segunda-feira, 18 de julho de 2022

Boa noite, me chamo Maria navalha. Houve uma época que não me chamavam assim, que eu não era ninguém além de uma empregada do cais

 Boa noite, me chamo Maria navalha. Houve uma época que não me chamavam assim, que eu não era ninguém além de uma empregada do cais


Pode ser uma imagem de 1 pessoaBoa noite, me chamo Maria navalha. Houve uma época que não me chamavam assim, que eu não era ninguém além de uma empregada do cais, limpava aquele chão e ganhava menos do que merecia, até encontrar aquele homem, aquele maldito homem, ele se chamava José, José dos Santos, ele era lindo, tinha os olhos da cor de jabuticaba e um um sorriso que controlava qualquer mulher. Ele podia ter qualquer uma, mas ele me quis, e com ele eu aprendi tudo, aprendi a trapacear, a jogar cartas e a seduzir quem eu quisesse, foi com ele que eu conheci a vida além daquele cais maldito e escuro, foi o meu primeiro e único amor, ele sempre me disse que o amor era uma doença e que isso iria matar nós dois, mas eu não levei fé. Me lembro exatamente os sorrisos que ele me arrancava, e me lembro quando ele me deixou, as lágrimas que ele me causou, antes de ir, ele me deixou uma navalha, dizia que isso iria me proteger dos homens que não gostavam de perder para uma mulher, e então ele foi embora, e eu não entendi, fiquei doente para saber onde se enfiou o meu Zé, o meu pretinho do sorriso alegre, e então eu o encontrei, ele estava casado com uma mulher rica e isso me deixou arrasada porque ele havia me trocado por um amor falso e financeiro, e então eu jurei vingança, jurei que só na morte iria deixar-lo em paz.
E eu mudei, mudei para me aproximar da esposa dele, eu iria tirar aquilo que era mais importante para ele, o dinheiro! Então fiz a esposa dele se apaixonar por mim, e eu? Usei a mulher dele, assim como ele me usou, ela me dava presentes, jóias, e tudo o que eu pedisse, e aí começou a minha vingança.
Mas como nunca ninguém conseguiu enganar o Zé, não seria eu a primeira, quando ele descobriu, ele ficou louco, e foi atrás de mim lá no cais, ele veio com um papo de malandro, tentando me levar na malandragem dele, tentando me fazer de otária como ele sempre fez, e então ele me pediu a tal navalha de volta, me lembro bem, que foi com um falso abraço que ele me matou, me lembro que não senti nada, nem dor, nem amor, a navalha que ele me deu para proteção, foi a mesma que ele usou para me matar, e foi lá, lá no cais que eu acordei, e tinha uma mulher em pé me esperando, ele usava roupas de homem, e fumava um cigarro que não tinha fim, ela me olhou e disse, "seja bem vinda, agora você é da minha família, esquece esse homem, essa mulher, essa vida e escolhe um novo nome, mas nunca se esqueça de onde você veio, e onde você se transformou". Seu nome era Maria navalha, e aquele Zé? Hoje ele também trabalha, hoje ele Zé pelintra da Lapa o cara que me ensinou a malandragem e me transformou em quem sou hoje.
Quando precisar de uma amiga pra quebrar qualquer demanda é só me chamar, que com aquela mesma navalha, eu quebro todo mal, toda falsidade e deslealdade.
Como eu me chamo? Ah, alguns me chamam de Maria homem, outros só de navalha, e tem alguns que me conhecem como Maria do cais, a morena do Zé.
Mas na verdade, eu sempre fui a Maria navalha, a navalha da Beira do cais!
Foto retirada da internet!
Médium : Julie Mamedes
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** Exclusivo da página: povo da calunga***