quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Bruxa_de_Évora

 

 Bruxa_de_Évora


Nenhuma descrição de foto disponível.Com certeza a Feiticeira ou Bruxa de Évora, ainda conhecida como a Moura Torta, é uma das figuras mais notórias e rodeada de mistério no âmbito da magia e povoou o imaginário dos ibéricos e depois os brasileiros com a chegada dos colonizadores. É um daqueles casos onde há muita incerteza e contradições quanto à sua biografia.

A falta de registros históricos confiáveis impede uma pesquisa concludente sobre a sua vida e, portanto, não deve ser considerada uma figura histórica, nem precisar uma época em, presumivelmente teria vivido.

No entanto, sua reputação basta para ser classificada como arquétipo mítico de uma determinada qualidade de feiticeira ou bruxa. Diversos livros foram escritos sobre ela. Recomendamos para quem quiser conhecer melhor o tema a seguinte obra: A Bruxa de Évora, de Maria Helena Farelli, que diz...

Era uma vez a poderosa Bruxa de Évora que conquistou e aterrorizou gerações de corações luso-brasileiros por séculos e que possuía um caderno completamente abarrotado de poções, feitiços, bruxedos, encantamentos, banhos, rezas etc. Sua fama singrou barreiras cronológicas e físicas e aportou no Brasil com os navegantes portugueses… Sua magia criou raízes e ramificações se entrelaçando com as religiões ameríndias.

Apesar de temida, as pessoas sempre buscaram conhecer os poderes dessa Bruxa: seus feitiços, sortilégios, banhos, amarrações, conjuros etc., com a finalidade de obter cura, proteção e sucesso no amor e na vida.

É difícil precisar a época em que teria vivido a Bruxa de Évora. Contos ibéricos dão conta que essa poderosa bruxa viveu em Portugal, na época de Dom Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal, que nasceu em 1109 em Coimbra e faleceu em 1185 na Galiza. “Era a bruxa da cidade, que andava com um mocho às costas e que tocava harpa nas noites frias de inverno. Aliada do Tinhoso era ao mesmo tempo temida e adorada. A bruxa árabe era chamada de Moura Torta, nome que fazia os portugueses se arrepiarem, fazendo o sinal da cruz; e como moura e bruxa passou à história” (Farelli). Para muitos ela detentora de poderosos segredos e feitiços do Oriente. Ainda Farelli nos diz: “Vivia como eremita, sempre só em sua casa, com suas galinhas e coelhos, com chapelão, saia e avental, com sapatos golpeados, murmurando rezas estranhas”.

Farelli:

Os gatos também eram acusados de demônios. O gato era considerado um animal mágico, parente da lua, pois o gato surge para a vida à noite, perambulando pelos telhados, com seus olhos brilhantes na escuridão.

A Bruxa de Évora tinha um gato preto, chamado Lusbel (Lúcifer). Era belíssimo, dengoso e lascivo. Não corria atrás do mocho que sempre a acompanhava. Certa feita, quase mandaram queimar viva a Bruxa, sob a acusação de que ele penetrara na casa do reverendo em forma de gato preto.

A Moura Torta, falava o árabe, o português e o latim e lia o Alcorão. Tirava a sorte nas areias, nas estrelas e fazia feitiços e curas. Ainda hoje as pessoas procuram pelos poderes dessa feiticeira, lendária ou não: seus feitiços, sortilégios, banhos, amarração e conjuros, para obter cura, proteção e sucesso no amor e na vida.

Conforme creem algumas pessoas, no Brasil fez adeptos no Catimbó-Jurema acostando nos médiuns. No lugar dos linhos usava suas fortes rezas. Também foi acolhida na Umbanda e nas macumbas cariocas entre as Pombagiras, como uma velha sábia, curadora e mandingueira. Essa é a roupagem fluídica de muitas Pombagiras, no lugar da deturpada imagem de prostitutas sedutoras.

Devido ao seu poder e sua influência seu nome tornou-se referência para os praticantes de bruxaria em vários momentos da história. Alguns acreditam que a Bruxa de Évora foi apenas um dos corpos em que viveu Nanaime.

#Nanaime é uma essência da magia sempre ressurgida para restaurar o poder da magia, mesmo que em pequena escala, mas a magia é eterna e com isso as pessoas que fazem parte da magia ou de sua herança sempre recebem esta qualidade de “ser da magia” mesmo a magia estar sem poder há sempre algo que a faça ressurgir e estas pessoas envolvidas pela antiga história sempre tendem a novamente vivenciá-la mesmo sendo em pequena escala ou grau inferior, mas as coisas sempre ocorrem para se garantir um fim.

Uma reza interessante



Com três te botaram o olho mau,

Três espinhos te enfiaram, inveja, tremura e amarelão.

Com três eu te tiro dessa aflição,

Na força da Bruxa de Évora

Eu abro o portão onde mora Arcangel e São Cipriano

E fecho a porta do Cão.

Xispa, Tinhoso!

Outra bruxa famosa, esta com certeza não lendária, foi Maria Gonçalves Cajada, portuguesa que veio desterrada para o Brasil no Século XVI para cumprir pena por feitiçaria. Era mais conhecida pela alcunha de Arde-Lhe-o-Rabo.

As mulheres apelavam ao sobrenatural, protagonizando em vários sentidos a vida amorosa na Colônia. Algumas usavam de tais expedientes para maltratar e vingar-se de homens indesejáveis, e, até mesmo aniquilá-los como no caso de Catarina Froés, moradora da Bahia e casada com um antigo escrivão em fins do século XVI. Catarina havia procurado a Arde-lhe-o-Rabo, com o firme propósito de matar um genro.

A Catarina foi quem denunciou a pobre da Maria Arde-lhe-o-Rabo colocando todas nós, as suas clientes, em polvorosa, todas temendo o pior e preocupadas, ainda mais, como seriam as reações dos nossos maridos e companheiros. A desgraçada havia dito: que há um ano que nesta cidade cometeu e acabou com Maria Gonçalves, d’alcunha Arde-lhe-o-Rabo, mulher não casada, vagabunda, ora ausente, que lhe fizesse uns feitiços para que um seu genro Gaspar Martins, lavrador morador em Tassuapina ou morresse ou o matassem ou não tornasse da guerra de Sergipe, sertão desta capitania, na qual então estava, por não dar boa vida à sua mulher moça, filha dela confessante por nome Isabel Fonseca, e isto entendendo que os ditos feitiços haviam de ser arte do diabo.

Arde-lhe-o-Rabo teve uma condenação branda, pois como consta do Processo, logo no primeiro fólio parece que tudo são embustes e enganos as culpas desta ré os quais constam de sua confissão extrajudicial, sem as testemunhas lhe haverem visto coisa alguma por onde parece que, o conhecimento desta causa pertence mais ao ordinário que à Inquisição.

Por despacho da Mesa de 24 de janeiro de 1593, na Bahia, em visitação procedida pelo Inquisidor Heitor Furtado de Mendonça, a ré irá auto público em corpo com uma vela acesa na mão e com uma carocha infame na cabeça, ficará em pé enquanto se celebrar a missa e ouvirá ler a sua sentença, será embarcada para o reino, cumprirá penitencias espirituais, instrução na fé e pagamento de custas.