Quando se ouve o nome "Farrapo"
imediatamente imaginamos algo
sujo e maltrapilho
Quando se ouve o nome "Farrapo"
imediatamente imaginamos algo
sujo e maltrapilho,
alguma porcaria que se joga no lixo,
e essa sempre foi a minha dúvida
pois conheci a Pombagira Maria Farrapo
porém ela jamais se apresentou
de maneira desmazelada,
então um dia com ajuda de um
de seus médiuns
Eu soube do motivo daquela
tão bela mulher ser chamada
de Farrapo e nunca ter
se incomodado com esse nome.
Abaixo as palavras do médium dela:
Certa vez em uma gira
após eu ter tido a incorporação
com Dona Farrapo
mais uma vez me incomodei
quando uma das pessoas
a minha volta a chamou assim,
"Farrapo" aos meus ouvidos
sempre soou como
um nome feio.
Dona Rosa Vermelha,
Que por sinal é uma
grande amiga de Maria Farrapo
ainda estava em terra e
me ouviu reclamar
então se aproximou de mim
e me contou uma história
que a minha própria entidade
jamais tinha me contado.
Dona Rosa me disse que
conheceu o Farrapo na época
em que ela chegou para trabalhar
no Cabaré aqui no sudeste,
nessa época todo o transporte
no país se dava pelas embarcações
então aqueles que estavam
no porto eram sempre
muito conhecidos e Farrapo tinha
uma casinha bem perto
da Zona Portuária Rio de Janeiro
E trabalhava junto aos navegantes.
O Rio de Janeiro naquela época
não era a cidade maravilhosa
que a gente conhece hoje,
estava muito mais para
Uma cidadezinha que começava
a dar os seus primeiros passos,
quando Dona Rosa veio da Bahia
ela precisava comprar novos vestidos,
joias e perfumes e rapidamente
suas amigas do cabaré indicaram
que ela fosse comprar das mãos
de uma tal de Farrapo.
É claro que dona Rosa Vermelha
também achou o nome
muito estranho pois como é que
você iria comprar artigos de luxo
das mãos de uma mulher
que tinha um nome desses?
Quando indicaram o caminho
da casa ela chegou até lá e
encontrou Dona Farrapo
de fato vestida com um vestidinho
muito puído e descosturado
em várias partes,
só que quando entrou na casa
viu pendurados nos cabides
por todo lado vestidos
muito caros e em cima das Mesas
joias e garrafas de bebidas
das mais caras que se podia ter.
Já era fato conhecido que
Maria Farrapo trabalhava
com o contrabando,
ou seja ela conseguiu obter
de maneira ilícita os produtos
mais caros e revendia para
o povo sem ter que pagar
imposto a coroa,
alguns produtos ela conseguia
realmente comprando dos
próprios marinheiros que faziam
o translado sem informar
aos fiscais, já outros produtos
ela conseguia dos ladrões que
roubavam as mansões dos ricaços
e traziam para a mão dela,
era isso que explicava as prostitutas
e as mulheres pobres
da região as vezes aparecerem
usando um vestido de seda chinesa
ou aqueles belos casacos de pele,
todas elas tinham pago
um valor extremamente
abaixo do mercado
nas mãos de Maria Farrapo.
Mas o que espantou Rosa vermelha
é que se aquela mulher tinha
dentro de casa as roupas
mais bonitas que o dinheiro
podia comprar,
porque cargas d'água ela estava
vestida feito uma mendiga?
A primeira vista jamais Farrapo
quis dizer qualquer coisa
pois tinha um comportamento
de ser uma mulher muito dura
e áspera, porém Rosa Vermelha
se firmou no Cabaré e sempre
precisava comprar tecidos novos
para mandar para costureira
ou mesmo joias e pedras preciosas
e por isso sempre estava indo
visitar Farrapo para ver
o que ela tinha de novo,
essa relação durou tantos anos
que um dia elas se reconheceram
como verdadeiras amigas.
Então mais uma vez
Rosa Vermelha perguntou:
— Mulher, por que é que você se veste assim? Uns tempos atrás te vi nos bailes da Carioca e você estava muito bonita com aquele vestido negro de camurça, mas no dia-a-dia so fica desse jeito parecendo uma doida com esses trapos!
Farrapo dessa vez
sorriu para ela e a levou até
um quartinho nos fundos
da casa onde havia
um grande baú muito velho,
o abriu e mostrou um monte
de vestidos quase podres
de tão antigos mas que
eram aqueles que ela sempre usava.
Enquanto ela passava a mão
por aqueles tecidos acabou
Por contar uma história:
— Eu nunca tive pai, desde que eu me entendo por gente eu só me lembro de ter tido mãe. Eu fui filha de Dona Hilda, mas na boca do povo minha mãe era conhecida como Labareda. Chamavam minha mãe assim dentro do bordel que ela trabalhava. Quando ela tinha dezesseis anos se casou com um rapaz lá da Bahia, então vieram morar aqui na redondezas, mais o maldito se ingressou com outra moça, uma filha de uns portugueses, então ele simplesmente fez as malas e foi embora com ela para Portugal. Minha mãe ficou sozinha e grávida.
Contou muito com ajuda de umas freiras que traziam para ela o alimento, mas cuidaram dela só enquanto estava grávida pois as freiras tinham a intenção de que assim que eu nascesse elas me levasse embora para o orfanato. Mas minha mãe não deixou, assim que eu nasci ela se negou a me abandonar. As freiras pararam de ajudar e eu estava aqui recém-nascida... e minha mãe era jovem e bonita... então ela tentou arranjar emprego de criada em uma casa aqui perto mas você sabe, ninguém da emprego hoje em dia, esse lugar é cheio de escravos então o povo gosta muito mais de comprar um escravo lá no norte e trazer para cá do que ficar pagando o salário a alguém. O único jeito para não morrer de fome foi a minha mãe ir para o bordel. E você Rosa Vermelha não faz nem ideia do que é um bordel.
— Mas eu trabalho em um...
— Não, você passou a vida inteira dentro de um cabaré, e o cabaré e o bordel são coisas extremamente diferentes. O tanto que você ganha em um cabaré em um ano dá para comprar uma casa já a minha mãe mal levantava da cama com uma fila de homens no corredor esperando a sua vez, e ela tinha que aguentar um por um para no fim do dia tirar o suficiente para comprar um prato de comida. No cabaré são os granfinos que vão pagar suas altas taxas, no bordel sao os marinheiros e camponeses defendo a suor e a cachaça. Mas ela aguentou isso tudo por mim. Sempre fui uma criança muito bonitinha sabe, e mais de uma vez um casal ou outro de imigrantes ofereceram um dinheiro alto para minha mãe para que ela me vendesse para eles, mas ela nunca vendeu. A vida no bordel foi muito difícil, mas mesmo com extrema dificuldade ela foi ficando até que famosa na região por ter um rostinho igual o de uma boneca, assim conseguiu subir o preço do serviços, e assim com vinte anos naquela lida ela conseguiu comprar essa casa. Ainda me lembro como se fosse hoje nós duas num dia de domingo rebocando as paredes com cal, foi uma das maiores alegrias da minha vida quando saimos daquele quartinho no inferninho e viemos pra cá.
— O que acontece com ela?
— Quando ela ficou velha já não podia mais trabalhar no bordel, Ninguém queria pagar nem meia moeda pois a vida a judiou demais e ela acabou ficando feia pelos maus tratos que sofria. Então a dona do bordel disse para ela me colocar para trabalhar lá, mas ela sempre disse com toda a clareza que enquanto ela estivesse viva eu jamais ia passar por isso. Com o dinheirinho que guardou ela pagou uma professorinha que dava aula na aldeia aqui perto para vir me dar aulas de noite sem ninguém saber, então ao contrário de mamãe que não sabia nem assinar o próprio nome, eu sei ler e escrever e entendo muito bem de fazer as contas, e assim através de um amigo dela eu comecei a trabalhar no porto fazendo esses negócios que faço hoje, fui trazendo para cá uns produtos que não passavam pelo fiscal e vendendo para o pessoal, nisso fui ganhando um bom lucro em cima e assim a mãe não precisou nunca mais fazer nada que não queria porque o dinheiro que eu ganhava já dava para sustentar nós duas. Mas a vida não perdoa, mamãe durante todos aqueles anos se deitou com mais de mil homens e alguns deles eram marinheiros que vinham doentes. Ela pegou uma doença e começou a definhar. Eu cuidei dela o máximo que pude e com os recursos que eu tinha aqui paguei médico e tudo mais, mas tem doenças que não tem cura. Até benzedeira e Feiticeira eu trouxe para tratar dela mas tem coisas que não tem como tratar. Então... então um dia eu tive que me despedir dela. Minha mãe morreu aqui nessa casa e deixou para mim as únicas coisas que tinha de seu que foi esse baú de vestidos e esse lugar. Eu agora sou uma mulher sozinha, mas é muito difícil ser sozinha. Toda vez que eu tenho medo eu uso um dos vestidos da minha mãe porque eu sinto como se ela estivesse aqui do meu lado. Eu não ligo se o povo me chama de Farrapo, a maioria nem sabe que meu nome é Madalena, eles me chamam de Maria Farrapo porque as roupas da minha mãe ficaram muito velhas já que eu só consigo lavar elas batendo na pedra, mas não importa quanto tempo passe, eu nunca vou deixar de usar os vestidos que ela me deixou. Tenho aqui muitas roupas bonitas que às vezes eu uso quando eu tenho que ir num lugar muito chique, mas eu nunca vou parar de usar os Farrapos porque... são eles a última lembrança que eu tenho dela.
Então o Farrapo
tirou do meio dos vestidos
uma folha de papel cartão
com um desenho feito,
um desenho com traços tortos
de uma criança que tenta
pintar alguém,
em qualquer outra ocasião
eu iria rir daquilo mas quando
eu percebi que ela estava
me mostrando um desenho
que ela mesma tinha feito
da própria mãe
não consegui dar risada porque
aquilo era muito bonito.
Desenhado no papel estava
uma mulher de cara redonda
e olhos azuis muito grandes
com os cabelos cacheados Dourados
E em baixo escrito com
letras de garrancho a palavra "mamãe".
Depois que ela me contou
aquela história eu nunca mais
vi aqueles vestidos velhos
como coisas feias,
na verdade agora eles pareciam
muito mais preciosos do
que qualquer roupa cravejada
de brilhantes.
Quando eu via Farrapo
subindo a ladeira do Porto
com o povo rindo dela
ao vê-la subir com aqueles
vestidos todos remendados
e muito puídos eu sempre
percebi que ela jamais se importava,
então eu entendi que com
aqueles Farrapos ela
se sentia amada.
Quando alguém chamar ela
de Maria Farrapo não ache ruim,
na maior parte do tempo
Ela é dura e às vezes até intransigente
mas ela é alguém que sofreu muito
na vida e que guardou
naqueles Farrapos a lembrança
da única pessoa que ela
teve certeza que a amou de verdade.
Depois que dona Rosa Vermelha
me contou aquilo nunca mais
eu achei o ruim quando chamavam
minha moça de Farrapo.
Assim eu entendi o motivo
de nos dias de festa
quando eu ia para o
terreiro e a deixava
incorporar em mim
ela usava aqueles vestidos
tão bonitos que eu pagava
tão caro para fazer,
Porém quando eu sonhava com ela
nos meus sonhos ela sempre
aparecia usando aqueles vestidos
cujo o corte era antiquado e
as estampas já quase apagadas
por tanto uso,
os remendos muito claros
e muitas partes até cerzidas
mas elas sempre estava
sorrindo usando aqueles Farrapos.
Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
Quer saber sobre os mistérios da vida? Sobre sobre os seus caminhos?
Ou descobrir quem são suas entidades?
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O jogo custa 35,00 e dá direito a 5 perguntas em até uma hora.
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alguma porcaria que se joga no lixo,
e essa sempre foi a minha dúvida
pois conheci a Pombagira Maria Farrapo
porém ela jamais se apresentou
de maneira desmazelada,
então um dia com ajuda de um
de seus médiuns
Eu soube do motivo daquela
tão bela mulher ser chamada
de Farrapo e nunca ter
se incomodado com esse nome.
Abaixo as palavras do médium dela:
Certa vez em uma gira
após eu ter tido a incorporação
com Dona Farrapo
mais uma vez me incomodei
quando uma das pessoas
a minha volta a chamou assim,
"Farrapo" aos meus ouvidos
sempre soou como
um nome feio.
Dona Rosa Vermelha,
Que por sinal é uma
grande amiga de Maria Farrapo
ainda estava em terra e
me ouviu reclamar
então se aproximou de mim
e me contou uma história
que a minha própria entidade
jamais tinha me contado.
Dona Rosa me disse que
conheceu o Farrapo na época
em que ela chegou para trabalhar
no Cabaré aqui no sudeste,
nessa época todo o transporte
no país se dava pelas embarcações
então aqueles que estavam
no porto eram sempre
muito conhecidos e Farrapo tinha
uma casinha bem perto
da Zona Portuária Rio de Janeiro
E trabalhava junto aos navegantes.
O Rio de Janeiro naquela época
não era a cidade maravilhosa
que a gente conhece hoje,
estava muito mais para
Uma cidadezinha que começava
a dar os seus primeiros passos,
quando Dona Rosa veio da Bahia
ela precisava comprar novos vestidos,
joias e perfumes e rapidamente
suas amigas do cabaré indicaram
que ela fosse comprar das mãos
de uma tal de Farrapo.
É claro que dona Rosa Vermelha
também achou o nome
muito estranho pois como é que
você iria comprar artigos de luxo
das mãos de uma mulher
que tinha um nome desses?
Quando indicaram o caminho
da casa ela chegou até lá e
encontrou Dona Farrapo
de fato vestida com um vestidinho
muito puído e descosturado
em várias partes,
só que quando entrou na casa
viu pendurados nos cabides
por todo lado vestidos
muito caros e em cima das Mesas
joias e garrafas de bebidas
das mais caras que se podia ter.
Já era fato conhecido que
Maria Farrapo trabalhava
com o contrabando,
ou seja ela conseguiu obter
de maneira ilícita os produtos
mais caros e revendia para
o povo sem ter que pagar
imposto a coroa,
alguns produtos ela conseguia
realmente comprando dos
próprios marinheiros que faziam
o translado sem informar
aos fiscais, já outros produtos
ela conseguia dos ladrões que
roubavam as mansões dos ricaços
e traziam para a mão dela,
era isso que explicava as prostitutas
e as mulheres pobres
da região as vezes aparecerem
usando um vestido de seda chinesa
ou aqueles belos casacos de pele,
todas elas tinham pago
um valor extremamente
abaixo do mercado
nas mãos de Maria Farrapo.
Mas o que espantou Rosa vermelha
é que se aquela mulher tinha
dentro de casa as roupas
mais bonitas que o dinheiro
podia comprar,
porque cargas d'água ela estava
vestida feito uma mendiga?
A primeira vista jamais Farrapo
quis dizer qualquer coisa
pois tinha um comportamento
de ser uma mulher muito dura
e áspera, porém Rosa Vermelha
se firmou no Cabaré e sempre
precisava comprar tecidos novos
para mandar para costureira
ou mesmo joias e pedras preciosas
e por isso sempre estava indo
visitar Farrapo para ver
o que ela tinha de novo,
essa relação durou tantos anos
que um dia elas se reconheceram
como verdadeiras amigas.
Então mais uma vez
Rosa Vermelha perguntou:
— Mulher, por que é que você se veste assim? Uns tempos atrás te vi nos bailes da Carioca e você estava muito bonita com aquele vestido negro de camurça, mas no dia-a-dia so fica desse jeito parecendo uma doida com esses trapos!
Farrapo dessa vez
sorriu para ela e a levou até
um quartinho nos fundos
da casa onde havia
um grande baú muito velho,
o abriu e mostrou um monte
de vestidos quase podres
de tão antigos mas que
eram aqueles que ela sempre usava.
Enquanto ela passava a mão
por aqueles tecidos acabou
Por contar uma história:
— Eu nunca tive pai, desde que eu me entendo por gente eu só me lembro de ter tido mãe. Eu fui filha de Dona Hilda, mas na boca do povo minha mãe era conhecida como Labareda. Chamavam minha mãe assim dentro do bordel que ela trabalhava. Quando ela tinha dezesseis anos se casou com um rapaz lá da Bahia, então vieram morar aqui na redondezas, mais o maldito se ingressou com outra moça, uma filha de uns portugueses, então ele simplesmente fez as malas e foi embora com ela para Portugal. Minha mãe ficou sozinha e grávida.
Contou muito com ajuda de umas freiras que traziam para ela o alimento, mas cuidaram dela só enquanto estava grávida pois as freiras tinham a intenção de que assim que eu nascesse elas me levasse embora para o orfanato. Mas minha mãe não deixou, assim que eu nasci ela se negou a me abandonar. As freiras pararam de ajudar e eu estava aqui recém-nascida... e minha mãe era jovem e bonita... então ela tentou arranjar emprego de criada em uma casa aqui perto mas você sabe, ninguém da emprego hoje em dia, esse lugar é cheio de escravos então o povo gosta muito mais de comprar um escravo lá no norte e trazer para cá do que ficar pagando o salário a alguém. O único jeito para não morrer de fome foi a minha mãe ir para o bordel. E você Rosa Vermelha não faz nem ideia do que é um bordel.
— Mas eu trabalho em um...
— Não, você passou a vida inteira dentro de um cabaré, e o cabaré e o bordel são coisas extremamente diferentes. O tanto que você ganha em um cabaré em um ano dá para comprar uma casa já a minha mãe mal levantava da cama com uma fila de homens no corredor esperando a sua vez, e ela tinha que aguentar um por um para no fim do dia tirar o suficiente para comprar um prato de comida. No cabaré são os granfinos que vão pagar suas altas taxas, no bordel sao os marinheiros e camponeses defendo a suor e a cachaça. Mas ela aguentou isso tudo por mim. Sempre fui uma criança muito bonitinha sabe, e mais de uma vez um casal ou outro de imigrantes ofereceram um dinheiro alto para minha mãe para que ela me vendesse para eles, mas ela nunca vendeu. A vida no bordel foi muito difícil, mas mesmo com extrema dificuldade ela foi ficando até que famosa na região por ter um rostinho igual o de uma boneca, assim conseguiu subir o preço do serviços, e assim com vinte anos naquela lida ela conseguiu comprar essa casa. Ainda me lembro como se fosse hoje nós duas num dia de domingo rebocando as paredes com cal, foi uma das maiores alegrias da minha vida quando saimos daquele quartinho no inferninho e viemos pra cá.
— O que acontece com ela?
— Quando ela ficou velha já não podia mais trabalhar no bordel, Ninguém queria pagar nem meia moeda pois a vida a judiou demais e ela acabou ficando feia pelos maus tratos que sofria. Então a dona do bordel disse para ela me colocar para trabalhar lá, mas ela sempre disse com toda a clareza que enquanto ela estivesse viva eu jamais ia passar por isso. Com o dinheirinho que guardou ela pagou uma professorinha que dava aula na aldeia aqui perto para vir me dar aulas de noite sem ninguém saber, então ao contrário de mamãe que não sabia nem assinar o próprio nome, eu sei ler e escrever e entendo muito bem de fazer as contas, e assim através de um amigo dela eu comecei a trabalhar no porto fazendo esses negócios que faço hoje, fui trazendo para cá uns produtos que não passavam pelo fiscal e vendendo para o pessoal, nisso fui ganhando um bom lucro em cima e assim a mãe não precisou nunca mais fazer nada que não queria porque o dinheiro que eu ganhava já dava para sustentar nós duas. Mas a vida não perdoa, mamãe durante todos aqueles anos se deitou com mais de mil homens e alguns deles eram marinheiros que vinham doentes. Ela pegou uma doença e começou a definhar. Eu cuidei dela o máximo que pude e com os recursos que eu tinha aqui paguei médico e tudo mais, mas tem doenças que não tem cura. Até benzedeira e Feiticeira eu trouxe para tratar dela mas tem coisas que não tem como tratar. Então... então um dia eu tive que me despedir dela. Minha mãe morreu aqui nessa casa e deixou para mim as únicas coisas que tinha de seu que foi esse baú de vestidos e esse lugar. Eu agora sou uma mulher sozinha, mas é muito difícil ser sozinha. Toda vez que eu tenho medo eu uso um dos vestidos da minha mãe porque eu sinto como se ela estivesse aqui do meu lado. Eu não ligo se o povo me chama de Farrapo, a maioria nem sabe que meu nome é Madalena, eles me chamam de Maria Farrapo porque as roupas da minha mãe ficaram muito velhas já que eu só consigo lavar elas batendo na pedra, mas não importa quanto tempo passe, eu nunca vou deixar de usar os vestidos que ela me deixou. Tenho aqui muitas roupas bonitas que às vezes eu uso quando eu tenho que ir num lugar muito chique, mas eu nunca vou parar de usar os Farrapos porque... são eles a última lembrança que eu tenho dela.
Então o Farrapo
tirou do meio dos vestidos
uma folha de papel cartão
com um desenho feito,
um desenho com traços tortos
de uma criança que tenta
pintar alguém,
em qualquer outra ocasião
eu iria rir daquilo mas quando
eu percebi que ela estava
me mostrando um desenho
que ela mesma tinha feito
da própria mãe
não consegui dar risada porque
aquilo era muito bonito.
Desenhado no papel estava
uma mulher de cara redonda
e olhos azuis muito grandes
com os cabelos cacheados Dourados
E em baixo escrito com
letras de garrancho a palavra "mamãe".
Depois que ela me contou
aquela história eu nunca mais
vi aqueles vestidos velhos
como coisas feias,
na verdade agora eles pareciam
muito mais preciosos do
que qualquer roupa cravejada
de brilhantes.
Quando eu via Farrapo
subindo a ladeira do Porto
com o povo rindo dela
ao vê-la subir com aqueles
vestidos todos remendados
e muito puídos eu sempre
percebi que ela jamais se importava,
então eu entendi que com
aqueles Farrapos ela
se sentia amada.
Quando alguém chamar ela
de Maria Farrapo não ache ruim,
na maior parte do tempo
Ela é dura e às vezes até intransigente
mas ela é alguém que sofreu muito
na vida e que guardou
naqueles Farrapos a lembrança
da única pessoa que ela
teve certeza que a amou de verdade.
Depois que dona Rosa Vermelha
me contou aquilo nunca mais
eu achei o ruim quando chamavam
minha moça de Farrapo.
Assim eu entendi o motivo
de nos dias de festa
quando eu ia para o
terreiro e a deixava
incorporar em mim
ela usava aqueles vestidos
tão bonitos que eu pagava
tão caro para fazer,
Porém quando eu sonhava com ela
nos meus sonhos ela sempre
aparecia usando aqueles vestidos
cujo o corte era antiquado e
as estampas já quase apagadas
por tanto uso,
os remendos muito claros
e muitas partes até cerzidas
mas elas sempre estava
sorrindo usando aqueles Farrapos.
Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
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Ou descobrir quem são suas entidades?
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