Me chamo Sueli ,
sou chefe de terreiro de umbanda
Eu tenho um centro aberto já há
Vinte e dois anos
"Não julgueis para não serdes julgados"
Me chamo Sueli ,
sou chefe de terreiro de umbanda
Eu tenho um centro aberto já há
Vinte e dois anos,
e com ele atendo através
de estar incorporada com
as minhas entidades,
e acabei ficando até
muito conhecida na minha região
devido a minha entidade principal
que é Dona Rosa Negra.
A história que eu vou
contar a vocês aconteceu
há pouco tempo atrás
quando eu já trabalhava
com ela há 20 anos.
Todo dia de terça-feira
no meu terreiro é dia de trabalhar
com a esquerda na questão
de fazer consultas,
então eu e meus filhos de Santo
recebemos nossos exus
e pombagiras para atender
o povo.
No meu caso eu tenho
a incorporação inconsciente
E então não consigo me lembrar
de nada que aconteceu quando
estava com a pombagira
no meu corpo,
por isso no final de
uma noite de atendimento
qual não foi a grande surpresa
quando após Dona Rosa Negra
ter saído de meu corpo eu fui
até o salão cumprimentar
as pessoas que
ainda estavam lá
e sentado em um
dos bancos estava Fernando.
Fernando era um rapaz
que eu conhecia já a
longa a data,
um rapaz que havia recentemente
saído da cadeia.
Fernando foi o rapaz
que matou a minha filha.
Sete anos antes ele vinha bêbado
dirigindo o carro enquanto
minha filha chegava
em casa do trabalho.
Minha Milena tinha só
dezenove anos e voltava à noite
feliz após ter passado um dia inteiro
no seu estágio como professora
em uma escola pública,
me lembro de eu estar ali
na porta do terreiro passando
uma vassoura na calçada
e sorrir para minha filha
que vinha atravessando a rua.
Um passo que ela deu e o carro
Numa velocidade absurda a pegou,
e minha filha morreu ali
caída no asfalto frio na noite,
morreu na minha frente.
Fernando bateu o carro
Em um poste logo em seguida
E mal ficava em pé de tão
Embriagado, por isso acabou
escapando de ser linchado
pela vizinhança.
Ele foi preso e respondeu por
homicídio culposo,
quando não há intenção de matar.
Passou apenas sete anos preso
E então estava ali na minha frente
na minha casa.
Na hora que bati meus olhos nele
não me segurei e avancei sobre ele,
unhei a cara dele toda
e gritava que eu iria matá-lo!
Meus filhos de santo que
me seguraram porque senão
eu teria sim tirado
a vida daquele homem.
E grande foi a minha surpresa também
quando a cambona da minha casa
me disse que Fernando
estava ali para falar comigo
pois ele havia acabado de passar
por um atendimento
com Rosa Negra.
Achei aquilo a coisa
mais horrorosa do mundo,
como podia a minha Entidade
ter feito isso?
Como podia ela ter atendido
aquele desgraçado através
do meu corpo?
Mas todos ali confirmaram
que sim,
que ele foi atendido
em uma longa consulta
e que ela havia pedido
para ele ficar para falar comigo.
Então eu não quis escutar
o que ele tinha para me dizer,
O empurrei para fora e o
joguei na rua e disse
que ele nunca mais
podia entrar na minha casa.
Meu ódio era tanto que
eu nem me despedi do Povo
apenas subi para a parte de cima
onde eu morava,
tranquei minha porta e fiquei lá
amaldiçoando a vida
daquele homem.
Uma semana se passou
e terça-feira chegou novamente
Então pedi que a cambone
desse um recado a Rosa Negra
dizendo que ela não deveria
receber os meus inimigos
na minha casa.
Quando eu acordei após
horas incorporada fui informada
pela própria cambone
de que Rosa Negra tinha dito
que eu era hipócrita
e que ela iria fazer tudo
o que quisesse fazer.
Não entendi o motivo de ter
me chamado de hipócrita
mas fiquei enfurecida
quando a cambone me informou
que novamente naquela noite
Fernando esteve lá
e que fez um trabalho espiritual
com Rosa Negra,
alguma coisa a ver com
desobsessão e encostos
Que ele tinha pego no presídio.
Ao saber daquilo eu
espumei de ódio
em saber que ali dentro
da minha casa a minha autoridade
não estava sendo respeitada
e que meu pior inimigo
no mundo estava frequentando
lá como se fosse
a coisa mais normal de se fazer.
No dia seguinte eu
chamei Marta, que é a cambone,
para me ajudar a trazer Rosa Negra
apenas com a intenção de que
a cambone avisasse ela
de que se fosse
para ser desrespeitada
então que eu não queria
mais nem terreiro aberto
nem pombagira nem coisa nenhuma.
Desci para o salão e lá M
arta chamou Rosa Negra em mim
mas em vez de incorporar
eu acabei caindo desmaianda.
Talvez aquilo até tenha sido
uma incorporação,
porém durante aquele desmaio
que durou alguns minutos
eu acabei tendo um sonho
ou talvez até uma visão.
Eu me via segurando nas barras
De uma grade de um portão
como se eu estivesse dentro
de uma casa olhando para a rua.
Vi uma Procissão de pessoas
passar pela rua
então entre elas uma carroça
puxada por um burrinho.
Na carroça não ia
ninguém sentado pois o burrinho
era puxado pelas rédeas
por um homem que ia a pé
na frente dele,
mas o mais interessante
é que na carroça estava um caixão.
Aquilo era um cortejo fúnebre.
Nessa visão eu me sentia
muito, muito triste
mas não triste pela morte
mas um outro tipo de tristeza estranha.
Parecia triste comigo mesma.
Quando acordei a sensação
foi tão pesada que eu acabei
não dizendo mais nada,
apenas pedi para Marta
me ajudar a tomar
um banho de sal grosso
e fui me deitar.
Mais uma semana se passou
e chegou novamente a terça-feira
Só que nesse dia eu não
me arrumei,
não tomei banho para
limpar o corpo
nem coisa nenhuma
pois a minha intenção
não era incorporar com Rosa Negra
pois eu sabia que Fernando
iria lá naquele dia para
falar com ela
e quando ele entrasse no quarto
de atendimento ele iria
se deparar comigo
e ia ter o que merecia.
Fiquei lá vestida com
roupas normais
de calça jeans e camiseta
esperando ele entrar.
O quarto que eu atendo
com Rosa Negra tem uma
grande cadeira de palha
onde ela se senta e
uma mesinha ao lado aonde
tem uma bola de cristal.
Só que a bola de cristal e toda
aquela parafernália que
eu coloco ali é muito mais
um enfeite para deixar
a sala bonita pois Roda Negra
jamais me disse que queria u
m negócio daqueles
E pelo que eu soube
Ela jamais nem colocou
a mão nos enfeites que tinha ali.
Esse quarto que eu atendo
não tem iluminação elétrica
pois ela não gosta,
tem apenas velas espalhadas
por castiçais parafusados
nas paredes,
então eu ali no meu nervosismo
e agitação acendi as velas
só para não ficar no escuro
e esperei até que
o rapaz entrasse.
Mas ele não entrou.
Porém após algum tempo
a porta do quarto se abriu
e quando eu Fiquei em pé
já pronta para descer o cacete
em que entrasse,
todas as velas imediatamente
se apagaram que eu fiquei
ali numa penumbra estranha
onde a única luz que entrava
era uma luz amarela que vinha
do poste de iluminação
da rua e que entrava pelas
janelas entre abertas.
Na hora eu senti um arrepio gelado
percorrer por todo o meu corpo
e mesmo que minha mente
me dissesse que eu estava
ficando louca,
naquele exato segundo
eu sabia quem é que tinha
entrado naquele quarto.
A mulher estava lá
e deu alguns passos
na minha direção,
branca como um cadáver
com os seus olhos enormes e azuis,
ela era linda e aterrorizante,
Uma mulher a cujo eu
Poderia admirar e ao mesmo tempo
Me desesperar.
Ela Manteve o rosto numa
expressão gélida,
E com seus lábios totalmente parados
inda assim ouvi a voz,
uma voz melodiosa de mulher
que me perguntou:
— O que é que você quer com aquele rapaz?
E eu meio gaguejando
e já me tremendo um pouco respondi:
— E-eu quero matar ele.
— E por que?
— Porque? Por que aquele que mata por covardia merece morrer!
E aí a reação dela na minha frente
foi muito, muito assustadora
pois ela abriu um sorriso
e deu um Passo Largo
na minha direção
e quando eu dei por mim
senti o gelado do metal
de uma lâmina no meu pescoço.
Então ela disse novamente
sem mexer os lábios:
— Então você merece morrer, sua covarde!
Eu não entendi do que é
que ela estava falando
mas então a bola de cristal
que estava do meu lado brilhou
como se ela fosse
uma lanterna acesa
ou como se houvesse se
tornado uma lâmpada,
e quando eu inclinei o meu rosto
para olhar para a bola,
refletida nela eu vi a mesma mulher
que estava ali com a lâmina
no meu pescoço,
porém ela estava muito diferente,
na bola de cristal ela apareceu
com a pele rosada e feições
muito agradáveis de
uma mulher viva,
então quando eu pisquei
os meus olhos eu senti um
tranco no corpo e de repente
olhei para as minhas próprias mãos
e me vi vestida com uma roupa
estranha de época,
um vestidão daqueles que
a gente vê em novela.
Quando olhei para frente
me assustei porque
não estava mais no meu quarto,
de repente me vi caminhando
por um corredor
enquanto enxugava as mãos
no vestido e corri até abrir
um portão que deu de cara
para rua mas que claramente
não era a entrada principal
daquela casa que eu estava
e sim parecia ser a
porta dos fundos de algum casarão.
Havia um homem ali encostado
no portão,
me aproximei dele e ele não
me disse nada apenas
me entregou dois envelopes,
um grande e um pequeno,
no grande havia um papel
Todo escrito em um português
muito diferente
mas que eu conseguia entender
como a permissão para fazer
um resgate no banco,
algo como sacar um
bom dinheiro de uma conta,
e o outro envelope quando
eu abri tinha apenas
um pó preto parecendo
pimenta Moída.
Ele rapidamente foi embora
correndo pela rua
como se estivesse fugindo
e eu virei as costas e
Entrei novamente na casa
escondendo os envelopes
nos bolsos daquela
saia enorme que usava.
Então naquele corredor
Entrei em uma porta que
deu para uma
cozinha muito antiga
com fogão a lenha e tudo mais.
Eu estava preparando mingau
e chá pois era de manhã.
Minhas mãos suavam
de nervoso e eu tremi
quando uma voz atrás de mim falou:
— Nossa, você acordou cedo Matilde, fez até o café da manhã? Devia ter me acordado para te ajudar.
Virei de costas de lá estava ela,
vestida em um hobby de seda.
Ela Sentou na mesa da cozinha
e eu levei para ela
a tigela de mingau,
sorri e tivemos um tipo
de conversa fiada
então voltei para o fogão
e continuei mexendo o Mingau
só que percebendo que
ela estava distraída
bebendo o chá e folheando
as páginas do livro
eu tirei do bolso da minha saia
o envelope pequeno e derramei
seu conteúdo ali dentro.
— O que você está fazendo aí?
Eu respondi que
estava fazendo um mingau
para mim que era
temperado com canela.
E o meu peito pareceu desmoronar
quando ela me disse que
queria comer do Mingau com canela.
Eu sorri para ela fui lá
e apanhei a tingela de mingau
que havia servido
E servi um novo Mingau
em uma nova tigela,
Aquele temperado com o pó preto.
Coloquei diante dela e
na primeira colherada
ela me disse que estava
uma delícia
como tudo o que eu fazia.
Conversamos um pouco
então passado alguns minutos
ela apareceu ter uma tontura
e quase caiu da cadeira,
estava com falta de ar.
Ajudei a ir para o quarto
e a deitei na cama.
Então sai do quarto dizendo
que iria buscar
um copo de água para ela.
De repente minha visão mudou
e pareceu ter adiantado em dias
e novamente eu estava agarrada
naquele portão vendo
aquela procissão passar
com a carroça levando
um caixão,
e eu sabia que aquele caixão
era o dela.
Pisquei os olhos e estava novamente
no quarto de atendimentos
com Rosa Negra diante de mim
com a faca no meu pescoço.
— A vida é engraçada não é Matilde? Esse não é mais o seu nome, mas naquele tempo eu te tirei da rua e te dei um emprego na minha casa. Você se prostituía por comida em um beco eu te dei um emprego que te pagava dez vezes mais do que os bêbados te davam para te usar. E na primeira oferta que te deram você me traiu. Você me matou dentro da minha própria casa com a minha própria comida. A falange da Rosa Negra é um jardim minha querida onde todas nós ali dentro somos as flores do ódio.
Eu estava totalmente em choque
e não sabia o que dizer
então ela me perguntou:
— Você ainda concorda que aquele que mata por covardia merece morrer?
Eu só balancei a minha cabeça em negativa.
— Eu fiz isso contigo?
— Em outra época. Em outra vida.
— A senhora não pode me castigar por algo que eu nem me lembro que fiz!
Então o som da voz de Fernando
ecoou pela sala com
um tom de desespero.
"Você não pode me condenar por um crime que eu não lembro que cometi"
E reconheci aquela fala,
aquilo ele disse muitos anos atrás
diante do juiz no dia
que foi condenado pela morte
de minha filha.
— se você não quer ser castigada pelos seus crimes, o mesmo perdão que deseja para si vai ter que dar aos seus iguais. Eu trouxe ele aqui de propósito. Eu não vou atender ninguém hoje é você que vai, e vai ter atender sorrindo, entendeu?
Então ela jogou a faca
que apontava para
o meu pescoço no chão
e eu dei um salto de susto
só que quando dei por mim
eu estava sentada
na cadeira de palha e percebi
que havia adormecido.
Então tudo aquilo devia ter sido
apenas um sonho.
Mas quando olhei para o chão
aquela faca estava lá.
Não sei se era sonho mas meu coração
Estava cheio de medo.
Marta bateu na porta do quarto
e disse que Fernando estava ali.
Respirei fundo e pedi
para ela esperar um momento
e fiquei pensando no que fazer.
No fim mandei que
ela deixasse ele entrar,
e eu o atendi e fiz todos
os trabalhos espirituais
que ele precisava.
E até hoje eu atendo
Pois ele acabou se tornando
um dos filhos da minha casa.
Com Dona Rosa Negra eu
Continuo trabalhando bem
mas até hoje eu entendo
porque ela vem em mim
mas raramente fala comigo.
Ela tem uma missão
com a minha vida
e eu uma missão com ela,
mas eu compreendo que
o mesmo sentimento
que eu tenho por Fernando
é o sentimento que
ela tem por mim.
Como dizia minha avó,
quem cospe para cima
acaba com cuspe na testa.
A gente não pode apontar
o dedo para os outros
porque muitas vezes
nós somos piores do que os outros
e não nos damos conta.
A minha missão espiritual
Estou cumprindo mesmo
com o coração apertado
e com todo o
sentimento contraditório
que eu tenho.
E Rosa Negra sendo
a mulher que é também está
cumprindo a dela e eu sei
que para ela eu sou um fardo
Mas as coisas são como são
e as dívidas e as missões
precisam ser pagas e concluídas,
e assim será.
Que Rosa Negra seja louvada
todos os dias e que
eu conte sempre com o seu perdão.
Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
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Me chamo Sueli ,
sou chefe de terreiro de umbanda
Eu tenho um centro aberto já há
Vinte e dois anos,
e com ele atendo através
de estar incorporada com
as minhas entidades,
e acabei ficando até
muito conhecida na minha região
devido a minha entidade principal
que é Dona Rosa Negra.
A história que eu vou
contar a vocês aconteceu
há pouco tempo atrás
quando eu já trabalhava
com ela há 20 anos.
Todo dia de terça-feira
no meu terreiro é dia de trabalhar
com a esquerda na questão
de fazer consultas,
então eu e meus filhos de Santo
recebemos nossos exus
e pombagiras para atender
o povo.
No meu caso eu tenho
a incorporação inconsciente
E então não consigo me lembrar
de nada que aconteceu quando
estava com a pombagira
no meu corpo,
por isso no final de
uma noite de atendimento
qual não foi a grande surpresa
quando após Dona Rosa Negra
ter saído de meu corpo eu fui
até o salão cumprimentar
as pessoas que
ainda estavam lá
e sentado em um
dos bancos estava Fernando.
Fernando era um rapaz
que eu conhecia já a
longa a data,
um rapaz que havia recentemente
saído da cadeia.
Fernando foi o rapaz
que matou a minha filha.
Sete anos antes ele vinha bêbado
dirigindo o carro enquanto
minha filha chegava
em casa do trabalho.
Minha Milena tinha só
dezenove anos e voltava à noite
feliz após ter passado um dia inteiro
no seu estágio como professora
em uma escola pública,
me lembro de eu estar ali
na porta do terreiro passando
uma vassoura na calçada
e sorrir para minha filha
que vinha atravessando a rua.
Um passo que ela deu e o carro
Numa velocidade absurda a pegou,
e minha filha morreu ali
caída no asfalto frio na noite,
morreu na minha frente.
Fernando bateu o carro
Em um poste logo em seguida
E mal ficava em pé de tão
Embriagado, por isso acabou
escapando de ser linchado
pela vizinhança.
Ele foi preso e respondeu por
homicídio culposo,
quando não há intenção de matar.
Passou apenas sete anos preso
E então estava ali na minha frente
na minha casa.
Na hora que bati meus olhos nele
não me segurei e avancei sobre ele,
unhei a cara dele toda
e gritava que eu iria matá-lo!
Meus filhos de santo que
me seguraram porque senão
eu teria sim tirado
a vida daquele homem.
E grande foi a minha surpresa também
quando a cambona da minha casa
me disse que Fernando
estava ali para falar comigo
pois ele havia acabado de passar
por um atendimento
com Rosa Negra.
Achei aquilo a coisa
mais horrorosa do mundo,
como podia a minha Entidade
ter feito isso?
Como podia ela ter atendido
aquele desgraçado através
do meu corpo?
Mas todos ali confirmaram
que sim,
que ele foi atendido
em uma longa consulta
e que ela havia pedido
para ele ficar para falar comigo.
Então eu não quis escutar
o que ele tinha para me dizer,
O empurrei para fora e o
joguei na rua e disse
que ele nunca mais
podia entrar na minha casa.
Meu ódio era tanto que
eu nem me despedi do Povo
apenas subi para a parte de cima
onde eu morava,
tranquei minha porta e fiquei lá
amaldiçoando a vida
daquele homem.
Uma semana se passou
e terça-feira chegou novamente
Então pedi que a cambone
desse um recado a Rosa Negra
dizendo que ela não deveria
receber os meus inimigos
na minha casa.
Quando eu acordei após
horas incorporada fui informada
pela própria cambone
de que Rosa Negra tinha dito
que eu era hipócrita
e que ela iria fazer tudo
o que quisesse fazer.
Não entendi o motivo de ter
me chamado de hipócrita
mas fiquei enfurecida
quando a cambone me informou
que novamente naquela noite
Fernando esteve lá
e que fez um trabalho espiritual
com Rosa Negra,
alguma coisa a ver com
desobsessão e encostos
Que ele tinha pego no presídio.
Ao saber daquilo eu
espumei de ódio
em saber que ali dentro
da minha casa a minha autoridade
não estava sendo respeitada
e que meu pior inimigo
no mundo estava frequentando
lá como se fosse
a coisa mais normal de se fazer.
No dia seguinte eu
chamei Marta, que é a cambone,
para me ajudar a trazer Rosa Negra
apenas com a intenção de que
a cambone avisasse ela
de que se fosse
para ser desrespeitada
então que eu não queria
mais nem terreiro aberto
nem pombagira nem coisa nenhuma.
Desci para o salão e lá M
arta chamou Rosa Negra em mim
mas em vez de incorporar
eu acabei caindo desmaianda.
Talvez aquilo até tenha sido
uma incorporação,
porém durante aquele desmaio
que durou alguns minutos
eu acabei tendo um sonho
ou talvez até uma visão.
Eu me via segurando nas barras
De uma grade de um portão
como se eu estivesse dentro
de uma casa olhando para a rua.
Vi uma Procissão de pessoas
passar pela rua
então entre elas uma carroça
puxada por um burrinho.
Na carroça não ia
ninguém sentado pois o burrinho
era puxado pelas rédeas
por um homem que ia a pé
na frente dele,
mas o mais interessante
é que na carroça estava um caixão.
Aquilo era um cortejo fúnebre.
Nessa visão eu me sentia
muito, muito triste
mas não triste pela morte
mas um outro tipo de tristeza estranha.
Parecia triste comigo mesma.
Quando acordei a sensação
foi tão pesada que eu acabei
não dizendo mais nada,
apenas pedi para Marta
me ajudar a tomar
um banho de sal grosso
e fui me deitar.
Mais uma semana se passou
e chegou novamente a terça-feira
Só que nesse dia eu não
me arrumei,
não tomei banho para
limpar o corpo
nem coisa nenhuma
pois a minha intenção
não era incorporar com Rosa Negra
pois eu sabia que Fernando
iria lá naquele dia para
falar com ela
e quando ele entrasse no quarto
de atendimento ele iria
se deparar comigo
e ia ter o que merecia.
Fiquei lá vestida com
roupas normais
de calça jeans e camiseta
esperando ele entrar.
O quarto que eu atendo
com Rosa Negra tem uma
grande cadeira de palha
onde ela se senta e
uma mesinha ao lado aonde
tem uma bola de cristal.
Só que a bola de cristal e toda
aquela parafernália que
eu coloco ali é muito mais
um enfeite para deixar
a sala bonita pois Roda Negra
jamais me disse que queria u
m negócio daqueles
E pelo que eu soube
Ela jamais nem colocou
a mão nos enfeites que tinha ali.
Esse quarto que eu atendo
não tem iluminação elétrica
pois ela não gosta,
tem apenas velas espalhadas
por castiçais parafusados
nas paredes,
então eu ali no meu nervosismo
e agitação acendi as velas
só para não ficar no escuro
e esperei até que
o rapaz entrasse.
Mas ele não entrou.
Porém após algum tempo
a porta do quarto se abriu
e quando eu Fiquei em pé
já pronta para descer o cacete
em que entrasse,
todas as velas imediatamente
se apagaram que eu fiquei
ali numa penumbra estranha
onde a única luz que entrava
era uma luz amarela que vinha
do poste de iluminação
da rua e que entrava pelas
janelas entre abertas.
Na hora eu senti um arrepio gelado
percorrer por todo o meu corpo
e mesmo que minha mente
me dissesse que eu estava
ficando louca,
naquele exato segundo
eu sabia quem é que tinha
entrado naquele quarto.
A mulher estava lá
e deu alguns passos
na minha direção,
branca como um cadáver
com os seus olhos enormes e azuis,
ela era linda e aterrorizante,
Uma mulher a cujo eu
Poderia admirar e ao mesmo tempo
Me desesperar.
Ela Manteve o rosto numa
expressão gélida,
E com seus lábios totalmente parados
inda assim ouvi a voz,
uma voz melodiosa de mulher
que me perguntou:
— O que é que você quer com aquele rapaz?
E eu meio gaguejando
e já me tremendo um pouco respondi:
— E-eu quero matar ele.
— E por que?
— Porque? Por que aquele que mata por covardia merece morrer!
E aí a reação dela na minha frente
foi muito, muito assustadora
pois ela abriu um sorriso
e deu um Passo Largo
na minha direção
e quando eu dei por mim
senti o gelado do metal
de uma lâmina no meu pescoço.
Então ela disse novamente
sem mexer os lábios:
— Então você merece morrer, sua covarde!
Eu não entendi do que é
que ela estava falando
mas então a bola de cristal
que estava do meu lado brilhou
como se ela fosse
uma lanterna acesa
ou como se houvesse se
tornado uma lâmpada,
e quando eu inclinei o meu rosto
para olhar para a bola,
refletida nela eu vi a mesma mulher
que estava ali com a lâmina
no meu pescoço,
porém ela estava muito diferente,
na bola de cristal ela apareceu
com a pele rosada e feições
muito agradáveis de
uma mulher viva,
então quando eu pisquei
os meus olhos eu senti um
tranco no corpo e de repente
olhei para as minhas próprias mãos
e me vi vestida com uma roupa
estranha de época,
um vestidão daqueles que
a gente vê em novela.
Quando olhei para frente
me assustei porque
não estava mais no meu quarto,
de repente me vi caminhando
por um corredor
enquanto enxugava as mãos
no vestido e corri até abrir
um portão que deu de cara
para rua mas que claramente
não era a entrada principal
daquela casa que eu estava
e sim parecia ser a
porta dos fundos de algum casarão.
Havia um homem ali encostado
no portão,
me aproximei dele e ele não
me disse nada apenas
me entregou dois envelopes,
um grande e um pequeno,
no grande havia um papel
Todo escrito em um português
muito diferente
mas que eu conseguia entender
como a permissão para fazer
um resgate no banco,
algo como sacar um
bom dinheiro de uma conta,
e o outro envelope quando
eu abri tinha apenas
um pó preto parecendo
pimenta Moída.
Ele rapidamente foi embora
correndo pela rua
como se estivesse fugindo
e eu virei as costas e
Entrei novamente na casa
escondendo os envelopes
nos bolsos daquela
saia enorme que usava.
Então naquele corredor
Entrei em uma porta que
deu para uma
cozinha muito antiga
com fogão a lenha e tudo mais.
Eu estava preparando mingau
e chá pois era de manhã.
Minhas mãos suavam
de nervoso e eu tremi
quando uma voz atrás de mim falou:
— Nossa, você acordou cedo Matilde, fez até o café da manhã? Devia ter me acordado para te ajudar.
Virei de costas de lá estava ela,
vestida em um hobby de seda.
Ela Sentou na mesa da cozinha
e eu levei para ela
a tigela de mingau,
sorri e tivemos um tipo
de conversa fiada
então voltei para o fogão
e continuei mexendo o Mingau
só que percebendo que
ela estava distraída
bebendo o chá e folheando
as páginas do livro
eu tirei do bolso da minha saia
o envelope pequeno e derramei
seu conteúdo ali dentro.
— O que você está fazendo aí?
Eu respondi que
estava fazendo um mingau
para mim que era
temperado com canela.
E o meu peito pareceu desmoronar
quando ela me disse que
queria comer do Mingau com canela.
Eu sorri para ela fui lá
e apanhei a tingela de mingau
que havia servido
E servi um novo Mingau
em uma nova tigela,
Aquele temperado com o pó preto.
Coloquei diante dela e
na primeira colherada
ela me disse que estava
uma delícia
como tudo o que eu fazia.
Conversamos um pouco
então passado alguns minutos
ela apareceu ter uma tontura
e quase caiu da cadeira,
estava com falta de ar.
Ajudei a ir para o quarto
e a deitei na cama.
Então sai do quarto dizendo
que iria buscar
um copo de água para ela.
De repente minha visão mudou
e pareceu ter adiantado em dias
e novamente eu estava agarrada
naquele portão vendo
aquela procissão passar
com a carroça levando
um caixão,
e eu sabia que aquele caixão
era o dela.
Pisquei os olhos e estava novamente
no quarto de atendimentos
com Rosa Negra diante de mim
com a faca no meu pescoço.
— A vida é engraçada não é Matilde? Esse não é mais o seu nome, mas naquele tempo eu te tirei da rua e te dei um emprego na minha casa. Você se prostituía por comida em um beco eu te dei um emprego que te pagava dez vezes mais do que os bêbados te davam para te usar. E na primeira oferta que te deram você me traiu. Você me matou dentro da minha própria casa com a minha própria comida. A falange da Rosa Negra é um jardim minha querida onde todas nós ali dentro somos as flores do ódio.
Eu estava totalmente em choque
e não sabia o que dizer
então ela me perguntou:
— Você ainda concorda que aquele que mata por covardia merece morrer?
Eu só balancei a minha cabeça em negativa.
— Eu fiz isso contigo?
— Em outra época. Em outra vida.
— A senhora não pode me castigar por algo que eu nem me lembro que fiz!
Então o som da voz de Fernando
ecoou pela sala com
um tom de desespero.
"Você não pode me condenar por um crime que eu não lembro que cometi"
E reconheci aquela fala,
aquilo ele disse muitos anos atrás
diante do juiz no dia
que foi condenado pela morte
de minha filha.
— se você não quer ser castigada pelos seus crimes, o mesmo perdão que deseja para si vai ter que dar aos seus iguais. Eu trouxe ele aqui de propósito. Eu não vou atender ninguém hoje é você que vai, e vai ter atender sorrindo, entendeu?
Então ela jogou a faca
que apontava para
o meu pescoço no chão
e eu dei um salto de susto
só que quando dei por mim
eu estava sentada
na cadeira de palha e percebi
que havia adormecido.
Então tudo aquilo devia ter sido
apenas um sonho.
Mas quando olhei para o chão
aquela faca estava lá.
Não sei se era sonho mas meu coração
Estava cheio de medo.
Marta bateu na porta do quarto
e disse que Fernando estava ali.
Respirei fundo e pedi
para ela esperar um momento
e fiquei pensando no que fazer.
No fim mandei que
ela deixasse ele entrar,
e eu o atendi e fiz todos
os trabalhos espirituais
que ele precisava.
E até hoje eu atendo
Pois ele acabou se tornando
um dos filhos da minha casa.
Com Dona Rosa Negra eu
Continuo trabalhando bem
mas até hoje eu entendo
porque ela vem em mim
mas raramente fala comigo.
Ela tem uma missão
com a minha vida
e eu uma missão com ela,
mas eu compreendo que
o mesmo sentimento
que eu tenho por Fernando
é o sentimento que
ela tem por mim.
Como dizia minha avó,
quem cospe para cima
acaba com cuspe na testa.
A gente não pode apontar
o dedo para os outros
porque muitas vezes
nós somos piores do que os outros
e não nos damos conta.
A minha missão espiritual
Estou cumprindo mesmo
com o coração apertado
e com todo o
sentimento contraditório
que eu tenho.
E Rosa Negra sendo
a mulher que é também está
cumprindo a dela e eu sei
que para ela eu sou um fardo
Mas as coisas são como são
e as dívidas e as missões
precisam ser pagas e concluídas,
e assim será.
Que Rosa Negra seja louvada
todos os dias e que
eu conte sempre com o seu perdão.
Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
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