Os cuidados com a mediunidade
É verdade que os médiuns precisam ter uma série de cuidados com a saúde, mas também é preciso que nós tenhamos consciência de que eles não são pessoas dotadas de poderes e forças sobre-humanas, mas apenas seres humanos, como nós, com seus acertos e erros.Todo médium é um ser encarnado e, como tal, tem um corpo físico e uma vida matéria para cuidar, além da espiritual.
O corpo físico é apenas uma máquina, é um empréstimo, é temporário. É uma extensão do espírito e deve durar o tempo suficiente para o cumprimento da tarefa a que ele se dispõe aqui na Terra, inclusive a mediúnica. Dessa forma, exige certos cuidados práticos que não podem ser negligenciados, a fim de que não se comprometa o seu plano de encarnação, nem a sua tarefa como médium. Sendo assim, a vida material é intrínseca à encarnação e implica certos cuidados “mundanos” que não podem ser deixados de lado, para que não venha a causar preocupações e desgastes necessários, comprometendo tanto seu plano encarnatório, como sua tarefa mediúnica.
Para cumprir essa tarefa, ele precisa estar bem como plano encarnado; do contrário, não poderá atender satisfatoriamente às exigências e condições de trabalhos com os espíritos. É preciso que o médium se lembre de que sua vida física é parte importante e integrante de sua vida espiritual, e não pode ser separada, isolada, anulada, negligenciada ou ignorada, para que seu próprio espírito não se prejudique com isso.
Bastante discutidos, os alimentos interferem diretamente na qualidade das energias que trazemos em nosso duplo e em nossa aura, conseqüentemente afetando também nosso psicossoma. Sendo a mediunidade uma hipersensibilidade transferida para o corpo físico no momento do reencarne, é natural que o organismo do médium seja ainda mais sensível às energias dos alimentos do que a média das pessoas.
Considerando ainda que o perispírito, o duplo e a aura são os principais elementos de contato do espírito comunicamente com médium – como se fossem “órgãos do sentido mediúnico” -, é natural que qualquer coisa que interfira na sua vibração, tornando-a mais lenta e mais densa e deixe suas energias mais “pegajosas” ou “oleosas”, também influencie diretamente seu grau de sensibilidade, dificultando a percepção e a sintonia do médium com as entidades desencarnadas, especialmente as mais elevadas, cujo padrão vibratório é mais intenso e sutil. Por esse motivo o médium deve ter atenção especial a sua alimentação.
Ele deve evitar tudo aquilo que, com o tempo, ele perceba que não lhe faz bem ou prejudica seu trabalho de intercâmbio, amortecendo sua sensibilidade mediúnica energética, especialmente no dia de trabalho e reunião. Por se tratar de algo individualizado, não há regras e receitas prontas: cada um deve estabelecer o que melhor lhe convier em termos de alimentos; observar suas próprias reações físicas, psíquicas e espirituais a cada um deles, lembrando-se sempre que essas reações podem mudar, e muito, com o tempo, à medida que sua sensibilidade for aumentando ou mudando.
De qualquer forma, existem alguns alimentos que a experiência de vários médiuns e trabalhadores espiritualistas já indicou como prejudiciais à sensibilidade mediúnica, por terem características energéticas mais densas ou excitantes. Esses alimentos são as carnes vermelhas; os grãos mais gordurosos, (amendoim, amêndoas, nozes etc.; café; chocolate e alguns chás (por serem estimulantes ou excitantes); e os doces (em excesso), que devem ser evitados pelo menos nas 24 horas que antecedem o trabalho mediúnico ou energético.
Sem falar, é claro, do álcool e do tabaco, em geral. Além disso, o médium deve ter sempre a preocupação de manter uma alimentação a mais equilibrada possível, variando bastante os alimentos, para garantir também uma variedade suficiente de nutrientes físicos e energéticos que possam atender a todas as suas necessidades e garantir também sua saúde física e energética. Porém, todo esse cuidado não deve impedir que o médium leve uma vida normal, usufruindo equilibradamente de tudo que a vida material oferece.
Os prazeres materiais, quando experimentados com equilíbrio, podem até ajudar o médium a se manter mais centrado, não permitindo que entre em contato com o mundo físico que, no momento, é mundo que lhe toca mais de perto. Entre esses prazeres, está, inclusive, o consumo, moderado e equilibrado de tudo aquilo que citamos acima, já que um médium nunca será o melhor porque aboliu completamente o álcool ou a carne vermelha de sua alimentação, mas devido ao seu sentimento por essas coisas e por tudo que a vida lhe proporciona e oferece. Todo trabalho mediúnico e energético depende do corpo físico e suas energias e também do estado se saúde de médium, o qual depende e ao mesmo tempo interfere no seu estado mental e emocional.
Toda doença física e a materialização de um desequilíbrio psíquico e/ou energético prévio. E quando esse desequilíbrio se materializa no corpo físico é porque já estava latente nos outros corpos energéticos a mais tempo. O transe mediúnico, seja de que tipo for, os tratamentos de cura, as práticas energéticas em geral, também exigem um esforço físico por parte do médium, o qual consome uma porção de suas energias para realizá-los. Se ele já estiver energeticamente debilitado por uma doença física, já a captação e a rearmonização das energias, depois de um trabalho, também exige boas condições mentais e emocionais.
E, sem fazer essa captação de forma eficiente, poderá sair do trabalho em estado pior do que quando entrou. Por isso é que se recomenda que o médium não trabalhe quando estiver doente, preservando-o de um desgaste ainda maior. Além disso, como a condição física interage intimamente com as condições mentais, emocionais e espirituais, se o médium deixa de trabalhar quando está doente evitamos que alguma energia desequilibrada passe para as pessoas ou entidades a serem atendidas, o que poderia causar mais perturbação do que benefício.
Por outro lado, impedimos que o médium, em vez de doar, “roube”, inconstantemente, energias dos assistidos, encarnados ou desencarnados. Num caso desses, o médium deve ser capaz de reconhecer que não tem condições de trabalhar, e o dirigente responsável pelo trabalho deve ter o bom senso de não exigir o sacrifício. Isso não significa que qualquer dor de cabeça ou unha encravada possa ser usada como desculpa para não trabalhar.
Estamos falando de problemas de saúde que realmente estejam debilitando e limitando o médium em sua capacidade de concentração, atenção, doação e em seu vigor físico, e não de qualquer indisposição leve a que todos estamos sujeitos no dia-a-dia agitado que levamos. A higiene é parte importante na manutenção da saúde de qualquer ser encarnado e deve ser preocupação do médium também. A higiene física, caracterizada pelos bons hábitos básicos que aprendemos desde de crianças, não deve ser esquecida pois, além de proporcionar maior bem-estar ao médium, é também uma atitude de respeito para com os colegas de trabalho e os assistidos, que não precisam ficar sujeitos aos efeitos naturais que a falta de higiene costuma produzir. Na higiene física não estão apenas os bons hábitos básicos diários, mas também a prevenção médica dentária regular, bem com a própria imagem, bem como suas condições físicas.
A auto-estima sadia é fator de muita importância no equilíbrio do médium, já que a falta de auto-estima costuma ser uma das principais causas da depressão, revolta, agressividade etc. A higiene mental também importante. O hábito de só cuidar do que trate de mediunidade e espíritos é, na verdade, um desequilíbrio, um vício que deve ser evitado por qualquer pessoa que lide com a espiritualidade.
Como também já dissemos, como encarnado, o médium deve também procurar, com equilíbrio e bom senso, os prazeres materiais, o bom humor, as distrações, o lazer, os passeios, os divertimentos – as coisas boas deste mundo -, como forma de se manter equilibrado, saudável, satisfeito e bem disposto. E vale lembrar o que diz Wagner Borges no livro Falando da Espiritualidade, quando afirma que “ir é um santo remédio, pois dissolve as tristezas, renova as esperanças e descongestiona as energias”.
Portanto, contar piadas, rir de si mesmo, brincar e curtir a vida também são formas saudáveis de louvarmos a criação e o Criador, sem que, com isso, estejamos sendo irresponsáveis ou inconseqüentes. Assim como os alimentos, os medicamentos também têm energias próprias que interagem diretamente com as energias físicas e extrafísicas de quem os consome. Há medicamentos que, por sua ação mais intensa sobre o sistema nervoso, interferem diretamente sobre as energias do duplo e da aura, e também na sensibilidade mediúnica. Anestésicos, calmantes, excitantes, ansiolíticos, antidepressivos etc. são substâncias que têm ação direta sobre o sistema nervoso e interferem não só nas energias físicas e espirituais como também na consciência e na lucidez, afetando muito a capacidade de concentração e atenção do médium. No entanto, o médium que esteja fazendo tratamento com alguma dessas substâncias não precisa ser afastado do trabalho, até para o afastamento não venha a complicar ainda mais as condições que os levaram a precisar desse tipo de medicamento.
O mais indicado é que o médium seja “remanejado”, ou seja, que ele não atue mediunicamente ou nos passes, pelo menos por um tempo, mas compareça às reuniões e desempenhem outras funções durante o período em que estiver utilizando essas substâncias de forma mais intensa. É importante ter em mente que o médium é um ser encarnado como qualquer um de nós, e não um super-homem.
Por isso, está sujeito aos mesmos problemas e perturbações que outras pessoas, e o fato de adoecer ou precisar de ajuda profissional ou medicamentos não é demérito para ele, nem como pessoa, nem como médium. É preciso tratar os médiuns como seres humanos, imperfeitos também, sujeitos a altos e baixos, mas tentando acertar, crescer e melhorar, como todo mundo. É importante não pensar que médiuns não erram, não se enganam, não falham, não fracassam, não fraquejam. Não se deve exigir deles mais do que exigimos de nós mesmos, pois eles não são criaturas especiais, dotados de poderes e forças sobre-humanas.
São apenas seres humanos. Sexo é energia, é vida, é saúde. Faz parte do nosso estágio evolutivo e deve ser encarnado com naturalidade. Com tudo na vida, deve ser pensado, usado, praticado e apreciado com equilíbrio e bom senso. O sexo sadio, feito com amor e prazer, com alguém de quem se gosta, por quem se tem respeito e afinidade e com quem se tem uma relação estável e sadia, é extremamente benéfico e ajuda no equilíbrio psíquico e energético do médium. Se feito em demasia, poderá desgastar a pessoa física, mental e energeticamente, pelo esforço de todo o complexo energético envolvido na busca do orgasmo.
Se praticado menos do que o necessário, seja por que razão for, também poderá sobrecarregar a pessoa, pelo acúmulo de energias muito vivas e ativas no corpo físico e no complexo espiritual, podendo gerar bloqueios e desequilíbrios que também vão atingir a pessoa como um todo. No ato sexual, as duas pessoas envolvidas entram em profunda ligação energética e comunhão espiritual, e trocam não só fluidos corporais, mas também fluidos espirituais, indispensáveis ao bem-estar psicológico, emocional e físico de qualquer ser humano. A abstenção de sexo na véspera do trabalho mediúnico se sentir realmente bem com isso, sem se sentir contrariado por um eventual “sacrifício”.
De nada adianta o médium se abster do sexo na véspera ou mesmo no dia do trabalho e chegar para a reunião completamente desequilibrada por um acúmulo de energias sexuais que vão tirar a sua concentração e interferir na sua sensibilidade mediúnica e energética.
Melhor seria ele praticar o sexo com equilíbrio e ir para a reunião satisfeito, feliz e equilibrado. Assim, que o próprio médium aprenda a encarar sua sexualidade com naturalidade e equilíbrio, dosando sua necessidade de sexo e procurando praticá-lo de forma equilibrada, saudável e elevada, eliminando preconceitos e tabus que em nada contribuem.
Devemos lembrar que sexo também é criação de Deus e, portanto, também é sagrado, elevado, necessário, positivo, desde que, como em tudo, possa ser visto com bom senso e discernimento. Infelizmente, a mediunidade não vem equipada com botão “liga-desliga”, e “ser” médium é muito diferente de apenas “estar” médium. Isso quer dizer que a mediunidade não é apenas uma capacidade que podemos escolher quando ativar e desativar. É exatamente como qualquer sentido físico: não podemos escolher quando enxergar ou ouvir. Do mesmo modo, não podemos escolher quando ser médiuns ou não ser médiuns.
Somos médiuns 24 horas por dia, sete dias por semana, durante toda nossa vida. É importante lembrar que o trabalho mediúnico não se restringe à atuação do médium no grupo que freqüenta, nem se limita ao dia em que esse grupo se reúne para trabalhar. Ele vai além: ocupa toda a vida de um médium e está presente em todas as atividades que desempenha. O bate-papo com o colega de trabalho não pode ser um simples bate-papo. Uma visita alguém internado não pode ser um simples gesto de atenção. O comparecimento ao velório ou aos funerais de alguém não pode ser simples obrigação social.
Em todas essas situações e em muitas outras, o médium deve estar sempre preparado para funcionar como intermediário entre o plano astral e o plano físico, seja transmitindo mensagens de incentivo, consolo ou orientação às pessoas que estão à sua volta, seja servindo de canal para a transmissão de energias necessárias ao reequilíbrio físico ou emocional de alguém.
Não estamos dizendo que o médium deva permanecer constantemente em transe, mas que esteja sempre consciente de que é uma ponte entre o mundo espiritual e o físico, e deve estar sempre a serviço das pessoas, podendo ser acionado automaticamente a qualquer momento, em qualquer situação, em qualquer lugar.
Por isso, é importante que o médium tenha sempre boa sintonia, mantenha pensamentos e sentimentos saudáveis, esteja sempre alegre e equilibrado, seja sereno e confiante, para que possa ser um canal de coisas elevadas e saudáveis para todos com quem encontra. Se a mediunidade é capacidade ativa 24 horas por dia, sete dias por semana, durante toda a vida, ela está presente também durante as horas de sono. Sim, mesmo dormindo, podemos funcionar como intermediários entre planos ou dimensões diferentes. Quando nosso corpo físico adormece, nosso espírito se projeta para fora dele e, por algum tempo, passa a viver no plano espiritual. Para se manifestar nesse plano, ele se utiliza de psicossoma, um corpo muito mais sutil que o físico, mas também um corpo material. Esse corpo pode ser usado por entidades superiores para se manifestar nos planos mais densos da espiritualidade. O plano espiritual dispõe de vários “níveis”, caracterizados por diferentes graus de densidade de energias e freqüências vibratórias. Quanto mais elevado o nível, mais sutis as suas energias e mais altas suas freqüências vibratórias. As entidades que vivem nesses níveis mais elevados não podem se comunicar facilmente com os níveis mais densos do plano espiritual, pois para isso seria necessário que adensassem muito seu psicossoma, reduzindo muito sua freqüência de vibração. Em vez disso, atuam mediunicamente em espíritos, encarnados ou desencarnados, que ainda vivem nesses planos e, portanto, possuem um psicossoma também mais denso, e transmitem mensagens, levam socorro, dão lições etc., através do que poderíamos chamar de “mediunidade astral” ou “paramediunidade”.
Fonte: Revista Espiritismo e Ciência – Nº 39