domingo, 6 de novembro de 2022

Provença - Vestígios do Cristianismo Antigo e Medieval

 

Provença - Vestígios do Cristianismo Antigo e Medieval 


                                                   O Cristianismo Não-Oficial é Propagado

       O Império Romano já estava estabelecido na Provença há quase dois séculos, quando, na Judéia, surge a mensagem cristã. Traz desde o início, a característica de dividir-se em várias ramificações, apesar da potência da Igreja maior, que dela originou-se. Ao sair da Judéia, os ensinamentos do Cristo já estariam não só nas mãos daqueles apóstolos que, através do Catolicismo, conhecemos como seus difusores, mas também em mãos de grupos que seguiriam outras linhas doutrinárias.

       Ao pregarem na Samária, os apóstolos encontrariam ali uma seita, a dos Simonianos, seguidores do "Mago Simão", conhecido na região não só pelos poderes psíquicos que posssuia, mas também por sua habilidade em conciliar filosofias e levantar o sentido mais profundo que encerravam. Emiscuiu-se com a doutrina cristã, percebendo nela, com sua sensibilidade, um conteúdo espiritual muito mais rico do que lhe estavam atribuindo. Levou-a, então, como componente, entre outros, para dentro do Simonismo e depois para o Gnosticismo, que muitos afirma ter sido ele próprio o fundador.

       Lado a lado com um neoplatonismo, com conceitos do ocultismo judaico e das religiões orientais, o Cristianismo apareceria também como um dos elementos do ecletismo filosófico-religioso das grandes escolas gnósticas alexandrinas.

       A literatura gnóstica do século II seria rica em cartas, correspondências e evangelhos, principalmente dos gnósticos de tradição copta, tratando de temas de formação cristã e seus ritos eucarísticos, que terão versões gregas e latinas, conhecidas por nós como "escritos apócrifos". É possível que o Cristianismo, por meio dessa literatura, tenha empolgado algum grupo na Provença dos dois primeiros séculos, nada porém que ali tivesse um florescimento muito evidente na época. Na Provença, a Gnose, com toda a potência do seu ecletismo, aparecerá muito tempo após, paralelamente às Cruzadas como veremos adiante.

       Para a necessidade dos homens provençais, rudes, impedidos pelo Império, em qualquer tentativa de alçar maiores voos de raciocínio, não iria corresponder uma doutrina que lhes exigia esforços do entendimento, como a gnóstica, mas sim aquela que lhes oferecesse consolos emocionais, promessas de proteção mítica e uma personalidade carismática ideal, investida de uma doçura com que não estavam acostumados a lidar, para adorarem. Foi tudo isto, justamente, que alguns discípulos que haviam privado diretamente com o Cristo-Jesus e também alguns cristãos gregos da Ásia, lhe foram levar.

       No século I, o Cristianismo faria sua entrada não-oficial na Provença e estaria ele assim até o ano 313, quando a prática deste novo credo seria autorizada pelo Imperador Constantino. O homem romano era geralmente condescendente com novas idéias entre eles, mas seguidamente surgiam atritos com os da Gália, uma vez que os primeiros adeptos do Cristianismo, recusavam-se a prestar honras de divindade aos Césares. Mas, até o ano 64, quando Nero decretou-lhes a primeira grande perseguição, os cristãos tiveram também ali, relativa paz para organizarem-se e espalharem a doutrina pela região provençal. Este foi, sem dúvida, o período mais belo para a história da Cristandade na Provença, se o avaliarmos não em números de adeptos, mas em seu conteúdo de pureza.

       Nada há de melhor para a mensagem de um lider, do que contar com seguidores que ponham nela uma dedicação isenta de qualquer interesse. Os discípulos do Nazareno que chegaram, viviam ainda um entusiasmo idealista, nada parecido ao clima de intrigas e hipocrisias, que marcaria a doutrina cristã, quando se estabeleceu oficialmente ali, uns séculos depois. O auxílio mútuo entre grupos cristãos, em casos de doenças e precisões, investiu o Cristianismo primitivo de um clima de afeto solícito, que lhe deu muita repercurssão, principalmente entre os deserdados. Os Evangelhos aparecidos depois dos anos 70, profeciais e exortações lidas em reuniões acompanhadas de cânticos, motivaram os pontos de reuniões das comunidades cristãs que nasciam.

       Deste cristianismo singelo, sem as sutilezas ainda das discussões teológicas trinitárias e tantas outras, a Provença guarda lembranças muito caras à alma do povo. Bem ao sul entre os dois braços do rio Rhone, "Saint Marie de la Mer" é banhada pelo mar Mediterrâneo. A cidade deve o seu nome à lenda das "Marias", que ali aportaram por volta de 40 d.C. Elas eram Maria de James, irmã da Virgem Maria; Maria Madalena; Maria Salomé, mãe do apóstolo João; Maria, a diligente discípula do Mestre e Sarah, a negra servente, convertida ao novo credo pelas Marias e, acompanhando-as, Lázaro, o ressucitado, e Máximus.

       Diz a lenda, que ali vieram ter casualmente, fugidas que estavam das perseguições feitas aos judeus da Palestina. De lá haviam tomado um bote de condições precárias e ( o que o povo provençal, acredita ter sido um milagre) nele venceram dias e dias no mar, até baterem àquelas costas. Ali chegadas, iniciaram um trabalho de pregação e foram tão convincentes, que conseguiram formar um dos mais consistentes núcleos cristãos do sul gaulês.

       A Igreja, fortificada de Saintes Maries, que hoje o visitante admira, como sendo uma das mais belas da Provença, provém da pequena capela que abrigou depois os corpos de Maria de James, Maria Salomé e Sarah. Na expansão do trabalho, Madalena foi pregar em Ste. Baume, Lázaro em Marseille e Maria em Tarascon. Tarascon, à margem do Rio Rhone, foi originalmente um porto fluvial de comércio e havia recebido dos romanos um Forte a protegê-la. Pelo século XII, iria ser aproveitado para a construção do austero castelo que hoje atrai uma quantidade enorme de visitantes. Certamente nenhum sai dali sem ouvir esta lenda sobre "Santa Maria e o Tarascon" e perceber nela a força da sedução mítica que ainda exerce.

       O Rio Rhone, conta-se, guardava escondido entre moitas e arbustos o Tarasque, um monstro, metade fera (dragão) metade peixe, que frequentemente surpreendia desprevenido algum transeunte das margens, ou algum barqueiro de suas águas e o engolia. Todas as buscas a ele haviam sido infrutíferas. O pânico se espalhava. Foi quando, vinda de Saintes Maries de La Mer, chegou Marta, a pregadora do novo credo.

       Comovida pela narrativa sobre oito meninos que, juntos, haviam saído recentemente tragados pelo monstro, Marta muniu-se de uma cruz e água santa de um altar e dirigiu-se ao rio. Lá acercou-se sem qualquer temor do dragão, espargiu-lhe a água santa e mostrou-lhe a cruz de madeira. Após ver o animal aquietado por estes recursos mágicos, tirou de sua própria cintura uma cinta e, sem dificuldades, passou-lhe a volta do pescoço, puxando-o à margem. Ali, matou-o a pedradas. A cidade passou então a dever a Marta a sua paz, aceitou-lhe o credo, pois ela era o próprio símbolo da fé que tudo vence.

       No século V, "o bom rei René" reavivou o sentimento de gratidão do povo, organizando as primeiras festividades, estupendas na época, e que se conservam, porém mais modestas, hoje, em lembrança ao milagre.

       Em cada 29 de junho, quem estiver em Provença, verá nas ruas de Tarascon, uma representação, em papel grosso, do dragão, com sua cauda e cabeça movida por oito jovens que lhe estão dentro, simbolizando os meninos engolidos nos distantes anos do Cristianismo não-oficial. De Marta, a discípula de Jesus, que perdia dele os seus melhores momentos de Sua presença, tão preocupada era com seus afazeres domésticos, poderá ser vista uma imagem carregada ainda em triunfo. Pelos cantos das ruas, em portas de igrejas, esculpidas em madeira, pintadas, em mosaicos ou vitrais, o tempo manteve a lembrança daquele episódio, por toda a parte.

       Também Maria Madalena não foi esquecida pela população de Ste Baume, onde viveu os últimos trinta e três anos de sua vida na solidão de sua grande caverna. Este é hoje um local de peregrinação onde os jovens casais estéreis apelam por filhos, deixando ao longo do caminho uma pequenina pedra por cada filho desejado. A uma hora dali, no passo de St. Pilon, em meio ao panorama que descortina ao visitante uma magnífica cadeia de montanhas, estaremos justamente onde a lenda provençal afirma que anjos levariam Maria Madalena, sete vezes por dia, para que ela ouvisse "a música do paraíso".

       Se alguém desejar sentir o Cristianismo singelo das lendas, saber dos discípulos que por amor à mensagem do seu Mestre a tudo enfrentavam, certamente em provença acharão  o que buscam. (*)

       (*)Impossível uma doutrina se espalhar e vencer sem os seus arautos. Impossível um Avatar, ou Grande Ser, com a missão de fundar uma nova religião, não contar com seus abnegados seguidores dispostos a seguidos sacrifícios e conscientes perigos, como acontecido no agreste passado de homens confusos por tantas doutrinas e politeísmos deturpados. Os primeiros cristãos sempre estiveram face a face com os perigos durante todo o tempo em que, entusiasmados, espalhavam pelo mundo a vinda do Salvador, trazendo novos e revolucionários ensinamentos.
       Cristo jamais enviou seus discípulos ou seguidores para anunciarem uma nova religião, mas sim para divulgar uma nova visão e conceito novo de vida, sob um conjunto de idéias e ideais que obrigariam seus servidores realizar onde os servidores estivessem. E após a partida do Mestre, os arautos e seguidores continuariam suas jornadas pela universalidade do pensamento cristão.
       A religião cristã, suas segmentações e o credo, como sabemos, se organizariam mais tarde, nos séculos vindouros, por homens especialmente esclarecidos, mas também enfrentariam tempestades e reveses, características da resistência humana, e a infiltração do mal enleado e oficializado pelos títulos e vestes sacerdotais, que provocariam muitas e absurdas dissenções e crimes. Mesmo assim, Cristo seguiu em frente e a essência de sua mensagem transmutativa convergiu definitivamente; foi e ainda é acolhida por muitos corações sinceros, despidos da dúvida e pecados agrilhoantes.
       Um Avatar da estirpe de Jesus, jamais vem ao mundo para tamanha, grandiosa e assumida missão ao longo de uma Era como a de Peixes que presidiu, sem ter um planejamento calculado, sem se cercar de seguidores devidamente instruídos para a expansão de sua mensagem e implantação de uma nova ordem de idéias. Os discípulos de Jesus, eram, todos, iniciados de longa data e foram reconfirmados como especiais, tanto na comunidade Essênia quanto na pirâmide do Egito. Outros personagens, homens e mulheres, que cercaram a história humana do Nazareno, foram também especiais, possuindo auras e mentes preparadas, para desempenhar, cada um, a parte que lhes caberia no mundo das personalidades.
       Não é de hoje que fatos, antes depositados na história manipulada, ou transplantados para um patamar de abstrações e numerologias  por esotéricos pouco esclarecidos - quanto mais negados por ateus e céticos -  ganharam a fama de irrealidades.  Lendas como da existência de dragões, aproveitadas por homens representativos de teorias científicas consagradas, serviram para desdenhar e humilhar a fé religiosa e ganhar a anuência de materialistas sofisticados, travestidos de homens da razão, cientificismo e racionalidade.
       Lendas de animais de portes pré históricos existem por todo o mundo, mas muitas destas lendas, a contragosto dos céticos, são provadas reais, atestadas as suas origens pelos recursos de vídeos e  fotos, e pelos depoimentos de testemunhas idôneas. Gigantescas jibóias, sucurís, jacarés e outros animais mortais, pululam pelas florestas do planeta, a destruir famílias de habitantes ribeirinhos ou aprofundados nas matas. São inteligentes caçadores de humanos e muitos, indestrutíveis, que continuam a aterrorizar sem que deles consigam livrar-se. O Monstro do Lago Ness, nas Terras Altas da Escócia, já foi seguidamente detectado, fotografado e filmado e ainda lançam dúvidas de sua existência. Tipos de Pterossauros, são vistos, filmados e conhecidos em regiões afastadas da África, entre montanhas de difíceis acessos, a atacar e levar em suas garras aldeões, devorando-os em seus redutos.
       Recentemente, após a passagem de um tsunami na Ásia, as autoridades registraram estupefactas, numa praia, o esqueleto perfeito de um dragão trazido das profundezas oceanicas, cuja altura regulava com a de um prédio de cinco andares. Documento gnóstico sobre Tomé registra seu diálogo com um dragão que habitava escura caverna e atacava a quem desejasse, sem que pudessem matá-lo. E Tomé o matou granjeando a admiração de seguidores (clique no título) Arca de OuroO Terceiro Ato de Tomé - Extratos da Gnosis .
       A história de Marta, pode ser perfeitamente factível, como a de São Jorge que matou o dragão. Ambos foram iniciados nos mistérios, como o era Tomé, possuindo coragem e forças suficientes para subjugar monstros daqueles portes e assim teriam feito. Nada a estranhar, pois homens dotados de magnetismo, em nossos tempos, subjugam por hipnose a grandes animais, deixando-os mansos e dominados. Na Umbanda, entidades como caboclos, quando incorporados em médiuns em trabalhos nas matas, embrenham-se e voltam trazendo cobras grandes e pequenas - muitas venenosas - enrodilhadas ao pescoço, amansadas e obedientes. Dão-lhes ordens e elas obedecem, as soltam e as mandam embora, ou mandam-nas ficarem vigilantes nas cercanias a tomar conta dos que ali estão. Lendas? Nada disto, realidade comprovada....
       Muitas narrativas sobre homens e mulheres especiais do Cristianismo hão de ser respeitadas para além dos patamares lendários, pois os simbolismos foram apostos bem depois, na tentativa de explicar o que o tempo se encarregou de dissimular.
       Sobre Maria Madalena sete vezes por dia ouvir "a música do paraíso", por que não teria sido levada em corpo astral ou mental, ou ela se ter transfigurado para a não-matéria?  Uma vez que viveu seus últimos trinta e três anos de vida a orar e meditar, se purificando, e tendo sido iniciada nos mistérios, como foram os verdadeiros discípulos, não teria obtido de seu mentor principal - Jesus - as fórmulas da transfiguração? 
       Portanto, certas lendas não teriam sido lendas aos olhares atentos de iniciados, mas revelam um Cristianismo esotérico, gnóstico, profundamente ocultista, que sobreviveu encoberto para o povo seguidor, marcando seus segredos e revelações nos ícones, portais e murais, nas histórias, evangelhos e ritos da igreja, somente observados num grau superior por quem realmente vê. (Rayom Ra)

                                                       [Helyette Malta Rossi - FEEU]
Rayom Ra

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                                                       A Chegada dos Romanos - Os Druidas

       Para acompanharmos, por alguns séculos, o Cristianismo na Provença, nos é forçoso recuar a um momento anterior à sua entrada oficial na região. Outros elementos, que não apenas aqueles trazidos pelo Império Romano, quando fez dele, também na Gália, o culto oficial do Estado, conjugaram-se para formá-lo tal como nos é mostrado ali hoje, deixaram raízes que sobrevivem nas crenças religiosas provençais.

       A Provença situa-se no lado oriental da antiga "Província Narboneza" criada pelos romanos, quando estes necessitaram, ao final do ano 200 a.C., conquistar para Roma o território gaulês, próximo á costa mediterrânea, localizado entre os Pirineus e os Alpes, a bem de terem uma livre entrada para a Espanha, que já lhe era submissa.

       A Itália, por seus invasores, marcaria a região, para sempre, com a sua cultura. Imprimiria nos provençais a facilidade de comunicação exuberante de seu povo, que hoje ainda os distingue, tanto do francês do norte. As raizes romanas ali implantadas, somente iriam aumentar as diferenças causadas por uma geografia que por si só, tornaria diversa a Provença. Quem chega, ou das rotas do Delfinato, ou do Massiço Central, ou das margens do Garonne, sempre se surpreenderá. Notará, ofuscado, seu céu cheio de luz, seus grandiosos rochedos calcáreos, o solo pedregoso, passará por camponeses rosados pela quentura causticante do sol, falando o seu incompreensível "patois" provençal.

       Entrados num universo geográfico absolutamente diverso do restante da Gália, os romanos encontram nele os celtas, com seu viver seminômade, com sua religião totêmica muito rudimentar, que englobava faunas sagradas, tabus e ritos. E a única autoridade à qual tiveram de fazer face foi justamente uma autoridade sacerdotal, que exercia sobre a população uma influência, não só religiosa como administrativa: A Ordem dos Druídas.(1)

(1) "Druídas [Do celta derw, carvalho.] - Eram os Druídas uma casta sacerdotal que floresceu na Bretanha e Gália. Eram iniciados que admitiam mulheres em sua ordem sagrada e as iniciavam nos mistérios de sua religião. Nunca colocaram por escrito os seus versos e escrituras sagradas, senão que, à semelhança dos brahmanes da antiguidade, os confiaram à memória; fato que, segundo afirmação de Cesar, necessitou de vinte anos para se cumprir. Como os parsis, não tinham imagens nem estátuas de seus deuses. A religião celta considerava como uma ímpia irreverência representar um deus qualquer, ainda que de menor importância, numa figura humana. Bom teria sido que os cristãos gregos e romanos houvessem aprendido esta lição dos "'pagãos" druídas. Os três principais mandamentos de sua religião eram: "'Obediência às leis divinas; Interesse pelo bem da humanidade; Sofrer com fortaleza todos os males da vida" (HPB)" - (Rayom Ra)

       O certo é, que a religião recebeu, para a sua composição étnica, também elementos da remota Hélade, através da Itália antiga e das Ilhas do Mediterrâneo, e os costumes druídicos, como seus cerimonias nos fazem crer, provém da Grécia Órfica. A confraria contava, para seu uso próprio e relacionamento com o povo, de uma organização hierárquica composta por sacerdotes e sacerdotisas que tinham a seu encargo: administrar a justiça criminal e cível; prever acontecimentos futuros; realizar sacrifícios; transmitir ciência e educação e ainda exortar o povo a atitudes virtuosas.

       Dos sacerdotes, os mais amados eram os dois últimos, devido ao costume dos gauleses de criarem os seus filhos ou pelos Druídas, ou por famílias estrangeiras (o que estabelecia um relacionameento afetivo entre mestres e discípulos) e os últimos chamados "Bardos", por suas exortações através da música, e de uma oratória poética, cheia de sabedoria, o que lhes valeu o título de "Os Sapientíssimos".  

       A adoração às Deusas-Mães, algo similar ao amor grego à mãe-natureza e à mãe-terra, sobressaía-se como forte característica dos Druídas. Em seus colégios, a maioria das oferendas e ritos lhes era dirigida e a arqui-sacerdotisa, sua repreentação terrena, contava com a mais absoluta veneração, vendo-se nela um canal onde a energia da Deusa era transmitida ao apelante. Apesar dos historiadores romanos se referirem aos Druídas com grande admiração, colocando-os sempre separadamente do que consideravaam o barbarismo celta e ter Cesar, nos anos de sua expansão no restante da Gália, identificado até certos deuses gauleses aos deuses romanos, o certo é que os Druidas passaram a constituir uma ameaça aos representantes de Roma, pela grande importância de seus colégios.

       Afirma-se que foram exterminados pelo governo romano no século I de nossa era. No entanto, o mais provável é que tenham ido esconder os seus ritos mais para o norte, longe da Provença e da proximidade da Itália, pois encontraremos citações a eles nas lendas arturianas, como ainda existentes no século VI.

       Surpreendentemente também, pelo tempo de Carlos Magno, a principal de suas devoções, aquela dirigida à árvore do carvalho, da qual o visgo mágico curador era retirado, apenas pelos sacerdotes druidas, com o seu podão de ouro, foi objeto de acirrada devastação.

       Um século após a invasão da Gália por Cesar, o culto cristão, o primeiro monoteísta no Ocidente, entraria ali para agir também clandestinamente, esquivando-se aos olhos do império. E os Druidas teriam deixado uma grande contribuição à mente cristã, a lição que nos será de valia através das eras: o seu amor à natureza e à liberdade. Os seus sacerdotes possuíam o autêntico sentido da Onipresença, da força espiritual difundida. Deus em tudo, que é um dos conceitos teológicos do Cristianismo, mas que poucos cristãos conseguiram ainda ter dele qualquer percepção.

       Para seus cultos, não haviam paredes necessárias. Seus templos eram todo e qualquer ponto da natureza. Aonde existisse um lago, um bosque, uma pedra, ali encontravam o sagrado, entravam com ele em comunhão mística. Haviam transcendido já a adoração temerosa dos primitivos, tão frágeis ante as forças naturais, tratavam-na com a intimidade de quem a usa quando dela necessita para reabastecer-se espiritualmente ou repousar. Ela fazia parte de seus pensamentos e emiscuia-se em todos os seus atos. Amor igual à natureza só iria aparecer muitos séculos depois, com Francisco de Assis, em sua identidade ao irmão sol, ao irmão vento, à irmã lua...

       Muitos cristãos procuram ainda hoje, a oeste do rio Rhone e da Provença, junto aos bosques do Moulins, na Cordilheira de Cevennes, os locais das suas cerimônias, levados pelo desejo de achar o sentido da Onipresença, que inspirava o homem celta druida. A sua crença muito forte, numa natureza toda povoada por seres parecidos aos homens, invisíveis à maioria de nós; seres benfazejos, fadas principamentes, o animismo druidico, enfim, é também uma duradoura herança deixada por eles na alma provençal. Um exemplo disto se encontrará na pequena cidade de Moustiers. Seus habitantes afirmam que entre as suas duas rochas principais, próximo à subida para a Igreja Notre Dame de Beauvoir, existe o "Caminho das Fadas". Ali, aqueles que amam a quietude dos bosques, poderão encontrá-las.

       Ao chegar à Gália, o império de Roma trouxe toda uma cultura religiosa também pagã, cujos deuses, com nomes romanos, eram os mesmos do Olimpo grego. Adotaram então alguns deuses celtas, segundo o uso romano de assimilar a cultura dos vencidos.

       A cidade provençal de Nimes, chamada posteriormente "A Roma francesa", devido as suas inúmeras relíquias daquele império, fora antes da chegada dos romanos um santuário da deusa Neumasus (primitivo nome da cidade) e lá, à beira de um riacho, a população celta venerava esta deusa. Juntamente com os habitantes locais, os romanos passaram também a adorá-la e assim comportavam-se sempre em outras localidades.

       Hoje, a cidade possui um dos mais importantes museus arqueológicos da França e, ali, os estudiosos poderão encontrar a bela cabeça de Júpiter-Serapis e também, recolhida ao Museu da Antiguidade, a magnífica estátua de Apolo, entre outros atestados do Paganismo romano. Lembremos, ao visitar as grandes cidades da região sedes das antigas administrações imperiais, como Aries, Orange, Riez, Vaisonia-Romaine, etc., que no primeiro século antes de Cristo, um século após chegarem à Gália, os romanos atravessavam a sua "Idade de Ouro", o "Século de Augusto", deixando por onde se estabeleciam, as marcas de sua grandeza artística.

       A nós, americanos, que não convivemos com vestígios de um passado tão longínquo, é dificil imaginar que o privar cotidiano com os deuses, vê-los sempre representados por obras de arte, fazem dos conceitos que estas obras representam, conceitos eternamente vivos, integrados sempre àqueles novos que chegam. É de se concluir que, mesmo após a vinda de um credo de tanto vigor emocional como o Cristianismo, nas cidades de herança artística, em tão grande número na Provença, o Paganismo o tenha constantemente permeado.

       As representações de divindades pagãs, infelizmente, à entrada oficial do culto cristão, pelas mãos dos próprios romanos, foram objeto de terríveis estragos. Contudo, a linha esotérica do Cristianismo nunca concordou com as perseguições do Monoteísmo ao Paganismo, pois coloca entre seus postulados religiosos aquele: "Diversidade na Unidade". Segundo ele, a adoração feita por um tribal a uma tora de madeira, poderá perfeitamente dirigir-se ao Divino, incluso como Ele é, no Todo.

       Aqueles vestígios provençais são atestados de que, também ali, o evoluir dos ciclos históricos, onde o entendimento do Absoluto tende sempre a representá-lo de forma cada vez mais abstrata e simbólica, onde a diversidade do Politeísmo foi sucedida pelo Monoteísmo, ao invés de ter sido feita espontaneamente, através do conhecimento cultural, o foi por imposições violentas que agrediram, como fizeram, o livre crescimento da consciência religiosa do homem provençal.

                                                  [Helyette Malta Rossi - FEEU]
Rayom Ra

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