A PROGRESSÃO DOS ESPÍRITOS FALANGEIROS DE UMBANDA
A PROGRESSÃO DOS ESPÍRITOS FALANGEIROS DE UMBANDA
Não é qualquer espírito que, cismando, pode resolver baixar em um centro de Umbanda e começar a trabalhar, se dizendo Preto-Velho, Exu ou qualquer outro falangeiro. Aliás, isso, infelizmente, até acontece mas, nesses casos, entendemos que o terreiro em questão possa estar enfrentando algum problema espiritual que o esteja dificultando de perceber a ação de “quiumbas”, que é como chamamos esse tipo de espírito.
Mas, quem são os espíritos que, hoje, ocupam, LEGITIMAMENTE, as funções de falangeiros de algum grupo de trabalho ou de algum Orixá? Quem são os espíritos que baixam nos terreiros usando o nome e assumindo a personalidade de Vovós, Vovôs, Caboclos, Exus, Oguns, Iansãs, Marinheiros e tantos outros? Para começar, são espíritos! E, por isso, nem um pouco diferentes nem de mim, nem de você e nem daquele egun perturbador, a não ser pelo quê, de fato, nos distingue uns dos outros, que é o nível de consciência.
Nenhum espírito foi criado já com grande grau de discernimento e lucidez! Todos nós partimos do mesmo princípio - simples e ignorantes - e, ao longo de nossa extensa caminhada espiritual, temos aprendido a nos guiar mais pela consciência e menos pelo ego. Os espíritos que trabalham na Umbanda não são diferentes, e passam pelo mesmo processo. No entanto, para que possam atuar como falangeiros, devem possuir um nível de moral e consciência superior ao da maioria de nós; caso contrário, não seriam capazes de guiar nem a si próprios, e aí, então, nós é que seríamos seus Guias.
A partir do momento em que um espírito preencha todos os requisitos morais e conscienciais necessários para ser um Guia de Umbanda, caso queira, ele poderá se predispor ao trabalho na Seara Umbandista ou continuar amparando de outra forma qualquer, através de tantos outros tipos de trabalhos existentes no mundo espiritual. O trabalho na Umbanda é, portanto, apenas mais uma, dentre tantas outras opções de trabalho que um espírito amparador tem pela frente. Mas, desejando atuar na Umbanda, ele terá que saber que:
A Umbanda não é uma “casa de ninguém”, onde qualquer espírito chega, faz o que bem quer e vai embora. Ela é uma religião organizada, que possui princípios e objetivos e, todo espírito que desejar trabalhar nela terá que ter responsabilidade e o compromisso de seguir a sua filosofia e se encaixar na estrutura espiritual em que se sustenta, e que é baseada em uma HIERARQUIA na qual espíritos mais adiantados orientam os mais iniciantes, e estes obedecem às orientações de seus superiores. Afinal, como em tudo, para que possa haver progresso é preciso ORDEM em primeiro lugar.
A Umbanda não é uma religião – como muitas outras - que visa apenas a elucidação moral e espiritual de quem a procura; ela atua também sobre fluidos e vibrações da natureza e, por isso, o espírito que nela trabalhar terá que aprender, ao longo de todo o seu percurso como trabalhador umbandista, a manipular cada uma dessas tantas vibrações ou, caso contrário, não conseguirá remover determinados miasmas, absorver da natureza forças purificadoras específicas e nem manusear elementos para fins magísticos.
Enquanto trabalhar na Umbanda, ele – o espírito – terá que galgar degraus e níveis subsequentes de conhecimento. Como em uma escola, em cada um desses níveis ele aprenderá a manusear determinadas energias específicas da natureza e colocará em prática tudo o que aprender, através da sua própria atuação nos terreiros. Começará seu aprendizado a partir do estudo e manipulação das vibrações mais simples e comuns, progredindo até as mais complexas e de difícil manuseio.
Ele e todos os outros espíritos situados no mesmo nível serão identificados por um mesmo UNIFORME, que identificará o seu campo específico de atuação e que será alterado a cada promoção de nível, sequencialmente, indicando o tipo de vibração com a qual estiver lidando naquele período.
Cada uniforme corresponde a um ARQUÉTIPO que deve ser vestido integralmente por todos os espíritos situados naquele nível. O arquétipo é o mesmo que uma personalidade construída para um personagem. Enquanto usar aquele uniforme – ou representar aquele personagem -, ele - o espírito - mudará o seu nome e a sua roupagem perispiritual, passando a se apresentar com a mesma denominação e aparência das centenas de outros espíritos que estejam desempenhando as mesmas funções e manipulando as mesmas vibrações da natureza. Cada grupo de espíritos atuando da mesma forma e utilizando o mesmo arquétipo é chamado de “FALANGE”.
Através dessa personificação, ele entrará em contato conosco, encarnados; e nós o entenderemos como índio, velho escravo, criança, exu, Ogum, Iansã e tantos outros, dependendo do arquétipo que estiver vestindo no momento, do personagem que estiver representando, e não pelo nome utilizado em sua última encarnação.
Nos momentos em que não estiver atuando na Umbanda, ele poderá deixar de representar o seu personagem, e poderá assumir, novamente, a aparência e o nome utilizados em sua última encarnação ou quaisquer outros que preferir.
O tempo em que permanecerá utilizando o mesmo uniforme, ou seja, pertencendo à mesma falange de trabalho, dependerá de sua aplicação no estudo e no cumprimento de suas funções. Quanto mais trabalhar e quanto mais realizar suas tarefas de manuseio vibratório com perfeição, mais capacitado estará, e poderá mais rapidamente alcançar condições de passar a estudar outras energias, sendo promovido e mudando de falange.
De posse de todo esse conhecimento e concordando com a estrutura de aprendizado e de trabalho construída para a Umbanda, o espírito poderá ser, então, admitido finalmente à Seara dos trabalhadores umbandistas, sendo considerado apto a ser “falangeiro” ou “Guia de Umbanda”. A partir daí, o seu primeiro passo será acompanhar por um tempo, como observador, a atuação de algumas falanges de trabalho, para entender como a Umbanda funciona, como é a rotina dos terreiros, quais são as dificuldades e as facilidades atuais da religião e mais uma série de informações introdutórias, que o ajudarão a se situar em relação ao trabalho que realizará.
Findo esse período de integração, ele será encaminhado ao ingresso em uma das falanges de trabalho da Umbanda. No entanto, como em qualquer coisa na vida – nessa ou na outra -, já que ninguém começa por cima e já sabendo tudo, o espírito também terá que iniciar seu trabalho pelas funções mais básicas, que requerem mais “trabalho pesado” e menos conhecimento sobre manipulação de energias sutis. Passará a integrar falanges onde terá oportunidade de aprender a trabalhar com energias menos complexas e menos instáveis, porém mais grosseiras e densas e que, portanto, requererão menos conhecimento e habilidade. Já que, na Criação Divina, a vibração irradiada de Deus que controla esses tipos de energias é a denominada EXU, então, o primeiro nível onde o espírito atuará deverá ser ligado a esse Orixá, assumindo uma posição em uma de suas falanges de trabalho, como “Falangeiro do Orixá Exu”.
Observando-se o símbolo da CENTELHA, fica fácil compreender que, como falangeiro do Orixá Exu, esse espírito deverá integrar também as “Falanges de Demanda” de cada raio, afinal seu aprendizado não estará completo enquanto não tiver passado por cada uma delas, pois as energias que são trabalhadas por essas falanges são diferentes entre si por se misturarem às potencialidades específicas de cada raio. Em outras palavras, esse espírito só poderá dizer que realmente aprendeu a manusear TODAS as vibrações manipuláveis por Exu quando tiver passado pelas Falanges de Demanda de cada um dos Sete Raios, já que em cada uma delas há energias de Exu ligeiramente diferentes.
Sendo assim, ainda como falangeiro do Orixá Exu, o mesmo espírito terá que passar pelas Falanges de Demanda dos “Executores da Lei”, dos “Malandros”, dos “Baianos”, dos “Ciganos”, dos “Caboclos Quimbandeiros”, dos “Boiadeiros”, dos “Mirins” e dos “Marinheiros”, aprendendo as lições relativas a cada uma delas, mas não necessariamente nessa ordem, embora essa seja a ordem recomendada. A sequência percorrida irá depender, na verdade, de dois fatores: da aptidão daquele espírito de já ingressar no estudo das energias com as quais aquela falange atua e da oportunidade de ingresso naquela falange, possibilitada pela promoção de outro espírito que ali trabalhava, disponibilizando a função para ser ocupada por um novo espírito. Depois que tiver, por seu mérito e esforço, completado o ciclo de aprendizado e trabalho em cada uma das Falanges de Demanda citadas (Executores da Lei, Malandros, Baianos, Ciganos, Caboclos Quimbandeiros, Boiadeiros, Mirins e Marinheiros), estará, por fim, apto a ingressar na mais adiantada de todas as Falanges de Demanda, composta pelos falangeiros Pretos-Velhos.
Ao chegar nessa posição, o espírito já tem em sua bagagem de conhecimentos a experiência com a manipulação de quase todas as energias manuseadas pela vibração divina Exu e, é por isso que, na maioria dos terreiros há o consenso de que Preto-Velho é profundo conhecedor da magia e que, com suas mirongas e mandingas, sabe desfazer como ninguém um feitiço ou um trabalho de magia feito para o mal. É - enquanto exerce a função de Preto-Velho - que o espírito – que já percorreu todas as Falanges de Demanda anteriores – aprende a usar tudo o que aprendeu de uma única forma, combinada e organizada, aplicando, conjuntamente todo o conhecimento adquirido de cada vibração de Exu atuada pelas diferentes potencialidades de cada Raio Divino.
Depois disso, ao completar o seu ciclo de aprendizado como Preto-Velho, o espírito encerrará suas lições dentro das Falanges de Demanda e como falangeiro do Orixá Exu. Estará na hora, então, de galgar novos horizontes. Ele já aprendeu a manipular todos os tipos de vibrações densas e, de quebra, ainda aprendeu superficialmente um pouco das potencialidades contidas em cada Raio Divino, já que cada Falange de Demanda por que passou é atuada por um deles. Mas essa foi apenas a primeira parte do aprendizado; o seu primeiro ciclo. A natureza é muito mais extensa que isso e a quantidade de energias que por ela flui é infinita. Por isso, o espírito agora iniciará o seu segundo ciclo de aprendizado, onde percorrerá cada um dos Raios Divinos, dessa vez não transitando pela sua extremidade, pela faixa de combate entre Luz e Sombras, mas DENTRO de cada um deles, aprendendo – a fundo - tudo que as vibrações ali contidas são capazes de fazer, e também sobre como manipulá-las correta e seguramente.
Nesse segundo ciclo de aprendizado, percorrendo o interior dos raios, atuará como falangeiro dos Orixás regentes de cada faixa vibratória, assumindo seu arquétipo, postura, nome e posições. Representará Ogum, Xangô, Iemanjá e todos os outros Orixás durante os trabalhos nos terreiros e, enquanto os representar, estará manipulando essas vibrações divinas, atuando sobre as energias da natureza que cada Orixá governa, agregando, desagregando, transformando, conduzindo, dissipando, modificando, etc.
Embora a sequência recomendada ao aprendizado seja seguir raio a raio, do vermelho ao lilás, na prática, a ordem real a ser percorrida dependerá, em primeiro lugar, da “abertura de vaga” em qualquer um dos raios, ocasionada pela promoção de um dos espíritos que ali trabalhava e, em segundo lugar, da capacidade do outro espírito em assumir aquela posição como falangeiro daquele Orixá. Contudo, independentemente da ordem que seguir, o ensinamento só estará completo depois desse espírito ter passado por cada um dos raios, servindo como falangeiro de cada Orixá. É mais ou menos como em um curso universitário, onde, apesar de haver uma ordem sugerida de matérias a serem cursadas, o aluno pode optar por outra, contanto que cumpra os pré-requisitos para cursá-la e que, ao término do curso, tenha estudado todas as matérias.
Depois de percorridos os Sete Raios, tendo assumido as funções de falangeiro de cada Orixá, o espírito estará pronto para o seu terceiro e último ciclo de aprendizado, que se inicia após sua saída do Raio Lilás, ingressando na faixa de transição para o branco, faixa essa regida pelo Orixá Oxumarê, aquele que combina todas as vibrações dos Sete Raios em seu arco-íris luminoso. Como falangeiro de Oxumarê, o espírito irá aprender a usar tudo o que aprendeu durante sua trajetória ao longo dos Sete Raios de uma única forma, combinada e organizada, aplicando, conjuntamente, todo o conhecimento adquirido separadamente em cada Raio Divino.
Tendo aprendido a combinar as energias de forma segura e eficiente, ele estará apto, agora, a exercer sobre a natureza ação que envolva qualquer elemento, e ingressará nas falanges de trabalho situadas dentro do “Triângulo Divino”, representando Oxalá, o Pai de Tudo e de Todos, aquele que tem ascendência sobre qualquer coisa existente, tanto no mundo material quanto no espiritual. Nessa fase, o espírito será como o aluno que está se formando e que, uma vez formado, poderá optar entre continuar auxiliando a sua universidade e colaborando nessa organização como instrutor ou como coordenador; ou então, partir para novos horizontes que, nesse caso, ainda são de difícil compreensão para nós e que, por isso, não fazem parte do foco desse texto.
Para finalizar, preciso explicar que o espírito que recebemos como nosso Guia nas sessões NÃO É nossa propriedade, e seria egoísmo de nossa parte se quiséssemos que ele permanecesse conosco indefinidamente, marcando passo sempre na mesma função, como Caboclo, Preto-Velho, Exu, Baiano ou outro qualquer, sem evoluir! O que temos observado, em termos práticos, é que o tempo EM MÉDIA que um espírito leva para mudar de falange gira em torno de quinze a vinte anos, mas podendo ser bem maior ou bem menor, a depender das oportunidades de trabalho que lhe dermos. Às vezes, até percebemos que nosso Guia, de uns tempos para cá, passou a vir um pouco diferente e a trabalhar de uma maneira nova, e não associamos isso à possibilidade de estarmos recebendo um novo espírito, ocupando a mesma função antes ocupada por aquele com quem estávamos acostumados. Outras vezes, o espírito até avisa antes de ser “promovido”; mas isso só acontece se ele perceber que temos estrutura emocional suficiente para receber essa boa notícia sem nos sentirmos fragilizados pelo apego e pela saudade. Mas o mais comum é que, visando nosso bem-estar, nossos espíritos amigos simplesmente mudem de função e sejam substituídos por outros, sem alarde, sem propagandas, sem comunicados formais. Afinal, nada disso é necessário quando entendemos que somos todos espíritos e que a evolução é um processo natural e constante, que todos percorreremos sempre! E que, por isso, não há espaço para tristezas ou despedidas, mas, ao contrário, para felicitações! Mesmo porquê, se hoje é aquele espírito a ser promovido e a galgar novos patamares espirituais, estivéssemos nós em seu lugar e também diríamos – felizes - “bye-bye”!