Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança (7)
Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, capítulo 7 Montanha de Deus
Antes de começar a tentar identificar o Monte Sinai, precisava determinar se o relato do livro de Macabeus a respeito do esconderijo da Arca era historicamente plausível. Ele dizia que Jeremias tinha escondido a Arca na montanha onde Moisés tivera sua visão da Terra Prometida, e o relato de Levítico identificava o local como o Monte Sinai.
Como já estava convencido, Jeremias era, dentre todas, a mais provável escolha para ser o responsável pela retirada da Arca do Templo de Jerusalém, portanto não havia nada de improvável com relação a esse aspecto do livro de Macabeus…
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Livro Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, de Graham Phillips, Editora Madras – Capítulo VII – A Montanha de Deus
Capítulo VII – A Montanha de Deus – http://grahamphillips.net
… Mas e o Monte Sinai (na península de mesmo nome) como localização de seu (da Arca da Aliança) esconderijo secreto?
Quanto mais aprofundava minhas pesquisas, mais o Monte Sinai parecia, de fato, o lugar mais lógico para Jeremias, ou qualquer outro judeu da época, levar a Arca. De acordo com a Bíblia, o Monte Sinai era o local mais sagrado dos antigos israelitas antes do Templo de Jerusalém ser construído. Foi ali que Deus falou com Moisés pela primeira vez de cima de um arbusto em chamas; foi para lá que Moisés conduziu os israelitas depois de fugirem do Egito; e foi ali que Deus revelou aos israelitas suas leis religiosas, estabeleceu os Dez Mandamentos, e ordenou a construção da Arca.
Tudo isso pode muito bem ter sido razão suficiente para que Jeremias considerasse ali um lugar apropriado para esconder a Arca. No entanto, o Templo de Jerusalém e a montanha sagrada tinham algo em comum que parecia fazer do Monte Sinai o único lugar para onde a Arca poderia ser levada. Acreditavase que os dois lugares — e somente eles — eram habitados por Deus. No Antigo Testamento, o Monte Sinai é várias vezes chamado de a Montanha de Deus porque acreditava-se que Deus, literalmente, morava ali.
Repetidas vezes, a montanha é descrita como a “santa habitação” de Deus (por exemplo, no Êxodo 15:13 e Deuteronômio 26:15) ao passo que outras referências especificam que Deus morava na montanha sagrada. Por exemplo, Êxodo 24:16 diz que “O Senhor repousou sobre o Monte Sinai.” O historiador judeu do século I, Josephus, confirma que isso não era uma metáfora e que os antigos israelitas de fato acreditavam que Deus habitava a montanha. Com relação ao lugar onde Moisés encontrou o arbusto em chamas, ele escreveu:
“Agora esta é a montanha mais alta de toda a região, e a melhor terra para pastagem, sendo ali o melhor lugar para a ervagem; e não fora assim antes de ser pastada, porque os homens de opinião acreditavam que Deus ali habitava.” (Antiguidades 1981) No entanto, após ser construído, os israelitas acreditavam que o Templo de Jerusalém era a nova “santa habitação” de Deus. No segundo livro das Crônicas, Salomão explica por que construiu o Templo: “Eu te tenho edificado uma casa para morada para ti (Deus), e um lugar para a tua eterna habitação.” (2 Cr 6:2). De acordo com 2 Crônicas portanto, o Templo de Jerusalém passava a ser, para todo o sempre, a única casa de Deus.
Diferente das noções católicas e judaicas de todas as igrejas ou sinagogas serem a casa do Senhor, para os antigos israelitas havia somente uma morada. Havia outros templos e santuários onde Deus podia ser adorado, mas só podia existir uma única “casa de Deus.” Até o momento da invasão babilônica, o Templo continuou a ser chamado de a Casa de Deus. No reinado do rei judaico Acaz, no século VIII a.C: “E ajuntou Acaz os utensílios da casa de Deus” (2 Cr 28:24).
No reino de Ezequias, no século VII a.C: “E toda a obra que começou no serviço da casa de Deus” (2 Cr 31:21). E no tempo em que os babilônios saquearam o Templo, no século VI a.C: “E queimaram a casa de Deus” (2 Cr 36:19). Com o Templo ameaçado, o Monte Sinai teria sido o lugar mais adequado para que Jeremias levasse a Arca: aquele era a outra única “santa habitação” de Deus. Entretanto, ao continuar examinando os textos do Antigo Testamento, comecei a perceber que havia uma outra, e mais convincente, razão para que Jeremias tivesse levado a Arca para o Monte Sinai.
Não era exatamente a Arca que precisava ser retirada do Templo, mas a presença de Deus (que ela continha) para a qual ela fora construída para abrigar. De acordo com o livro do Êxodo, Deus apareceu, de forma física, para os israelitas pela primeira vez no Monte Sinai:
“E disse o Senhor a Moisés: eis que eu virei a ti numa nuvem espessa, para que o povo ouça, falando eu contigo… E estejam prontos para o terceiro dia; porquanto no terceiro dia o Senhor descerá diante dos olhos de todo o povo sobre o Monte Sinai”. (Ex 19:9-11)
Não fica claro, exatamente, de que forma Deus apareceu, mas Ele de alguma forma, se manifestou dentro de uma nuvem densa de fumaça:
“E todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo: e a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente… E, descendo o Senhor sobre o monte Sinai, sobre o cume do monte”. (Ex 19:18-20)
Antes de os israelitas deixarem o Monte Sinai para continuar sua jornada pelo deserto, Deus ordenou que construíssem a Arca. Por mais estranho que possa parecer ao pensamento moderno, a Arca foi, na verdade, feita para abrigar o próprio Deus. No relato do Êxodo, Deus disse a Moisés o que fazer:
E me farão um santuário; e habitarei no meio deles. Conforme tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus pertences, assim mesmo o fareis. Também farão uma arca de madeira de acácia; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura de um côvado e meio, e de um côvado e meio a sua altura. (Ex 25:8-10)
A parte mais essencial parece ser a que fala do misterioso propiciatório, sobre o qual Deus podia se manifestar:
Também farás um propiciatório de ouro puro… E porás o propiciatório em cima da arca… E ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório. (Ex 25:17-22)
A presença de Deus estava agora no interior da Arca, porque quando os israelitas deixaram o Monte Sinai, a miraculosa nuvem de fumaça pairou sobre ela:
Assim partiram do monte do Senhor caminho de três dias: e a arca da aliança do Senhor caminhou diante deles caminho de três dias, para lhes buscar lugar de descanso. E a nuvem do Senhor ia sobre eles de dia, quando partiam do arraial.(Nm 10:33-34)
Toda vez que os israelitas montavam acampamento, a Arca era colocada no tabernáculo ou “tenda da congregação” atrás de um véu ou cortina especiais. Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo:
No primeiro dia do primeiro mês, levantarás o tabernáculo da tenda da congregação. E porás nele a arca do testemunho, e cobrirás a arca com o véu. (Ex 40:1-3)
Parece que esse véu separava o lugar sagrado da Arca do restante do tabernáculo:
Pendurarás o véu debaixo dos colchetes, e porás a arca do testemunho ali dentro do véu; e este véu vos fará separação entre o santuário e o lugar santíssimo. (Ex 26:33)
Sobre o Monte Sinai, quando Deus conversara com Moisés, apareceu sobre o pico da montanha. Agora, porém, ele apareceu onde a Arca estava, de trás do véu no tabernáculo. Sua presença, no entanto, podia ser fatal para qualquer pessoa que chegasse perto demais, conforme o irmão de Moisés, Aarão, foi avisado:
Disse, pois, o Senhor a Moisés: Dizei a Aarão, teu irmão, que não entre no santuário em todo o tempo, para dentro do véu, diante do propiciatório que está sobre a arca; para que não morra: porque eu aparecerei na nuvem sobre o propiciatório. (Lv 16:2)
Assim como no Monte Sinai, a presença de Deus sobre a Arca era chamada de a glória do Senhor — já descrita como o fogo devorador: “Então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo”. (Ex 40:34).
Passagens bíblicas como essas mostram claramente que a presença de Deus, que antes acreditavam ter habitado exclusivamente sobre o Monte Sinai, era agora vista como (deus) residindo com a Arca. Assim como a barca egípcia que carregava a estátua do deus Amun quando deixava o Templo de Karnak, a Arca da Aliança parece ter sido considerada um meio de transporte de Deus — ou algo por meio do qual Deus podia se manifestar — de sua santa habitação no Monte Sinai.
Quando o Monte Sião foi, mais tarde, consagrado como uma nova montanha sagrada e o Templo de Jerusalém foi, por fim, construído para ser a “casa de Deus”, parece que a presença de Deus deixou a Arca para habitar no interior do santuário do Templo. O primeiro livro dos Reis descreve como a Arca foi carregada para dentro do Templo quando este ficou pronto: “Assim trouxeram os sacerdotes a arca da aliança do Senhor ao seu lugar, ao oráculo da casa, ao lugar santíssimo” (1 Reis 8:6). Nessa época, a Arca foi aberta pela primeira vez após muitos anos:
Na arca nada havia, senão só as duas tábuas de pedra, que Moisés ali pusera junto ao monte Horebe-Sinai, quando o Senhor fez uma aliança com os filhos de Israel, saindo eles da terra do Egito. (1 Reis 8:9) Contudo, assim que a Arca foi aberta, algo miraculoso aconteceu: E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor. E os sacerdotes não podiam permanecer em pé para ministrar, por causa da nuvem: porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor. (1 Reis 8:10-11)
O Rei Salomão então explicou o que aconteceu: “O Senhor disse que ele habitaria nas trevas. Certamente te edifiquei uma casa para morada, assento para a tua eterna habitação” (1 Reis 8:12-13). Salomão está interpretando a nuvem e a “glória do Senhor” que enche o local enquanto a presença de Deus deixa a Arca para habitar, de forma permanente, no Templo.
Minha perspectiva era a de que não importava se esses episódios miraculosos ocorreram historicamente ou não. O mais importante era que os judeus no tempo da invasão dos babilônios acreditavam que sim. As escrituras sagradas garantiam que a presença de Deus havia sido levada do Monte Sinai para dentro do Templo de Jerusalém, na Arca da Aliança. Jeremias sabia que os babilônios iriam invadir Jerusalém, e que, provavelmente, destruiriam o Templo como um ato de represália. Se o Templo de Jerusalém não era mais um lugar seguro para a presença de Deus habitar, certamente teria de ser devolvida para o local de onde viera originalmente: o Monte Sinai.
Tudo que sabemos no relato do Êxodo é que o Monte fica em algum lugar no Deserto de Sinai: Ao terceiro mês da saída dos filhos de Israel da terra do Egito, no mesmo dia chegaram ao deserto de Sinai. Porque partiram de Refidim, e entraram no deserto de Sinai, onde se acamparam; Israel, pois, ali se acampou em frente ao monte. (Ex 19:1-2) A única maneira de transportar essa presença divina era por meio da Arca da Aliança. Em suma, parecia que a Arca tinha de ser levada de volta para o Monte Sinai e nenhum outro lugar. Eu estava convencido de que o Monte Sinai era o lugar mais provável para Jeremias esconder a Arca. A grande pergunta então era: onde exatamente ficava o Monte Sinai? Curiosamente, considerando-se o significado religioso da Montanha de Deus, a Bíblia não era nada transparente com relação à sua localização verdadeira.
Infelizmente, a inclusão do nome Refidim, onde os israelitas estiveram, não é de grande serventia. Esse não é o nome de um lugar; apenas quer dizer “lugar de descanso.” Foi onde os israelitas acamparam por algum tempo para se recuperarem e permitir que seus animais pastassem. Tudo que aprendemos nessa passagem é que a Montanha de Deus fica em algum lugar no Deserto de Sinai. Dentre as localizações conhecidas citadas no Antigo Testamento, podemos deduzir que a região conhecida como o Deserto de Sinai se estendia por um largo território, incluindo a atual Península de Sinai no sul do Egito, partes do sul de Israel e da Jordânia, e até mesmo, uma parte da Arábia Saudita.
Não era um deserto como o Saara, com grandes extensões de terra, mas um campo pedregoso, empoeirado e árido com vegetação esparsa, entremeado por ocasionais oásis de solo fértil. Media aproximadamente quatrocentos quilômetros de norte a sul e 350 quilômetros de leste a oeste. Isso corresponde a cerca de 55.000 milhas quadradas. Havia muitas montanhas nesse considerável espaço, e a Montanha de Deus poderia ter sido qualquer uma delas. De fato, sua verdadeira localização do período da Era cristã parece ter sido totalmente esquecida.
No século IV d.C, o primeiro imperador cristão romano, Constantino, o Grande, acreditava ter descoberto onde era o Monte Sinai. Em segredo, ele proclamou que se tratava de uma montanha específica na ala sul da Península de Sinai, no Egito. Segundo a opinião geral, ele descobriu a localização a partir de uma visão ou de um sonho de sua mãe, Helena (a mesma Helena responsável pela construção da original Igreja da Natividade). Constantino mudou o nome do lugar para Monte Sinai, e logo depois, o mosteiro de Santa Catarina foi fundado ali e rapidamente tornou-se um dos principais centros de peregrinação.
Mesmo hoje em dia, o mosteiro ainda é ocupado por monges que afirmam ser o prédio habitado continuamente mais antigo no mundo. Não se sabe, nos dias de hoje, o antigo nome da montanha. A maioria dos mapas ocidentais ainda se referem ao local como o Monte Sinai, ao passo que os mapas árabes o chamam de Jebel Musa — a “Montanha de Moisés”. Entretanto, apesar de o lugar ainda atrair milhares de turistas todo ano, estudiosos contemporâneos não foram capazes de descobrir nenhuma evidência bíblica ou histórica para apoiar a crença de Constantino ou de sua mãe.
Céticos com relação a Jebel Musa, uma série de arqueólogo modernos chegaram a propor outras localizações para o Monte Sinai. Uma das teorias mais recentes vem do respeitado paleontólogo italiano Emmanuel Anati, que indicou o Monte Karkom, próximo a El Kuntilla em Israel, a cerca de quarenta quilômetros ao norte de Elat. Anati, que baseou sua conclusão na descoberta ao pé da montanha dos restos de habitações circulares e de um altar cercado por doze pedras erguidas.
De acordo com Êxodo 24:4, Moisés construiu um altar e doze pilares abaixo da Montanha de Deus para representar cada uma das doze tribos hebraicas. Apesar da comoção inicial, porém, uma escavação recente datou os restos de cerca de 2000 a.C, cinco séculos antes mesmo do período do Êxodo. Uma outra teoria recente identificou a Montanha de Deus como Jebel al-Lawz, na Arábia Saudita. Em 1986 dois exploradores americanos, Ron Wyatt e David Fasold, viajaram até a montanha, na esperança de encontrar as jóias egípcias que a Bíblia diz que os israelitas levavam consigo durante o Êxodo. No entanto, foram quase que imediatamente presos por escavações ilegais, ameaçados de aprisionamento pelas autoridades sauditas, e deportados.
Sua identificação de Jebel al-Lawz como a montanha de Deus baseava-se em suas hipóteses de que o monte está localizado onde antes era a terra de Midiã. De acordo com Êxodo, foi para lá que Moisés fugiu após seu exílio do Egito. Como Jebel al-Lawz é a montanha mais alta nessa região, pareceu lógico a Wyatt e Fasold que esse seria o local de onde Deus teria se comunicado com Moisés.
Mais recentemente, uma outra dupla de exploradores americanos decidiu seguir os passos de Wyatt e Fasold. O milionário de Wall Street, Larry Williams, e o ex-policial Bob Cornuke, cruzaram de maneira ilegal o território saudita para pesquisar a montanha em busca de evidências de que aquele era, na verdade, o Monte Sinai. Ao entrar ilegalmente na área, hoje toda cercada, Williams e Cornuke procuraram correspondências com o registro bíblico.
Próximo ao pé da montanha, avistaram uma pilha de rochas que tinham desenhos de touros. Esse, Williams e Cornuke decidiram, deve ser o altar onde dizem que os israelitas adoravam o bezerro de ouro. Mais acima da ladeira, Williams e Cornuke encontraram uma enorme estrutura de pedras, perto da qual havia os restantes do que pareciam ser doze torres de pedra, cada uma com cerca de cinco metros e meio de diâmetro.
Identificaram a estrutura de pedra como o altar construído por Moisés e as torres como os doze pilares que ele ergueu ao seu redor. Diferente de seus predecessores, Williams e Cornuke conseguiram escapar das autoridades sauditas, mas suas descobertas não foram capazes de convencer seus críticos, e diversos arqueólogos questionaram sua teoria. O estudioso bíblico Allen Kerkeslager, por exemplo, ressaltou que a pilha de pedras que Williams e Cornuke identificaram como o altar do bezerro dourado — por causa das fotografias de touros — era na verdade, uma construção comum na região, que tinha como intenção, nos tempos antigos, comunicar-se por meio de mensagens que abordavam a caça e outras atividades pastoris.
Aquilo que os exploradores identificaram como as torres de pedra, Kerkeslager sugeriu, eram aterros comuns ao longo de todo o noroeste da Arábia. Acirrados debates acadêmicos ainda cercam muitos locais propostos para o Monte Sinai, e sua verdadeira localização permanece como um dos mistérios mais contestados da Bíblia. Entretanto, quando analisei as diversas referências do Antigo Testamento a respeito da Montanha de Deus com mais cuidado, cheguei à conclusão de que ofereciam algumas pistas muito importantes que pareciam ter sido completamente ignoradas.
A Montanha de Deus é chamada por dois nomes diferentes no Antigo Testamento: Monte Sinai e Monte Horebe, ou apenas Horebe. A Bíblia não deixa dúvidas de que essas eram a mesma montanha. As leis sagradas que dizem ter sido reveladas por Deus aos israelitas na Montanha de Deus são citadas na Bíblia como “a Aliança”, e diversas vezes quando o livro de Deuteronômio fala da Aliança, refere-se a Horebe. Por exemplo: “Deus fez uma aliança conosco em Horebe” (Dt 5:2). De fato, 1 Reis 19:8 diz muito especificamente que Horebe é a Montanha de Deus. Com relação ao profeta Elias, esse versículo nos diz: “Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus.”
Por que a montanha tem dois nomes diferentes é um mistério, mas pode ter sido porque, como o próprio Deus, a montanha era considerada sagrada demais para ser chamada por seu nome. Como o termo indica, Monte Sinai apenas se refere a uma montanha no Deserto de Sinai, enquanto a palavra hebraica horeb apenas quer dizer algo como “montanha no deserto.” (Lingüistas bíblicos sugeriram que se trata de uma combinação de duas palavras hebraicas: hor, que significa “monte”, e choreb, “um lugar seco ou deserto”.
O Deuteronômio apenas uma vez se refere à montanha santa como Monte Sinai; em outras ocasiões ela é chamada apenas de “o monte” ou “monte de Deus”. Em outras palavras, nenhum desses nomes identifica um local específico; a Montanha de Deus pode ser qualquer montanha no Deserto de Sinai. O que eu precisava descobrir, era seu nome verdadeiro, o que significava ter de averiguar, com mais exatidão, onde, de fato, acreditavam ficar o monte. Havia alguma pista na Bíblia? Como acabei descobrindo, havia, na verdade, dois incidentes que diziam ter ocorrido na Montanha de Deus que indicavam uma região específica do Deserto de Sinai — não Midiã, no sul do deserto, como Wyatt e Fasold propuseram, mas Edom no norte.
O primeiro indicador que descobri foi no livro do Êxodo, na passagem que mencionava Moisés e o arbusto em chamas. De acordo com Êxodo 2:15-21, após ser forçado para o exílio do Egito, Moisés estabeleceu-se na terra de Midiã, onde se casou com a filha de um sacerdote local chamado Jetro. Alguns anos mais tarde, Moisés estava cuidando do rebanho de seu sogro quando se deparou com um arbusto que ardia em chamas sem ser consumido. Foi dentro deste fogo milagroso que Moisés ouviu, pela primeira vez, a voz de Deus.
De acordo com Êxodo 3:1, esse evento aconteceu em Horebe, a Montanha de Deus: E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe. Midiã era o nome antigo para a região leste do Golfo de Aqaba, onde hoje é o extremo noroeste da Arábia Saudita. Exatamente como os beduínos de hoje, os povos de Midiã eram de pastores nômades. Grupos de famílias inteiras conduziam seus rebanhos de ovelhas e cabras por centenas de quilômetros no prazo de um ano por todo o Deserto de Sinai até o norte de Midiã, sempre em busca de terrenos bons para a pastagem dos animais.
Parece que era isso o que Moisés estava fazendo quando se deparou com o arbusto em chamas. Se o deserto citado no versículo acima era o Deserto de Sinai, as palavras “atrás do deserto” — onde a Montanha de Deus ficava sob a perspectiva de Midiã — deveria ficar no extremo norte da região. Isso seria em algum lugar da região hoje chamada de Deserto de Negev, ao sul da Jordânia — uma terra que nos tempos bíblicos era chamada de Edom. A segunda pista da localização da Montanha de Deus, eu encontrei depois no relato do Êxodo. Após Moisés voltar para o Egito e comandar os israelitas à liberdade, voltou com eles para Horebe para mais uma vez se comunicar com Deus na montanha santa.
Quando lá chegaram, os israelitas estavam sem água e mortos de sede. Moisés, porém, salvou-os com um milagre: Então disse o Senhor a Moisés, Passa diante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel; e toma na tua mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai. Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe; e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas e o povo beberá. (Ex 17:5-6)
Embora essa passagem específica não nos dê pista alguma com relação à localização exata de Horebe, o mesmo incidente é citado no livro dos Números:
Então Moisés tomou a vara de diante do Senhor, como lhe tinha ordenado… Então Moisés levantou a sua mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara; e saiu muita água; e bebeu a congregação e os seus animais. (Nm 20:9-11)
Essa passagem não diz que o incidente ocorreu na Montanha de Deus — e é por isso que dá a impressão de não ter sido percebido — mas fica claro que se trata do mesmo evento. No entanto, alguns versículos depois, ficamos sabendo onde ele aconteceu. Assim que os israelitas conseguiram se refrescar, Moisés envia um mensageiro para pedir permissão ao rei local para poder passar por suas terras: Depois Moisés, de Cades, mandou mensageiros ao rei de Edom, dizendo: Assim diz teu irmão Israel… Deixa-nos, pois, passar pela tua terra. (Nm 20:14-17)
A passagem do Êxodo diz que o episódio da água milagrosa da rocha aconteceu em Horebe, a Montanha de Deus, ao passo que a passagem dos Números nos diz que esse mesmo evento aconteceu em Kadesh (Cades). Em hebraico, a palavra kadesh significa “santidade”, ou nesse contexto “um lugar sagrado”, Parece, então, que esse não é o nome do lugar, mas apenas uma descrição. A tradução do inglês deveria ter sido “Moisés, do lugar sagrado, mandou mensageiros ao rei de Edom”. Entenderíamos, então, que este versículo simplesmente se refere à Horebe, a Montanha de Deus. Embora a exata localização de Kadesh (Cades) seja um mistério, o local deve ficar em algum lugar na fronteira da terra de Edom, porque Moisés tenta conseguir permissão do rei de Edom para continuar sua viagem.
Fica bastante-claro, portanto, se o atual Antigo Testamento estiver certo, que a Montanha de Deus fica na terra de Edom, ou pelo menos, próximo a ela — uma terra onde hoje fica o sul da Jordânia. Enquanto estudava atentamente os antigos mapas na Biblioteca Nacional, examinei os detalhes da região em busca de idéias quanto à localização da montanha que os autores do Antigo Testamento podem ter chamado de Monte Sinai ou Monte Horebe — e para onde Jeremias teria levado a Arca. Uma cadeia de montanhas no sudoeste da Jordânia passa bem no meio do lugar que outrora fora a terra de Edom — as Montanhas de Shara. Será que uma dessas montanhas teria sido citada pelos autores do Antigo Testamento como o Monte Sinai ou Horebe?
Edom era um pequeno reino no noroeste do Deserto de Sinai. A arqueologia mostrou que o lugar foi habitado por um povo semita conhecido como os edomeus de cerca de 1700 a.C. até a área ser ocupada pelos nabateus da Arábia no século IV a.C. Das inúmeras descobertas, ficou determinado que os edomeus migraram para o sul de Canaã, por volta do mesmo período em que os outros semitas (incluindo, ao que parece, os israelitas) se estabeleceram no Egito. Os edomeus tinham, na época, uma relação de parentesco com os israelitas, e isso, somado à sua migração para o Deserto de Sinai, parece estar refletido na história do Antigo Testamento de Jacó e Esaú.
De acordo com o livro do Gênesis, Jacó e Esaú eram irmãos que viviam em Canaã, porém, separados porque Jacó enganou Esaú, fazendo com que ele perdesse seus direitos à herança. Jacó e sua família se mudaram para o leste do Egito, onde seus descendentes passaram a ser os israelitas, enquanto Esaú se mudou para o sul em Edom, onde seus descendentes se transformaram nos edomeus. Embora isso, sem dúvida, seja uma simplificação, uma parábola de eventos, testes de DNA nos restos esqueléticos dos israelitas e dos edomeus mostraram que eles, de fato, possuíam uma ancestralidade comum.
Ao ler o relato do Gênesis de Esaú se estabelecendo na terra de Edom, imediatamente, fui surpreendido por algo muito interessante — a passagem fazia referência a uma montanha em específico ao redor da qual os edomeus viveram: “Portanto Esaú habitou na montanha de Seir… E estas, pois, são as gerações de Esaú, pai dos edomeus, na montanha de Seir” (Gn 36:8-9). O Monte Seir é citado uma série de vezes no Antigo Testamento, e quando li as diversas referências, percebi que estava prestes a descobrir algo importante.
Parecia que, como o Monte Sinai, o Monte Seir era considerado uma montanha santa associada a Deus. No livro de Isaías, o profeta Isaías (por volta de 700 a.C.) diz que, quando Deus fala com ele, “Gritam-me de Seir” (Is 21:11). Deus, ao que tudo indica, chamava o profeta do lugar onde morava, no Monte Seir. Uma outra passagem do Antigo Testamento, mais adiante, sugere que acreditava-se que Deus residia no Monte Seir, porque quando Deus foi invocado pelos israelitas, Ele mais uma vez respondeu ao chamado daquela montanha. No entanto, essa passagem, na verdade, parece relacionar o Monte Seir ao Monte Sinai. Juízes 5:4-5 traz a súplica: O Senhor, saindo tu de Seir, caminhando tu desde o campo de Edom, a terra estremeceu, e os céus gotejaram, as nuvens também gotejaram águas.
Os montes se derreteram diante do Senhor, e até Sinai diante do Senhor Deus de Israel. O que a ligação entre as duas montanhas possa significar é difícil de entendermos somente com essa passagem. Entretanto, Deuteronômio inclui um versículo que parece indicar que as duas montanhas são, na realidade, uma só. Quando Moisés estava morrendo, ele pediu a Deus que viesse e abençoasse os israelitas, e “o Senhor veio do (Monte) Sinai e lhes subiu do (Monte) Seir” (Dt 33:2). Como mencionei, o Antigo Testamento, com freqüência, apresenta dois nomes quando se refere ao Monte Sinai.
Quando Moisés visitou o Monte Sinai pela primeira vez no episódio do arbusto em chamas, por exemplo, ele é descrito na Bíblia de grande circulação do Rei James como tendo ido para “o monte de Deus, a Horebe” (Ex 3:1). Como vemos, o autor usa ambos os termos, “Monte de Deus” e “Horebe” para se referir ao lugar. Da mesma forma, o autor da passagem de Deuteronômio parece estar usando ambos os nomes, Sinai e Seir, para falar da montanha santa. O Monte de Deus certamente parecia estar localizada na terra de Edom, em algum lugar entre as Montanhas de Shara. Pelo menos, é nisso que os escribas do Antigo Testamento que compilaram os relatos importantes entre 650 e 500 a.C. parecem ter acreditado.
Tudo indica, também, que ao menos alguns desses escribas acreditavam que o Monte Seir e o Monte Sinai eram o mesmo lugar. Posso muito bem ter reduzido a amplitude da área citada como sendo o Deserto de Sinai onde ficava a montanha sagrada. Entretanto, ainda havia um problema. A exata localização do Monte Seir era um mistério para os estudiosos bíblicos, da mesma forma que o Monte Sinai. Qual das Montanhas de Shara era o Monte Seir?
Mais informações sobre a Ordem dos Cavaleiros Templários:
http://thoth3126.com.br/category/templarios/
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