Ela respirava fundo,
Queria ficar calma.
Lurdinha tinha uma enorme
mancha roxa em seu vestido
Branco.
Sua vizinha, uma louca
Chamada Eliana
Que vivia em prol do marido
Havia enfiado na cabeça
que Lurdinha estava tendo
um caso com o homem dela.
Ela respirava fundo,
Queria ficar calma.Lurdinha tinha uma enorme
mancha roxa em seu vestido
Branco.
Sua vizinha, uma louca
Chamada Eliana
Que vivia em prol do marido
Havia enfiado na cabeça
que Lurdinha estava tendo
um caso com o homem dela.
No meio do pagode a louca
Veio desacatar Lurdinha
E atirou sobre ela uma
Taça de vinho.
O povo apartou a briga,
Mas Lurdinha era perigosa.
Ali ela era Dona Lurdinha quituteira,
Mas o que poucos sabiam
Era que na Macumba ela era
Lurdinha de Nanã.
Foi para casa, tirou
a roupa e entrou no banheiro.
Antes de tomar banho
ficou olhando o vestido arruinado.
Economizou por três meses
Para comprar aquela roupa,
E agora estava destruída.
Duranteo banho
deixou a água cair fria
Sobre a cabeça,
Então ia falando baixinho
"Ai minha mãe, não me deixe fazer o que estou querendo fazer..."
Mas a mãe dela era um
Orixá que não gosta de
Desaforo.
Então Lurdinha invés de
Esquecer o caso,
A cada segundo ficava mais
E mais nervosa.
Saiu do banho e chegou a
Pegar a camisola na gaveta
Da cómoda, mas quando deu
Por si estava lá na rua
De calça, camisa e galocha,
Com uma farolete velho
na mão e uma mochila
nas costas.
Ja passava das duas da manhã
e Lurdinha estava feito
Um moleque pulando
o muro dos fundos da casa
De Eliana.
No varal as roupas lavadas.
Lurdinha olhou bem
E sua mão subiu no ar
E apanhou uma calcinha velha,
A mais velha, pois era a mais usada.
Dali a pouco Lurdinha
Estava com o farolete
Ligado, estava já dentro
do terreno baldio,
Era um matagal no bairro.
Ela andou ali ouvindo
o coaxar dos sapos.
Então a luz fraca de seu
Farolete bateu naquilo
Que procurava.
O monte de terra duro
Chegando a quase um metro
Revelava um cupinzeiro.
Ela chutou a terra, era duro
Como pedra, mas
Lurdinha era macaca velha,
Tirou da mochila o martelo
de amaciar carne que havia
Trazido, foi batendo ate abrir
um Buraquinho no monturo.
Pegou na mochila a calcinha de
Eliane e também um frasco
Vermelho, era dendê.
Enfiou a calcinha dentro
do cupinzeiro e depois esguichou
Dende em cima,
E teve de cobrir a boca com
A mão de tanta vontade que
Teve de gargalhar.
No duas semanas se passaram,
Mas em um domingo a tarde
Quando Lurdinha lavava a louça
Parou estática ao ouvir a gritaria
na casa da vizinha,
E foi assuntar com as mulheres
Da rua o que estava acontecendo.
Uma das vizinhas disse:
"Mulher, Eliana pegou o homem dela na traição..."
Lurdinha entortou a boca
Fingindo que estava surpresa.
"E foi é? Quem foi a sirigaita?"
A vizinha arregalou os olhos e
Cochichou:
"Sirigaita? Não, Eliana pegou o homem embaixo de outro homem... é menina, e pelo que parece fazia duas semanas que o Nelson da padaria fazia o marido de Eliane de boneca... veja como anda esse mundo..."
Lurdinha fez uma expressão
de susto e voltou para casa,
Correu para o quarto, pegou
o travesseiro e enfiou a cara
Nele, assim ninguém poderia
Ouvir ela gargalhar, e ela
Gargalhou até ficar sem ar.
Mas no dia seguinte
De manha quando estavam
na parada de onibus
Eliana estava ali toda toda,
Sabe como é essa gente arrogante.
Então conversando com
Uma amiga Eliana disse alto
"Não sei que condição esse povo acha que tem de zombar da minha vida, bairro cheio de quenga e de mãe solteira, gente que deixa os filhos pra Vó criar..."
Lurdinha perguntou:
"Ta falando de mim? Por minha filha morar com minha mãe?"
Eliana deu de ombros:
"Veja só, a gente fala e a carapuça serve..."
Ah mas o coração de Lurdinha
Saltou no peito feito siri na lata.
O dia inteiro ela matutou
Aquilo no serviço,
E quando chegou em casa
Esperou ate de madrugada,
Até a rua ficar vazia,
Então varreu a porta da casa
De Eliana, juntou o pó e
Guardou em uma sacola.
De manhã ela viu Eliana
Saindo de casa, a parou e perguntou:
"Me diz Eliana, você acredita em Exu?"
"Deus é mais, que eu não me dou com essas nojeiras!"
"É? Tem gente que gosta de fazer oferenda pra Exu pra dar sorte..."
"Pois eu não faço e nem aceito isso na minha casa."
"Não aceita Exu na sua casa?"
"Oxi, tas é surda? Ja disse que não!"
Lurdinha deixou Eliana seguir o rumo,
Mas ela mesma não foi trabalhar
Aquele dia.
Lurdinha esperou dar meio dia
E foi para a encruzilhada de três
Pontas no fim do bairro.
Botou na esquina uma garrafa
De cachaça e depois pegou
a sacola onde tinha aquele pó
E foi jogando no meio
Da encruzilhada enquanto
cantarolava:
"Uma casa sem Exu... pega fogo... uma casa sem Exu... pega fogo... uma casa sem Exu... pega fogo... "
Lurdinha estava em casa
Sentada a máquina de costura
Quando sentiu cheiro de
Queimado, correu para a
Cozinha para ver se eu assado
Não estava queimando no forno,
Mas não era ele.
Então o sorriso se estampou
Em seu rosto e ela foi
Para a janela.
O povo ja se juntava na rua
Na frente da casa de Eliana,
E a fumaça preta saia pelas janelas.
Lurdinha correu lá fora.
"Que é isso gente? Que ta acontecendo?"
Uma das vizinhas falou:
"A casa de Eliane da incendiando, coitada dela..."
E Lurdinha fez cara de triste
"Coitada meu Deus...
Quando o bombeiro chegou
Metade da casa era só carvão.
No dia seguinte Lurdinha
Abriu a porta de sua casa casa
Só uma frestinha,
ouviu Eliana chorando
Na calçada
E contanto para as amigas:
"O bombeiro disse que eu deixei o ferro de passar ligado, mas no dia eu nem passei roupa... eu não sei como foi acontecer..."
Lurdinha ria e sambava
Dentro de casa
Parecendo moleque arteiro.
Então, lá pelas tantas
bateram na sua porta.
Ela abriu, e quem tava lá?
Era Iyá, a mãe de santo.
"Que ziquizira você anda aprontando Lurdes?"
Lurdinha recebeu a velha
e enquanto servia o café
fez cara de sonsa:
"Eu? Eu só faço trabalhar, não tenho tempo pra confusão não Iyá..."
"A cara nem treme... safada! O ibá de sua Nanã hoje cedo parecia que tinha saido do forno de tão quente, botei a mão no barro e quase que me tostou a mão. Você anda fazendo macumba?"
"Eu não, juro!"
"Jura em nome de Nanã?"
Lurdinha riu e não jurou foi nada.
E lá em cima, no outro mundo,
Nanã olhava para o longe vendo
as artimanhas de Lurdinha e ria.
Aprovar? Não, Nanã não aprovava
Nada, porém... filho de Peixe não
é peixe também?
Quando a Iyá foi embora,
Lurdinha correu na cozinha,
A velha mãe de santo tinha
Mandado fazer canjica para
Oxalá e por nos cantos da casa
Para apaziguar.
Lurdinha abriu o armário
e viu ali na primeira prateleira
O saco de milho branco.
Mas quando sua mão chegava
Perto ele parou pois ouviu
Eliana lá na rua falando
Mais desaforos.
A mão de Lurdinha desceu
para a prateleira de baixo
E abriu uma caixa de sapatos
Que tinha lá,
Mas dentro tinha era um
Monte de velas.
Lurdinha olhou de novo
Para o saco de milho,
Mas depois suspirou
fundo, meteu a mão
na caixa e pegou uma vela,
Uma vela preta.
Então abriu um sorriso
de orelha a orelha...
E sussurrou meio que
Para si mesma:
"Cuidado com as filhas de Nanã..."
Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado
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