Quando se fala de pretos velhos
Imediatamente nós pensamos em
Espíritos muito calmos e
muito tolerantes,
Porém um erro muito grande da
humanidade é sempre
generalizar as coisas
Quando se fala de pretos velhos
Imediatamente nós pensamos em
Espíritos muito calmos e
muito tolerantes,
Porém um erro muito grande da
humanidade é sempre
generalizar as coisas.
A maioria dos pretos velhos de fato
são almas cheias de paciência,
mas pai Cipriano não é uma delas.
Esse é um preto velho
Feiticeiro que usou de seu
conhecimento para lutar por
aqueles que amava.
Nasceu escravo, desde os quatro
anos de idade já trabalhava na lavoura
de café no interior de São Paulo,
as primeiras palavras que
aprendeu a falar eram
relacionadas aos serviços e
nada mais.
Aquela era a vida de milhares,
quiçá milhões de escravizadas no Brasil,
e aquele garotinho desde muito
cedo mostrou que era muito
diferente os demais.
Talvez por ter sido criado sozinho
se tornou uma pessoa mais dura,
quando nasceu o pai já tinha sido
vendido e logo que foi desmamado
a mãe também foi vendida para
outra Fazenda, foi criado assim
como se não fosse nada,
Afinal os demais escravos não
tinham tempo para gastar com criança,
por isso Cipriano nunca foi criança,
nunca brincou, nunca teve brinquedo,
assim que aprendeu a andar seu
destino foi trabalhar.
Quando tinha por volta de seus
oito anos ele já era muito experiente
no serviço e ganhava alguns "prêmios"
do patrão quando trabalhava bem
na lavoura, e entre estes prêmios
estava incluído ter um dia de folga
na semana para ir à missa.
Com certeza não era lá grande coisa,
afinal de contas nenhum escravo podia
sequer entrar na igreja, tinha de ficar
com os demais do lado de fora
ouvindo o que podia do sermão
do padre.
E foi em uma dessas missas que
Cipriano ouviu uma coisa que o despertou,
o padre da cidade lá em cima
do altar aconselhou os
homens brancos:
— Vigiai suas propriedades, esses escravos vem de uma terra cheia de bruxaria e coisas do diabo, e aquele que não vigia sua casa pode ser contaminado pela imundice da feitiçaria do obscuro!
Eram palavras difíceis de entender
mas o significado geral Cipriano
compreendeu, ele percebeu que havia
temor nas pessoas brancas a respeito
de algum tipo de fé ou crença vindo
das pessoas negras e ele mesmo tendo
nascido negro nunca tinha ouvido
nem falar dessa tal bruxaria,
mas Cipriano detestava ser escravo
e a partir do momento que soube
que havia algo que incomodava e
ameaçava o poderio branco ele
imediatamente arquitetou dentro
da sua cabeça um plano que
duraria a vida toda,
ele jurou a si mesmo que ia descobrir
que magia era essa iria usá-la
justamente da forma que o padre temia,
iria usar contra os seus patrões.
Ele sabia que a fonte de Sabedoria de
seu povo era uma só, os anciãos,
porém escravos velhos eram
extremamente raros pois a maioria
não conseguia chegar nem aos 40 anos
devido a brutalidade do serviço que
prestaram a vida inteira,
mas na Fazenda havia uma senhora,
uma única escrava que já havia
passado dos 60 anos e por mais que
a princesa houvesse promulgado
que a partir dos 60 anos qualquer
escravo estava livre
essa lei era prontamente ignorada
e aquela Senhora mesmo tendo
por lei o direito à liberdade
continuava escrava.
Seu nome era Filomena e foi com
ela que Cipriano foi ter.
A princípio Filomena se mostrou
muito resistente a falar qualquer
coisa sobre a espiritualidade do Povo,
mas Cipriano insistiu pois Filomena
não havia nascido no Brasil,
ela era legitimamente Africana
e tinha testemunhado com os
próprios olhos a tal magia que
ele buscava aprender.
Seja de dia ou de noite sempre
que podia Cipriano estava atrás
de Filomena a enchendo de
perguntas, até que um dia
quando a velhinha estendia os lençóis
brancos da casa grande para secar
no varal dos Fundos o
menino Cipriano conseguiu ter
dela as respostas que buscava.
— Menino danado... ta bem, eu conto. Meu nome não é Filomena, quando eu era pequena morava lá do outro lado do mar meu nome era Kandimba.
Então Cipriano continuou a perguntar
a Filomena, que agora ele sabia que
se chamava na verdade Kandimba
a respeito da tal magia.
Muitas vezes ela negou que
existisse esses feitiços,
mas naquele dia estendendo
as roupas no varal e percebendo
que não tinha ninguém em volta
ela cantou bem baixinho:
— Goya aê aê, goya aê aê, Goya aê Nkosi... Nkosi Mukumbi ntaro messó nanguê...
— O que é isso Dona Filó?
— isso é Uma cantiga do espírito do leão, um espírito forte do meu povo. Eu sou kassange, ninguém pode saber que eu disse isso pois eles aqui chicoteiam os negros que se lembram da onde vieram, eles não deixam a gente falar na nossa língua, tem que falar é na língua deles, mas eu ainda lembro da minha língua e lembro que eu sou kassange, sou kassange como minha mãe também era.
Dona Filomena não durou mais
muito tempo, poucos Anos depois
estava já falecida mas Cipriano
tinha aprendido tudo o que ela
sabia sobre os deuses antigos da terra
dela, uns Deuses que podiam controlar
a natureza.
Mas saber disso não era o suficiente,
logo ele soube que na fazenda
vizinha havia um homem que trabalhava
no ofício de marceneiro, o
que era escravo de aluguel pois seu
patrão o mandava para tudo que é
lugar para trabalhar na fazenda
dos outros.
Cipriano agora já era um adolescente
então começou a conversar com
seu patrão,
sempre que podia e aquele
velho amargo estava passando
pelo Cafezal Cipriano corria até
ele e dizia que gostaria muito de
aprender o Ofício de marceneiro
pois tinha sabido que o tal
escravo José da Fazenda ao lado
ganhava muito dinheiro para o
seu senhor fazendo tarefa por
todo o canto e como
José que estava velho e se Cipriano
aprendesse poderia substitui-lo
nos ganhos.
A ideia foi penetrando na cabeça
do patrão que ao analisar os lucros
logo pagou para que o tal José
viesse ensinar Ofício ao escravo novo.
Cipriano fico muito feliz e
logo começou a trabalhar junto
com aquele idoso
mas no meio das conversas sobre
madeiras e pregos Cipriano
indagava sobre a África.
— Mas que diabo você quer tanto saber da África moleque?
Cipriano chegou bem perto
no ouvido do velho de cochichou:
— Ouvi dizer que a sua mãe era curandeira, que ela foi grande curandeira na África. O senhor pode me ensinar o que ela sabia?
A primeira vista Seu José negou
veementemente que sua mãe tivesse
sido curandeira e repetia com frequência
que ela toda a vida tinha sido católica,
mas vendo que Cipriano não arredava pé
do assunto, um dia enquanto cerravam
Um tronco de árvore para fazer
ornamento na Casa Grande
José soltou a língua:
— Minha mãe me chamava Jobayó, e ela foi sim uma grande curandeira em um lugar muito longe daqui chamado Jebba.
— Pois me conte por favor, como era que ela fazia essas curas?
Eu José limpou a garganta, olhou para o céu e cantou:
— Oyá Balé lariô, Oyá Balé... Ada madê fará gambele... Oyá Balé lariô...
— Que música é essa Seu José?
— É uma cantiga para a deusa que minha mãe fazia culto.
— Me conta sobre essa deusa?
— Conto.
E seu Cipriano aprendeu com seu José
a tal deusa chamada Iansã,
e depois quando já trabalhava
como marceneiro foi passando de
fazenda em Fazenda sendo enviado
a prestar serviço e aprendendo em
cada uma delas com os mais velhos
que ali estavam.
Com Dona Firmina do pote
ele conseguiu aprender sobre um tal
Nsumbo que conseguia curar a alma
das pessoas, com Genésio da Fazenda
do milharal aprendeu sobre uma tal
serpente arco-íris chamada oxumare
que cruzava o céu no dia de chuva,
e depois disso tudo foi aprendendo
tantas e tantas coisas mas no fim
depois de muitos anos de aprendizado
ele aprendeu com uma senhora
muito idosa da Fazenda de gado
sobre os espíritos chamados Vumbi
e como ele poderia controlá-los.
Cipriano não aprendeu as coisas
do dia para noite,
começou novo mas quando
achou que já tinha aprendido o
suficiente já era velho,
às vezes ia para o Mato sozinho e
lá conseguia ver os espíritos
e algumas vezes até mesmo
contemplar as coisas divinas,
e no fundo do seu coração ele
sabia que estava chegando
a hora de agir.
Ele nunca havia acreditado em
Santos católicos,
mas um dia o padre contratou
seus serviços para que ele fosse até
a igreja trabalhar no conserto do altar,
e nesse dia Cipriano se viu sozinho
na frente da imagem do
Padroeiro da cidade,
ele se viu sozinho as marteladas
consertando o altar de Santo Expedito.
Passou o dia inteiro olhando
para aquela imagem e sentindo
uma coisa estranha,
então no fim da tarde quando já
estava quase com serviço completo
parou um pouco de trabalhar e
se ajoelhou na frente da imagem:
— Eu tenho de fazer o que é melhor para o meu povo, e para isso eu vou ter que lutar contra o seu povo Seu Expedito.
Cansado pelo trabalho,
Cipriano Ficou ali alguns minutos
ajoelhado com os olhos fechados,
mas então ouviu uma voz grave
ecoando pelas paredes da igreja:
Se alguém usa uma cruz no pescoço ou uma biblia em baixo do braço, isso não vale de nada se não tem a bondade no coração. Cipriano, você não lutara contra o meu povo pois eu lutarei ao seu lado, o seu povo é meu povo também, esta gente que se diz ser Sagrada e que faz a perversidade no nome do homem que morreu na cruz pode ser chamada de qualquer coisa menos de gente da Luz. Eu sei qual é o seu caminho Cipriano, e como você é guerreiro eu também já fui um dia.
— Senhor... — Cipriano arregalou os olhos assustado.
— Mas eu devo te fazer um alerta, os conhecimentos que você tem não podem ser colocados em práticas sem pagamento, para usar os poderes dos seus antepassados você deve fazer um sacrifício.
Cipriano tremia totalmente assustado e maravilhado, e a olhar para imagem não viu uma estátua de gesso, que viu ele foi Santo Expedito em forma de homem sorrindo para ele.
— E que sacrifício eu devo fazer meu Senhor?
— Está pronto para sacrificar qualquer coisa em prol do seu ideal?
— Sim com certeza, eu daria qualquer coisa.
— Daria assim como eu dei?
Cipriano arregalou os olhos mais uma vez assustado pois se lembrou que mesmo do lado de fora da igreja tinha ouvido certa vez o padre falar que Santo Expedito era um martír de Cristo, que ele havia sido morto em nome de seus ideais na cidade de Melitene na Turquia.
— Para dar liberdade ao meu povo eu tenho de sacrificar a minha vida?
— Coragem Cipriano, coragem.
Mas ninguém junta coragem
do dia para noite,
demorou um ano para que
ele estivesse pronto,
mas o dia chegou e quando
a necessidade se apresentou
Cipriano não se acovardou.
O filho do patrão resolveu que iria
dar uma festa para seu aniversário
de 21 anos, seria uma festa
para cavalheiros e a diversão estaria
por parte dos escravos que
teriam que além de trabalhar
o dia inteiro tambem teriam de dançar
para entreter os convidados como
se fossem palhaços de circo.
Os escravos começaram a ser
ensaiados e aqueles que não
conseguiram dançar direito
devido ao cansaço ou devido
a algum ferimento eram
prontamente açoitados e banhados
com água com sal para fazer
a ferida arder.
No descampado atrás da Fazenda
os gritos eram ouvidos enquanto
outra parte dos escravos tinha que
cantar e dançar temendo os feitores
que os rodeavam com chicote na mão.
Cipriano estava muito farto disso,
ele não precisaria dançar pois
já era muito velho e não era
considerado bonito,
então deixaram ele de canto
limpando as próprias
ferramentas de marcenaria.
Enquanto limpava os Ferros ele
começou a sentir dentro do coração
um peso muito grande,
e por mais que hoje em dia
as pessoas precisam de muitas coisas
para invocar a presença divina,
o Divino veio até Cipriano sem
ele precisar acender nenhuma vela,
ali dentro do barracão da
oficina nos fundos da Fazenda
enquanto ele estava sentado em um
toco limpava as ferragem e seus
instrumentos sentiu vontade
de fechar olhos e quando percebeu
estava rodeado deles,
os deuses de seus ancestrais,
os espíritos de sua gente.
— Esta noite Cipriano, esta noite que você tem de libertar a sua gente.
Cipriano olhou para o lado e viu
a mulher negra vestida com
roupas vermelhas e que trazia
sobre a cabeça uma panela de fogo,
todos os outros espíritos ali
concordaram com ela e Cipriano
fechou os olhos outra vez e se
ajoelhou diante deles
pedindo coragem.
As sete horas da noite escureceu,
a festa começou e a fazenda estava
cheia de granfinos vindos de
todas as partes,
os escravos já estavam arrumadinhos
com roupas de apresentação,
alguns com suas roupas manchadas
de vermelho pelo sangue que escorria
das feridas embaixo dos panos.
A atenção toda estava no jovens
então Cipriano de fininho foi
para o meio do mato
e lá ele rezou.
Enquanto rezava ele ia sentindo
as mãos tocando o seu corpo,
mãos quentes mas que quando
ele abria os olhos e olhava em volta
não havia ninguém por ali,
mas ele entendia que aquilo que
estava acontecendo era que
estava sendo abençoado por todos
aqueles espíritos que ele tinha
aprendido os nomes de correr
de tantos anos.
Cipriano orava e tremia pois sentia
medo do que iria acontecer,
mas ao mesmo tempo
que sentia medo
em nenhum momento
ele pensou em desistir.
Quando a música da festa
ficou alta, Cipriano se ergueu de
sua oração e começou a caminhar
lentamente em direção
à Fazenda, mas conforme ele
caminhava o som de seus passos
Estralava em um nível muito alto
e ele percebeu que na verdade não
eram os seus pés que faziam tanto barulho,
a verdade é que ele não estava
andando sozinho pois haviam
centenas de espíritos junto com
ele naquela caminhada.
Quando Cipriano chegou diante
da festa no descampado viu
aquele povo todo tão bem arrumado
sentado em muitas mesas dispostas
comendo e bebendo sendo servidos
por escravos feridos,
então Cipriano em um gesto cheio
de coragem ergueu a voz e gritou:
— Durante toda a minha vida eu tenho sido obrigado a ir na missa, mas eu soube que nos dias que nós escravos estamos diante da igreja ouvindo a ladainha o padre nunca lê nenhuma passagem do livro de Êxodos. eu pergunto a vocês homens brancos, por quê nós escravos não podemos saber o que aconteceu no livro de Êxodos?
Os convidados da festa olharam
espantados para que ele escravo
erguendo a voz contra eles,
os músicos pararam de tocar e um
Capataz correu na direção e Cipriano
já com chicote na mão para açoitá-lo.
— Eu não tenho medo de açoite, o tempo de ter medo já passou.
O Capataz como que tomado por
uma paralisia repentina estacou o passo
e ficou ali congelado com o braço erguido
já na posição de chicotear
mas totalmente parado e com os
olhos arregalados e vidrados.
Cipriano continuou a falar
para os convidados:
— O motivo o que os faz esconder o livro de Êxodos é porque nele está escrito que o Deus, esse mesmo Deus que vocês tanto falam, é contra a escravidão. E eu hoje vim para levar o meu povo embora daqui.
A multidão de Nobres caiu
na gargalhada,
Riam e zombavam de Cipriano,
mas misteriosamente todos os escravos
que dançavam e que serviam as mesas
largaram as bandejas e as coreografias
e começaram a se dirigir no
caminho do velho,
olharam para ele e continuaram
andando rumo a floresta.
Vários homens ficaram em pé e
sacaram suas pistolas,
eles não teriam medo de atirar
nos escravos mesmo que
representasse um grande prejuízo
para a lavoura perder alguns,
mas se tentassem fugir iriam
atirar com certeza,
porém assim que sacaram as
suas armas Cipriano ergueu a
mão e a abaixou contraindo os
dedos tal qual faz uma pantera
quando mostra as garras,
e assim os convidados ficaram
apavorados quando começaram a
ouvir os rugidos de felinos
vindos por toda parte.
— Na África tem um Deus leão, e assim como ele é forte eu também sou, e quem tiver peito de aço que venha para cima!
Então a primeira onça saiu da floresta,
avançou contra um dos homens e
dilacerou sua a garganta,
todos levantaram das Mesas
gritando desesperados,
e mais e mais onças saíram da
Mata e atacavam os convidados,
o sangue jorrava das gargantas
e peitos retalhados pelos dentes e
garras dos Bichos enquantos escravos
corriam para dentro da floresta
sem olhar para trás.
Cipriano ergueu sua mão novamente e
gritou em alto e bom som:
— Lá na África existe uma deusa muito brava, uma deusa que lança raios pelos olhos e cospe fogo pela boca!
Então viram a luminosidade vermelha
vinda da casa grande,
a mansão estava Ardendo em Chamas,
e não foi como se o incêndio tivesse
sido iniciado aos poucos,
não, em Um Piscar de Olhos
a casa era tal qual uma fogueira
em brasa e a luz vermelha atingiu
todo o terreno fazendo os brancos
clamarem a Deus com medo de
serem tragados pelas
Chamas do inferno enquanto
Corriam de um lado a outro
Sem chegar s lugar algum.
Cipriano sentiu o coração
acelerando muito no peito,
suas mãos tremiam e ele sabia que
aqueles prodígios que estava
fazendo iriam custar sua vida.
Então Cipriano deu alguns passos
para frente e o povo da festa se
encolheu de medo se juntando em
grupos, e ele começou a pular de
uma perna parq a outra,
pulava como se fosse feito de mola,
e os seus olhos se tornaram brancos,
e foi ouvido um som de farfalhar,
e aquelas pessoas que olhavam para ele
tão temerosas piscaram os olhos e
neste piscar viram a mudança acontecer
em um milésimo de segundo
pois de repente Cipriano
vestia uma roupa toda feita de palhas
e chacoalhava suas Palhas enquanto
dançava de um lado para o outro
dando gritos aterrorizantes.
As mulheres ali sentada vestida
em seu vestido de seda berraram
de puro horror quando olharam
para as próprias mãos e viram
as bolhas surgirem em seus braços,
pescoços e bochechas,
era a pestilência,
era varíola, era a doença.
Aquelas pessoas antes saudáveis
agora caiam ajoelhadas gritando
olhando para as mãos e tocando
a pele dos rostos cheias de
pústulas varulentas,
e Cipriano continuava em sua
dança macabra,
havia de punir os homens maus.
Daquela multidão apenas um
punhado de crianças sobreviveu,
pois Cipriano não usou sua magia
contra elas.
A luz da lua atingiu em cheio
aquelas pessoas, elas então olharam
para o velho muito temerosas e
de repente as Palhas desapareceram
e ele novamente estava ali diante delas,
Mas agora parecia cansado, abatido.
Ele virou as costas e começou a
caminhar rumo a floresta para ir de
encontro com os seus,
mas após ter dado alguns passos caiu,
e quando seu corpo bateu no chão
ele sentiu a dor e a fraqueza,
seu corpo não havia suportado
tamanho prodígio espiritual.
E aí neste momento sentiu o
primeiro baque,
a primeira pedra atirada em sua direção
o atingiu nas costas,
e usando esforço muito grande
ele ergueu um pouco o pescoço e
viu as crianças que ele mesmo
havia poupado da morte
vindo em sua direção com
as pedras nas mãos.
Cipriano levantou a mão contra elas
para tentar se defender
mas já não havia mais força para isso,
e as pedras pontiagudas
choveram sobre ele,
e as pedras arrancaram
do corpo de carne a vida.
Cipriano morreu ali.
Misteriosamente a cidade
apenas relatou um surto de
varíola anormal mas que foi controlado.
A cidade relatou também uma
fuga massiva de escravos de uma fazenda.
mas o que a cidade Nunca
soube explicar
é como mas de sessenta escravos
fugiram juntos de uma só vez e
nenhum capitão-do-mato
conseguiu farejar Rastro.
O que a cidade não contou também
é como dezenas de Nobres morreram
de varíola no espaço de 4 Semanas
quando na verdade a doença
se prolongava por meses e as
Vezes por anos.
Alguém as vezes dizia
Que tinha ouvido falar da boca
de uma criança que o causador
de tanta desgraça havia sido
um escravo velho chamado
Cipriano, mas o padre ria e dizia
Que era mentira.
mas o padre sempre que virava as
costas fazia o sinal da cruz ao
ouvir aquele nome.
O corpo de carne de Cipriano
se acabou, mas seu espírito não,
e hoje ele ainda anda por aí
cheio de conhecimentos de magia antiga,
cheio de mandingas e sortilégios
que pode ensinar aqueles que
merecerem aprender.
Quando Cipriano é convidado a vir em um de seus médiuns dentro de um terreiro de umbanda ele pisa de mansinho e fala coisas muito doces.
Mas o povo da Quimbanda conhece Cipriano de verdade, e é lá no meio dos quimbandeiros que ele ergue sua mão ensina eles as magias da noite.
O povo que está acostumado com preto velho manso se assusta muito quando vê Cipriano trabalhando, pois depois de morto ele não se tornou domesticado, na verdade depois que morreu ele se tornou ainda mais potente.
Não mexa com Cipriano, ele dá nó em Pingo D'água.
Segura com fé nas mãos de Cipriano...
Adorei as almas!
Relatos e Contos do Axé, Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
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Imediatamente nós pensamos em
Espíritos muito calmos e
muito tolerantes,
Porém um erro muito grande da
humanidade é sempre
generalizar as coisas.
A maioria dos pretos velhos de fato
são almas cheias de paciência,
mas pai Cipriano não é uma delas.
Esse é um preto velho
Feiticeiro que usou de seu
conhecimento para lutar por
aqueles que amava.
Nasceu escravo, desde os quatro
anos de idade já trabalhava na lavoura
de café no interior de São Paulo,
as primeiras palavras que
aprendeu a falar eram
relacionadas aos serviços e
nada mais.
Aquela era a vida de milhares,
quiçá milhões de escravizadas no Brasil,
e aquele garotinho desde muito
cedo mostrou que era muito
diferente os demais.
Talvez por ter sido criado sozinho
se tornou uma pessoa mais dura,
quando nasceu o pai já tinha sido
vendido e logo que foi desmamado
a mãe também foi vendida para
outra Fazenda, foi criado assim
como se não fosse nada,
Afinal os demais escravos não
tinham tempo para gastar com criança,
por isso Cipriano nunca foi criança,
nunca brincou, nunca teve brinquedo,
assim que aprendeu a andar seu
destino foi trabalhar.
Quando tinha por volta de seus
oito anos ele já era muito experiente
no serviço e ganhava alguns "prêmios"
do patrão quando trabalhava bem
na lavoura, e entre estes prêmios
estava incluído ter um dia de folga
na semana para ir à missa.
Com certeza não era lá grande coisa,
afinal de contas nenhum escravo podia
sequer entrar na igreja, tinha de ficar
com os demais do lado de fora
ouvindo o que podia do sermão
do padre.
E foi em uma dessas missas que
Cipriano ouviu uma coisa que o despertou,
o padre da cidade lá em cima
do altar aconselhou os
homens brancos:
— Vigiai suas propriedades, esses escravos vem de uma terra cheia de bruxaria e coisas do diabo, e aquele que não vigia sua casa pode ser contaminado pela imundice da feitiçaria do obscuro!
Eram palavras difíceis de entender
mas o significado geral Cipriano
compreendeu, ele percebeu que havia
temor nas pessoas brancas a respeito
de algum tipo de fé ou crença vindo
das pessoas negras e ele mesmo tendo
nascido negro nunca tinha ouvido
nem falar dessa tal bruxaria,
mas Cipriano detestava ser escravo
e a partir do momento que soube
que havia algo que incomodava e
ameaçava o poderio branco ele
imediatamente arquitetou dentro
da sua cabeça um plano que
duraria a vida toda,
ele jurou a si mesmo que ia descobrir
que magia era essa iria usá-la
justamente da forma que o padre temia,
iria usar contra os seus patrões.
Ele sabia que a fonte de Sabedoria de
seu povo era uma só, os anciãos,
porém escravos velhos eram
extremamente raros pois a maioria
não conseguia chegar nem aos 40 anos
devido a brutalidade do serviço que
prestaram a vida inteira,
mas na Fazenda havia uma senhora,
uma única escrava que já havia
passado dos 60 anos e por mais que
a princesa houvesse promulgado
que a partir dos 60 anos qualquer
escravo estava livre
essa lei era prontamente ignorada
e aquela Senhora mesmo tendo
por lei o direito à liberdade
continuava escrava.
Seu nome era Filomena e foi com
ela que Cipriano foi ter.
A princípio Filomena se mostrou
muito resistente a falar qualquer
coisa sobre a espiritualidade do Povo,
mas Cipriano insistiu pois Filomena
não havia nascido no Brasil,
ela era legitimamente Africana
e tinha testemunhado com os
próprios olhos a tal magia que
ele buscava aprender.
Seja de dia ou de noite sempre
que podia Cipriano estava atrás
de Filomena a enchendo de
perguntas, até que um dia
quando a velhinha estendia os lençóis
brancos da casa grande para secar
no varal dos Fundos o
menino Cipriano conseguiu ter
dela as respostas que buscava.
— Menino danado... ta bem, eu conto. Meu nome não é Filomena, quando eu era pequena morava lá do outro lado do mar meu nome era Kandimba.
Então Cipriano continuou a perguntar
a Filomena, que agora ele sabia que
se chamava na verdade Kandimba
a respeito da tal magia.
Muitas vezes ela negou que
existisse esses feitiços,
mas naquele dia estendendo
as roupas no varal e percebendo
que não tinha ninguém em volta
ela cantou bem baixinho:
— Goya aê aê, goya aê aê, Goya aê Nkosi... Nkosi Mukumbi ntaro messó nanguê...
— O que é isso Dona Filó?
— isso é Uma cantiga do espírito do leão, um espírito forte do meu povo. Eu sou kassange, ninguém pode saber que eu disse isso pois eles aqui chicoteiam os negros que se lembram da onde vieram, eles não deixam a gente falar na nossa língua, tem que falar é na língua deles, mas eu ainda lembro da minha língua e lembro que eu sou kassange, sou kassange como minha mãe também era.
Dona Filomena não durou mais
muito tempo, poucos Anos depois
estava já falecida mas Cipriano
tinha aprendido tudo o que ela
sabia sobre os deuses antigos da terra
dela, uns Deuses que podiam controlar
a natureza.
Mas saber disso não era o suficiente,
logo ele soube que na fazenda
vizinha havia um homem que trabalhava
no ofício de marceneiro, o
que era escravo de aluguel pois seu
patrão o mandava para tudo que é
lugar para trabalhar na fazenda
dos outros.
Cipriano agora já era um adolescente
então começou a conversar com
seu patrão,
sempre que podia e aquele
velho amargo estava passando
pelo Cafezal Cipriano corria até
ele e dizia que gostaria muito de
aprender o Ofício de marceneiro
pois tinha sabido que o tal
escravo José da Fazenda ao lado
ganhava muito dinheiro para o
seu senhor fazendo tarefa por
todo o canto e como
José que estava velho e se Cipriano
aprendesse poderia substitui-lo
nos ganhos.
A ideia foi penetrando na cabeça
do patrão que ao analisar os lucros
logo pagou para que o tal José
viesse ensinar Ofício ao escravo novo.
Cipriano fico muito feliz e
logo começou a trabalhar junto
com aquele idoso
mas no meio das conversas sobre
madeiras e pregos Cipriano
indagava sobre a África.
— Mas que diabo você quer tanto saber da África moleque?
Cipriano chegou bem perto
no ouvido do velho de cochichou:
— Ouvi dizer que a sua mãe era curandeira, que ela foi grande curandeira na África. O senhor pode me ensinar o que ela sabia?
A primeira vista Seu José negou
veementemente que sua mãe tivesse
sido curandeira e repetia com frequência
que ela toda a vida tinha sido católica,
mas vendo que Cipriano não arredava pé
do assunto, um dia enquanto cerravam
Um tronco de árvore para fazer
ornamento na Casa Grande
José soltou a língua:
— Minha mãe me chamava Jobayó, e ela foi sim uma grande curandeira em um lugar muito longe daqui chamado Jebba.
— Pois me conte por favor, como era que ela fazia essas curas?
Eu José limpou a garganta, olhou para o céu e cantou:
— Oyá Balé lariô, Oyá Balé... Ada madê fará gambele... Oyá Balé lariô...
— Que música é essa Seu José?
— É uma cantiga para a deusa que minha mãe fazia culto.
— Me conta sobre essa deusa?
— Conto.
E seu Cipriano aprendeu com seu José
a tal deusa chamada Iansã,
e depois quando já trabalhava
como marceneiro foi passando de
fazenda em Fazenda sendo enviado
a prestar serviço e aprendendo em
cada uma delas com os mais velhos
que ali estavam.
Com Dona Firmina do pote
ele conseguiu aprender sobre um tal
Nsumbo que conseguia curar a alma
das pessoas, com Genésio da Fazenda
do milharal aprendeu sobre uma tal
serpente arco-íris chamada oxumare
que cruzava o céu no dia de chuva,
e depois disso tudo foi aprendendo
tantas e tantas coisas mas no fim
depois de muitos anos de aprendizado
ele aprendeu com uma senhora
muito idosa da Fazenda de gado
sobre os espíritos chamados Vumbi
e como ele poderia controlá-los.
Cipriano não aprendeu as coisas
do dia para noite,
começou novo mas quando
achou que já tinha aprendido o
suficiente já era velho,
às vezes ia para o Mato sozinho e
lá conseguia ver os espíritos
e algumas vezes até mesmo
contemplar as coisas divinas,
e no fundo do seu coração ele
sabia que estava chegando
a hora de agir.
Ele nunca havia acreditado em
Santos católicos,
mas um dia o padre contratou
seus serviços para que ele fosse até
a igreja trabalhar no conserto do altar,
e nesse dia Cipriano se viu sozinho
na frente da imagem do
Padroeiro da cidade,
ele se viu sozinho as marteladas
consertando o altar de Santo Expedito.
Passou o dia inteiro olhando
para aquela imagem e sentindo
uma coisa estranha,
então no fim da tarde quando já
estava quase com serviço completo
parou um pouco de trabalhar e
se ajoelhou na frente da imagem:
— Eu tenho de fazer o que é melhor para o meu povo, e para isso eu vou ter que lutar contra o seu povo Seu Expedito.
Cansado pelo trabalho,
Cipriano Ficou ali alguns minutos
ajoelhado com os olhos fechados,
mas então ouviu uma voz grave
ecoando pelas paredes da igreja:
Se alguém usa uma cruz no pescoço ou uma biblia em baixo do braço, isso não vale de nada se não tem a bondade no coração. Cipriano, você não lutara contra o meu povo pois eu lutarei ao seu lado, o seu povo é meu povo também, esta gente que se diz ser Sagrada e que faz a perversidade no nome do homem que morreu na cruz pode ser chamada de qualquer coisa menos de gente da Luz. Eu sei qual é o seu caminho Cipriano, e como você é guerreiro eu também já fui um dia.
— Senhor... — Cipriano arregalou os olhos assustado.
— Mas eu devo te fazer um alerta, os conhecimentos que você tem não podem ser colocados em práticas sem pagamento, para usar os poderes dos seus antepassados você deve fazer um sacrifício.
Cipriano tremia totalmente assustado e maravilhado, e a olhar para imagem não viu uma estátua de gesso, que viu ele foi Santo Expedito em forma de homem sorrindo para ele.
— E que sacrifício eu devo fazer meu Senhor?
— Está pronto para sacrificar qualquer coisa em prol do seu ideal?
— Sim com certeza, eu daria qualquer coisa.
— Daria assim como eu dei?
Cipriano arregalou os olhos mais uma vez assustado pois se lembrou que mesmo do lado de fora da igreja tinha ouvido certa vez o padre falar que Santo Expedito era um martír de Cristo, que ele havia sido morto em nome de seus ideais na cidade de Melitene na Turquia.
— Para dar liberdade ao meu povo eu tenho de sacrificar a minha vida?
— Coragem Cipriano, coragem.
Mas ninguém junta coragem
do dia para noite,
demorou um ano para que
ele estivesse pronto,
mas o dia chegou e quando
a necessidade se apresentou
Cipriano não se acovardou.
O filho do patrão resolveu que iria
dar uma festa para seu aniversário
de 21 anos, seria uma festa
para cavalheiros e a diversão estaria
por parte dos escravos que
teriam que além de trabalhar
o dia inteiro tambem teriam de dançar
para entreter os convidados como
se fossem palhaços de circo.
Os escravos começaram a ser
ensaiados e aqueles que não
conseguiram dançar direito
devido ao cansaço ou devido
a algum ferimento eram
prontamente açoitados e banhados
com água com sal para fazer
a ferida arder.
No descampado atrás da Fazenda
os gritos eram ouvidos enquanto
outra parte dos escravos tinha que
cantar e dançar temendo os feitores
que os rodeavam com chicote na mão.
Cipriano estava muito farto disso,
ele não precisaria dançar pois
já era muito velho e não era
considerado bonito,
então deixaram ele de canto
limpando as próprias
ferramentas de marcenaria.
Enquanto limpava os Ferros ele
começou a sentir dentro do coração
um peso muito grande,
e por mais que hoje em dia
as pessoas precisam de muitas coisas
para invocar a presença divina,
o Divino veio até Cipriano sem
ele precisar acender nenhuma vela,
ali dentro do barracão da
oficina nos fundos da Fazenda
enquanto ele estava sentado em um
toco limpava as ferragem e seus
instrumentos sentiu vontade
de fechar olhos e quando percebeu
estava rodeado deles,
os deuses de seus ancestrais,
os espíritos de sua gente.
— Esta noite Cipriano, esta noite que você tem de libertar a sua gente.
Cipriano olhou para o lado e viu
a mulher negra vestida com
roupas vermelhas e que trazia
sobre a cabeça uma panela de fogo,
todos os outros espíritos ali
concordaram com ela e Cipriano
fechou os olhos outra vez e se
ajoelhou diante deles
pedindo coragem.
As sete horas da noite escureceu,
a festa começou e a fazenda estava
cheia de granfinos vindos de
todas as partes,
os escravos já estavam arrumadinhos
com roupas de apresentação,
alguns com suas roupas manchadas
de vermelho pelo sangue que escorria
das feridas embaixo dos panos.
A atenção toda estava no jovens
então Cipriano de fininho foi
para o meio do mato
e lá ele rezou.
Enquanto rezava ele ia sentindo
as mãos tocando o seu corpo,
mãos quentes mas que quando
ele abria os olhos e olhava em volta
não havia ninguém por ali,
mas ele entendia que aquilo que
estava acontecendo era que
estava sendo abençoado por todos
aqueles espíritos que ele tinha
aprendido os nomes de correr
de tantos anos.
Cipriano orava e tremia pois sentia
medo do que iria acontecer,
mas ao mesmo tempo
que sentia medo
em nenhum momento
ele pensou em desistir.
Quando a música da festa
ficou alta, Cipriano se ergueu de
sua oração e começou a caminhar
lentamente em direção
à Fazenda, mas conforme ele
caminhava o som de seus passos
Estralava em um nível muito alto
e ele percebeu que na verdade não
eram os seus pés que faziam tanto barulho,
a verdade é que ele não estava
andando sozinho pois haviam
centenas de espíritos junto com
ele naquela caminhada.
Quando Cipriano chegou diante
da festa no descampado viu
aquele povo todo tão bem arrumado
sentado em muitas mesas dispostas
comendo e bebendo sendo servidos
por escravos feridos,
então Cipriano em um gesto cheio
de coragem ergueu a voz e gritou:
— Durante toda a minha vida eu tenho sido obrigado a ir na missa, mas eu soube que nos dias que nós escravos estamos diante da igreja ouvindo a ladainha o padre nunca lê nenhuma passagem do livro de Êxodos. eu pergunto a vocês homens brancos, por quê nós escravos não podemos saber o que aconteceu no livro de Êxodos?
Os convidados da festa olharam
espantados para que ele escravo
erguendo a voz contra eles,
os músicos pararam de tocar e um
Capataz correu na direção e Cipriano
já com chicote na mão para açoitá-lo.
— Eu não tenho medo de açoite, o tempo de ter medo já passou.
O Capataz como que tomado por
uma paralisia repentina estacou o passo
e ficou ali congelado com o braço erguido
já na posição de chicotear
mas totalmente parado e com os
olhos arregalados e vidrados.
Cipriano continuou a falar
para os convidados:
— O motivo o que os faz esconder o livro de Êxodos é porque nele está escrito que o Deus, esse mesmo Deus que vocês tanto falam, é contra a escravidão. E eu hoje vim para levar o meu povo embora daqui.
A multidão de Nobres caiu
na gargalhada,
Riam e zombavam de Cipriano,
mas misteriosamente todos os escravos
que dançavam e que serviam as mesas
largaram as bandejas e as coreografias
e começaram a se dirigir no
caminho do velho,
olharam para ele e continuaram
andando rumo a floresta.
Vários homens ficaram em pé e
sacaram suas pistolas,
eles não teriam medo de atirar
nos escravos mesmo que
representasse um grande prejuízo
para a lavoura perder alguns,
mas se tentassem fugir iriam
atirar com certeza,
porém assim que sacaram as
suas armas Cipriano ergueu a
mão e a abaixou contraindo os
dedos tal qual faz uma pantera
quando mostra as garras,
e assim os convidados ficaram
apavorados quando começaram a
ouvir os rugidos de felinos
vindos por toda parte.
— Na África tem um Deus leão, e assim como ele é forte eu também sou, e quem tiver peito de aço que venha para cima!
Então a primeira onça saiu da floresta,
avançou contra um dos homens e
dilacerou sua a garganta,
todos levantaram das Mesas
gritando desesperados,
e mais e mais onças saíram da
Mata e atacavam os convidados,
o sangue jorrava das gargantas
e peitos retalhados pelos dentes e
garras dos Bichos enquantos escravos
corriam para dentro da floresta
sem olhar para trás.
Cipriano ergueu sua mão novamente e
gritou em alto e bom som:
— Lá na África existe uma deusa muito brava, uma deusa que lança raios pelos olhos e cospe fogo pela boca!
Então viram a luminosidade vermelha
vinda da casa grande,
a mansão estava Ardendo em Chamas,
e não foi como se o incêndio tivesse
sido iniciado aos poucos,
não, em Um Piscar de Olhos
a casa era tal qual uma fogueira
em brasa e a luz vermelha atingiu
todo o terreno fazendo os brancos
clamarem a Deus com medo de
serem tragados pelas
Chamas do inferno enquanto
Corriam de um lado a outro
Sem chegar s lugar algum.
Cipriano sentiu o coração
acelerando muito no peito,
suas mãos tremiam e ele sabia que
aqueles prodígios que estava
fazendo iriam custar sua vida.
Então Cipriano deu alguns passos
para frente e o povo da festa se
encolheu de medo se juntando em
grupos, e ele começou a pular de
uma perna parq a outra,
pulava como se fosse feito de mola,
e os seus olhos se tornaram brancos,
e foi ouvido um som de farfalhar,
e aquelas pessoas que olhavam para ele
tão temerosas piscaram os olhos e
neste piscar viram a mudança acontecer
em um milésimo de segundo
pois de repente Cipriano
vestia uma roupa toda feita de palhas
e chacoalhava suas Palhas enquanto
dançava de um lado para o outro
dando gritos aterrorizantes.
As mulheres ali sentada vestida
em seu vestido de seda berraram
de puro horror quando olharam
para as próprias mãos e viram
as bolhas surgirem em seus braços,
pescoços e bochechas,
era a pestilência,
era varíola, era a doença.
Aquelas pessoas antes saudáveis
agora caiam ajoelhadas gritando
olhando para as mãos e tocando
a pele dos rostos cheias de
pústulas varulentas,
e Cipriano continuava em sua
dança macabra,
havia de punir os homens maus.
Daquela multidão apenas um
punhado de crianças sobreviveu,
pois Cipriano não usou sua magia
contra elas.
A luz da lua atingiu em cheio
aquelas pessoas, elas então olharam
para o velho muito temerosas e
de repente as Palhas desapareceram
e ele novamente estava ali diante delas,
Mas agora parecia cansado, abatido.
Ele virou as costas e começou a
caminhar rumo a floresta para ir de
encontro com os seus,
mas após ter dado alguns passos caiu,
e quando seu corpo bateu no chão
ele sentiu a dor e a fraqueza,
seu corpo não havia suportado
tamanho prodígio espiritual.
E aí neste momento sentiu o
primeiro baque,
a primeira pedra atirada em sua direção
o atingiu nas costas,
e usando esforço muito grande
ele ergueu um pouco o pescoço e
viu as crianças que ele mesmo
havia poupado da morte
vindo em sua direção com
as pedras nas mãos.
Cipriano levantou a mão contra elas
para tentar se defender
mas já não havia mais força para isso,
e as pedras pontiagudas
choveram sobre ele,
e as pedras arrancaram
do corpo de carne a vida.
Cipriano morreu ali.
Misteriosamente a cidade
apenas relatou um surto de
varíola anormal mas que foi controlado.
A cidade relatou também uma
fuga massiva de escravos de uma fazenda.
mas o que a cidade Nunca
soube explicar
é como mas de sessenta escravos
fugiram juntos de uma só vez e
nenhum capitão-do-mato
conseguiu farejar Rastro.
O que a cidade não contou também
é como dezenas de Nobres morreram
de varíola no espaço de 4 Semanas
quando na verdade a doença
se prolongava por meses e as
Vezes por anos.
Alguém as vezes dizia
Que tinha ouvido falar da boca
de uma criança que o causador
de tanta desgraça havia sido
um escravo velho chamado
Cipriano, mas o padre ria e dizia
Que era mentira.
mas o padre sempre que virava as
costas fazia o sinal da cruz ao
ouvir aquele nome.
O corpo de carne de Cipriano
se acabou, mas seu espírito não,
e hoje ele ainda anda por aí
cheio de conhecimentos de magia antiga,
cheio de mandingas e sortilégios
que pode ensinar aqueles que
merecerem aprender.
Quando Cipriano é convidado a vir em um de seus médiuns dentro de um terreiro de umbanda ele pisa de mansinho e fala coisas muito doces.
Mas o povo da Quimbanda conhece Cipriano de verdade, e é lá no meio dos quimbandeiros que ele ergue sua mão ensina eles as magias da noite.
O povo que está acostumado com preto velho manso se assusta muito quando vê Cipriano trabalhando, pois depois de morto ele não se tornou domesticado, na verdade depois que morreu ele se tornou ainda mais potente.
Não mexa com Cipriano, ele dá nó em Pingo D'água.
Segura com fé nas mãos de Cipriano...
Adorei as almas!
Relatos e Contos do Axé, Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
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