domingo, 15 de outubro de 2023

Certa vez no final de uma gira Padilha estava sentada em sua Cadeira estofada olhando de longe As outras Pombagiras irem embora

 Certa vez no final de uma gira
Padilha estava sentada em sua
Cadeira estofada olhando de longe
As outras Pombagiras irem embora


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Certa vez no final de uma gira
Padilha estava sentada em sua
Cadeira estofada olhando de longe
As outras Pombagiras irem embora
Do corpo de suas mediuns.
Este era o breve momento
Em que ela me presenteava
Com algumas palavras a respeito
De si mesma, preciosos ensinamentos.
Então naquele fim de noite
Ela me perguntou se eu
Sabia a diferença entre uma
Moça de Cabaré e uma prostituta.
Eu disse que não sabia,
E ela me respondeu com um frase,
Que era cheia de palavrões e de
Termos não muito comuns mas que
Poderia ser traduzida como:

"Uma prostituta vende o corpo, uma moça de Cabaré era chamada de cortesã, e as cortesãs vendem sonhos. No cabaré as mulheres se transformavam em Deusas, sabendo fingir e sabem fazer qualquer um acreditar nas fantasias que elas inventavam".

Isso significa básicamente que
As prostitutas trabalham na rua
Ou nos bordéis
Fazendo sexo por dinheiro,
Porém as moças de Cabaré tinham
Dotes e talentos para que além da cama
Pudessem entreter os clientes
De modo a ganhar muito mais que
As prostitutas comuns.
Dentro do Cabaré além de luxúria
Existía também "Arte".
Não era apenas pelo prazer
Da contemplação,
A arte do Cabaré rendia fortunas.
É por isso que as prostitutas morriam
Na sarjeta, doentes, desdentadas,
Apodrecendo ao relento
Enquanto as moças de Cabaré se
Tornavam ricas e com as fortunas
Que ganhavam na mocidade elas
Garantiam a velhice.

Padilha era dona de um Cabaré,
Um palacete que havia herdado
De Quitéria, a cafetina mais velha.
Dentro deste Cabaré todas as moças
Tinham algum talento,
Era quesito obrigatório ter alguma
Particularidade além
Da simples beleza.
Sete Saias dançava divinamente
Tanto o flamenco quanto as danças
Exóticas do oriente e
Era ovacionada pelos clientes quando
Dançava girando a saia sobre o palco.
Mulambo era uma cantora
Maravilhosa, normalmente era ótima
Mas quando bebia além da conta
Ficava com seu emocional aflorado
E como era totalmente descompensada
Encarnava dramalhões cantando
Com sua voz rouca fazendo caras
E bocas tão facinantes que deixavam
Qualquer um embasbacado.
Figueira se despia diante dos olhos
De todos, mas de um modo tão belo
Em movimento tão sutis que sua nudez
Não era levada em tom vulgar
E assim ela se tornava
Extremamente desejável,
A mulher que dançava nua
Com o corpo brilhante de óleo
Reluzindo a luz vermelha das Velas.
Todas as dezenas de moças que
Passaram por aquele cabaré
Tinham algum talento.
Os Talentos da dona da casa
Eram muitos mas o mais apreciado
Era o seu violino.
Ela havia tomado aulas pois era uma
Moda em París, e no Brasil
Tudo o que vinha de París era chique
Portanto tocar violino era
Algo muito glamuroso,
Depois de aprender o suficiente
Ela encomendou de um luthier em
Paris um Violino feito especialmente
Para ela.
Padilha raramente se apresentava
Pois deixava sua arte para ser
Exibida apenas em datas importantes
Ou quando entre o público
Havia alguém especial.
Sempre que subía ao palco era
Acompanhada pelos músicos em
Melodías alegres ou románticas.
Porém quando estava sozinha
Em seu quarto cheia de tristezas
Ela fazia o violino chorar.
Maria Padilha não chorava
Era forte, contida, não derramava
Lagrimas praticamente nunca.
E em suas tristeza mais profundas
Ela arranhava as cordas do violino
E todos que ouviam o
Som melancólico que dele saia
Sabiam que ela estava triste.
Muitas tristezas ela tinha
Sentía saudades da mãe
Que partiu muito cedo,
Sentia remorso pela irmã que ela
Não conseguiu evitar de cair na vida,
Sentia dor por ser uma meretriz
E sofrer tanto preconceito de toda
A sociedade,
E sentia solidão mesmo vivendo
Rodeada de pessoas,
E principalmente ela sentía falta
De amor.
Ela sofria calada por muitas dores
Que sentia em sua alma.
Ela era forte, sorria muito
Mas por dentro era triste.

Padilha já era uma
Mulher madura nesta época,
A doçura e a ingenuidade da Mocidade
Há muito tempo havia desaparecido.
O romance com tranca ruas
Parecia ter sido há tanto tempo
Que ela já lembrava mais.
Nessa época Tranca Ruas estava morto
Padilha prosseguia sua luta no cabaré
Mas era uma luta solitária mesmo
Estando rodeada de tanta gente.
Foi então que
Algo inesperado apareceu na vida dela.
Certa noite Ela desceu para trabalhar
No salão junto com as moças
E encontrou uma cena inusitada,
Havia um jovem rapaz
Nitidamente pobre pois tinha
As roupas gastas típicas de
Um trabalhador do Campo,
Na porta do cabaré ele pedia para entrar,
Mas aquele lugar sempre foi reservado
Para os homens que tinham condição de gastar
É aquele rapaz dificilmente teria dinheiro para pagar se quer
Uma dose das bebidas importadass
Servidas dentro daquela casa,
Quanto mais teria como arcar
Com os serviços de uma das Moças.
O leão de chácara rindo do rapaz
Apontou para ele a direção de
Onde havia um bordel do outro
Lado da cidade onde ele conseguiria
Se divertir com algumas moedas,
Mas o rapaz continuava ali
Espichando o pescoço
Tentando ver o que acontecia
Dentro do salão.
Naquela noite Padilha parecia estar
De bom humor,
Como aquele impasse na porta
Estava atrapalhando os demais
Cavalheiros que tentavam entrar
Ela foi lá resolver pessoalmente.

🌹— Meu rapaz porque é que está insistindo tanto?

Ele ficou abismado quando olhou
Para aquela mulher absurdamente deslumbrante,
Seus olhos se arregalaram de um
Jeito que Padilha sentiu-se elogiada
Como há muito tempo não sentia
Mesmo que o jovem não tivesse
Dito uma única palavra.

— sabe o que é a madame, é que eu só queria ver como era aí dentro. Ouvi dizer que é muito bonito...

Padilha o olhou por um segundo,
Então decidiu deixar que ele entrasse
Porém com uma condição
De que não sentar nas mesas
Pois elas eram reservadas os granfinos,
O rapaz ficou no fundo sentado
Em um banquinho junto
Ao balcão do bar.
De forma curiosa ela observou
Os olhares do rapaz que fitava
Cada detalhe do lugar,
E o mais Interessante foi perceber
Quando as moças da casa
Passavam perto dele
O rapaz não as olhava com
Malícia mas sim com um
Profundo espanto.

🌹— Me diga menino, porque olha para ela desse jeito?

O rapaz que virou para Padilha
Que estava bem ao seu lado.

— É que eu não sabia que uma mulher podia ficar bonita desse jeito... lá em casa minhas irmãs são bonitas mas... as daqui nem parecem mulheres de verdade.
🌹— E parece com o quê?
— Parecem anjos.

Padilha acabou rindo daquele
Comentário e riu ainda mais
Quando percebeu que o rapaz
Falava sério, ele nunca tinha
Visto beleza como aquela
Exibida naquele lugar.

🌹— Qual é o seu nome?
— Manuel.
🌹— E você já teve intimidade com uma mulher, Manuel?
— Cla-claro que sim, com muitas, nem sei dizer quantas.

Padilha percebeu que as orelhas
Do jovem haviam ficado muito vermelhas,
Isso era sinal de que estava mentindo.
Aquele rapaz nunca havia
Se deitado com ninguém,
Então era por isso eu olhava
Para as mulheres com mais
Admiração do que desejo.
Como cortesia ela serviu para ele
Uma taça de vinho
Então no fim da noite o rapaz perguntou
Se ele poderia voltar outra vez.

🌹— Manuel, aqui é um lugar onde tudo se vende, vendemos o ambiente, a comida e a bebida, o entretenimento dos espetáculos, mas principalmente nós vendemos o corpo das Moças. Você pode voltar é claro, mas só se tiver intenção de comprar o que nós vendemos.

Padilha achou que havia deixado
Claro aquele lugar não era
para ele mas para a sua surpresa
Manuel abriu um sorriso e
saiu dali como se estivesse
Muito contente com a resposta.
Alguns dias depois
Enquanto ela e as moças
Caminhavam pela cidade
Afim de comprar tecidos
Oara fazer vestidos novos
Encontraram Manuel
E ele vinha montado em uma
Caharrete puxada por um burrinho.
Para a extrema surpresa de Padilha
O rapaz quando passou por ela
Tirou o chapéu da cabeça
E a comprimentou.

— Boa tarde senhorita.

Padilha olhou aquilo curiosa,
Mesmo os clientes do cabaré
Que frequentavam os serviços da casa
Por década jamais haviam ousado
Dirigir a palavra a ela ou as outras
Moças na rua,
Elas eram mulheres da vida
Então quando passavam por ali
Sempre eram ignorados por toda
A população, passavam como
Fantasmas pelo meio do povo
Com todos os rostos se virando
Para longe a fim de não olhá-las.
Mas Manuel estava ali no meio
De uma rua movimentada sorrindo
Para ela.
Padilha ficou até sem reação,
Mesmo sendo uma mulher
Extremamente bem educada
Ela já estão se lembrava de como é
Que se cumprimentava alguém
Na rua,
Então sorriu para ele e seguiu
Seu caminho porém com com
Uma fagulha de algo que ela
Ainda não sabia o que era mas
Que havia entrado em seu coração.

Na noite seguinte
Manoel estava lá na porta do cabaré
Estava vestindo roupas melhores
Mesmo que fossem nitidamente
Muito gastas e muito velhas,
mas estava bem mais aprumado.
Padilha o deixou entrar mais uma vez
E ele sem rodeios pediu
Que ela o acompanhasse
Para aquele banquinho
Próximo ao bar pois tinha
Algo a falar.
Lá ele entregou a ela um saquinho
Com moedas de ouro.

— A senhora disse que eu só podia voltar se eu pudesse pagar. Eu trouxe o dinheiro que juntei o ano todo do meu trabalho na lavoura.

Padilha com certa pena apanhou
As moedas do rapaz e viu que
Não cobriam nem metade do valor
Que a mais barata das moças da casa
Cobrava, porém por consideração a ele
Ela disse que aceitaria e que ele
Poderia escolher a moça que quisesse,
O que ela não disse a ele é que
Ela mesma iria cobrir o
Valor que faltava.

O rapaz engoliu em seco e com
As orelhas muito vermelhas
Olhou para ela:

— É que eu queria que fosse a senhora a ir comigo para o quarto.

Padilha tomou um susto,
Então deu uma gargalhada.
Ela já não se prostituía mais,
A não ser quando vinha a cidade
Alguma pessoa da nobreza ou
Um ricaço que estava disposto a
Pagar um valor tão alto que
Cobria o lucro de todas as
Moças juntas na noite.
Sim, uma noite na cama de Padilha
Custava mais caro do que passar
Uma noite com todas as mais de
Vinte e cinco belas moças
Do cabaré juntas.
O rapaz abaixou a cabeça
Constrangido e foi saindo do banquinho
Sem dizer nada,
Com certeza havia percebido
Que sua oferta era ridícula.

Quando ele já estava alguns passos de distância Padilha simplesmente disse:

— Venha, vamos subir.

E mesmo que ela estivesse
falando em voz baixa todo o salão
Parou e olhou para ela,
todas as moças a encaravam
embasbacadas e principalmente todos
os clientes ali a olhavam com raiva
pois nenhum deles havia tido a chance
de sequer tocar-lhe em um dedo
mesmo que todos fossem homens de
Posses mas agora ela estava
subindo ao quarto com
um matuto pé rapado.
O motivo de ela ter feito isso é que
já estava numa época em que
não se importava mais com as coisas,
e principalmente já não se importava
mais com o próprio valor que
dava a si mesma.
Ela sabia que subir com Manuel
iria desvalorizar seu próprio atendimento,
mas já era chegado o momento
da vida em que ela não ligava mais.

Manoel subiu as escadas do salão
logo atrás dela e ficou
ainda mais surpreso quando no
andar superior entrou no
quarto de Padilha que mais parecia
um quarto de rainha,
então naquela noite eles
tiveram intimidade juntos,
e Padilha realmente sentiu
que a noite valheu a pena pois
acima de tudo se divertiu muito
com aquele rapaz que nitidamente
não fazia nem a menor ideia do
que estava fazendo,
Nunca na vida tinha sequer
visto uma mulher nua então a
cada passo das intimidades
ela ria das reações que ele tinha
Pois a cada segundo ele demonstrava
a surpresa e abria a boca de
Queixa caido como se nunca
tivesse imaginado que aquela
situação acontecia
daquele jeito.

No fim ela nem tinha vontade de
aceitar o dinheiro dele mas preferiu
aceitar para não ofendê-lo.
Na noite seguinte muitos vieram
até Padilha pedir para que ela
subisse para o quarto com eles
mas ela como sempre recusou,
então os clientes reclamavam e
murmuravam que ela havia
aberto espaço a um Zé ninguém
e que por isso era claro que
estava precisando de dinheiro
então eles ofereciam
quantias razoáveis,
ela em resposta as ofertas
acabava rindo e para um ou outro
até depositava umas moedinhas
no bolso do paletó dizendo que
se era caridade que eles queriam
ela sem problema nenhum podia
dar esmolas.
Mas no fim da noite para grande
surpresa dela Manuel apareceu,
sem dizer coisa alguma ele chegou
perto e lhe entregou uma rosa
então rapidamente foi embora
muito tímido.
A verdade é que Manuel não era um rapaz bonito,
tinha por volta dos dezenove anos
mas que o olhasse se diria que já
estava com quase trinta pois
pelo trabalho ardo parecia ser muito
mais velho
porém quem conversasse com ele
ao trocar poucas palavras percebia
grande Inocência.

Ele continuava vindo e passado
algumas semanas trouxe mais um
saquinho de dinheiro porém
tinha tão pouco que ele pediu
que ela apenas guardasse
Pois poderia providenciar mais para
que novamente pudesse
subir com ela ao quarto.
Então Padilha disse a ele que não,
que deveria ir embora e que se
quisesse ter algo com ela voltasse
quando o cabaré estava fechado
que ela deixaria entrar.
Manuel ficou muito animado
e fez o que ela disse,
e assim começou um romance.

A própria Maria Padilha quando
Conta essa história deixa muito claro
que jamais foi apaixonada por ele,
nunca houve amor da parte dela
mas era nítido que havia
amor da parte dele.
O motivo de ela,
uma mulher muito rica já com
seus mais de quarenta anos ter
se envolvido com um jovem
pobre era simplesmente pela
sede que tinha já algo que o dinheiro
não podia comprar,
existia uma verdadeira sede de
ser amada por alguém,
de que alguém não apenas a
desejasse ou admirasse mas
que profundamente amasse.

O que mais impressionava é que
Manuel quando chegava ao Cabaré
quando estava fechado
entrava e via todas aquelas
muitas moças passeando de
um lado para o outro praticamente
semi-nuas pois após
uma noite inteira enfiadas
naqueles espartilhos extremamente
apertados e vestidos muito pesados
elas gostavam de andar pela
casa de modo livre,
e nos momentos onde Emanuel
não percebia que Padilha o estava
observando ela via que ele ai subir
as escadas ou às vezes ir até a
cozinha comer algo
sempre que passava por uma
das moças as cumprimentava
E conversava com elas olhando
em seus rostos e não em seus corpos.
Manuel um dia se tornaria um
homem muito decente se a vida
lhe desse chance.
Muitas vezes ia para o quarto de
Padilha e simplesmente ficava
ouvindo as histórias que ela tinha
para contar e muitas vezes pedia que
ela tocasse o violino,
Ele gostava de ver como ela fazia
o som do instrumento parecer
com uma voz humana de
tão afinado que era e de tão
boa técnica que ela tinha.

Mas o problema apareceu quando
Um jagunço da Fazenda que Manuel
trabalhava do nada o castigou
com violência.
Durante uma semana Manuel
não apareceu e Padilha temia que
ele tivesse finalmente percebido que
ter um romance com uma
mulher da vida não daria em nada,
porém seu coração estava apertado
então pediu que um de seus
amigos fosse investigar.
A notícia que recebeu é que
Manoel estava acamado,
havia sido espancado com
tamanha violência que mal se
aguentava em pé.
Sem pensar duas vezes ela
foi até a fazenda onde ele
trabalhava e mesmo causando
grande revolta as mulheres que
ali estavam ela adentrou o alojamento
dos trabalhadores e viu Manuel
naquele estado lastimável.
Um dos colegas de trabalho revelou
a Padilha que quem havia
Espancado Manuel era um homem
que a muito tempo dizia a todos
que era apaixonado por ela e
que um dia a teria para si.
Este homem era o jagunço,
o tipo de homem que era contratado
pelos donos das fazendas para
fazer serviço sujo e por isso era
alguém que realmente possuía
muito dinheiro,
Afinal quem faz o mal sempre
Cobra caro, e o homem ensandecido
de ciúmes havia batido em Manuel
acreditando que o havia matado
e como o rapaz estava vivo
O Jagunço jurou de voltar e
terminar o serviço.

Padilha decidiu levar Manuel
para o cabaré, lá havia muitos
homens fazendo a segurança dia e noite
e ainda assim se o engraçadinho
passasse para dentro da casa
ele teria que enfrentar as moças
que mesmo sendo mulheres de
aparência delicada eram todas
treinadas para saber
se defender muito bem.
Manuel ficou no quarto de Padilha
descansando e sendo cuidado
por ela e pelas outras moças
que a essa altura já nutriam
pelo rapaz grande amizade.
Enquanto convalescia ele pedia
que Padilha tocasse e violino,
E durante alguns dias ela tocou para ele
as mais belas canções
enquanto Manuel sorria para ela
gracioso mesmo sem Beleza
e com o rosto todo cheio de hematomas,
mas é sim gracioso o sorriso daquele
que sorri com sentimento verdadeiro.
Naquela noite o cabaré tinha de abrir,
o dinheiro nunca pode parar de entrar
então Padilha deixou Manuel
descansando em sua cama e
desceu para o salão para
fiscalizar o movimento.

Não era só fiscalizar mas de fato
uma parte dos clientes mesmo
que não pudessem pagar pelos
serviços de Padilha vinham ao cabaré
simplesmente para estar em sua presença, ela era tão bonita
que só o prazer dos clientes em
convidá-la a sentar junto com eles
na mesa ou mesmo cumprimentá-la
beijando-lhe a mão já valia a
vinda de muitos até a casa.
Então no meio da agitação da noite
um som cortou atenção de todos
como se fosse uma faca,
um estampido, um som de tiro.
Um grande silêncio caiu no salão
e até os músicos pararam de tocar
Olhando em volta para ver quem é
que havia puxado o gatilho e
contra quem havia sido disparado a bala.
Rápida como um relâmpago
Maria Padilha girou nos calcanhares
e subiu as escadas e quando
abriu a porta de seu quarto viu ali
a cena do jagunço em pé com a arma ainda na mão e Emanuel na cama
com um pequeno furo na lateral da cabeça.
Manuel morreu dormindo.
O Jagunço ensandecido guardou
a arma na cintura e se dirigiu
a Padilha sorrindo e até chegou
a abrir os braços para abraçá-la.
Maria Padilha foi na direção dele
com passos rápidos e tirando o
punhal que trazia
Escondido entre os seios
Rasgou garganta no jagunço
e saltando sobre ele o derrubou
no chão e o golpeou tantas vezes
que por essa violência extremamente
aquele cadáver deveria ser enterrado
sem ser exposto à família,
ela marcou a carne do desgraçado com tanta furia que o caixão
não deveria ser aberto senão
Causaria náuseas a quem visse.
Ela foi até Manuel e tocou
aquele rosto que ainda estava morno
mas já sem vida.
Padilha não chorou,
ela nem sequer limpou o sangue das mãos.
Olhou para a cama e do lado
de Manuel ainda estava o violino
com qual ela havia alegrado o dia
dele algumas horas antes,
então desceu para o salão e
todos se espantaram com a figura
dela salpicada de sangue e
com aquele violino nas mãos.
Subiu no pequeno palco que ficava
diante as mesas e fazendo o violino
soar triste como um profundo lamento
ela cantou a seguinte cantiga:

"Chora violino chora, Chora de Saudade e dor,
Chora violino chora, Chora de Saudade e dor,
Chora violino chora, eu perdi um grande amor.
Vai violino vai, vai violino vai, vai tocar pra Satanás..."

É aquela foi a última vez
que Maria Padilha tocou o seu violino,
depois daquela noite o instrumento
foi colocado dentro do estojo
de madeira que ele pertencia
e nunca mais foi tocado.
Ainda assim mesmo que tivesse
cantado apenas uma única vez
aquela cantiga
para sempre o povo
se recordou dela.

Manoel nunca foi o grande amor
de Maria Padilha
Mas eles tinha um grande amor
no coração não,
para ela ele representava a
Última Esperança que aquela
mulher tinha na bondade da humanidade,
A última Esperança que Maria Padilha
tinha de que os homens podiam ser bons.
Quando Manoel se foi se foram também
Os limites dela, a partir deste momento
é que ela parou de se importar
com a vida e começa a trabalhar
com a feitiçaria se tornando
a grande bruxa que nos
conhecemos hoje.
Antes disso Maria Padilha ainda
era uma mulher de sorrisos
e gracejo sinceros,
hoje quando ela ri não é
por achar graça,
ela ri de deboche quando olha para nós
e vê que nós ainda temos
Esperança na vida
quando ela mesma já não.
Só pode se tornar uma grande Feiticeira
aquela que não tem fé
nas coisas do coração,
E foi a morte de Manuel que
proporcionou a Maria Padilha
essa situação.

A vida dessa mulher tem
muitas histórias e muitos mistérios.
Existem aqueles que gostam
de contar apenas como ela morreu...
Mas antes que a morte chegasse
tantas coisas incríveis aconteceram
que daria um livro da grossura
de uma Bíblia se fossemos relatar tudo.
E isso é prova de que Maria Padilha
é uma mulher muito mais
complexa do que se pode imaginar.

Chora violino chora...

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Memórias de Terreiro, Arte e texto por Felipe Caprini
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Espero que tenham gostado!
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