Ela respirava fundo,
Seu coração tomado por
Um sentimento que nem ela mesma
Sabia dizer qual era,
Porém não era nada bom.
Aquele era o pior sentimento de todos,
Era um poço de escuridão sem fim.
Ela respirava fundo,
Seu coração tomado porUm sentimento que nem ela mesma
Sabia dizer qual era,
Porém não era nada bom.
Aquele era o pior sentimento de todos,
Era um poço de escuridão sem fim.
Ali sentada no carpete vermelho
Do salão daquele Castelo ela mantinha
A cabeça de seu amado em seu colo,
Afagava-lhe os cabelos.
Miguel jazia deitado sobre o tapete, morto.
A flecha atirada pela besta ainda cravada
Em seu peito, ela não quis remover
Deixou ali.
Fabíola respirava fundo
Enchendo os pulmões o máximo
Que podia e depois esvaziava,
Respira, inspira, respira...
Então uma serva entra no salão
Segurando o bebê, olha aquela cena
E horrorizada teme em perguntar
Mas precisa seber:
— Se-senhora, o que eu faço agora?
Fabíola levanta o olhar e vê
Seu filho no colo da serviçal.
— Leve ele para as minhas irmãs tomarem conta, pegue todo o ouro e joia que quiser desta casa, metade para você metade para deixar com meu bebê, então vá embora e não mais volte.
No canto da sala caída entre
Algumas cadeiras estava uma velha
De cabelos muito brancos que choramingava,
Aquela era Blanca, a Baronesa mãe de Miguel.
Ela havia vindo de Saragoça até Jaén,
Veio porque soube que seu filho primogênito,
Aquele que herdaria o seu título de nobreza
Havia se casado com uma prostituta,
Uma mulher mais conhecida na cidade
Como "Espalha Brasa",
E essa mulher era Fabíola.
Blanca tentou de tudo para separar
Os dois, mas quando Fabíola
Ficou grávida Blanca perdeu a cabeça
E começou a planejar o assassinato da nora,
Assim que o bebê nasceu,
Passados poucos dias ela pagou
Para que um soldado mercenário
Entrasse no castelo ceifasse a vida Fabíola,
Foi tudo tão planejado que
Todos os guardas estavam
Ausentes naquela noite,
Ali se encontravam apenas Fabíola
O marido, o bebê e a babá,
Mas no momento do crime
O soldado calculou mal,
Acreditou ele que iria encontrar
Fabíola sozinha em um dos aposentos,
Na verdade quando adentrou o cômodo
A viu abraçada com Miguel,
E Miguel ao ver aquele soldado
Mal-encarado com a besta em riste
Apontando a seta para sua esposa
Correu para cima dele a fim de defende-la,
O que resultou foi o soldado atrapalhado
Disparar a seta no homem
Em vez da mulher,
E é claro que ele vendo que havia
Atentado contra um grão Nobre da região
Fugiu desesperado com medo da punição,
E Blanca tola estúpida subiu as escadarias
Rindo achando que iria encontrar
Dentro daquele quarto a mulher morta
E o filho chorando mas quando ela andou
Pelo corredor viu seu filho se arrastando
Pelas paredes sendo apoiado por Fabíola
Que gritava pedindo socorro.
Blanca Ficou desesperada,
Tentou ajudar mas foi afastada por
Fabíola que já imaginava que era dela
A culpa.
Conseguiram andar poucos metros
Até entrar no grande salão de bailes
Do Castelo, Miguel caiu no chão,
A última coisa que disse com a voz
Bem baixinha e fraca foi o quanto
Amava a esposa, por fim ele morreu.
Blanca correu para acudir o filho,
Queria abraçá-lo cheia de remorso,
Mas Fabíola a empurrou
Arremessando o corpo magro da velha
Contra as pesadas cadeiras
Encostada nas paredes,
A velha ficou ali caída lamentando.
Com sua voz rouca como a de uma gralha
A velha lamentava chorando enquanto
Acusava a nora:
— Maldito o dia em que meu filho entrou naquele bordel! Maldito dia... mas também quem iria imaginar que você, sua bruxa miserável, que você a grande prostituta de Jaén, a famosa mulher que dançava sobre As Brasas de uma fogueira, quem iria imaginar que você teria poder para enfeitiçar meu filho e cegar ele completamente da razão... achou mesmo que iria ser uma baronesa?
Fabíola invés de se zangar
Com aquele comentário acabou
Se lembrando do dia em
Que conheceu Miguel.
Ela na época era mesmo uma prostituta,
A famosa "Espalha Brasa",
Ali dentro do maior bordel da cidade
Ela dançava em cima de carvão aceso,
Sapateava o seu flamenco com
Seu vestido negro e dourado
Levantando As brasas e lançando
Fagulhas vermelhas no ar
Enquanto todos os homens aplaudiam
Encantados com sua performance incomum,
Todos embasbacados pois em todos os
Reinos da região a única mulher que
Fazia aquilo, a única com coragem
De dançar sobre o fogo era ela.
Então em uma noite de dança
Miguel entrou e no meio
Da apresentação olhar dela
Encontrou o dele.
Amor à primeira vista é algo
Que raramente existe,
Mas no caso dela existiu,
Fabíola e Miguel se apaixonaram
perdidamente, um amor tão forte
Que não viu nenhum tipo de problema
No fato de ela ser uma mulher
Pobre e Prostituída e ele um nobre filho
De uma Baronesa.
Miguel comprou um castelo Jaén,
Se casou na igreja com Fabíola
E juntos tiveram um filho,
E todo o povo falava,
Todo o povo maldava e criticava
A união dos dois, mas Miguel e Fabíola
Não estavam se importando,
O amor que tinham um pelo outro
Era o suficiente para superar
Tudo de ruim que pudesse acontecer,
Tudo menos aquilo que havia
Ocorrido naquela noite.
Após a serva ir embora segurando
O bebê no colo, Fabíola começou
A respirar fundo novamente,
O ódio que sentia no coração era
Tão grande que não conseguia
Ver mais nada.
Em um espaço de três anos
Ela havia realizado um sonho
De sair da prostituição,
De encontrar um amor de verdade
E de ter uma família,
E em questão de minutos tudo
Tinha ido sido arruinado.
Ela respirava fundo e o seu pulmão
Havia se tornado algo quente,
O ódio era tamanho que de uma
Maneira inexplicável ela puxou o ar
E quando soltou pelas narinas o que saiu foi fumaça e fogo.
Blanca olhou aquilo e se desesperou,
Era a confirmação de que Fabíola
Era uma bruxa.
Blanca começou a murmurar e
A fazer orações pedindo que Deus
A protejasse do mal,
Fabíola já não escutava mais nada,
O ódio era tamanho que a sensação
Que tinha de dentro para fora
Era a mesma de quando dançava
Sobre as Brasas naquele bordel,
Era um calor absurdo porém
Um calor que não era estranho a ela.
Fabíola respirou fundo novamente
E mais uma vez ao soltar o ar
Suas narinas lançaram fogo e fumaça,
Então ela ficou em pé e começou
A rir, Fabíola ria desvairada,
Gargalhava como louca,
Ora olhando para o cadáver do
Homem amado caído ali no chão,
Ora olhando para a sogra
Amedrontada e encolhida no canto da sala,
Ela ria com gargalhadas medonhas
E assim começou a dançar
Começou a sapatear,
E aquele vestido simples
Que usava naquela noite
De repente se enegreceu e
Se transformou no vestido
Que ela havia usado por
Tantas noites no bordel,
De repente estava linda com vestido negro,
Nem ela sabia como aquilo estava
Acontecendo porém a força do ódio
É uma força inimaginável e
Aquelas que têm em suas veias
O sangue das bruxas mesmo que
Em nenhum momento durante a vida
Tenham usado de magia
É no momento do ódio extremo em
Que os dons se manifestam.
Ela ria, gargalhava enquanto sapateava.
Do carpete sobre o seus sapatos
De salto alto começaram a surgir
Fagulhas vermelhas, e logo todo o chão
Era feito de brasa,
E logo as cortinas nas paredes
E janelas pegaram fogo,
E logo aquele salão era
Um Inferno vermelho.
Blanca gritava desesperada enquanto
Morria queimada e os gritos dela
Impulsionavam a dança frenética
De Fabíola,
Isso porque Fabíola não existia mais,
Ali só o que havia restado era
ESPALHA BRASA.
Ela dançava sem parar e as pessoas
Da região abriram as janelas
De suas casas e olharam para o
Topo daquele monte onde estava o c
Castelo, então virão a luz vermelha
Que emanava dele e souberam que o
Castelo pegava fogo.
Alguns poucos criados Tentaram
Entrar para socorrer quem estava
Lá dentro, só conseguiram chegar
Perto da janela e viram a cena tenebrosa
Daquela mulher dançando entre as chamas,
Constataram a verdadeira bruxaria.
Todos correram apavorados
E durante toda aquela noite
Do lado de fora eles observaram
O enorme castelo se transformaram
Em uma gigantesca bola de fogo,
O castelo era uma fornalha.
Ao amanhecer só o que estava ali
Eram pedras enegrecidas e mais nada.
A igreja foi chamada para averiguar
A situação e com muito medo a atitude
Que tomaram foi simplesmente
Salgar o solo do das ruinas do castelo
E de toda a propriedade para que
Nada crescesse, para que jamais alguém
Habitasse naquele local,
Então abandonaram
As ruínas e nunca mais ninguém
Falou a respeito, nunca mais ninguém
Ousou mencionar o nome de Espalha Brasa.
Mas mesmo que as pessoas não
Pudessem ver e não falassem dela
Ela ainda estava lá existindo
Entre as pedras chamuscadas,
andando pelas ruas da cidade
Como uma alma penada,
Acompanhando o crescimento
Do seu filho que fora criado por
Suas amigas do bordel.
Uma coisa leva a outra, o filho
De Espalha Brasa se casou e também
Teve filhos, então teve netos e bisnetos
E durante os quatrocentos anos
De existência dessa linhagem
Espalha Brasa visitou um a um de
Seus descendentes.
Hoje para que eles que vieram
Parar no Brasil ela se apresenta
Como uma pombagira,
A Pombagira Espalha Brasa,
Uma mulher cheia de ódio e de Fogo.
Conto das Entidades, Arte e texto dramatizado por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
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