segunda-feira, 30 de outubro de 2023

A minha família sempre foi ligada a religiões como a umbanda e o candomblé, desde muito cedo e eu nem me lembro desde quando os meus parentes eram parte de terreiros matrizes em Salvador

 A minha família sempre foi
ligada a religiões como a umbanda
e o candomblé, desde muito cedo
e eu nem me lembro desde quando
os meus parentes eram parte de
terreiros matrizes em Salvador


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Hoje eu já sou uma mulher Vivida,
já passei dos meus 50 anos,
Mas 30 anos atrás eu presenciei algo
que jamais esqueci,
algo errado e que jamais
deveria ter acontecido.
A minha família sempre foi
ligada a religiões como a umbanda
e o candomblé, desde muito cedo
e eu nem me lembro desde quando
os meus parentes eram parte de
terreiros matrizes em Salvador
na Bahia, uma outra parte da família
também faz parte da Umbanda desde
a sua Fundação no Rio de Janeiro,
então minha avó,
uma mãe de santo muito boa
chamada Lucinda de Oxossi
Comprou um terreno na
Zona Leste de São Paulo e
fundou lá o seu terreiro de umbanda,
por mais que ela fosse iniciada
no candomblé ela preferia
a umbanda então tocou a vida inteira
o terreiro ali.
Quando minha vó estava
com pouco mais de 80 anos
ela veio a falecer,
não se preocupem pois foi
morte natural,
E aí foi que começou o problema.
O terreiro de vó Lucinda era
muito grande e muito bonito,
foi construído na junção de
três terrenos,
e os terrenos de antigamente eram
muito grandes então a junção dos três
parecia quase que uma chácara,
a casa do terreiro também
era magnífica pois vó Lucinda
lutou muito para construir
tijolo por tijolo.
Mas vó tinha três filhas,
minha mãe já era falecido na época
então minhas outras duas tias
vieram da Bahia e do Rio de Janeiro
reivindicando a posse do terreiro.
Pela justiça o terreiro era visto como
uma propriedade comum então
deveria ser dividido entre as duas
que eram as principais herdeiras e
entre eu também que representava a
parte da minha mãe,
ambas elas ofereceram
comprar a minha parte então
elas ficariam com o terreiro para uso
próprio pois ambas eram Mães de Santo.
O grande problema era que
minha tia mais velha chamada
Marta de Ogum era uma mãe de santo
de Candomblé,
já minha outra tia que era
Rosemeire de Oxum era a mãe de santo
de umbanda,
e elas não pretendiam dividir a casa.
Começou aí uma guerra entre duas mulheres,
e consequentemente uma guerra
entre duas religiões.
Volto a dizer a vocês que isso jamais
devia ter acontecido,
minha vó Lucinda devia se revirar
no caixão de desgosto por ver
que o terreiro que construiu
com tanto amor havia virado o
motivo da quebra da família.
Os advogados entraram em ação
e a única medida possível era vender
o terreno e dividir o dinheiro entre
as partes porém nenhuma delas
queria vender, as duas queriam
a propriedade integral do imóvel,
então começou uma disputa que
saiu do âmbito judicial e entrou
no meio espiritual.
Por muitas vezes vi minhas duas tias
se agredindo fisicamente,
Cheias de raiva Pois cada uma delas
tinha uma justificativa para dizer
que tinha herdado o terreiro,
tia Marta dizia que devia ser a herdeira
porque era filha mais velha
mas tia Rosimeire dizia que ela
era que a herdeira pois também era
da Umbanda assim como minha vó,
então a coisa saiu das agressões
físicas e verbais e pendeu para o feitiço,
era feitiço de lá e era feitiço de cá,
e assim uma série de desgraças
começaram a cometer a vida das duas.
Tia Marta dizia que a umbanda era fraca
pois não usava sangue e que por isso
ela iria derrubar tia Rosimeire com facilidade,
E isso se provou uma mentira pois
mesmo que tia Marta afirmasse que
o sangue tem a força
ainda assim os orixás dela
jamais pelejaram verdadeiramente
contra minha o outro lado,
Acredito que até mesmo Ogum,
o grande guerreiro não comprou
essa briga pois sabia que ela
era injusta.
Já tia Rosimeire do outro lado
desdenhava dos dizeres de tia Marta
e ao mesmo tempo ela usava todas
as suas entidades de umbanda
E assim lançava mais e mais mandingas
Em cima da irmã,
mas a maioria das entidades
também não apoiava isso,
tia Rosimeire trabalhava com o
caboclo Pena Branca e
mais de uma vez ele disse
através da boca dela que
não trabalharia guerra contra
ninguém por conta de um solo sagrado.
Mas as minhas duas tias sabiam
que além dos Orixás e das entidades
elas tinham outros espíritos a que
se podia recorrer quando o desejo é
fazer o mal, espíritos que ambas
as religiões chamam de quiumba.
Durante Seis anos eu testemunhei
elas ficarem doentes, elas perderem
seus relacionamentos amorosos,
ela sofrerem de inúmeras maneiras
sendo vítimas de feitiços lançados
uma a outra constantemente.
Eu tinha 21 anos e por mais que tivesse
sido criado junto a minha vó Lucinda
eu jamais tinha tido
nenhuma incorporação,
inclusive ela acreditava que eu
não tinha esse dom ,
e hoje em dia sinceramente eu acredito
que talvez fosse bom se eu não tivesse tido.
Como eu era a parte neutra da situação
a chave do terreiro ficava comigo,
houve uma chuva muito forte que
quebrou muitas telhas da casa,
Era uma construção antiga
Então as telhas de barro não
suportaram o vendaval e como
Tia Marta e tia Rosemeire não podiam
ir juntas porque acabavam rolando
na porrada eu fui sozinha averiguar
a situação.
Desde a morte de minha avó eu
nunca mais havia entrado no terreiro
e quando entrei me senti muito triste,
a casa estava vazia,
suja e cheia de pó, teias de Aranha
Por toda parte e cheirando a mofo.
Minha avó era tão caprichosa
Ela jamais deixaria aquele local
tão amado decair daquele jeito e o
motivo de estar assim era porque suas
duas filhas invés de se juntar
estavam lutando sem perceber
que o objeto de sua luta estava apodrecendo.
E foi naquele dia enquanto eu
caminhava pelo corredor do terreiro
olhando para o teto tentando ver se
via algum buraco visível no telhado
que ouvi a voz daquela mulher.

"quem não faz nada também tem culpa."

Era uma voz rouca, voz de bruxa.
Olhei em volta e não vi ninguém
mas fiquei assustada pois
como estava sozinho ali
pensei que algum morador de rua
podia ter invadido a propriedade
ou coisa assim, então logo saí dali.
mas quando cheguei na minha casa
eu continuei ouvindo a voz da mulher
falar comigo, eu não sabia quem era
nem do que se tratava.
Então antes de cogitar que eu
estava ficando maluca fui até uma amiga
minha que também era mãe de santo e
perguntei a ela o que estava
acontecendo comigo,
e no meio de um processo muito intenso
Ela descobriu que eu estava ouvindo
as vozes de uma pombagira.
Pouco tempo depois, eu que jamais
havia tido nenhum tipo de incorporação
estava trabalhando com essa identidade,
uma entidade que a princípio não
deu nome pois sempre dizia que
tinha vindo para realizar uma única missão,
e durante algumas semanas na casa
desta minha amiga eu fui
desenvolvendo a incorporação.
Isso logo chegou ao ouvido de
minhas duas tias e de
uma maneira estapafúrdia
elas começaram a acreditar que
eu estava querendo me tornar uma
mãe de santo também e que queria
entrar na briga pelo terreno.
Obviamente que diante daquela situação
tão conturbada mesmo se eu
de fato estivesse querendo ser
uma mãe de santo jamais iria
me prestar ao papel de travar
uma briga por conta daquilo.
Porém as duas vieram para cima
de mim como leoas,
Furiosas e achando que eu seria
mais um empecilho naquela guerra.
Eu jamais iria me acovardar
mesmo que não tivesse intenção de
entrar em disputa por conta de
terreno nenhum eu não iria permitir
que viessem de afronta,
então marquei de nós três
termos uma conversa franca
no terreiro de vovó Lucinda.
Era uma sexta-feira quando
chegamos lá por volta das seis
horas da tarde, e assim que
chegamos elas ja começaram a
discutir entre si e ao mesmo tempo
questionar o que eu queria e qual
era a minha intenção,
eu tentei falar mas elas não me ouviam
e apenas gritavam umas com as outras.
Então o dia foi acabando e o sol se pôs,
eu me lembro que o terreiro estava com
a energia elétrica desligada pois era
uma casa vazia, então assim que eu vi
a luz do dia diminuindo e se apagando
através da janela empoeirada
tive algo como um desmaio
e não me lembro o que aconteceu.
O que eu vou falar aqui agora foi
narrado a mim por minhas tias,
e elas contaram que eu eu girei na
ponta dos pés com tanta velocidade
que elas pararam imediatamente
e olharam para mim assustadas,
então chutei para longe os meus sapatos
e coloquei as mãos na cintura
E olhei de uma a outra,
e as duas entenderam que já
não era eu ali e perguntaram o nome
daquele espírito.
Através da minha boca uma
voz rouca falou e se apresentou
como Mulambo da lixeira
e disse que havia vindo em mim
mas que ela não era a minha pombagira,
que ela estava ali enviada em uma missão,
que ela foi enviada por um pedido
de minha vó Lucinda,
que ela veio para pôr um fim
naquela briga
naquele exato momento.
As minhas tias começaram a
argumentar com a Mulambo da lixeira
cada uma defendendo o seu
ponto de vista, elas contam que
a Mulambo com as mãos na cintura
apenas caminhava lentamente
andando em círculo ao redor delas
e as encarando nos olhos uma de cada vez.
Ela as deixou falar por vários
minutos e por fim pediu
silêncio e perguntou:

"Vocês jamais irão resolver essa história não é?"

Novamente as minhas tias
começaram a argumentar,
e começaram também a questionar
a Mulambo da lixeira se ela tinha
vindo para tomar o terreiro
delas e entregar a mim,
então aquela Mulambo que era
uma entidade muito diferente de todas
que eu já conheci e também
de todas que minhas tias já conheceram
as mandou calar a boca com
grande autoridade e
disse em alto e bom Tom:

"Esta casa e este chão um dia já foi chão sagrado onde muitos como eu já puderam trabalhar, mas vocês tornaram este chão tão sujo quanto as fezes de um porco, e a sua mãe a mãe de vocês e a vó dessa pessoa a qual eu estou ocupado lutou muito para que isso aqui fosse uma casa do bem, mas por tantos anos vocês vocês a fecharam e a tornaram um mausoléu, e hoje os únicos espíritos que vagam pelos corredores dessa casa são zombeteiros desgarrados que vem da rua e mais ninguém e a culpa disso é de vocês duas portanto a casa não é sua e a casa não é dela e a casa também não é desta moça a qual eu estou ocupando, vocês tiraram a casa do Sagrado então não existe mais casa alguma, eu digo a vocês que em sete dias este que já foi um grande terreiro não passará de escombros e lixo e vocês duas serão responsabilizadas pelo fracasso de uma casa de axé."

Foi nesse ponto que eu acordei,
estava sentada no chão com
minha tia Rosimeire me
abanando e chamando meu nome
naquela velha tática que
as pessoas antigas ainda usam de dizer
"o anjo da guarda te chama".
Elas estavam muito assustadas e
nós saímos dali sem dizer nenhuma
palavra uma a outra,
cada uma tomou seu rumo.
passaram setes dias e na madrugada
da sexta feira seguinte choveu demais,
caiu uma tempestade tão grande
que eu fiquei preocupada de
que as telhas do terreiro pudessem
ser arrebentar das novamente.
De manhã recebi um telefonema
de uma das vizinhas do terreiro
me dizendo que eu precisava ir
até ele urgentemente.
Quando eu cheguei lá o
que eu vi não foi o terreiro
de minha vó lucina,
a casa havia inteira se desmantelado
pois um muro de arrimo do
terreno dos Fundos havia
rompido e despencado sobre ela,
um muro de arrimo que sustentava
toneladas de terra do morro dos Fundos.
Quando eu cheguei até o terreiro
o que eu vi foi uma montanha
de Terra Vermelha,
não era possível ver nenhum
pedacinho que fosse da antiga casa,
nem mesmo as árvores que
minha avó havia plantado
em torno da casa
sobreviveram, algumas delas foram
arrancadas pela raiz com o
empurrão forte do peso do Muro sobre elas. Quando minhas tias chegaram ficaram
horrorizados e com muito medo.
Nunca mais aquele terreno foi mexido,
hoje em dia ele foi alugado para
um depósito de reciclagem,
e quem passa em frente sente
um cheiro muito forte de lixo
pois o terreno virou uma lixeira.
Minhas tias se sentiram muito culpadas
e depois tentaram se reconciliar
mas não adianta chorar pelo
leite derramado e as duas que eram
Mães de santo, hoje nenhuma das duas
tem casa aberta pois foi cobrado delas
A culpa do que fizeram a herança
da minha vó, elas fizeram com que
Aquele terreiro se tornasse uma
montanha de lixo.
Por uma Justiça, Mulambo da lixeira
tirou delas qualquer herança que
pudessem deixar para seus filhos
e netos.
Depois de muitos anos eu abri o
meu próprio terreiro na zona oeste
de São Paulo,
mas até hoje eu trabalho
com a pomba gira Rosa Negra,
a Mulambo da lixeira Jamais foi minha,
ela só esteve em mim naquele momento
para cumprir aquela missão,
e ainda assim sempre que
me lembro dela tenho um misto
de admiração pela força daquela entidade
e também de medo por saber
desse tamanho poder.

Em 2019, antes da pandemia estourar
eu fui visitar um terreiro que abriu
na minha região e fiquei muito surpresa
quando cheguei lá e vi um rapaz de
uns 16 anos vestido com roupas
Em tons de roxo e lilás,
um vestido muito bonito de rendas e
babados e quando ele se aproximou
de mim percebi que não era ele e
sim que era ela, e por mais que eu
já seja uma mãe de santo com casa
aberta a mais de 20 anos ainda assim
no momento que aquele jovenzinho
incorporado se aproximou de mim
o que eu fiz foi me abaixar
em respeito pois eu sabia que
estava diante de Mulambo da lixeira
e que ela não é de brincadeira.
Conversei com ela e
ela me explicou tudo que aconteceu,
me explicou que ela teve que
destruir aquele terreiro pois
existia grande força espiritual ali
e que se ela não fosse usada para o
bem seria usada para o mal,
por isso ela mesma enterrou o
terreno inteiro embaixo de sete
palmos de terra e o cobriu com
todo o lixo que hoje se encontra lá.
agradeci a Mulambo por tudo que
ela fez ainda tendo um pouco
de receio em conversar com ela,
antes de ir embora ela me disse:

"Eu sempre fui grande amiga de Rosa Negra e foi por isso que ela mesma me deu permissão de estar no seu corpo naquela época pois ela é a sua pombagira de fé. Então você cuide da sua casa Dona Moça, porque se você não cuidar dela quem vai cuidar sou eu."

Eu abracei ainda com os braços
um pouco trêmulos e fui embora
para minha casa ao mesmo tempo
assustada e feliz por ter tido
a honra de por alguns momentos
na minha vida ter trabalhado
com Mulambo da Lixeira e ter
presenciado o seu poder e
a sua justiça.

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Relatos e Contos do Axé, Arte e texto por Felipe Caprini
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Espero que tenham gostado!
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