sábado, 14 de maio de 2022

Quando tinha quatorze anos Caí na prostituição, Meus pais haviam falecido pela febre E eu sozinha não tinha como me manter, Então fui parar em um bordel sujo Na beira de uma estrada Na rota do ouro.

 Quando tinha quatorze anos
Caí na prostituição,
Meus pais haviam falecido pela febre
E eu sozinha não tinha como me manter,
Então fui parar em um bordel sujo
Na beira de uma estrada
Na rota do ouro.


Nenhuma descrição de foto disponível.Quando tinha quatorze anos
Caí na prostituição,
Meus pais haviam falecido pela febre
E eu sozinha não tinha como me manter,
Então fui parar em um bordel sujo
Na beira de uma estrada
Na rota do ouro.
Certa vez um dos homens foi
Bruto comigo, me bateu.
Eu corri para fora do bordel
Mas o homem me perseguiu,
E por ser franzina
Cai diante da casa,
O homem sacou um chicote e
Começou a me açoitar rindo,
Achando graça do meu sofrimento.
Eu chorava e clamava
Para que ele parasse,
Então ele parou.
Quando olhei para cima
O homem estava curvado para trás
E a ponta de uma faca
Brotava do meio de seu peito.
Me assustei, o homem caiu para
O lado, Morto, então vi
Quem estava atrás dele,
Era ele, Capa Preta,
Havia esfaqueado o homem
Pelas costas.
Capa Preta era calado,
Matador de aluguel,
Nós não sabíamos seu nome
Então como ele sempre usava
Uma capa de tecido negro
Era assim que era conhecido,
"O homem da capa preta".
Eu ja havia o visto muitas vezes
No bordel, ele ia até lá só para beber,
Nunca se deitava com as moças,
Vez ou outra pagava para dormir
Em um dos quartos mas
Sempre sozinho.
Maria Zureta, a dona do bordel
Veio correndo ao ouvir meus gritos
E então ao abrir a porta do cabaré
Se deparou com cena,
Eu ainda caída na terra,
O Cliente morto
E capa preta limpando o sangue
Da faca com um lenço.

🎩— Ela vem comigo. — Ele afirmou.

Foi a primeira vez que ouvi
A voz dele, era grossa e rude.
Dona Zureta falou que sim
Que eu podia ir
Contanto que ele desse fim
No cadáver ali caído.
Assim ele fez,
Saiu carregando o corpo
Para o mato
E instantes depois veio me buscar.
Perguntei a dona Zureta
Para onde ele ia me levar
Mas ela apenas deu de ombros.

🌺 — Ele mora mais para o sul, deve querer você para ser só dele. De qualquer modo menina... É melhor que vá com ele, ficar aqui não dará futuro e ele... ele é calado mas nunca vi ou ouvi dizer que faz maldades com mulheres.

Então eu fiz a minha trouxa
Com as poucas roupas que tinha
E montei no cavalo de Capa Preta,
Ele ia atrás e eu sentada na frente.
Durante o caminho eu ia
Me ensinuando, me esfregando
Para trás para roçar no corpo dele,
Mas logo ele me mandou ficar quieta
Deixando claro
Que não tinha intenção de
Se deitar comigo.
Foram três dias de viagem,
Dormimos ao relento
Com esteiras esticadas na relva
Uma ao lado da outra.
Capa Preta não era de conversa,
E eu faladeira como era
Ecoava sozinha com minhas historias,
Ele as vezes balançava a cabeça
Para mostrar que ouvia
Mas nada além.
Chegamos a cidade
E ele me levou até um casarão
De madeira vermelha,
Reconheci imediatamente
Pois aquela casa era deveras famosa,
Era o "Cabaré de Fogo",
A casa de prostituição mais famosa
De toda a colônia.
Era dia e então o salão estava vazio,
Mas quando entramos
As moças logo foram chamar
A dona da casa,
E ali eu conheci a mulher
Mais linda que meus olhos ja viram,
Uma negra de cabelos volumosos
De nome Maria Mulambo.
Ela cumprimentou feliz Capa Preta
E percebi que eram amigos,
Mas quando olhou para mim
Seu olhos se arregalaram.

🌹 — Quem... quem é a rapariga? — ela quis saber.
🎩 — É minha protegida. Tirei de um bordel em Minas, e vosmecê ha de cuidar dela para mim.

Mulambo apertou os olhos
E olhou feio para Capa preta,
Então o agarrou pela manga do casaco
E o arrastou para cozinha.
Do salão eu ouvi parte da conversa
E o Mulambo dizia era

🌹 — Escute aqui Tibério, não é ela, pode parecer com ela mas essa menina é outra pessoa, não gaste vela com velório dos outros.

Descobri ali que Capa Preta
Se chamava Tibério
E que havia me trazido com ele
Por eu lembrar alguém de seu passado.
Após alguma discussão
Ele voltou da cozinha
Com uma carta na mão
E nós dois saímos do cabaré.
Mais umas horas de viagem
E chegamos em uma vila
E eu fui deixada aos cuidados
De uma velha quitandeira
Chamada Bibiana
Que era madrinha de Mulambo.
Foi combinado que eu iria
Trabalhar com ela na venda,
Morar com ela na casa dos fundos
E que assim não precisaria
Me prostituir mais.
Capa Preta de seu modo sisudo
De despediu de mim da maneira
Mais estranha de todas,
Tirou de um bornal uma boneca de pano
Muito surrada e disse apenas

🎩 — Cuida disso pra mim.

Então foi embora.
Eu não entendi o motivo
De ele ter sido tão bom comigo
Até que Bibiana ao ver a boneca
Me contou a história.

Capa Preta nem sempre
Havia sido matador,
Na verdade era apenas
Um agricultor, camponês,
Cultivava batatas em sua fazenda,
Era amigo de todos
Inclusive das moças do cabaré.
A esposa havia morrido de parto
E ele cuidava da filha sozinho,
A menina era chamada Tereza
E era a alegria de sua vida.
Bibiana não quis me dizer
Como Tereza havia morrido
Mas afirmou que eu era
Como uma cópia dela,
Que se dissessem que eramos gêmeas
Todos acreditariam,
Contou também que a boneca
Que ele havia me dado
Era dela, de Tereza.
Segundo ela, Capa Preta
Era antes um homem Alegre,
Um fanfarrão, mas que
Após a morte de Tereza
Ele se tornou frio, calado
E cruel, abandonou o arado
E passou a matar por dinheiro,
As vezes matava até de graça.
Um mês depois Ele voltou a casa
De Bibiana e me trouxe um saco
Com um vestido cor de rosa,
Era demasiado pequeno para mim
Mas Bibiana disse que me ajudaria
A ajustar.
Capa Preta pediu a Bibiana para
Passar a noite ali
E ela permitiu, então me comunicou
Que queria dormir comigo.
Eu me enfiei no vestido cor de rosa
E entrei no quarto pronta para ser dele,
Mas estava enganada novamente.
Capa Preta ao me ver com Aquela roupa
Fez algo que eu jamais esperava,
Vi seu queixo barbudo tremer
E então as lágrimas cairam por seu rosto,
Ele chorava de um modo tão doloroso,
Tão sofrido que eu mesma
Chorei junto sem nem saber o porque.
Dormimos juntos na cama de palha,
Ele me abraçou apertado
E chorou a noite toda com o rosto
Enfiado em meus cabelos
Porém não tivemos quaisquer intimidades.
Entendi então que eu para ele
Era nada alem de um retrato vivo
De Tereza.
O tempo passou, ele sempre vinha
De mês em mês,
E mesmo com sua cara fechada
Ele era gentil comigo,
Me trazia coisas de criança,
Me presenteava com compotas
De doce de leite,
Cestos cheios de morangos,
laços de fita para por no cabelo
E brincos de pérola rosada.
Um dia estava eu fechando
A quitanda junto com Bibiana
Quando uma carruagem de feitio
Caro parou diante de nós,
Maria Mulambo abriu a porta
E com muita pressa me mandou subir,
Eu sem pestanejar fui
E no caminho fui informada de que
Capa Preta havia sido baleado
Durante um de seus serviços
E que estava a beira da morte.

🌹 — Pelo tamanho do ferimento já era para ele estar morto, mas ele exige ver... bom... Ver Tereza antes de partir.

Finalmente perguntei a ela
Como Tereza havia morrido,
Então Mulambo deu um gole
Em seu cantil cheio de cachaça
E me contou a história.

🌹 — Isso foi a muitos anos, Tibério era um dos amantes fixos de Maria Padilha, uma cafetina que gerenciava o cabaré antes de mim. Ele então frequentava a casa e nisso todas nós o conhecemos, era um homem muito galante sabe, risonho. Certa noite o filho do comendador Braga arrumou uma confusão, estava bebado e agrediu uma das moças da casa, Tibério estava lá, deu nele uma sova e o pôs para correr. Na noite seguinte os Braga foram na fazenda de Tiberio, o espancaram e... eles... eles o amarraram e o obrigaram a assistir enquanto se revezavam em Tereza, você entende o que quero dizer? Eram cerca de uma dezena homens, Tereza era uma criança, tinha doze anos apenas. Eles so pararam quando ela parou de respirar e morreu. De manhã Rosa Vermelha, uma outra moça do cabaré, avistou a figura de Tibério vindo caminhando pela estrada, ele trazia Tereza nos braços, a miúda estava cheia de sangue e ele... ele estava atônito, não falava coisa com coisa. Os Braga haviam dito ao padre que a criança era prostituta, então foi negado a ela um lugar no cemitério da igreja. Fomos nós que a lavamos e enterramos, foi sepultada na clareira na mata onde estão enterrados os que a igreja excomunga. Não demorou muito tempo e Tibério se vingou, matou cada um dos Braga, cada homem, mulher e criança daquela família, mas mesmo após isso ele nunca se recuperou, passou a matar por dinheiro, passou a viver sozinho e sempre vestindo Aquela capa preta, eternamente de luto.

Quando chegamos no cabaré
Fui levada a um quarto no fundo
Atrás da cozinha
E ao entrar eu o vi, estava deitado,
Haviam retirado sua camisa
E seu peito estava cravejado,
O sangue vazava profusamente
De tres buracos, um no ombro,
Um próximo o mamilo direito
E um no centro do peito.
Ao me ver, seus lábios esbranquiçados
Se moveram e ele sussurrou
"Tereza..."
E eu me sentei ao seu lado
E então ofereci o que ele precisava,
Tornei minha voz mais fina,
Mais infantil, beijei-o na testa
E disse:

🌸 — Sim Papai, eu estou aqui.

Ele me fitava com os olhos
Cheios de lagrimas.

🎩 — Eu... eu não pude... eu não consegui te proteger... eles... eram muitos... me perdoe... eu... Eu tentei, eu juro...

Suspirei fundo para não chorar
E não tremer a voz.

🌸 — Papai... não aconteceu nada, o senhor só teve um sonho ruim, eu estou aqui veja — apertei sua mão com força — Estou bem.
🎩 — Um sonho? — ele fechou abriu os olhos confuso.
🌸 — Sim, nada além de um sonho ruim. Amanhã vamos comer bolo de doce de leite juntos certo? E vai ficar tudo bem.
🎩 — Certo... Certo... Só um sonho?
🌸 — Sim, mas já passou, o senhor tem de dormir agora, amanhã nós vamos estar juntos e vai ficar tudo bem.

Então vi seus lábios se moverem
Sem emitir som mas entendi que dizia
"Só um sonho", e então seus olhos escureceram
E ele se foi.

No dia seguinte Bibiana veio
E trouxe consigo aquela boneca de pano,
Dona Mulambo mandou que
Abrissem um cova na mata
Ao lado da de Tereza,
E ele foi enterrado abraçado a boneca.

Eu tive uma vida boa,
Após Bibiana falecer
Eu herdei a quitanda
E trabalhei a vida toda em paz
Graças a ele.
Sempre ouvi muita gente falar
Mal de Capa Preta,
Dizendo que era mal, que era cruel
E que era o pior dos marginais,
Mas ninguém jamais soube
O que este mundo cruel lhe fez
E como ele foi bom
Para uns pobres sem rumo
Como eu.

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Felipe Caprini, Contos dos Maridos da Lua
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