MALANDRA 7 NAVALHAS
Sua história começou no final do século XIX, quando o bairro ganhou a primeira favela que se tem notícia, lá no Morro da Providência.
Foi onde nasceu e cresceu uma mestiça de nome Maria.Linda, alta, forte, dona de um olhar magnético que chamava a atenção.
Os sofrimentos da infância deram-lhe uma personalidade determinada e valentia.
Aprendeu a se virar sozinha, pois desde cedo perdeu os pais e foi morar na rua.
Uma menina abandonada não tem muita opção, e logo ela foi introduzida no mundo da "vida noturna" e da malandragem, onde teve famosos mestres e mestras que a iniciaram na vida noturna.
Foi nas ruas, cabarés e bares que a jovem Maria construiu sua fama e adquiriu seu "apelido".
Contam que ela bebia como um marinheiro, fumava como um estivador e brigava como um leão de chácara, mas sem perder a feminilidade.
Capoeiristas famosos a respeitavam e tinha homem grande que tremia diante dela.
Escondida no belo corpo sempre levava uma afiada navalha.
Com seu gênio briguento conseguiu muitos inimigos.
Toda Sexta-feira era sagrada para Maria.
Ela se arrumava e ia para a Macumba, culto sincrético e respeitado nos ambientes mágicos do Velho Rio de Janeiro.
A sessão começava tarde da noite e, no pequeno barracão do morro, ao som dos atabaques e cantigas.
Assim era o alegre canjerê, tudo misturado e sem uma ordem formal. Aqui rodava um Orixá, ali consultava um caboclo do mato e ao lado pitava um preto velho.
O Rei da Noite e o Imperador da Macumba.
Dona 7 Navalhas ouviu muito os conselhos dos Exus, despachou nas escuras encruzilhadas do porto, fabricou talismãs e usou figas.
Ensinou banhos e simpatias para as colegas de trabalho, ouviu problemas dos clientes e enxugou lágrimas de muitas vizinhas.
Era uma alma generosa dentro do corpo de uma guerreira.
A primeira parte da vida desta mulher terminou numa noite sem Lua.
Ao cruzar um beco foi surpreendida por trás e levou uma fatal facada de um inimigo.
.
.
Salve a malandragem