segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Maria era uma criança, uma menina de não mais que 8 anos de idade, porém já era cobrado de Maria ser forte. Com a voz fraquinha a mãe sussurrou no ouvido de Maria uma história

 Maria era uma criança,
uma menina de não mais que
8 anos de idade,
porém já era cobrado de Maria
ser forte.
Com a voz fraquinha a mãe
sussurrou no ouvido de Maria uma
história


Nenhuma descrição de foto disponível.
No escuro da Senzala,
Maria deitada agarrada com a mãe,
e a mãe com febre devido aos
ferimentos das costas,
devido a chibatadas que
tinha tomado no tronco.
A mãe já sabia mas Maria ainda não,
é coisa das pessoas mais velhas saber
quando a hora chega.
Maria era uma criança,
uma menina de não mais que
8 anos de idade,
porém já era cobrado de Maria
ser forte.
Com a voz fraquinha a mãe
sussurrou no ouvido de Maria uma
história,
uma história que era um segredo
pois se alguém ouvisse contando
elas seriam ainda mais castigadas
já que era proibido falar das coisas
do povo de origem.
Maria percebendo que a mãe
queria falar algo se unclinou
para trás deixando os lábios da
mulher debilitada encostarem
na sua orelha.

— Filha, quando eu tinha a sua idade eu não vivia aqui, quando eu era criança eu morava em um lugar muito longe, do outro lado do mar, e lá eu fui uma criança Livre. Quando as mulheres da minha Aldeia se reuniam nós íamos para o meio da Mata, íamos só nós, e no meio da Mata nós íamos para cantar e dançar em nome de nós mesmas, em nome das nossas ancestrais que já tinham ido embora, e na minha terra Nós chamávamos nossas antigas de Iyami Oxorongá, que significa "minha mãe Feiticeira". Muitos acham que a magia de Iyami é algo muito longe e muito inalcançável, mas não é não. Iyami são as senhoras dos Pássaros, são elas que trazem para as mulheres aquilo que nos deixa fortes. E você vai ter que ser forte minha filha, porque hoje antes do sol nascer... eu vou estar com elas, eu estarei junto as ancestrais e serei uma delas. Você vai ficar aqui e vai ser forte, e não vai se esquecer que nós somos mulheres de um povo muito antigo, e que existe em nós uma força tão grande que nos permite resistir. Seja forte minha filha, eu vou estar sempre olhando por você.

Até onde pode ela cantou no
ouvido de Maria as antigas
cantigas das Mães africanas.
Quando o sol nasceu o Capataz
deu permissão que alguns escravos
não fossem para o campo trabalhar
no Cafezal,
deu permissão que ficassem para cavar
a sepultura naquela mulher e
enterra-lá em uma cova qualquer
no meio do mato.
Maria Ficou ali olhando
a mãe enrolada em pano branco e
sendo colocada dentro do buraco,
mas ao mesmo tempo que
as lágrimas rolavam pelo seu rosto
ela tentava memorizar tudo o
que a mãe havia contado a
ela antes de morrer.
Os anos passaram e Maria
não era mais criança,
trazia nos braços um bebê de
pele muito mais clara que a dela,
um bebê que foi forçada a conceber
por ser muito bonita e desejável
aos olhos do filho do patrão.
Mas Maria era forte,
então quando deu à luz aquela criança
e soube que era uma menina
tratou de ensinar a ela tudo que
sua mãe havia ensinado.
Teresa tinha a pele mais clara que
a de sua mãe e Maria quando
olhava para ela tinha medo que
fizessem algo com aquela menina
porque ela sabia o que faziam com
as chamadas "mulatas",
com aquelas que eram
consideradas mais bonitas
por serem mestiças.
Maria com muita pressa
durante os anos da infância
da menina contou para ela tudo
que sabia de seu povo
tudo que sabia de sua gente,
contava e repetia para que a
menina não esquecesse.
Então no dia que Teresa
completou 13 anos
o dono da fazenda veio
buscá-la Pois havia uma
carruagem já esperando
Teresa na entrada da propriedade.
Os homens vieram para
separar mãe e filha.
Maria pensou que já estava
conformada, pensou que iam
levar a sua filha como já sabia
que iam fazer e que ela iria
apenas abraçar e beijar a
menina e desejar a ela sorte.
Mas quando os homens se
aproximaram
Maria sem saber como e sem saber
de onde havia tirado tanta força
virou uma onça,
empurrou Teresa para longe e
gritou para ela correr,
tinha que correr o máximo que
podia para dentro do mato,
e Maria sem arma nenhuma nas mãos
Correu para cima dos homens
que vinham com a missão
de levar a sua filha e vendê-la
para uma cafetina,
vendê-la para ser prostituta
em um bordel.
Quando as outras escravas ouviram
a gritaria dos homens sendo
atacados por Maria,
que mesmo franzina os unhava
e os agarrava pela roupa
correram até ela para ajudar,
foi uma coisa muito feia de se ver
mas no fim do dia Maria
estava no tronco recebendo as
Chibatadas que iriam custar
a sua vida,
porém Teresa estava a toda
correndo no meio da floresta,
estava livre.
A cada açoite que cortava sua carne
Maria sentia a vida indo embora,
mas ao mesmo tempo que morria
ela sentia que agora era outra coisa,
e no fim da última chibatada
ela sentiu um vento muito
forte correndo por baixo de
seu corpo, e quando olhou
para baixo viu
Teresa correndo entre
os troncos das Árvores,
e Teresa por sua vez olhou
para cima assustada
mas o quê viu foi uma grande
coruja que voava atrás dela
em plena luz do dia.
Teresa foi parar na cidade,
sua pele era clara o suficiente
para que se tomasse cuidado
pudesse inclusive se
passar por uma serviçal branca
ou pelo menos por alguém que
não fosse escrava,
então na cidade, ela que já sabia fazer
tudo dentro de uma casa pois havia trabalhado desde nos quatro anos
de idade, arrumou logo um emprego
de arrumadeira em uma estalagem.
Ali trabalhava em troca penas
da comida e das roupas que
podia vestir, mas era Livre,
e acreditava que não sofreria
mais nenhum mal.
Então o tempo se passou e
ela acabou por se casar com
o próprio dono da estalagem,
e com ele teve muitos filhos,
muitos meninos mas entre todos
a caçula nasceu menina,
era Laurinda,
uma menina que Teresa
olhava com alívio e com vergonha,
este sentimento conflituoso
vinha por causa da cor da pele
de Laurinda que era branca
como a do pai,
e por mais que Teresa
estivesse muito feliz que Laurinda
jamais fosse sofrer a perversidade
da escravidão,
ainda assim tinha um
pouco de vergonha da filha
se parecer tanto como
aqueles que faziam mal
ao seu povo.
Quando Laurinda
completou seus onze anos e
veio nela a primeira menstruação
Teresa sabia que logo pela
tradição dos brancos a
menina teria que se casar e iria
embora de casa,
então naquele dia enquanto
as duas estavam sozinhas
na beira de um rio
lavando os panos de
Laurinda sujos de sangue vermelho
Ela contou a filha
uma história.

— Minha avó veio de uma terra muito longe daqui, uma terra que fica do outro lado do mar, la onde as pessoas de pele escura são livres. Nesta terra quando minha avó era menina, ela e as outras mulheres de sua Aldeia se reuniam na floresta para louvar as suas ancestrais, as que já tinham partido para outra vida, e elas chamavam essas anciãs de Iyami Oxorongá, que significa na língua antiga "minha mãe Feiticeira".

E naquele dia e nos dias que
vieram depois Teresa
contou tudo o que sabia
sobre o que é ser a herdeira de
um povo para sua filha.
Passado um ano quando
a menina tinha apenas
12 anos de idade vieram
as negociações de casamento,
Laurinda ia se casar ia ter
que descer o país inteiro
pois o noivo era um parente
de seu pai que morava no Paraná.
Teresa bordou com todo o carinho
o enxoval da filha e sem mesmo
perceber o que fazia bordava nos
lençóis, nas fronhas e nas toalhas de
mesa usando Linha Branca
a imagem de uma coruja,
uma coruja que ela tinha visto há muito tempo em dia um de teve que
correr sozinha através de
uma floresta escura.
Se despediu da filha e
Laurinda desceu para o Paraná.
Nunca mais Teresa viu aquela menina
pois logo veio o tempo de sua morte
e ela se despediu deste mundo sem ter
a chance de ver Laurinda mais uma vez.
No dia que estava na cama
sentindo os pulmões fraquejando
Teresa teve um sonho muito estranho,
não sabia se era sonho ou de devaneio
mas ela via Laurinda com um
barrigão de grávida,
ela viu Laurinda levando
um cesto de roupas limpas para
o quintal então
estender no varal aqueles
grandes lençóis com corujinhas
bordadas para secar ao sol.
Laurinda em um momento
sentiu um aperto no coração e
quando olhou para o lado
viu encarapitada
nos galhos de uma árvore
uma coruja branca e
sem entender porque
pensou em sua mãe.

Muitos anos se passaram
Laurinda não teve nenhuma filha
apenas filhos homens,
seu filho primogênito trouxe
para casa uma vez uma moça,
uma Cabocla filha de índios,
anunciou a todos que era com
aquela moça que ele pretendia
se casar.
Laurinda gostou muito da moça,
era uma risonha menina
de nome Bernarda.
O triste foi que Bernarda não resistiu
as dores do parto,
e de repente Laurinda se viu sendo
uma mulher idosa mas com um
bebê no colo,
sua netinha não tinha mãe
mas Laurinda era avó
e iria criar aquele bebê.
Antônia tinha aparência mais
especial que Laurinda tinha visto
em toda sua vida,
a pele era da cor de canela
como a dos Índios,
os cabelos lisos escorridos
como os da ancestralidade da
família da mãe, mas os olhos
eram verdes e grandes como
os do pai de Laurinda,
mas os lábios eram grossos e
os quadris largos como os de
Teresa um dia foram,
e Laurinda enquanto via a
menina crescer percebia que
aquela era aquilo que um dia
iriam chamar de brasileira,
aquela que é mistura de muitos
povos e que isso a torna um ser
incomum e muito belo.
Mas Laurinda já estava
velha demais e mesmo antes
da menina ter a sua
primeira menstruação,
mesmo antes de alguém cogitar
casamento ou apresentar noivo
Laurinda já começava a fazer o
enxoval bordando
em todas as
toalhas lençóis e camisolas
pequenas corujinhas brancas,
bordava sem se lembrar o
motivo mas às vezes
pensava em uma coruja branca
que havia visto no dia em
que sua mãe morreu.
Não havia ninguém da família
disposto a dar continuidade
na criação da menina e Laurinda
sabia que a sua hora já estava
chegando, ela iria morrer e
não iria ter ninguém ali
para proteger Antônia.
Juntou todo o dinheiro que tinha
e escreveu uma carta para
os parentes da Bahia,
Antônia foi enviada para o
Nordeste para ser criada
por suas primas.
Poucos dias depois da neta ir
embora, Laurinda sentiu uma
dor muito forte no peito
enquanto cozinhava o jantar,
seu joelho fraquejou e ela caiu,
mas algo que deveria ser rápido
como uma queda ao chão
se tornou uma coisa muito diferente
pois naquele momento
Laurinda enquanto caía de costas
rumo a bater o corpo contra o piso
sentiu na verdade um vento
muito forte vindo por debaixo
de seus braços e por um
milésimo de segundo o que
ela viu foi algo surpreendente,
Antônia junto com um grupo
de muitas outras meninas
andando em fila indiana
entrando em um grande casarão,
Antônia vestida com um.uniforme
muito fofo e levando na
mão uma bolsinha cheia
de livros.
Antônia na porta da escola
sentiu um arrepio percorrer
pela coluna e quando
olhou para trás viu
uma coruja voando rasante pelo céu,
ela achou que estava doida
Pois por um segundo ela viu
a cabeça da Coruja se virar
na direção dela e a encarar
nos olhos,
e sem saber o porque ela pensou
em sua avó.
Antônia Teve muita dificuldade
Pois todos diziam que ela
era mulher e que tinha nascido
apenas para lavar, passar, cozinhar
e ter filhos, a própria família
passou a ter se arrependido
de te-la enviado para o colégio
pois haviam colocado para ter
aulas apenas para que pudesse
ser uma melhor companhia
para o futuro marido sabendo
ler livros e escrever com eficiência,
grande decepção para a família
quando Antônia olhou para eles
sorridente e disse que iria fazer
faculdade, queria ir para
Pernambuco para cursar o
magistério e ser professora.
Ninguém quis
mas Laurinda havia deixado
para a neta uma caderneta de
poupança que a permitiu
pagar seus estudos,
então um dia a cidade de Recife
viu descer do Vagão do trem
aquela mocinha vinda para
se formar professora.
E ela se formou e deu aulas,
então ela decidiu que não iria se
casar pois não queria viver
como as outras mulheres
que eram submissas aos
maridos.
Mas uma de suas alunas
não tinha mãe e o pai já estava
adoentado, Antônia então decidiu
adotar aquela criança e ser mãe
sozinha de uma menina
de nome Catarina.
Antônia enfim quando
Catarina finalmente aprendeu a
ler e a escrever ditou a ela
uma história,
uma história que havia ouvido de
sua avó sobre umas mulheres
na África,
umas mulheres chamadas
Iyami Oxorongá.
Catarina escreveu aquilo
e ouviu com muita atenção,
e por fim Antônia sem nem sabe
o porquê pegou o caderno das
mãos da menina ele leu o
texto que havia ditado,
a caligrafia de Catarina
era muito bonita mas o que
mais chamou atenção a
Antônia foi que no final
do texto havia o
desenho de uma coruja
de asas abertas uma coruja
que Antônia jurava que
um dia havia visto na
porta da escola no seu primeiro
dia de aula quando
era criança.
E Catarina cuidou de Antônia
até que um dia tivesse falecido,
então Catarina decidiu ir para o
Rio de Janeiro pois agora a cidade efervescia e seu sonho era
ser cantora nas rádios cariocas,
veio para o Rio mas o sonho
acabou não sendo tão bem-sucedido
quanto ela esperava,
não se tornou famosa mas acabou
sendo muito feliz,
abriu uma escola de
artes, tinha muito talento para a
modelagem em cerâmica,
e um dia Catarina enquanto
moldava uma estátua de
argila sentiu a barriga formigar,
olhou para a estátua e percebeu
que aquilo que ela moldava
era no formato de um pássaro,
E quando olhou para baixo
E viu a barriga entendeu que
Ali vinha uma menina.
Ursulina cresceu vendo a
mãe sendo uma mulher muito
alegre e inteligente mas não
muito religiosa,
Catarina de fato não era chegada
a nenhum credo por mais que
às vezes fosse à missa
apenas por obrigação,
mas Ursulina tinha ouvido falar
de um tal negócio chamado Umbanda,
um culto todo misturado que
parecia ser muito legal.
Catarina não Se animou muito
mas aceitou levar a filha para
conhecer o que era aqui.
Passaram a frequentar os terreiros
até que encontraram um
onde um pai.de santo recebia
um espírito muito diferente,
era um tal preto velho,
e este preto-velho insistia
que Ursulina tinha que trabalhar
com uma entidade.
Ursulina ficou com um pouco de
receio mas aceitou ser
desenvolvida se sua mãe
estivesse presente.
Então um dia dentro
daquele terreiro
Ursulina tremeu seus ombros
inclinou seu corpo,
e Catarina viu a filha se aproximar
dela com trejeitos de outra pessoa,
perguntou quem era aquele espírito
que incorporava ali diante de seus olhos
e o espírito disse que não era um só,
disse que era muita gente,
disse que seu nome era Abiolá,
uma mulher sequestrada na África
e escravizada no Brasil,
mas disse que também ali junto
com Abiolá estava sua filha Maria,
e sua neta Teresa,
e sua bisneta Laurinda e
sua trineta chamada... Antónia.
Após uma conversa com aquela
preta velha Catarina se lembrou
do nome Iyami Oxorongá.
Um dia quando voltava do trabalho
ela se distraiu com o fecho da
bolsa que soltava toda hora,
e ao atravessar a rua não percebeu
que um carro vinha em alta velocidade.
O para-choque bateu no quadril
de Catarina e a jogou para frente
e antes que o seu corpo rolasse
pela rua de paralelepípedos
ela sentiu um vento muito forte
a tomando pelo corpo inteiro e
por um segundo viu
Ursulina andando pelos corredores
da biblioteca pública procura um
livro nas prateleiras.
Ursulina sentiu um arrepio
percorrer pelo corpo e quando
olhou para trás seus olhos
se fixaram na capa de um livro
na prateleira do fundo,
um livro sobre aves de rapina
cuja capa era o desenho de uma
coruja branca.
Chorou muito pela morte
trágica da mãe,
mas as coisas são como são
e Ursulina teve que tocar
a vida sozinha.
Se formou em assistente social e
arranjou um emprego em São Paulo,
quando chegou na famosa
terra da garoa ela ela logo
encontrou um bom rapaz e
com ele se casou, teve então
três filhos sendo a do meio
Uma menina de nome Marcela.
Marcela era muito bonita e tinha
os olhos puxadinhos como os
do pai que era um descendentes
De japoneses, mas mesmo que
a cultura asiática do pai fosse
algo muito forte em casa,
um dia Marcela chegou com
uma história toda doida de que
queria fazer a cabeça no candomblé.
Ursulina não fazia muita ideia
do que era fazer a cabeça,
já tinha ouvido falar mas nunca
teve nenhum contato com
ninguém do Candomblé antes
pois ela vivia apenas dentro
da Umbanda.
Amava tanto sua filha que
permitiu e a levou até o bairro
do Bom Retiro onde encontrou
lá um terreiro no candomblé
onde uma mãe de santo se
propôs a iniciar a menina
para uma orixá de nome Oxum.
No Dia Em Que A menina
estava para ser recolhida aconteceu
uma coisa muito interessante
pois durante todo o trajeto
Ursulina olhava pela janela do
carro e via no céu grandes
pássaros brancos
que seguiam carro.
Então Marcela fez sua iniciação
e tudo como era comum na época,
e os anos se passaram e
Marcela decidiu que sua vocação
era de fato dentro da religião.
Vira e Mexe voltava para casa
com discursos inflamados
sobre a ancestralidade feminina,
e Ursulina certa vez após ouvir
mais um discurso sobre a trajetória
das mulheres e a força delas
pediu que Marcela sentasse
um pouco e enquanto batia uma
massa de bolo ela contou para a
menina uma história que
havia ouvido há muito tempo
atrás e pelo visto percorria as
gerações da família,
uma história com uma
personagem de nome engraçado
chamada Iyami Oxorongá
A mãe de santo de Marcela ficou
muito surpresa quando ela contou
o que o Ursulina tinha dito
a respeito daquilo,
então Marcela foi se formando e se fortalecendo até que ela
mesma se tornou
uma mãe de santo.
Certa vez Ursulina estava dormindo
e teve um sonho muito bonito,
viu Marcela sentada em uma
cadeira em um quintal
e em volta dela uma
roda de meninas, toda com
aquelas saias de baiana,
as meninas sentadas no chão
ouvindo o que Marcela
tinha para falar, e
Marcela contava para elas
uma história sobre Iyami Oxorongá.
Ursulina nunca acordou daquele sono,
sua vida se interrompeu
Enquanto Dormia.
Naquela noite ao acabar de contar
a historia as moças
Marcela olhou para cima e viu
A Coruja branca a observando
Pousada no galho de uma árvore.
Marcela se casou mas
nunca engravidou,
pensou então que sua jornada
na terra não tinha válido tanto
pois não tinha dado continuidade
a sua linhagem,
mas isso era engano pois a
continuidade não se dá apenas
por sangue, a continuidade se dá
também por amor.
Os anos foram passando e
Marcela a se tornou
uma mulher muito idosa e
muito sábia,
e um dia quando sentiu que
sua hora estava chegando
reuniu em.volta de si
Todas aquelas mulheres
as quais chamava de filha,
que eram suas filhas de santo
mas também aquelas que eram
suas filhas do coração.
Dessa vez contou para elas
a história de a Iyami Oxorongá
mas não a história da
mitologia comum,
contou a história de sua família
pois aquelas mulheres agora
também faziam parte de sua linhagem.
Judith, Meire, Carla, Josefa e Rebeca cuidaram de Marcela até o momento
de sua morte e as cinco juntas
ficaram muito impressionados
quando no último suspiro da
mãe de santo ouviram vir do
lado de fora da casa
o som do chirriar de uma coruja.

💐

E você mulher que
está lendo isso
entenda que muita coisa vai
ser falada e muita coisa vai
se dizer sobre Iyami Oxorongá,
mas a verdade é que
Iyami são Todas aquelas que
vieram antes de você,
a verdade mulher é
que Oxorongá também é você.
Talvez você não saiba,
talvez você nem imagine
Mas quando chegar a sua hora
em vez de sentir a dor da morte
você irá sentir um vento
muito forte correndo por
baixo dos seus braços,
e lá do alto você olhará
para as novas mulheres,
lá do alto você olhará por suas filhas,
por suas netas,
por suas sobrinhas,
por suas primas,
lá do alto você olhará por
todas as suas irmãs.
Pois é, Iyami Oxorongá não é
aquilo distante de você.
Mulher, Iyami Oxorongá é você.

💐🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷💐
Relatos e Contos do Axé, Arte e texto por Felipe Caprini
💐🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷💐
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
💐🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷🌷💐
Quer saber sobre os mistérios da vida?
Ouvi descobrir quem são suas entidades?
Venha jogar Tarô comigo!
O jogo custa 35,00 e dá direito a 5 perguntas em até uma hora.
Me chame no whatsapp
11944833724
Ou simplesmente clique no link:
https://wa.me/message/3AXPJWLXRT4QM1