Cassandra não teve muitas escolhas na vida, sabe como é
Cassandra não teve muitas escolhas na vida, sabe como é.
Talentosa, bonita, mas sendo uma mulher de "sangue ruim" ela acabou agarrando as oportunidades que a vida lhe deu, e foram poucas essas oportunidades.
A mãe era cigana, o pai um escravo fugido.
O povo cigano é como todo povo que sofre preconceito, esses povos acham ruim serem discriminados porém não veem o menor problema em discriminar, e assim Cassandra era dita cigana de sangue sujo, mestiça, e não houve lugar para ela entre o povo de sua mãe.
Acabou ali naquele Cabaré.
Quitéria ainda era moça quando conheceu Cassandra, e a rapidinho a colocou para trabalhar na sua casa permissiva, casa essa acabada de inaugurar.
Mas a época era outra, era ainda a época do exagero, de perucas enormes e empoadas, de joias pesadas, de pó de arroz na cara, de rouge de banha nos labios, de pó de lapis lazuli e kajal nos olhos, de perfume de flor do campo.
E ali sentada diante do espelho naquele camarim que ela foi batizada de Sete Saias, isso pela saia cigana que usava em sete barrados de preto e vermelho.
Mal sabia ela que aṕos sua morte outras duas moças sentariam naquela mesma cadeira diante do mesmo espelho e também seria chamadas de Sete Saias, a fama de Cassandra criou moda e história.
E Cassandra era um evento, era alta, parruda, orgulhosa!
Sim, a vida sofrida era coisa de se falar, não de se definir, então dançava diante daquela multidão de homens, dançava até a pele reluzir de suor na luz vermelha da chama das velas.
E o preço para lhe levar a cama? Caro... quatro dobrões de ouro, e mesmo que Quiteria ficasse com um dobrão ainda assim o valor dos outros três era suficiente para se comprar um bom cavalo ou cem garrafas de conhaque, e por muito tempo ela foi a marafona mais cara da casa.
Teve direito até a tirar férias uma vez.
Mas não foi férias de verdade, um ano ficou sem trabalhar pois foi o tempo que tirou para parir o único filho que teve.
O menino foi dado para outra familia criar, mesmo que Cassandra pagasse tudo, todas as despesas.
O menino acabou por nunca saber que tinha mãe.
Isso porque durante dez anos após seu nascimento ela trabalhou como louca, se esforçando para juntar dinheiro para ir embora com ele. Pensava em comprar um engenho de cana em algum lugar ou mesmo comprar um grande pedaço de terra, lotear e arrendar, e ela na altura de uma decada realmente tinha dinheiro para isso.
Até que veio a tosse.
A tosse que mancha os lenços de sangue.
E foi ai que Cassandra se surpreendeu com Quitéria.
Ela imaginou que por estar com tísica seria prontamente expulsa do Cabaré, mas não foi isso que aconteceu.
Quitéria era uma feiticeira, todos sabiam disso, mas Cassandra não imaginou que aquela mulher tão dura iria tentar ajuda-la com tanto esforço.
— Isso é acédia, e acédia vem da alma... — dizia Quiteria toda vez que tentava curar os pulmões de Cassandra.
Acédia era o nome que se dava antigamente para a depressão.
Cassandra não entendia, nos ultimos anos não havia acontecido nada de muito ruim para despertar acédia em seu coração, mas Quiteria dizia que não se sente acédia por um momento ou evento e sim pela somatória das coisas.
E é verdade, a somatória das mágoas corroi a alma.
A tísica não se curou com nada, nem com as rezas bravas, nem com o sacrificio de uma cobra gravida, nem com a troca de cabeça feita com uma rapariga nova.
O principal ingrediente do feitiço é a força da alma, e a alma dela esta exausta.
Quiteria entendia, ela mesma havia sido rejeitada, agredida, violentada mais de uma duzia de vezes, cuspida nas ruas, praguejada e perseguida, e ela sabia que a história de Cassandra era a mesma, mas a diferença é que Quitéria era dura, era uma mulher nascida no sol de escorpião, e Cassandra era nascida no sol de Cancer. Ambas eram águas, mas não com a mesma profundidade.
E Quitéria esteve lá, não temeu se contaminar com a tísica, ficou lá fazendo seus bordados sentada em cadeira ao lado da cama de Cassandra por muitas semanas.
Um dia Cassandra murmorou algo, contava para Quitéria onde estava todo o seu dinheiro e pedia que Quitéria entregasse ao menino, ao filho.
Quitéria ouviu e disse que sim, deu a palavra que faria.
Mas Cassandra pediu mais...
— Você... você sabe fazer as almas voltarem, não sabe? Pois eu lhe peço, mesmo sem poder pedir... que me traga de volta. Quero ver meu menino outra vez antes de partir.
O menino não podia ir, ele era muito pequeno e se fosse contaminado iria morrer sem duvida. Quiteria não deu resposta a aquele clamor, mas ficou pensativa.
Cassandra segurou a mão de Quitéria a tarde toda e assim que o sol se pôs, se pôs tambem a vida dela deste mundo.
E uma mulher marafona mestiça de Cigano e africano seria aceita para ser enterrada no cemiterio da cidade?
Não.
Por obrigação Quiteria chamou o padre, ele abençoou o corpo de rezou ladainha para encomendar a alma, mas ao sair sussurrou a Quitéria:
— A senhora dê seu jeito, as familias de bem não vão deixar ela entrar no solo sagrado, sabe como é...
Quiteria já esperava por isso, logo cedo havia pedido a um de seus cumpadres para abrir a cova naquela terra largada no alto do morro onde os criminosos era enterrados após a forca.
E de madrugada a burrinha foi puxando a charrete onde o corpo enrolado em manta de seda foi levado morro acima seguido por uma procissão de marafonas que iam de braços dados vendo ali naquela morte tambem o seu futuro.
O corpo foi enterrado, todos então juntos voltaram para o cabaré, todos menos Quitéria.
A morta foi enterrada de cabelos curtos, seu cabelo fora cortado pela feiticeira que o trazia como um chicote na mão direita.
Com uma tocha na outra mão ela entrou na mata atrás de uma arvore que sabia que estava lá.
A Mancenilheira é arvore feia que não nasce no Brasil, mas estava lá por te sido plantada por alguem muito tempo antes, alguem que Quiteria lembrava como a Madame Figueira.
A Madame já estava morta há decadas, mas a arvore estava lá.
Quiteria se aproximou com cuidado e então cavou um pequeno buraco entre as raizes daquela arvore maldita.
Ali enterrou o cabelo de Cassandra.
Foi preciso apenas a lua cheia subir ao céu para Quitéria ouvir os boatos do espirito de uma marafona rondando a mata.
Mas ela não ficou só na mata, ficou?
Saravá a Sete Saias da Kalunga!
🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos!
Seja Honesto!
🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭
Quer saber sobre os mistérios da vida?
Sobre os seus caminhos?
Ou descobrir quem são suas entidades?
Venha jogar Tarô comigo!
O jogo simples custa 45,00 e dá direito a 5 perguntas em até uma hora.
O jogo completo (tradicional) custa 80,00.
Me chame no whatsapp
11944833724
Ou simplesmente clique no link:
https://wa.me/message/3AXPJWLXRT4QM1
Talentosa, bonita, mas sendo uma mulher de "sangue ruim" ela acabou agarrando as oportunidades que a vida lhe deu, e foram poucas essas oportunidades.
A mãe era cigana, o pai um escravo fugido.
O povo cigano é como todo povo que sofre preconceito, esses povos acham ruim serem discriminados porém não veem o menor problema em discriminar, e assim Cassandra era dita cigana de sangue sujo, mestiça, e não houve lugar para ela entre o povo de sua mãe.
Acabou ali naquele Cabaré.
Quitéria ainda era moça quando conheceu Cassandra, e a rapidinho a colocou para trabalhar na sua casa permissiva, casa essa acabada de inaugurar.
Mas a época era outra, era ainda a época do exagero, de perucas enormes e empoadas, de joias pesadas, de pó de arroz na cara, de rouge de banha nos labios, de pó de lapis lazuli e kajal nos olhos, de perfume de flor do campo.
E ali sentada diante do espelho naquele camarim que ela foi batizada de Sete Saias, isso pela saia cigana que usava em sete barrados de preto e vermelho.
Mal sabia ela que aṕos sua morte outras duas moças sentariam naquela mesma cadeira diante do mesmo espelho e também seria chamadas de Sete Saias, a fama de Cassandra criou moda e história.
E Cassandra era um evento, era alta, parruda, orgulhosa!
Sim, a vida sofrida era coisa de se falar, não de se definir, então dançava diante daquela multidão de homens, dançava até a pele reluzir de suor na luz vermelha da chama das velas.
E o preço para lhe levar a cama? Caro... quatro dobrões de ouro, e mesmo que Quiteria ficasse com um dobrão ainda assim o valor dos outros três era suficiente para se comprar um bom cavalo ou cem garrafas de conhaque, e por muito tempo ela foi a marafona mais cara da casa.
Teve direito até a tirar férias uma vez.
Mas não foi férias de verdade, um ano ficou sem trabalhar pois foi o tempo que tirou para parir o único filho que teve.
O menino foi dado para outra familia criar, mesmo que Cassandra pagasse tudo, todas as despesas.
O menino acabou por nunca saber que tinha mãe.
Isso porque durante dez anos após seu nascimento ela trabalhou como louca, se esforçando para juntar dinheiro para ir embora com ele. Pensava em comprar um engenho de cana em algum lugar ou mesmo comprar um grande pedaço de terra, lotear e arrendar, e ela na altura de uma decada realmente tinha dinheiro para isso.
Até que veio a tosse.
A tosse que mancha os lenços de sangue.
E foi ai que Cassandra se surpreendeu com Quitéria.
Ela imaginou que por estar com tísica seria prontamente expulsa do Cabaré, mas não foi isso que aconteceu.
Quitéria era uma feiticeira, todos sabiam disso, mas Cassandra não imaginou que aquela mulher tão dura iria tentar ajuda-la com tanto esforço.
— Isso é acédia, e acédia vem da alma... — dizia Quiteria toda vez que tentava curar os pulmões de Cassandra.
Acédia era o nome que se dava antigamente para a depressão.
Cassandra não entendia, nos ultimos anos não havia acontecido nada de muito ruim para despertar acédia em seu coração, mas Quiteria dizia que não se sente acédia por um momento ou evento e sim pela somatória das coisas.
E é verdade, a somatória das mágoas corroi a alma.
A tísica não se curou com nada, nem com as rezas bravas, nem com o sacrificio de uma cobra gravida, nem com a troca de cabeça feita com uma rapariga nova.
O principal ingrediente do feitiço é a força da alma, e a alma dela esta exausta.
Quiteria entendia, ela mesma havia sido rejeitada, agredida, violentada mais de uma duzia de vezes, cuspida nas ruas, praguejada e perseguida, e ela sabia que a história de Cassandra era a mesma, mas a diferença é que Quitéria era dura, era uma mulher nascida no sol de escorpião, e Cassandra era nascida no sol de Cancer. Ambas eram águas, mas não com a mesma profundidade.
E Quitéria esteve lá, não temeu se contaminar com a tísica, ficou lá fazendo seus bordados sentada em cadeira ao lado da cama de Cassandra por muitas semanas.
Um dia Cassandra murmorou algo, contava para Quitéria onde estava todo o seu dinheiro e pedia que Quitéria entregasse ao menino, ao filho.
Quitéria ouviu e disse que sim, deu a palavra que faria.
Mas Cassandra pediu mais...
— Você... você sabe fazer as almas voltarem, não sabe? Pois eu lhe peço, mesmo sem poder pedir... que me traga de volta. Quero ver meu menino outra vez antes de partir.
O menino não podia ir, ele era muito pequeno e se fosse contaminado iria morrer sem duvida. Quiteria não deu resposta a aquele clamor, mas ficou pensativa.
Cassandra segurou a mão de Quitéria a tarde toda e assim que o sol se pôs, se pôs tambem a vida dela deste mundo.
E uma mulher marafona mestiça de Cigano e africano seria aceita para ser enterrada no cemiterio da cidade?
Não.
Por obrigação Quiteria chamou o padre, ele abençoou o corpo de rezou ladainha para encomendar a alma, mas ao sair sussurrou a Quitéria:
— A senhora dê seu jeito, as familias de bem não vão deixar ela entrar no solo sagrado, sabe como é...
Quiteria já esperava por isso, logo cedo havia pedido a um de seus cumpadres para abrir a cova naquela terra largada no alto do morro onde os criminosos era enterrados após a forca.
E de madrugada a burrinha foi puxando a charrete onde o corpo enrolado em manta de seda foi levado morro acima seguido por uma procissão de marafonas que iam de braços dados vendo ali naquela morte tambem o seu futuro.
O corpo foi enterrado, todos então juntos voltaram para o cabaré, todos menos Quitéria.
A morta foi enterrada de cabelos curtos, seu cabelo fora cortado pela feiticeira que o trazia como um chicote na mão direita.
Com uma tocha na outra mão ela entrou na mata atrás de uma arvore que sabia que estava lá.
A Mancenilheira é arvore feia que não nasce no Brasil, mas estava lá por te sido plantada por alguem muito tempo antes, alguem que Quiteria lembrava como a Madame Figueira.
A Madame já estava morta há decadas, mas a arvore estava lá.
Quiteria se aproximou com cuidado e então cavou um pequeno buraco entre as raizes daquela arvore maldita.
Ali enterrou o cabelo de Cassandra.
Foi preciso apenas a lua cheia subir ao céu para Quitéria ouvir os boatos do espirito de uma marafona rondando a mata.
Mas ela não ficou só na mata, ficou?
Saravá a Sete Saias da Kalunga!
🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos!
Seja Honesto!
🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭🪭
Quer saber sobre os mistérios da vida?
Sobre os seus caminhos?
Ou descobrir quem são suas entidades?
Venha jogar Tarô comigo!
O jogo simples custa 45,00 e dá direito a 5 perguntas em até uma hora.
O jogo completo (tradicional) custa 80,00.
Me chame no whatsapp
11944833724
Ou simplesmente clique no link:
https://wa.me/message/3AXPJWLXRT4QM1
https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/
https://estudoumbandaespiritismoecandomble.blogspot.com/
https://caminhoesdomundotododetodososmodelos.blogspot.com/
https://famososefamosasdetodososramos.blogspot.com/