Ogunté levanta cedo
Já ouvindo o som do martelo
Batendo no aço.
Tchon! Tchon! Tchon!
É Ogun que está na forja
Fazendo ferramentas de batalha.
Tchon! Tchon! Tchon!
Ogunté levanta cedoJá ouvindo o som do martelo
Batendo no aço.
Tchon! Tchon! Tchon!
É Ogun que está na forja
Fazendo ferramentas de batalha.
ela levanta da esteira
E caminha com seus pés pequeninos
Até ver o marido ao lado de fora
Com a pele chamuscada de fuligem
Diante da fornalha de derreter ferro.
Tchon! Tchon! Tchon!
O som do aço sendo marretado
A deixa muitissimo irritada,
A faz lembrar do campo de batalha
Dos dias em que ela caia pra cima
De homens do dobro de seu tamanho
E os transpassava com a espada sem demora
E o som das espadas batendo nos escudos
Era exatamente esse,
Tchon! Tchon! Tchon!
Ogunté está muito infeliz.
Antes era grande guerreira,
Mas agora é de esquentar a barriga no fogão
E esfriar no tanque,
E ela com certeza não nasceu para isso.
Ela se arruma, ajeita suas tranças
Lava o rosto e perfuma o corpo
Faz um belo turbante
E veste uma roupa nova,
Então saí de casa
Para ir até a feira pública.
Quando volta encontra Ogun bravo
"Porque ainda não fez o almoço?"
Ele ralha com ela,
E ela fica ainda mais desgostosa.
Ogunté pega a faca para cortar a carne
E quando segura no cabo da lâmina
Por um segundo a vontade é cravar ela
No corpo de alguém, fazer guerra, matança.
Quando Ogun a pediu em casamento
Ela não imaginou que seria assim,
Que ele a ia por dentro de casa,
Ela achava que iriam sair pelo mundo
Em batalhas mil,
Mas não, ele agora está lá fora
Tchon! Tchon! Tchon!
Ela continua a ouvir ele trabalhar.
"Ah Ogun como você pode se tornar essa amolação?"
Ogunte tenta continuar nessa vida
Mas essa vida não é para ela.
Ogun quer a casa limpa, a roupa lavada
A comida na mesa e a esposa grávida,
Mas o que Ogunté quer
É guerra.
Ela sai da casa para ir até a feira pública novamente
E lá encontra um homem muito bonito
E muito gentil,
Quem não conhece Obaluaye?
Ele é galante com as mulheres,
Tem um sorriso bonito por demais
E Ogunté estava farta da grosseria de Ogun.
O romance começa aos poucos
Mas logo Ogunté passa a ser amante de Obaluaye.
Ogun fica desconfiado,
A mulher agora nunca está em casa
E quando volta da rua parece feliz,
Feliz demais.
Ele chama seu cão e da uma ordem
"Eu vou para a fazenda fazer a colheita, tu fica de vigia e me conta o que Ogunté anda a fazer!"
O cão entende o que Ogun fala
E faz o ele manda.
No meio da tarde Ogunte se arruma toda
Parecendo a mais bela das damas
E sai de casa, o cachorro a segue.
Não é difícil de pensar
Que Ogunté percebeu que estava sendo seguida,
Mas ela não deu importância.
Ela entra na casa de Obaluaye
E os pelos do couro do cachorro se arrepiam,
Mesmo sendo cachorro ele sabe
O que aquilo significa,
Então corre em disparada
E quando chega na fazenda
Vê Ogun com os braços cheios
De inhames da colheita,
O cão uiva em aviso
E Ogun entende que é grave,
Ogun confia em seus cães
E nisso quando o cão corre
Ogun larga os inhames e corre atrás,
Com suas pernas fortes cheias de musculos
Ele vai da fazenda até a casa de Obaluaye
Em poucos minutos
E quando entra vê sua esposa Ogunté
Nos braços daquele que era seu amigo.
Ogun se enfurece, ele quer bater em Ogunté
Mas para seu azar o braço dela
É tão forte quanto o dele,
Ela não vai apanhar de homem nenhum.
Ogun briga com ela
Mas no fim ela nem liga,
O que ela quer é ir embora.
Ogun então a leva diante daquele um
Que tem poder de mandar nos Orixás,
Olorum quando vê o casal ali
Ouve todas as queixas de Ogun
Mas Olorum entende Ogunté.
"Ogun se tu um dia já gostou dessa mulher a deixe ir, ela não é feita para ser esposa, ela feita para ser livre."
Ogun fica muito desconcertado,
Tinha ido até lá para ver se Olorum
Punia Ogunté pelo adultério,
Mas no fim ele estava dizendo que ela tinha de ser livre?
Mesmo Ogun sendo muito bravo
Ele faz o que Olorum manda e desiste do casamento.
Ogunte vai para casa de Ogun
Juntar a coisas, e enquanto fazia a trouxa
Tinha dentro de si a sensação mais prazerosa
Pois estava indo para a estrada
Para viver nas guerras novamente.
Quando sai se despede de Ogun
E ele ali amolece e acaba se despedindo dela
Firmando que seriam agora amigos.
Ogunte sai sozinha pela rua de terra
E caminha por vários dias
Até que ao invés de pisar em terra
Pisa em areia branca.
Na praia ela encontra o pai, Olokun
Que a recebe com festa.
Agora não tem mais som de ferro sendo batido,
Agora ela ouve
Shua! Shua! Shua!
Das ondas batendo nas pedras.
Ela mora ali com o pai
E logo ouve falar de uma guerra
E parte para ela, luta e vence,
Então volta para a praia onde cansada
Se deita na areia e adormecem ouvindo
Shua! Shua! Shua!
Então um dia um homem vestido de branco
Pisa na areia, ela o reconhece,
É Oxaguian rei de Ejigbo.
Oxaguian a vê,
Bela mulher dentro da agua,
Ele a chama e eles namoram,
Mesmo sendo ambos maduros
Eles brincam e se beijam
Como se fossem dois adolescentes.
No fim ele faz o pedido
"Ogunté se case comigo."
E ela sorrindo responde "Não."
"Mas Ogunte tu está grávida de um filho meu..."
Ele acaricia a barriga dela
Onde esta crescendo o tesouro
"O filho é seu, eu não."
Ela ri e Oxaguian entende,
Ele volta para seu reino
Porém sempre que podia escapulir
Ele corria para a praia para ver
Sua eterna namorada Ogunté
E seu amado filho Ogunjá.
Até os dias de hoje Ogunté ainda é solteira
Ela é quem manda em si mesma
E nunca mais vai aceitar que homem a mande.
Ela tem namorados, mas nunca maridos.
Ogunte é forte e guerreira
E continua por ai atrás de guerra,
E ela sempre encontra.
Louvação aos Orixás, Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
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