segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Lendas Celtas sobre Changeling

 

 Lendas Celtas sobre Changeling


Nenhuma descrição de foto disponível.1. O que é um changeling
Na cultura celta, o changeling é um humano trocado: uma fada ou um objeto que é deixado no nosso mundo em troca de um humano que as fadas desejam (e levam para a Terra das Fadas). As fadas podiam levar tanto adultos – especialmente mulheres jovens – quanto crianças, mas era mais comum que elas levassem crianças.

O changeling pode tanto ser uma fada velha doente, porco, como pode ser um tronco de madeira enfeitiçado de forma que pareça ser um mortal definhando, morrendo e sendo enterrado, enquanto o humano verdadeiro vive na Terra das Fadas. Se um bebê fosse levado o changeling em seu lugar tipicamente seria adoentado, constantemente com fome e impossível de agradar.

Segundo o relato de um professor irlandês no início do século XX, antigamente a mãe costumava colocar um par de pinças de ferro sobre o berço antes de deixar a criança sozinha, para que as fadas não trocassem aquela criança por uma criança frágil delas (você pode entender por que o ferro nesse post aqui).

Caso a mãe fosse descuidada e um changeling já tivesse tomado o lugar do bebê, esse só poderia ser retornado ao mundo mortal se o changeling fosse forçado a se revelar. Cada história conta um jeito diferente pelo qual o bebê foi recuperado.

A história a seguir foi registrada pelo antropólogo americano W.Y. Evans-wentz. Entre 1909 e 1910 ele viajou pelos países de cultura celta e registrou histórias e crenças contadas pelos camponeses mais idosos de cada lugar por onde passou. A história que você vai ler foi registrada na Ilha de Skye, na Escócia. Segue uma tradução livre da história The Tailor and the Changeling.

2. A Lenda: O Alfaiate e o Changeling

Havia uma jovem esposa de um jovem homem que morava na cidade de Allasdale, e o casal acabara de ter seu primeiro filho. Um dia a mãe deixou o bebê em seu berço para sair e fazer algumas tosquiações [cortar lã], e quando voltou a criança estava chorando de uma forma muito incomum. Ela o alimentou, como de costume, com mingau e leite, mas ele não estava satisfeito com o que parecia ser o suficiente para qualquer um de sua idade, mesmo assim todas as suspeitas escaparam à sua atenção.

Acontece que, na época, havia um rolo de tecido caseiro esperando pelo alfaiate na casa. O alfaiate veio e começou a trabalhar o tecido. Quando a mulher estava saindo para a costumeira operação de tosquia [cortar lã], ela avisou o alfaiate que se ele ouvisse a criança chorar continuamente não era para prestar muita atenção nela, acrescentando que ela iria atendê-la quando voltasse para casa, pois temia que a criança o atrasasse em seu trabalho.

Tudo correu bem até cerca do meio-dia, quando o alfaiate observou a criança se levantando sobre o cotovelo e estendendo a mão para uma espécie de prateleira acima do berço e tirando dela um tubo melódico [parte de uma gaita de foles]. E então a criança começou a tocar. Imediatamente depois que a criança começou a tocar o tubo melódico, a casa se encheu de jovens fadas vestidas com longas vestes verdes, que começaram a dançar, e o alfaiate teve que dançar com elas.

Por volta de duas horas, naquela mesma tarde, as mulheres desapareceram, sem que o alfaiate soubesse para onde, e o tubo melódico desapareceu das mãos da criança, também sem que do alfaiate soubesse para onde; e a criança estava no berço chorando como sempre.

A esposa chegou em casa para fazer o jantar e observou que o alfaiate não estava tão adiantado em seu trabalho quanto deveria naquele espaço de tempo. Entretanto, quando as fadas desapareceram, a criança ordenou que o alfaiate nunca contasse o que ele havia visto. O alfaiate prometeu ser fiel às ordens da criança, e por isso não disse nada à mãe.

No segundo dia a mulher partiu para a sua ocupação, como de costume, e disse ao alfaiate para ficar mais atento ao seu trabalho do que no dia anterior. Uma segunda vez, na mesma hora do dia, a criança no berço, parecendo mais um velho do que uma criança, pegou o tubo melódico e começou a tocar. As mesmas mulheres-fadas encheram a casa de novo e repetiram a dança, e o alfaiate teve de se juntar a elas.

Naturalmente, o alfaiate estava tão atrasado com o seu trabalho no segundo dia quanto no primeiro dia, e isso era muito perceptível para a mulher da casa quando ela voltava. Ela então pediu que ele lhe dissesse qual era o problema. Então ele disse a ela: “Eu recomendo que depois de ir dormir esta noite você não acaricie aquela criança, porque ele não é seu filho, ele nem é uma criança: ele é um velho homem-fada. E amanhã, durante a maré baixa, desça até a praia e envolva-o em sua manta e ponha-o sobre uma rocha e comece a pegar aquela concha que é chamada lapa, e por sua vida não deixe a margem até que a maré flua tão alto que você dificilmente será capaz de entrar na praia principal.”

A mulher obedeceu ao conselho do alfaiate, e quando ela chegou à praia principal e ficou ali olhando para a criança na rocha, a criança gritou para ela: “Você teve uma grande necessidade de fazer o que fez. Caso contrário, você teria visto outro fim de sua vez, mas bênção venha para você e maldições no seu conselheiro.” Quando a esposa chegou em casa, seu filho natural estava no berço.

Referências:
The Fairy-Faith in Celtic Countries, por W.Y. Evans-wentz;
Fairy and Folk Tales of the Irish Peasantry, por W.B. Yeats;

Fonte de pesquisa:
http://fadamoderna.com/lendas-celtas-changeling/