sexta-feira, 13 de maio de 2022

Tupinambá é um povo. Mas hoje hei de contar a história Do maior de seus homens, Daquele que mesmo após a morte Leva em si o nome de seu povo. Hoje falo do Caboclo Tupinambá.

 Tupinambá é um povo.
Mas hoje hei de contar a história
Do maior de seus homens,
Daquele que mesmo após a morte
Leva em si o nome de seu povo.
Hoje falo do Caboclo Tupinambá.

Tupinambá é um povo.
Mas hoje hei de contar a história
Do maior de seus homens,
Daquele que mesmo após a morte
Leva em si o nome de seu povo.
Hoje falo do Caboclo Tupinambá.
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Abayçô, homem bonito.
Esse era o nome do unico filho
Do cacique da Aldeia.
O nome lhe caia muito bem,
Quando jovem não havia quaisquer
outro homem que pudesse se igualar.
Em beleza.
Mas o ponto mais forte de Abayçô
Não era a aparência e sim
A fibra moral,
Ele era um homem honrado.
Quando seu pai envelheceu demais,
Abayçô assumiu a chefia da aldeia.
Mas infelizmente aqueles já
Não eram tempos de paz.
Cerca de três anos antes coisas
enormes vieram flutuando pelo mar,
Coisas malditas que vomitaram
Demônios de pele branca nas praias,
E esses demônios estavam avançando
Por toda a terra.
A tribo tinha muitos guerreiros
E já havia entrado em combate
Com os brancos algumas vezes,
Mas os demônios eram
Demasiados cruéis.
Escravizavam os homens,
Violavam as mulheres
E exterminavam as crianças.
Abayçô havia perdido tantos guerreiros
Que agora mesmo sendo valente
Ele tinha medo por seu povo.
Seu medo era maior ainda pois
Agora Abayçô tinha alguém
Muito especial em sua vida.
Ele não era casado ainda mas
Já tinha uma filha,
Um bebê que ele havia encontrado
Enrolados em folhas nas raízes
De uma árvore,
Bebê esse que recebeu o nome
Da propria árvore, Jurema.
Não era cumum naquela tribo
Que as mulheres fossem ensinadas
A usar o arco e a flecha,
Mas tempos de violência pedem
Sempre atos de cautela,
Assim Abayçô treinava a filha
Nas artes de arqueiro,
Treinava ela em combate.
Os anos passaram e Abayçô
Se casou e teve mais filhos,
Mas Jurema sempre foi seu
Braço direito em tudo.
Aquela menina não era como
As demais crianças,
Havia algo de diferente nela,
E o pajé sempre dizia e repetia
Que a menina não havia sido
Abandonada nas raízes
Daquela árvore e sim que ela
Era a alma da floresta encarnada
em corpo de gente.
Abayçô não acreditava muito
Nessa história, mas seu amor
Por sua filha era grande.
O tempo correu, muitos anos passaram
E os brancos agora estavam por
Toda parte, corriam pela mata
Estrondando o solado de suas botas
De couro nas perseguições
Aos nativos desta terra.
Foi então que Abayçô decidiu
Fazer rondas em torno da região
De sua aldeia para sempre
Ver se encontrava sinal da presença
dos brancos por perto.
A aldeia ficava entre dois vales
E por isso era de dificil acesso
Porém ao longe se via as colunas
De fumaça das fogueiras
que eles faziam nas praias.
Em um dessas rondas
Abayçô acabou por encontrar
Um grupo de sete homens brancos
Reunidos em torno de algo
em uma clareira na floresta.
Era bem perto de sua aldeia
Então ele ficou escondido atrás
das árvores observando.
Os homens ficaram ali um tempo
E depois foram embora voltando
Para a praia.
Quando Abayço entrou na clareira
O que viu lhe embrulhou o estomago
E encheu seus olhos de lágrimas.
Estava deitada no centro da clareira
Uma moça jovem, uma Índia
Da aldeia dos Caeté.
Estava lá, com as pernas amarradas
De modo a ficarem abertas,
Seus genitais destruídos.
Olhava para o céu com os olhos
Vidrados.
Estava morta.
Abayçô fechou os olhos da moça
E rezou para Nhanderu, o grande Deus
A receber em paz.
E imediatamente correu de volta
A aldeia, avisou a todos que
Empacotassem o que pudessem levar
Pois tinham de sair dali o quanto antes,
Eles tinham de entrar na floresta
E subir a serra
Pois os demônios estavam vindo.
Poucas horas depois toda a tribo
Caminhava em fila indiana
Pela floresta, todos muito tristes
por estar abandonado aquela aldeia,
A terra que seus ancestrais escolheram
Para viver e que habitaram por mil anos.
Agora eles subiam a mata
Atrás de um novo lugar.
A caminhada era longa
E quando anoiteceu eles pararam
Para descansar.
No meio da madrugada
Ele ouviu o tropel vindo morro acima,
Subiu em uma árvore
e viu se aproximando
Muitos pontinhos de luz vermelha,
Eram as tochas dos brancos,
Eles haviam encontrado
A aldeia vazia e agora
Os estavam seguindo.
Abayçô enviou todos onze
Guerreiros que ainda tinha
Para conter o avanço dos brancos
Enquanto ele guiava os idosos,
As mulheres e as crianças em silêncio
na mata escura.
De manhã a tribo havia avançado
um bom pedaço mas...
Nenhum guerreiro voltou.
Estavam muito cansados mas
Tinham de continuar.
No entardecer eles chegaram
no topo da serra,
Então podiam ir com mais agilidade
sem a subida.
Mas assim que a noite caiu
Ele ouviu o tropel das botas
Dos brancos correndo atrás deles.
Não tinha mais nenhum guerreiro
Para enviar,
Não tinha mais quem pudesse
Enfrentar os demônios.
Todo guerreiro sabe que sua obrigação
é proteger seu povo,
E que tem de fazer qualquer coisa
Para protege-los.
Abayçô beijou a testa de seus anciãos,
As bochechas das crianças e amigos,
Os lábios de sua esposa.
Por fim segurou o rosto de Jurema
Com as duas mãos e olhou fundo nos
Olhos dela.

— Seja forte. Você é a Cacique agora Jurema, você é a lider do nosso povo agora. Coragem Jurema! Coragem!

Ela olhava com determinação
nos olhos do pai,
Seu rosto não tremeu
Mesmo que as lágrimas
Escorressem pelas bochechas.
Abayçô lançou mão do arco
E das flechas
E desceu indo na direção
dos homens brancos.
Porém não foi de encontro a eles,
Correu para o outro lado,
E assim começou a gritar alto,
Gritava para chamar a atenção
Dos malditos.
E deu certo, logo ele ouviu
O tropéu de botas correndo
Na direção deles.
Ouvia ao longe as vozes
dos homens brancos pertuguntando
Uns aos outros

"esses são mesmo a tribo dos Tupinambás?"

Abayçô não entendia muito
Da lingua dos brancos mas sabia
Que Tupinambá era a forma
Como eles chamavan seu povo,
O povo Tupi-Anama-Mbá.
Abayçô continuava gritando
e correndo com estardalhaço,
Correu por muito tempo
Até que ouviu o estampido
E sentiu a perna arder,
Olhou para baixo e viu sangue.
Uma bala de chumbo havia atingido
sua panturrilha.
As balas vinham por todos os lados,
Atingiam as árvores
E as plantas,
Abayçô mancava mas ainda corria,
Retesou o arco, girou o corpo
E atirou para trás de si a seta,
Ouviu o berro e baque de alguém
Caindo, matou um,
Correu mais, atirou para tras novamente,
Matou mais um,
E continou nisso ate que quatro
brancos jaziam mortos na mata,
Porém mais dez ainda o perseguiam,
E então um balaçô o atingiu no ombro,
Abayçô não podia mais segurar o arco,
O braço não obedecia.
Ele correu tanto, mas tanto
Que de repente chegou a um
Penhasco, era muito alto
E lá em baixo corria um rio.
Os brancos vinham pelo mato
Gritando e comemorando que
Finalmente iriam pegar os Tupinambás.
Abayçô sentiu medo.
Não podia mais correr,
Não podia mais atirar flechas.
Ele foi para a beira do penhasco
e começou a gritar a planos pulmões
A única frase que sabia falar na
Lingua dos homens brancos:

— SOU EU! TUPINAMBÁ SOU EU!

Gritava alto dando socos
No próprio peito.
Os brancos chegaram,
Surgiram por de trás das árvores,
Então começaram a praguejar
Quando perceberam que ali
Estava apenas um índio sozinho,
Que o índio os havia tirado da trilha
E que assim eles ja não tinham
Como voltar a restrear a tribo.
Abayçô estava com medo
Mas não deixava transparecer,
Olhava com furia para os brancos
e continuava gritando:

— SOU EU! TUPINAMBÁ SOU EU!

Um dos brancos cuspiu no chão,
Cheio de raiva pois sabia que a
Tribo ja estava longe demais
Para ser alcançada.
Apontou a garrucha para Abayçô
E puxou o gatilho.
A bala varou o peito do guerreiro,
Abayçô caiu para trás
e despencando do penhasco
E caindo nas águas doces
Do rio.

Ao longe a tribo ouvia os gritos
De seu cacique, e quando ouviram
O último desparo
Eles todos deram as mãos e continuaram
A caminhada,
Chorando se fazer som nenhum.

Abayçô não sabia
Mas as palavras do velho pajé
Eram verdadeiras.
Jurema não era criança abandonada,
Ela era a filha da terra,
O espírito da floresta.
Os anos passaram
e um dia a alma de Abayçô
Sentiu que alguém lhe chamava.
Era Jurema, que havia
Ido atrás dele nas matas do mundo
Dos espíritos.
Abayço voltou a terra junto
Séculos depois de sua morte.
Veio ver o povo que habitava
O lugar de seus ancestrais.
E Jurema, a Rainha dos Caboclos
Tomou Abayçô pela mão
E apresentou ele ao povo da terra,
E disse a eles que aquele era seu pai,
Que aquele era o bravo
Caboclo Tupinambá.

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Louvação aos Orixás, Arte e texto por Felipe Caprini
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Espero que tenham gostado!
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