segunda-feira, 2 de maio de 2022

PALESTRA DE MESTRE PU HSIEN “Equipar-se com Paciência, Tornar a Mente Inabalável”

 PALESTRA DE MESTRE PU HSIEN
“Equipar-se com Paciência, Tornar a Mente Inabalável”


Pode ser uma imagem de flor, ao ar livre e texto que diz ""PACIENCIA: intervalo entre a semente flor." Ana Jácomo ww pagos Estação alicidade by"PALESTRA DE MESTRE PU HSIEN

“Equipar-se com Paciência, Tornar a Mente Inabalável”

Falemos de paciência. Usando palavras fáceis de entender hoje em dia, paciência significa que precisamos abraçar certa dose de dificuldade em nossa prática espiritual, significa ser capaz de digerir a dor, de tal modo que nossa sabedoria possa aflorar. Trata-se de acolher e digerir certa dose de sofrimento, quer seja aquele que já vai incluído no corpo e na mente, quer seja aquele que outras pessoas vêm provocar.

Outras pessoas virão, por livre e espontânea vontade, atormentar a sua vida. Há quem venha maltratar e caluniar. E quando isso ocorrer, se formos capazes de lidar bem com essa dificuldade, nossos obstáculos kármicos diminuirão; e, quando esses obstáculos diminuem, a sabedoria pode aumentar. Do contrário, ficaremos da manhã até a noite nos lamuriando angustiados: “Ele me desrespeitou, ela me caluniou; esse aqui me prejudicou, essa aqui eu ajudei no passado, mas não mostrou gratidão nenhuma e agora retribui me machucando...” Agindo dessa forma, nossa noção de um Eu apenas ficará cada vez mais arraigada, os sofrimentos e aflições apenas se tornarão maiores, os obstáculos kármicos apenas se farão mais extensos, e a sabedoria não terá por onde aflorar.

Todos nós, pessoas engajadas na prática espiritual, precisamos aprender a acolher e extrair o melhor das circunstâncias; se formos incapazes de tolerá-las, então não conseguiremos levar a cabo nossa prática espiritual. Por isso, pessoas com uma boa prática conseguem sorver a dificuldade como se bebessem e digerissem um amargo chá medicinal. Pensando que todas as situações adversas podem nos ajudar em nosso caminho espiritual, que podem nos ajudar na redução de nossos obstáculos kármicos, geramos então uma atitude de gratidão e nos tornamos capazes de vencer, camada após camada, os obstáculos kármicos conforme eles se manifestam. Nesse processo, a sabedoria aumentará gradualmente.

Por essa razão, a paciência e a perseverança são qualidades importantíssimas no processo de cultivo espiritual. É certo que precisamos treinar a generosidade e a disciplina, mas precisamos sobretudo desenvolver uma mente paciente, perseverante e inabalável.

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Eu me tornei monge aos vinte e um anos. Naquela época eu não conseguia sequer me sentar cruzando as pernas em posição lótus, pois em casa eu não costumava praticar dessa maneira. Assim, toda vez que cruzava as pernas eu sentia dores de matar! O que foi que eu fiz? Como minhas pernas não se fixavam no chão, ficavam levantando, eu peguei uma caixa de livros e coloquei por cima. Do contrário as pernas voltavam a subir e saiam da posição. Eu acabei usando essa estratégia de arrumar a postura com a ajuda daquelas caixas de livros sem saber, na verdade, se ia dar certo ou errado. Mais tarde, conforme insistia na prática, comecei a ser capaz de cruzar as pernas corretamente. Então, eu me sentava com muito esforço e começava a recitar o nome de Buddha e outros mantras, mas ainda não sabia muito bem como praticar. Após longos períodos de prática sentado, percebia que minhas pernas ficavam rígidas, doloridas, inclusive com marcas e hematomas. “Tudo bem! Se essas pernas quiserem cair, elas que caiam!”, pensava. Ao fim, passar por todo esse processo de dificuldades me ensinou muito; agora, minhas duas pernas conseguem ficar do jeito que desejo, posso cruzá-las de um modo ou de outro sem problemas. Por razões como essa, a perseverança constante é de grande importância. Se vocês não trabalharem com diligência, esforçando-se com uma atitude perseverante, conseguir atingir qualquer samadhi (concentração profunda) será muito improvável.

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Há seres que virão de todas as partes para incomodar vocês, causar-lhes aborrecimentos, e isso pode servir como teste para motivá-los. É como a lâmina de uma faca que precisa de uma pedra de amolar para se tornar mais afiada. O “Capítulo dos Votos do Bodhisattva Samantabhadra” diz: “Sem os seres sencientes, o bodhisattva não tem como alcançar a Suprema, Correta e Perfeita Iluminação”. A Suprema, Correta e Perfeita Iluminação é algo que os seres sencientes nos impulsionam a realizar, não se trata de uma coisa que possamos lograr isoladamente por conta própria. Quando alguém se dispõe a atravessar dificuldades, nascimento após nascimento durante muitos kalpas, disposto inclusive a oferecer a própria vida e dar o próprio sangue para conseguir beneficiar todos os seres, então seus méritos e virtudes, bem como sua sabedoria, acabarão atingindo a perfeição. Por isso, quando outros seres trouxerem dificuldades e desafios para nós, não fiquemos enfurecidos; ao contrário, podemos cultivar um coração repleto de gratidão. Graças aos testes que os demais nos oferecem, podemos avaliar se nossa prática atual está ou não de acordo com o Dharma. Momento após momento, podemos sempre utilizar uma atitude de gratidão para enfrentar as variadas situações neste mundo.

Em meio à nossa prática espiritual, precisaremos cultivar a fortitude da paciência. De um lado, os seres virão com desafios a nos testar; do outro, o próprio ambiente estará nos testando. Por vezes está frio, por vezes está quente… Um mês inteiro chove e logo depois - quem sabe! - o tempo pode voltar a ficar seco. A natureza também nos traz testes desse tipo. E então: será que nosso treino de acolher com paciência já está num nível suficiente? Se ainda não temos muita paciência, pode ser que pensemos: “Deixa pra lá! Melhor mudar pra outro lugar”.Mas então chegamos nesse outro lugar e também não sentimos paz; vamos nos deslocando de lugar a lugar sem nunca sentir paz… Este é um princípio muito básico.