segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Faz muito tempo, ou talvez Nem tanto tempo assim. Bom, foi na época em que Os matutos traçavam as jumentas Por de trás assim ó! — E o que isso tem haver Dona Zureta?

 Faz muito tempo, ou talvez
Nem tanto tempo assim.
Bom, foi na época em que
Os matutos traçavam as jumentas
Por de trás assim ó!


— E o que isso tem haver Dona Zureta?

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Faz muito tempo, ou talvez
Nem tanto tempo assim.
Bom, foi na época em que
Os matutos traçavam as jumentas
Por de trás assim ó!

— E o que isso tem haver Dona Zureta?

Tem TUDO haver!
Nunca despreze as jumentas,
É como desprezar a própria mãe!
Mas eu morava lá nas baixadas
La bem onde o judas perdeu as botas
E o povo fala assim "bah".

— Rio Grande do Sul?

Só Deus sabe que nome a pocilga
tem agora.
Papai era espanhol, sabe, que veio
Da Espanha.

— Sei.

Rico, podre de rico.
E eu tinha uma irmãzinha sabia?
Amava ela, Isabel.
Mas era uma cachorra.
Mas eu não estou falando
que ela latia, só que gostava
de ficar de quatro.

— Ela morreu como?

Não é da sua conta.

— Mas a senhora disse que ia contar a história.

Pois foi? Ta bom.
Morreu sim, mas foi quase um
Suicídio, coitadinha.
Eu estava de casamento marcado
com Franscisco, bom partido,
Duvido que ele traçava jumentas,
Só umas quengas mesmo.
Mas quem pode culpar ele?
Até eu já tracei umas quengas.

— Mas a senhora gosta de mulher?

Tenho horror.

— Mas então como... ah deixa pra lá. Me diz, a senhora se casou?

Quase.
Isabel andava de caso com
Um safado, sabia?
E papai descobriu, pegou
Umas cartas que ela tentou
Mandar para o sacana.
Então papai chamou Gerónimo
e disse "MATA!"

— Quem era Gerónimo?

O matador. Você não ta prestando atenção?

— To sim.

Ta bom.
Geronimo começou a caçar
Quem era o macho de Isabel.
Então papai pegou outra carta
De Isabel onde o safado dizia
Que eles dois iam aproveitar meu
Casamento pra fugir.

— Jesus...

Seja convosco.

— Não, eu quis dizer "que horror".

Ta bom.
Então papai chegou em casa
E disse assim
"Fátima, no dia do casamento vou matar o canalha!"

— E quem é Fátima.

Uma santa.

— Não, eu perguntei com quem seu pai falou aquilo de matar o canalha.

Oxi, falou comigo.

— Nossa Zureta, seu nome era Fátima?

Como você sabe?

— Deixa pra lá. Como foi o casamento?

Ah tá... no dia do casamento
papai mandou o jagunço ficar
de tocaia para sentar a bala
Quando o vagabundo desse as caras.
E eu? Eu virei no Oxalá.

— Como assim?

De branco.

— Ah... de vestido de noiva?

Isso, linda de branco.
E ai eu entrei na igreja e vi
O povo me olhando estranho,
E eu percebi que Francisco não
tava no altar.
BUM!

— Bum?

O som do tiro.
Deram um tiro em Franscisco atras
da igreja.
Ele era o safado que andava
se enfiando nas calcinhas de Isabel.
E eu corri pra lá quando ouvi
minha irmãzinha gritando.
Papai tava lá berrando com Gerónimo,
"Mato o noivo! Mato o noivo!"
E o Gerónimo dizendo que o noivo
Era o sacana.

— Meu Deus.

Só seu?

— Não, quis dizer que a situação era triste.

E era mesmo, Isabel tava caída
abraçada no defunto e chorando...
Nossa mas que choro doído...
E eu ali de noiva vendo a minha
irmã chorando pelo meu noivo
Que no caso era macho dela.

— O que a senhora fez?

Perguntei "Maria Isabel, você era quenga dele?"
E a piranha ficou em pé
toda assanhada dizendo que
Ela amava o Francisco de verdade
e eu não.
Então... BUM.

— Bum? De tiro?

Nossa, agora que você falou eu
Me lembro que atiraram em Isabel.

— Quem atirou?

Eu.
Gerónimo bobeou, tinha na mão
a espingarda carregada,
Puxei, mirei e BUM!
A testa de Isabel ficou igual a parte
De Trás do pai de santo?

— Como?

Arrombada.

— Nossa, ela morreu na hora?

Na hora.
Aí papai me deu uma coronhada
E eu apaguei.
Nao sei porque ele fez aquele violência
Comigo.

— Mas... Mas dona Zureta, a senhora matou a filha dele ali... na frente dele.

Ah... foi mesmo.
Papai sempre foi melindroso com
Essas coisas.
Mas depois daquele dia fiquei
Meio ruim da cabeça.
Antes eu era uma graça de moça
Mas depois o povo tinha medo
de mim, chegavam ao cúmulo de
Dizer que eu tinha ficado doida.
Piorou muito quando eu ia visitar
O túmulo de papai...

— Espera ai, seu pai morreu? Como?

Eu acabei de falar que depois de
Me dar a coronhada ele teve um
Mal no peito e morreu do coração.

— Coitado.

Coitado é filho de rato
Que nasce pelado no meio do mato.

— Falo do sofrimento do seu pai.

Nossa, agora que você falou
penso que ele sofreu sim.
Mas o bom dele morto era que
Sem nenhum parente por perto
Todo o dinheiro era meu.
Fiquei igual a rainha de ouros,
Muito rica.

— Mas não sofreu punição por ter matado a irmã?

Eu era rica, rico não vai pra cadeia.
Fiquei de boa.
Mas ai começou a juntar homem
Na porta da minha casa.

— Porque?

Pra me pedir em Casamento.
Bonita, novinha e rica,
Tinha um monte me querendo.
Mas o problema era a raiva
Que eu tinha do Francisco.
Eu tinha ódio dele.
E ai veio um ruivo, um
Homem grande feito
O Francisco era.
Ele veio tomar chá comigo
para peguntar se eu queria
Noivar com ele.
E....e.... que horror!

— O que foi um horror?

Tinha ele sentado na poltrona,
A velha da cozinha trouxe
a bandeja de chá com
pão e com geleia....
E tinha uma faca.
E eu passei a faca na geleia vermelha,
E passei no pão.
De repente francisco tava ali
Sentado na poltrona,
Ele me chamou de vadia e de...
E de...

— Do que?

Ele me chamou de maluca.

Então eu pisquei os olhos
Um segundo.
Eu tava toda cheia de geleia nos
Braços e no vestido,
E eu... eu tava ali montada
Em cima do ruivo, no chão!
E a faca entrava e saia do
Peito dele muitas vezes,
E eu gritava alto e a faca...
Ela tava na minha mão!

— A senhora matou o ruivo?

Onze. Matei onze homens no Sul.
Com faca, com facão, com baioneta...
Eu matava e tentava esconder,
Mas eu não sabia esconder.
A guarda da colónia veio
E cobrava suborno, se eu não
pagasse eles iam me por na forca.
Paguei onze vezes.
E eu sabia que eu... que eu não tava bem.
Então matei a Coxa.

— A sua coxa? Como assim?

Era a velha cozinheira,
Mancava duma perna.
Ela me desacatava! Ela mereceu!
Sabe o que ela dizia?

— O quê?

O quê o quê?

— O que a velha Coxa dizia?

Ah ta, ela disse que eu ficava
Arregalando os olhos do nada,
Que eu ficava falando sozinha,
Que eu andava pelada pela casa,
Que eu rosnava feito cão a noite.
Era mentira dela!
Então eu peguei ela no dia
Que tava lavando roupa na tina
No terreiro do fundo.
Eu meti a cabeça dela no balde
De água e gritei
"Mente de novo Coxa!"
Mas ela nunca mais mentiu.
E ela lutou muito mas eu
Fiz ela se aquietar.
Ai eu vi ela lá
parada com a cabeça dentro
Do balde.
Eu sabia que a guarda ia vir,
Mas eu não tinha mais dinheiro
Pra pagar suborno.

— E eles te prenderam?

Não, eu fugi.
Peguei o dinheiro que tinha
e subi de navio pra capital.
Mas so a passagem me custou
Tudo o que eu tinha.

— Capital era o Rio de Janeiro?

Pois se era, era.
E lá eu não tinha dinheiro pra nada.

— E o que a senhora fez?

Virei quenga.
Quengava bem, era bonita.
Foi parar num bordel,
E eu tava bem mas...
Mas lá as quengas não confiavam em mim.
Diziam que eu era Zureta.
Ai pegou a mania de me chamar assim.
Só que um dia
um soldado me chamou
Pra ir pro quarto.
Tirou a camisa e deitou na cama,
E tinha um peito branco e liso.
Um peito liso demais.
E eu montei em cima dele
E não aguentei,
Tinha de furar aquele peito todo!

— E furou?

Com a faca que eu tinha roubado
da cozinha.
Furei até o soldado parar de gritar.
E ai Quebraram a porta do quarto
e me pegaram ainda fincando a faca...

— Quem te pegou?

Os outros soldados.
Me levaram e me prenderam,
E me reconheceram.
E me botaram um colar
De corda no pescoço
E eu morri pendurada no meio
da praça.
O vento batia eu parecia
um pêndulo de relógio,
Balançando no ar...

— E depois que morreu... o que aconteceu?

Não deixaram eu sair daqui,
Da terra dos vivos.
Disseram que eu sou quebrada,
Que sou como uma boneca
de porcelana com a cabeça rachada.

— Quem disse isso?

Os brilhantes.
E ai me deram pra aquele mulher
Horrorosa tomar conta.

— Que mulher é essa?

Maria Mulambo.
E ela disse que se eu trabalhar
feito ela eu vou tomar jeito
E vão me deixar sair daqui.
Então eu trabalho sabe...
Mas eu só trabalho junto
Com aqueles que tem a cabeça
igual a minha.
E eu to por ai, e eu acho que
Já melhorei muito.

— Com Certeza, afinal depois que encontrou a Mulambo a senhora nunca mais matou ninguém.

Hum... Me trás lá uma taça de vinho?

— Espera, a senhora não matou mais ninguém, né?

Vá lá pegar minha bebida, vá!

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O povo que trabalha com Zureta jura de pé junto que nem eles e nem ela são doidos. Então não os contrariem quando eles disserem isso, eles não reagem bem quando são contrariados.
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Memórias de Terreiro, Arte e texto por Felipe Caprini
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Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
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