Malandra Maria Tereza ( Maria Navalha das Almas)
Maria Tereza recebeu o nome em homenagem a Santa de devoção da Mãe, mas nunca fora
muito católica ou religiosa, porém sua avó antes de morrer lhe ensinou a falar com as Almas, aprendeu com ela, sobre as Almas Malditas, As Almas Benditas e como era perigoso não cumprir os acordos com elas.Quando Maria Tereza sentia falta da avó, ia ao Cruzeiro que elas iam, antes da avó falecer, acender vela para alma da avó e para as Almas benditas.
Maria Tereza não teve uma vida fácil, perdeu a mãe e a avó muito nova, a rua foi sua mãe e lhe ensinou coisas boas e outras nem tanto.
As vielas foram suas irmãs e testemunhas do seu sofrimento e das suas poucas alegrias, seu pai era um alcoólatra, que desde sempre a importunou, isso foi o ponto principal para começar a odiar os homens e o machismo que lhes é vigente.
O pai sempre tentava abusar dela e
ela ia para fora, tentando expurgar seu grande sofrimento por dentro.
Com isso começou a conhecer os meninos de rua das redondezas, fez amizade com eles,.
Eles achavam ela muito bonita, mais tinham medo de enamora-la.
Ela era tão forte como eles, Tereza sempre fora brava, sua personalidade era marcante desde
quando era pequena, e a perda da mãe somada á pessoa desprezível de seu pai, fez com que aprendesse a se defender muito menina.
Contava com 13 anos, quando começou a usar drogas, que os meninos usavam, como eram
seus amigos, ela quis experimentar, não gostava de julgar ninguém e nem sabia, como aquilo, poderia lhe prejudicar. Usou de tudo um pouco, cheirava cola, mais ficou com náuseas, viu como ficavam perturbados e sem controle quando cheiravam um pó branco que acabará de chegar ao Rio de Janeiro.
Identificou-se mais com maconha, os meninos davam pra ela, assim conheceu o fornecedor principal do Morro.
Era um rapazote um pouco mais velho que ela, ela agora tinha 15 anos e ele 17, era um galanteador, querido das prostitutas do bairro e “empregado” dos chefes da boca.
Subia e descia o Morro como ninguém, conhecia tudo muito bem.
Ele se aproximou dela com segundas intenções, metido a conquistador, ele sempre tinha, as mulheres que quisesse, mas queria aquela, a Maria das Marias, a menina que tinha se tornado mulher sem perceber, que preferia a companhia dos meninos de rua a quem todos chamavam de pivetes, a Maria que na dor se tornou Navalha, a
Maria que nunca se cala.
Depois de muita insistência, Maria o beijou, ele a enfeitiçou com sua lábia e sua ginga, levou ela pro samba, ensinou um pouco de capoeira, ele era mestre, aprendeu com seu avô a jogar Angola como ninguém.
Maria Tereza se encantou, achou que nunca ia conseguir amar ninguém, pois achava o amor uma ilusão.
Ele conseguiu, levou ela pra cama e depois lhe abandonou, quando Tereza conseguiu reencontra-lo, estava no Bar, no pé do Morro, com três mulheres em sua volta,
Tereza após ter sido usada e jogada fora, foi tirar satisfação com o Malandrão, brigaram como dois homens, o ódio dela fez ela forte, mais não tanto quanto ele.
Ele lhe disse “Sou Malandro menina e minha vida é assim, uma mulher na cama e outras três no botequim, eu não uso ou abuso de ninguém, não tenho culpa, se você se apaixonou, por quem não vale um vintém”.
Ele riu e suas acompanhantes também, Maria Tereza teve mais raiva ainda, arrependeu-se amargamente de ter amado.
Nasceu um sentimento de amargura, ódio e assim generalizou que homem nenhum valia a pena.
Um homem que assistia a cena compadeceu do seu sofrimento, ofereceu uma bebida, ela
muito brava, aceitou, queria beber, mais disse que nada podia oferecer, ele disse que não tinha problema e que ele não iria se aproveitar dela. Após beberem juntos, ele lhe mostrou uma Navalha, e disse que se ela aprendesse a brigar com ela, ninguém nunca mais ia se aproveitar dela, deu lhe de presente e disse que usasse bem. Maria Tereza aprendeu a jogar capoeira com a navalha, a escondia no corpo e saia sem medo de nada, as pessoas começaram a temê-la, dali
surgiram boatos sobre a mulher que era brava como uma onça e brigava com sua Navalha com quem quer que fosse. Isso irritou muito seu antigo amante, ele a chamava de arrogante e dizia que um dia isso iria acabar.
Tereza nunca andou na Linha, além de usar drogas, beber como um marinheiro, brigar como um estivador, jogar com meninos de rua, ela nunca gostou de trabalhar e também nunca pode estudar.
Sua vida tinha muitos entraves, muitas dificuldades, não era filhinha de papai, teve que buscar nos becos da favela alimentos, passou fome, passou frio, encontrava apoio na Rua. Nunca foi muito vaidosa, não gostava de andar suja, mas não gostava de joias. Quando os meninos de rua roubavam as Madames no Centro e davam joias para ela, ela falava para venderem
tudo, então vendiam, compravam bebida e dividiam com ela.
Tereza vivia tendo problemas com a Polícia, eles volta e meia topavam com ela, tinha um em especial, que não á deixava em paz, sempre que á encontrava, queria tê-la a todo custo.
Oferecia dinheiro, joias, maconha, ela sempre se esquivava, tentava fugir dele.
Foi numa segunda feira, por volta das seis horas, que as moradoras do Morro ficaram sabendo que a polícia estava batendo de porta em porta, procurando por Tereza, com a acusação de homicídio.
Diziam que ela tinha matado um português, dono de um bordel na Lapa, ao que parecia, ele queria ela, para ser prostituta de sua casa, ela tinha se recusado e o degolado com sua Navalha.
Maria Tereza tentava se esconder entre as vielas da favela, fugindo dos Meganes(Policiais), foi
quando encontrou seu antigo desafeto, o rapazote que teve um caso, ele lhe disse:
Ô Tereza, se disfarça, coloca uma roupa minha, vira homem e se esconde lá perto do Cruzeiro. Ninguém vai te encontrar assim…
Quando eles forem embora, eu te busco lá.
Maria Tereza aceitou o conselho dele, colocou a roupa dele e foi se esconder na Rua de trás do Cruzeiro que rezava para as Almas.
Ficou lá aguardando, ele ir busca– lá.
Porém ele demorou muito, ela estava muito nervosa, fumou um cigarro para tranquilizar, mesmo assim continuava nervosa.
Em seguida começou á escutar homens, gritando seu nome, atirando em sua direção, ela correu, pulou o muro, chegou até o Cruzeiro, foi nesse momento que um tiro acertou o seu peito,
Tereza desencarnou com muito ódio e tristeza.
Ela nunca tinha ouvido falar sobre vida após a morte, mas estava vendo seu corpo jogado ao lado do Cruzeiro, via pessoas gritando, as crianças de rua chorando e os policiais conversando, falando que não poderiam fazer mais nada, já que a suspeita tinha corrido e eles tiveram que mata-la.
As crianças acendiam velas para Maria no Cruzeiro, olhavam para o Céu e perguntavam umas para as outras, que se acaso, existisse um Deus, que ele acolhesse ela e guardasse-a para eles.
Tereza começou a perambular pelas Ruas do Morro, já não sabia o que fazer, estava viva, gritava, olhava a todos, mas estava morta ao mesmo tempo.
Na descida do Morro avistou no Bar da Esquina, seu antigo amor, que não parecia nada abalado,
bebendo com o policial que a queria como m amante.
Ela aproximou–se deles e escutou quando o rapazote disse:
Eu te disse parceiro, que nós íamos nos vingar dela, te entreguei a vagabunda de bandeja.
E ela ainda foi otária de acreditar em mim, falei pra ela se vestir com minhas roupas e ela caiu na Arapuca, nem acredito, como foi fácil armar uma
emboscada, ha ha ha.
Depois foi só te avisar onde ela estava e se ferrou com um tiro nas costas.
Você acertou direitinho, hein.
Com certeza, o plano deu muito certo, ela mereceu, não quis dormir comigo, foi dormir com o Diabo.
Maria sentiu seu peito encher de ódio, quis bater em ambos, eles ficaram com tonturas e decidiram ir pra casa.
Maria Tereza nunca descansou, vingou–se de ambos e os perseguiu por anos, perambulou
por muito tempo, foi escravizada por espíritos baixos e depois escravizou também, continuou frequentando bares, sugando energia dos encarnados, aproximava–se de drogados, para absorver os prazeres que os entorpecentes
ofereciam.
Passou décadas assim, tinha resistência para aceitar a Lei e as normas Espirituais.
Muitos Grupos de Resgate ofereceram ajuda para ela, pedindo que aceitasse as leis Divinas.
Depois de todo esse sofrimento na vida e na morte, ela aceitou, foi cuidada para trabalhar na Umbanda Sagrada e assim evoluir.
Recebeu o nome de Malandra Maria Navalha do Cruzeiro das Almas, Maria pela falange de
trabalho e por ser o nome que ela gostava quando encarnada.
Navalha por ser o instrumento que ela usava e o Cruzeiro era um lugar que ela amou, odiou e que a
marcou por toda eternidade.
Ponto Cantado da Malandra:
“Está vendo aquele Cruzeiro lá no Morro ?
Por ele Santa Tereza, também chorou.
Se vestiu de Homem pra fugir de emboscada,
Mas Navalha foi enganada por Palavras de Amor.”
Salve Malandra Maria Navalha do Cruzeiro das Almas.