PRETA VELHA DOCEIRA
Na Umbanda temos muitas Entidades de Luz que nos fazem pensar muito sobre a vida, sobre a caridade, sobre o amor a nossos semelhantes e sobre a fé em nosso Pai Maior.
E entre essas Entidades Divinas está uma Preta Velha que demonstra muito tudo isso para nós.
O nome dessa Preta Velha é Vovó Anita a Preta Velha Doceira.
Anita nasceu no Brasil, em uma fazenda cafeeira, décima segunda filha de uma negra escrava e procriadora, seu pai era escravo, também procriador, sendo ele de outra fazenda vizinha.
Ela não sabia ao certo o número de irmãos que tinha, pois a maioria foi vendida as fazendas da região ainda na fase infantil.
Seu pai ela só viu duas vezes quando ele voltou à fazenda na qual Anita cresceu, para que fosse conduzida a uma nova procriação.
Anita era uma menina muito dedicada a seus afazeres, tudo que era ensinado ela aprendia facilmente, guardava todos os detalhes, e criava coisas novas adicionando mais outros detalhes.
Com isso Anita cresceu na fazenda com a responsabilidade de usar seus dons para fazer os deliciosos doces com frutas, na qual ela misturava um a um com paciência e dedicação, até se formar algo extremamente saboroso.
Depois de passado alguns anos e mais experiente, acordou com uma voz que chamava por seu nome.
Ela levanta de sua tarimba, tentando localizar de onde veio a voz; olhando para os lados e vendo todos seus irmãos negros dormindo.
Fica assustada ao voltar a ouvir a voz a chamando.
Nesse instante ela tem uma visão de um fecho de luz vindo em sua direção, e dentro dessa luz uma linda imagem de uma velha senhora sorridente.
A senhora a olha com carinho e lhe entrega um pequeno galho de arruda juntamente com um ramo de guiné, dizendo-lhe:
"A partir de hoje você usará esse galho de arruda e esse ramo de guiné amarrado em seu braço direito, fazendo-se assim uma porta para que as divindades da natureza possam utilizar de teus talentos como a senhora da frutificação e a mãe de suculentos doces.
Não só para agradar o paladar de pessoas famintas pelo sabor inigualável provindo dessas iguarias, mas sim, que a partir de hoje terás o dom de cura se utilizando desse poder natural.
E usará esse dom, além de benzeduras, para curar pestes de seus irmãos negros e de seus senhores brancos, sem recuar ou fraquejar por mais que tu aches difícil a peste que possa ser espalhada dentre teu povo e senhores."
Ao dizer isso a imagem desaparece diante dos olhos de Anita, que segura firmemente às ervas dadas a ela.
A partir desse dia Anita passou a usar os ramos em seu braço direito amarrado com uma fina palha de milho.
Ela decidiu então contar toda a história a Joaquina, uma velha escrava que por mais de uma centena de anos vivia na fazenda, e por ser uma negra muito respeitada por todos e por ter conhecimentos diversos, inclusive de feitiçaria.
Anita acreditou que seria o melhor caminho para que tivesse entendimento sobre tudo aquilo.
A Velha Joaquina, olhando ao ramo no braço de Anita, diz:
"Minha filha está para chegar tempos difíceis nessa região, teremos uma grande nuvem negra sobre nossas cabeças, uma peste vai aparecer e poderá tomar conta de nossos corpos.
Você tem a luz para salvar muitos de nossos irmãos e nossos senhores.
Vá até seu pomar, e dele traga as frutas que você desejar, pois essas frutas misturadas com algumas ervas vai ser o remédio de cura de nosso povo e senhores.
Antes disso, se firme em Oxalá e em todos os Orixás trazendo as forças da natureza junto ao que você ira fazer".
Anita foi ao pomar recolheu várias frutas, foi recolhendo também muitos tipos de ervas.
Foi para a senzala e ficou em oração junto ao pai maior.
E três dias se passaram, quando os primeiros negros caíram com a força da peste, foi uma doença que se espalhava pelos pulmões, levando aos mais fortes dos negros caírem sem condição de respiração.
Anita como em transe fez todas as misturas possíveis, e dessas misturas saiu um chá de frutas e ervas, e uma pasta da mesma mistura.
E a peste chegou à casa do Coronel senhor dos escravos.
Ele foi o primeiro a se acamar, levando logo em seguida à sinhá sua esposa.
Vários médicos vieram à fazenda, mas nenhum deles tinha a solução, e alguns deles saiam dali com a peste.
Nas senzalas os negros se amontoavam sem nenhuma condição de uma cura.
E foi ai que a negra Joaquina foi ao encontro do coronel fazendeiro, e falou sobre a possível cura, que se encontrava nas mãos da negra Anita.
O Coronel manda busca-la;
Ela chega a casa grande da fazenda, indo ao encontro do Coronel, que foi o primeiro a utilizar a magia provinda das frutas e ervas.
Ela faz com que o Coronel bebesse do chá, sendo em pequenos goles, enquanto ela passava a pasta com frutas e ervas espalhando sobre a altura dos pulmões dele.
Nesse momento Anita novamente entra em uma espécie de transe, fazendo uma oração na qual lhe parecia um linguajar familiar, mas que na verdade só ela mesma entendia.
E assim a respiração do senhor Coronel, que até esse momento era pesada e muito difícil, foi ficando mais calma e entrando em ritmo de normalidade.
Ele olhando nos olhos de Anita, sente uma paz imensa, as dores cessam, e o corpo não mais estava febril.
Agradecido ele suplica a negra Anita que curasse a sua esposa também, que ele seria eternamente agradecido.
E assim foi feito, a tão querida sinhá, que em pouco tempo já estava recuperada.
E ela por sinal, mostrava-se preocupada com os negros que adoeceram, pediu carinhosamente a Anita que fosse as senzalas levar aquela tão milagrosa cura a todos os enfermos.
Anita findou com a peste dentro da fazenda, sem uma só morte entre todos que adoeceram.
Diferentemente de outras fazendas que tiveram muitas perdas de vida, tanto de negros quanto de senhores de escravos.
As falas sobre as curas feitas por Anita se espalharam por toda região, e assim todos os Coronéis fazendeiros foram em busca da ajuda dessa divina senhora doceira.
E ela cuidou e curou centenas de pessoas, sendo escravos e senhores de escravos.
O Coronel da fazenda na qual vivia Anita, agradecido por tanta dedicação e caridade da negra Anita, deu-lhe de presente dentro da fazenda uma choupana e a chance dela sair das senzalas abarrotadas.
E assim ela viveu até seus 90 anos, dentro da fazenda cafeeira, em sua choupana e em volta todo seu pomar de frutas e ervas mágicas que utilizava para curar diversos tipos de males do corpo e do espírito.
A Velha Anita também se tornou uma das mais conhecidas negras curandeiras.
Ela desencarnou duas décadas antes da libertação de seu povo escravizado.
No dia de seu desencarne, todos os negros da região colocaram em seus braços direito um galho de arruda e um ramo de guiné, para que assim a Preta Velha Anita os protegessem de todos os males físicos e espirituais.
Hoje, a Vovó Anita trabalha nos terreiros de Umbanda, auxiliando os filhos que tenham males do corpo e da alma, trazendo paz, abrindo caminhos a todos os filhos necessitados.
Nunca deixa um filho sem uma luz no caminhar, nunca deixa de mostrar a força da fé no Pai Maior e nunca deixa de mostrar que a natureza é a força contra muitas coisas que viram obstáculos em nossa vida.
Sarava a Divina e Caridosa Preta Velha Vovó Anita!
Adorei as Almas!