dezoito anos e
já estava na vida desde os dezesseis,
Então no mês que se seguiu
Quitéria incumbiu a Padilha a tarefa
de ensinar o básico do cabaré
para Rosana a fim de que ela
Escolhesse se ia para a prostituição
Ou para o serviço braçal.
Após perceber que as
duas outras faxineiras da casa
ganhavam uma mixaria e
continuavam a se vestir com
trapos enquanto
as moças do cabaré se vestiam como verdadeiras rainhas e podiam
dormir o dia inteiro após a noite
de trabalh, Rosana tomou a
decisão de cair na vida.
Maria Padilha por muitas vezes
tentou explicar a ela a realidade
de como as coisas funcionavam,
mas após muitas conversas
ela percebeu que Rosana só
iria compreender na prática.
Quitéria ficou muito satisfeita,
Mandou fazer alguns vestidos
para ela e também mandou
que escolhesse seu novo nome.
Padilha explicou que ela mesma
não se chamava Maria Padilha
pois este nome na verdade pertencia
a uma famosa rainha da Espanha,
explicou que havia na noite o chamado
"nome de guerra" que é um nome
que a moça escolhe para causar
algum efeito, deu exemplos de como
uma tal Helena havia ficado famosa
depois que havia se
auto intitulado Dama da Noite,
então Rosana lembrou do dia em
que Quitéria havia colocado a
Rosa em seu cabelo e fazendo uma
similaridade com o próprio nome
ela decidiu se chamar como
Rosa vermelha,
seria assim que seria conhecida
dali por diante.
Foi necessário esperar seis meses
pois Rosa Vermelha não tinha
nenhuma educação,
ela iria aprender a ser culta com
o tempo pois no Cabaré as moças
não eram pagas apenas para irem
para a cama com os homens,
a arte e o entretenimento geravam
tanto dinheiro quanto o serviço
dentro do quarto e por isso as
moças precisavam ter habilidades,
Quitéria sabia que Rosa Vermelha
iria aprender más durante os
seis meses pelo menos etiqueta
e conversação ela aprendeu
com excelência.
Uma noite Quitéria chamou
Rosa Vermelha em seu próprio quarto,
O quarto de Quitéria era o maior
e mais bonito da casa,
e lá dentro ela vestiu Rosa Vermelha
com um de seus próprios vestidos,
fez parecer uma rainha de tão bela
e avisou que naquela noite
no momento marcado ela iria
descer para o salão.
Rosa vermelha ficou muito ansiosa
pois seria a primeira vez que
iria para o trabalho de fato,
mas no momento em que Quitéria
chamou ela não pôde ir às mesas
conversar com os senhores,
havia um pequeno palco no
canto do cabaré onde as moças
que sabiam cantar ou tocaram
algum instrumento se apresentavam,
Rosa Vermelha foi colocada ali
em pé rodeada de candelabros
para ficar bem iluminada e
Quitéria mandou o que ela
sorrisse o máximo que podia.
Mas o sorriso de Rosa desvaneceu
quando ela ouviu as palavras que
Quitéria dizia ao povo:
— Tal qual uma flor que desabrocha, esta noite estou apresentando aos cavalheiros uma raridade, temos aqui uma moça totalmente pura.
Uma série de risadas incrédulas
foram ouvidas.
— Sei que a pureza é algo que raramente se encontra em uma casa noturna, mas aqui temos alguém que chegou até mim sem nunca ter sido tocada por homem algum. Ela recebeu toda a educação e requinte e as nossas moças podem receber, e sei que os senhores estão a par de confiar em minha palavra quando eu digo que Rosa é Vermelha é uma mulher virgem. Mas agora eu lhes pergunto, quem será o primeiro?
Uma balbúrdia, uma gritaria sem
Fim começou com os homens ficando
em pé e dando lances como se fosse
um leilão.
Rosa vermelha olhava para eles
com os lábios tremendo e escondendo
as mãos as costas pois também
tremiam muito,
ela mais uma vez estava sendo
vendida como se fosseuma coisa,
Um objeto.
Passado alguns minutos Quitéria
ordenou que ela fizesse uma venia e
fosse embora para o andar de cima,
e assim fez.
Mais tarde Quitéria foi ter com ela
dentro do quartinho,
então anunciou que a quantia
pela qual ela havia sido leiloada
era trinta vezes o valor por qual ela
havia sido comprada e isso significa
que de uma tacada só ela havia
pago a dívida para com Quitéria
e também ganharia uma fortuna
Pois metade do valor era para
o cabaré e a outra metade
para a Rosa Vermelha.
Rosa já havia aprendido a
simular felicidade,
era assim que todas as moças agiam
Pois por mais que estivessem arrasadas
por dentro elas sempre sorriam
mostrando uma felicidade tão falsa
mas plenamente genuína a aqueles
Que não conhecessem
que as pessoas se impressionavam
com aquela alegria forjada.
Passaram-se apenas dois dias
então em uma noite Rosa Vermelha
foi colocada dentro de um
quarto muito luxuoso,
um dos quartos mais bonitos do cabaré,
ela vestida com uma camisola
leve e maquiada de modo
a parecer perfeita como uma boneca,
Ficou ali sentada na cama esperando
por vários minutos até que
um homem apareceu,
um homem velho com bigodes
grossos como os de um leão marinho,
cheirava a cerveja e a suor
mesmo estando vestido com
um paletó que parecia
um dos mais caros.
Era um velho português,
senhor de muitas terras e de
muitos escravos,
e sem dizer uma palavra a Rosa
ele a empurrou na cama,
subiu sua camisola
e fez o que tinha que fazer.
Não durou muito tempo,
o velho não tinha muito fôlego
para se demorar na intimidade,
então logo saiu de cima dela e
vestiu as calças, então saiu do quarto
sem dizer nada.
Rosa vermelha ficou ali deitada
olhando para o teto sentindo
as dores da truculência do velho
mas principalmente sentindo
uma profunda humilhação.
Então alguma coisa veio subindo
por sua garganta e ela teve que
se levantar e vomitar tudo no canto
da cama, e vomitou de forma
dolorosa por tudo o que
sentia sobre a vida.
Imediatamente a porta se abriu e
Rosa Vermelha se endireitou na
cama limpando os cantos da boca
com as costas da mão e sorrindo
para a pessoa que estava ali
pois ela acreditava que era
novamente aquele velho,
mas não era ele.
Padilha fechou a porta atrás de si
e sentou na cama ao lado de Rosa,
então a abraçou enquanto lhe
afagava as costas
— pronto meu bem, já passou, já acabou.
E Rosa Vermelha desabou.
Não o chorava desde que era
muito novinha,
não chorava desde a morte
da própria mãe,
mas naquele abraço de
Maria Padilha ela não
aguentou e chorou.
Se tremia e soluçava
Então balbuciando ela pediu:
— Eu não quero fazer isso nunca mais...
Padilha a beijou na testa e com muita tristeza teve de dizer:
— Não tem como voltar atrás, todos agora já sabem que você é uma de nós, onde você for será vista e tratada como uma de nós. O que aconteceu em cima dessa cama vai voltar a se repetir por centenas de vezes, mas você vai aguentar porque você é forte, e um dia vai juntar dinheiro suficiente para não precisar mais passar por isso.
— Eu não... eu não achava que era assim tão horrível...
— Nós não nos tornamos prostitutas porque queremos, nos tornamos Porque jamais nos foi oferecida outra chance de viver se não esta. Mas você vai aguentar Rosa, eu sei que vai.
E rosa vermelha aguentou,
Trabalhou naquele cabaré pelos
próximos vinte anos atendendo
dentro do quarto,
depois conseguiu se tornar dona do
próprio cabaré.
Houve muita luta
Muita resistência.
E é por isso que dentro daquele cabaré
a espiritualidade e a magia abrangeram
quase todas as moças,
elas se dedicaram aos espíritos
como válvula de escape
daquela vida tão ruim.
Após Rosa Vermelha relatar
essa história ela me fez uma pergunta
com a qual eu me vi imaginando
a resposta.
— muitos glamourizam o fato de nós termos sido moças do cabaré, mas a pergunta é: você teria peito para ter vivido a mesma vida que nós vivemos? As pessoas louvam a nossa passagem pelo cabaré sem saber que para nós aquilo foi o verdadeiro inferno.
E é verdade.
Então hoje eu Saúdo todas as
moças do cabaré,
Saúdo principalmente Dona
Rosa Vermelha pela coragem
e força que teve em vida e
pela coragem a força que continua
tendo agora na morte..
Saravá a Pombagira da Rosa Vermelha!
⚘⚘
Memórias de Terreiro, Arte e texto por Felipe Caprini
⚘⚘
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
⚘⚘
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Estava junto a outras moças
Muito chegadas
No fim de uma gira nós
conversávamos sobre a personalidade
da Pomba gira Menina,
Então Rosa sem perceber acabou
Comparando a si mesma com
O caminho que menina percorreu.
Ali enquanto falava eu podia ouvir
Um pedacinho da história da
própria rosa vermelha.
Talvez se eu tivesse perguntado diretamente ela jamais teria
contado, mas em momento de
distração ela revelou um vislumbre
Do seu passado.
O que vocês vão ler Não é exatamente
O que ela me contou e sim o que
Se passou em minha cabeça
Enquanto ouvia dela o relato.
⚘⚘
Um salão de cabeleireiro
E um cabaré tem algo em comum
Ambos não funcionam as segundas-feiras.
Já era manhã de segunda-feira,
A madrugada de domingo tinha
sido agitada com o cabaré lotado
de clientes.
Como todos sabem aquele cabaré
em questão é aquele do qual vieram
tantas pombagiras famosas hoje
Em dia.
O cabaré pertencia a Dona
Maria Quitéria.
Ela já muito cansada
Mandou fechar as minhas portas
assim que o último cliente
Fosse levado para fora,
E digo levado para fora porque
os últimos sempre eram carregados
Já que estava embriagados.
Assim que o último saiu
Um homem entrou puxando
Com certa ignorância uma menina,
Uma garota de vestidinho velho
Remendado em vários lugares.
Pelas roupas do homem era claro
Que ele não era um cliente,
No cabaré é só entravam
aqueles que tinham dinheiro
E pela vestimenta aquele Senhor
Estava mais para mendigo do que
para alguém da sociedade.
Quitéria fez sinal para que os
Rapazes que faziam a proteção da casa
Deixassem o homem passar.
Quando se aproximou ele fez uma
Reverência desajeitada
E apontando para a menina
Ele disse:
— Minha senhora por acaso gostaria de fazer um negócio? Olhe para essa menina, veja como é bonita, tem até os olhos verdes. Tem apenas 14 anos, está um pouco suja mas com o banho vai ver como é bonita.
Quitéria olhou para a criança
um tanto quanto espantada.
— Fazer negócio? O senhor sabe muito bem que a coroa impede de pessoas brancas sejam escravizadas.
— Sei sei, mas o que o rei não vê não lhe tira pedaço.
— Onde você encontrou essa menina?
— Na minha casa, ela é minha filha, mas pode ser sua se pagar.
Quitéria suspirou aborrecido,
Família pobres venderem suas
filhas bonitas
Para a prostituição era algo
comum naqueles tempos
Mas Quitéria jamais havia
comprado alguém,
Todas as moças da casa
Já tinham vindo até ela
Pelo menos com alguma experiência
E sempre de livre vomtade
Ou seja todas já eram da vida
quando chegaram ali.
— O senhor me desculpe mas eu não compro moças.
— É uma pena, é uma pena mais ainda para ela porque se aqui ninguém quer comprar vou ter de oferecê-la aquelas casas perto do porto.
Quitéria olhou horrorizada para o homem:
— O senhor não se atreveria a levar a menina a um daqueles bordéis sujos? Sabe que se fizer isso eles irão maltratá-la, já a colocarão para trabalhar imediatamente atendendo dezenas por dia e a maior probabilidade é que ela morra em dois ou três anos de alguma doença.
— É triste não é? Mas se a senhora não quer comprar... significa que ela teve Muito azar.
O homem deu as costas e empurrou
a menina com violência,
Já estava perto da porta da saída
Quando Quitéria chamou de volta,
Enfiou a mão dentro de uma fenda imperceptível em sua saia
E atirou para o homem uma bolsinha
Com moedas de ouro o suficiente
para comprar uma casa.
— Eu fico com ela, mas se o senhor voltar aqui ou mesmo passar perto desta casa eu vou pedir para os meus rapazes te darem certo aviso com as mãos, se é que me entende.
O homem olhou em volta e viu os dois brutamontes parados perto da porta
— A senhora não se preocupe que nem na cidade eu vou ficar, com esse dinheiro vou refazer minha vida em outro lugar.
O homem deu as costas e foi embora
E aquela menina ficou ali olhando
para Quitéria sem saber o que fazer.
— Qual é o seu nome, meu bem?
— Rosana, se for do seu agrado.
Quitéria apanhou do arranjo de flores
em cima de uma das Mesas uma rosa
e colocou no cabelo da menina
— Isso aqui não é um lugar para criança, entende? Mas se eu não tivesse feito isso o seu destino seria muito pior do que aqui. Você sabe o que nós fazemos nesta casa?
Rosana Balançou a cabeça de
um lado para o outro indicando
que não.
— Você por acaso sabe o que é que acontece na intimidade entre um homem e uma mulher?
Novamente Rosana negou saber.
Quitéria ficou muito confusa
Pois geralmente as meninas que eram
vendidas pela família eram aquelas que
já não eram mais virgens,
Sempre vítimas de abusos dentro
Da própria casa
Mas Após examinar o corpo de Rosana
Quitéria constatou que ela era intocada.
Então as opções que lhe foram dadas
Foram a de trabalhar na casa como
Uma faxineira até que pagasse a dívida
com Quitéria
Ou se preferisse podia se tornar
uma moça do cabaré.
A princípio Rosana
Não viu diferença entre uma coisa
e outra mas logo foi colocada
para dormir no mesmo quarto
de uma outra rapariga
Apenas alguns anos mais velha,
Uma mocinha petulante de
nariz arrebitado
Chamada Maria Padilha.
Dormiam juntas em um único
colchão de palha,
Já que os grandes quartos luxuosos
Eram dados para as moças que
rendiam muito dinheiro
E não para as rapariguinhas muito novas.
Ao chegar ali Rosana Pensou que
seria maltratada
Pois já estava acostumada a receber
a brutalidade e a ignorância,
Mas Maria Padilha por mais
que fosse um tanto quanto
ácida e irônica
Tratava Rosana com muito carinho.
Padilha tinha apenas dezoito anos e
já estava na vida desde os dezesseis,
Então no mês que se seguiu
Quitéria incumbiu a Padilha a tarefa
de ensinar o básico do cabaré
para Rosana a fim de que ela
Escolhesse se ia para a prostituição
Ou para o serviço braçal.
Após perceber que as
duas outras faxineiras da casa
ganhavam uma mixaria e
continuavam a se vestir com
trapos enquanto
as moças do cabaré se vestiam como verdadeiras rainhas e podiam
dormir o dia inteiro após a noite
de trabalh, Rosana tomou a
decisão de cair na vida.
Maria Padilha por muitas vezes
tentou explicar a ela a realidade
de como as coisas funcionavam,
mas após muitas conversas
ela percebeu que Rosana só
iria compreender na prática.
Quitéria ficou muito satisfeita,
Mandou fazer alguns vestidos
para ela e também mandou
que escolhesse seu novo nome.
Padilha explicou que ela mesma
não se chamava Maria Padilha
pois este nome na verdade pertencia
a uma famosa rainha da Espanha,
explicou que havia na noite o chamado
"nome de guerra" que é um nome
que a moça escolhe para causar
algum efeito, deu exemplos de como
uma tal Helena havia ficado famosa
depois que havia se
auto intitulado Dama da Noite,
então Rosana lembrou do dia em
que Quitéria havia colocado a
Rosa em seu cabelo e fazendo uma
similaridade com o próprio nome
ela decidiu se chamar como
Rosa vermelha,
seria assim que seria conhecida
dali por diante.
Foi necessário esperar seis meses
pois Rosa Vermelha não tinha
nenhuma educação,
ela iria aprender a ser culta com
o tempo pois no Cabaré as moças
não eram pagas apenas para irem
para a cama com os homens,
a arte e o entretenimento geravam
tanto dinheiro quanto o serviço
dentro do quarto e por isso as
moças precisavam ter habilidades,
Quitéria sabia que Rosa Vermelha
iria aprender más durante os
seis meses pelo menos etiqueta
e conversação ela aprendeu
com excelência.
Uma noite Quitéria chamou
Rosa Vermelha em seu próprio quarto,
O quarto de Quitéria era o maior
e mais bonito da casa,
e lá dentro ela vestiu Rosa Vermelha
com um de seus próprios vestidos,
fez parecer uma rainha de tão bela
e avisou que naquela noite
no momento marcado ela iria
descer para o salão.
Rosa vermelha ficou muito ansiosa
pois seria a primeira vez que
iria para o trabalho de fato,
mas no momento em que Quitéria
chamou ela não pôde ir às mesas
conversar com os senhores,
havia um pequeno palco no
canto do cabaré onde as moças
que sabiam cantar ou tocaram
algum instrumento se apresentavam,
Rosa Vermelha foi colocada ali
em pé rodeada de candelabros
para ficar bem iluminada e
Quitéria mandou o que ela
sorrisse o máximo que podia.
Mas o sorriso de Rosa desvaneceu
quando ela ouviu as palavras que
Quitéria dizia ao povo:
— Tal qual uma flor que desabrocha, esta noite estou apresentando aos cavalheiros uma raridade, temos aqui uma moça totalmente pura.
Uma série de risadas incrédulas
foram ouvidas.
— Sei que a pureza é algo que raramente se encontra em uma casa noturna, mas aqui temos alguém que chegou até mim sem nunca ter sido tocada por homem algum. Ela recebeu toda a educação e requinte e as nossas moças podem receber, e sei que os senhores estão a par de confiar em minha palavra quando eu digo que Rosa é Vermelha é uma mulher virgem. Mas agora eu lhes pergunto, quem será o primeiro?
Uma balbúrdia, uma gritaria sem
Fim começou com os homens ficando
em pé e dando lances como se fosse
um leilão.
Rosa vermelha olhava para eles
com os lábios tremendo e escondendo
as mãos as costas pois também
tremiam muito,
ela mais uma vez estava sendo
vendida como se fosseuma coisa,
Um objeto.
Passado alguns minutos Quitéria
ordenou que ela fizesse uma venia e
fosse embora para o andar de cima,
e assim fez.
Mais tarde Quitéria foi ter com ela
dentro do quartinho,
então anunciou que a quantia
pela qual ela havia sido leiloada
era trinta vezes o valor por qual ela
havia sido comprada e isso significa
que de uma tacada só ela havia
pago a dívida para com Quitéria
e também ganharia uma fortuna
Pois metade do valor era para
o cabaré e a outra metade
para a Rosa Vermelha.
Rosa já havia aprendido a
simular felicidade,
era assim que todas as moças agiam
Pois por mais que estivessem arrasadas
por dentro elas sempre sorriam
mostrando uma felicidade tão falsa
mas plenamente genuína a aqueles
Que não conhecessem
que as pessoas se impressionavam
com aquela alegria forjada.
Passaram-se apenas dois dias
então em uma noite Rosa Vermelha
foi colocada dentro de um
quarto muito luxuoso,
um dos quartos mais bonitos do cabaré,
ela vestida com uma camisola
leve e maquiada de modo
a parecer perfeita como uma boneca,
Ficou ali sentada na cama esperando
por vários minutos até que
um homem apareceu,
um homem velho com bigodes
grossos como os de um leão marinho,
cheirava a cerveja e a suor
mesmo estando vestido com
um paletó que parecia
um dos mais caros.
Era um velho português,
senhor de muitas terras e de
muitos escravos,
e sem dizer uma palavra a Rosa
ele a empurrou na cama,
subiu sua camisola
e fez o que tinha que fazer.
Não durou muito tempo,
o velho não tinha muito fôlego
para se demorar na intimidade,
então logo saiu de cima dela e
vestiu as calças, então saiu do quarto
sem dizer nada.
Rosa vermelha ficou ali deitada
olhando para o teto sentindo
as dores da truculência do velho
mas principalmente sentindo
uma profunda humilhação.
Então alguma coisa veio subindo
por sua garganta e ela teve que
se levantar e vomitar tudo no canto
da cama, e vomitou de forma
dolorosa por tudo o que
sentia sobre a vida.
Imediatamente a porta se abriu e
Rosa Vermelha se endireitou na
cama limpando os cantos da boca
com as costas da mão e sorrindo
para a pessoa que estava ali
pois ela acreditava que era
novamente aquele velho,
mas não era ele.
Padilha fechou a porta atrás de si
e sentou na cama ao lado de Rosa,
então a abraçou enquanto lhe
afagava as costas
— pronto meu bem, já passou, já acabou.
E Rosa Vermelha desabou.
Não o chorava desde que era
muito novinha,
não chorava desde a morte
da própria mãe,
mas naquele abraço de
Maria Padilha ela não
aguentou e chorou.
Se tremia e soluçava
Então balbuciando ela pediu:
— Eu não quero fazer isso nunca mais...
Padilha a beijou na testa e com muita tristeza teve de dizer:
— Não tem como voltar atrás, todos agora já sabem que você é uma de nós, onde você for será vista e tratada como uma de nós. O que aconteceu em cima dessa cama vai voltar a se repetir por centenas de vezes, mas você vai aguentar porque você é forte, e um dia vai juntar dinheiro suficiente para não precisar mais passar por isso.
— Eu não... eu não achava que era assim tão horrível...
— Nós não nos tornamos prostitutas porque queremos, nos tornamos Porque jamais nos foi oferecida outra chance de viver se não esta. Mas você vai aguentar Rosa, eu sei que vai.
E rosa vermelha aguentou,
Trabalhou naquele cabaré pelos
próximos vinte anos atendendo
dentro do quarto,
depois conseguiu se tornar dona do
próprio cabaré.
Houve muita luta
Muita resistência.
E é por isso que dentro daquele cabaré
a espiritualidade e a magia abrangeram
quase todas as moças,
elas se dedicaram aos espíritos
como válvula de escape
daquela vida tão ruim.
Após Rosa Vermelha relatar
essa história ela me fez uma pergunta
com a qual eu me vi imaginando
a resposta.
— muitos glamourizam o fato de nós termos sido moças do cabaré, mas a pergunta é: você teria peito para ter vivido a mesma vida que nós vivemos? As pessoas louvam a nossa passagem pelo cabaré sem saber que para nós aquilo foi o verdadeiro inferno.
E é verdade.
Então hoje eu Saúdo todas as
moças do cabaré,
Saúdo principalmente Dona
Rosa Vermelha pela coragem
e força que teve em vida e
pela coragem a força que continua
tendo agora na morte..
Saravá a Pombagira da Rosa Vermelha!
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Memórias de Terreiro, Arte e texto por Felipe Caprini
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Espero que tenham gostado!
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