História de Jandira!
Aos doze anos eu era babá. Sempre fui magrinha. Vovó sempre falava:
- Essa menina é fraca, tem que comer mais!Eu não tinha muito apetite. Os vestidos floridos e sem manga, minha avó que fazia. O lugar onde eu morava era muito quente sempre. Eu cuidava das crianças da vizinhança para as mães trabalharem e sempre ganhava presentes, simples, pois as mães não tinham condições, mas eu era agradecida pelo que tinha.
E assim foi passando o tempo.
Eu estudava bem cedo e depois cuidava das crianças.
Aos quatorze anos, fui tirar água do poço, era um final de dia, pois tinha muitas árvores e o sol se pondo era tão lindo...
Quando me aproximei para tirar a água, vi um jovem bem perto e cumprimentei, pois aqui na vizinhança todos se conhecem, a cidade é pequena. E o rapaz aparentando uns dezesseis anos, observei que a roupa que ele usava era mais sofisticada, pois os outros meninos sempre estavam descalços ou de chinelo, sem luxo nenhum. Tudo aqui era simples, mas era bom.
Meu nome era Jandira, mas desde pequena começaram a me chamar de Dira e ficou. Eu olhei para o rapaz e perguntei:
- Quer água moço? Você não é daqui da região? Nunca vi você por aqui.
Mas ele não respondia. Então ele me fez um sinal com as mãos, que entendi que ele era mudo. Os outros sinais, ele acenava para longe e eu não entendia. Ele acenava e me chamava. Fiquei com medo, não conhecia ele, tirei água do poço e fui para casa.
- O que será que ele queria falar?
Depois que mamãe terminou a janta, que sempre tinha galinha com polenta e no outro dia, café com polenta e o que sobrava, polenta frita. Tudo o que mamãe fazia era muito gostoso. Como era bom acordar e sentir o cheirinho de café feito no fogão a lenha e uma frigideira de polenta.
Eu amava minha avó. Sempre fazia gemada pra eu ficar fortinha, dizia ela.
A escola que eu ia era bem pertinho de casa. Meio dia eu já estava de volta, almoçava e ia cuidar das crianças. Eram três, uma menina e dois meninos.
O quintal sempre tinha galinhas, coelhos, o meu pai gostava e uma árvore enorme com balanço feito de cordas e ali eu colocava no chão um pano e brincava com as crianças a tarde toda, até sua mãe ou seu pai chegarem do trabalho.
E de novo vi o rapaz, com a mesma roupa. Ele vestia uma calça clara com camisa branca e um colete creme com listras. Ficava parado, me olhando. Eu chamei ele:
- Venha aqui brincar junto com nós.
Ele veio. Andava devagar, sempre sério. Não sorria. Ele sentou-se no chão e me olhava. Olhos esverdeados, cabelos encaracolados castanhos. Perguntei:
- Você mora aqui perto? Pois eu nasci aqui e conheço todos por aqui.
Ele fazia sinais e mostrava sempre para o mesmo local.
- O que tem lá? É só uma árvore! Ali é uma chácara, mas você não mora ali. Você sabe escrever?
Ele fez sinal, ficou nervoso e chorou.
A minha mãe me chamou:
- Dira, com quem você está conversando? Olha as crianças! Eu prestei atenção na voz da minha mãe e quando olhei o menino sumiu.
- Nossa! Que rapaz estranho! Vou entrar, tá na hora.
Depois que as crianças foram para suas casas, eu jantei. Minha avó fazia uma salada que pegava no quintal com polenta e era amarga. Dizia ela:
- Come minha neta!
Eu só pensava no menino estranho e disse:
- Vou buscar água para lavar a louça. Mas eu queria ver o rapaz.
Fui no poço, tirei a água, mas não vi ele. Ajudei na cozinha, vovó foi deitar, mamãe costurar e papai arrumar a sua caixa de pescaria. Eu pensava:
- Meu Deus, o que será que este rapaz quer? Não entendo o que ele fala, talvez se eu for com ele, eu possa entender melhor. Mas eu tenho medo, eu nunca saí para longe.
Acordei com o cheirinho do café. Tomei o café e a gemada da vovó e saí para a escola. Quando vi o rapaz com a mesma roupa.
- Nossa! Será que ele não toma banho? Não troca de roupas?
Ele veio, me olhou nos olhos, me fez sinais. Mas a voz dele entrou na minha mente:
- Me ajuda moça!
O moço parecia agitado. Eu falei:
- Qual é o seu nome? Ele parecia não entender, fazia sinais e colocava a mão na minha cabeça. Pensei:
- Qual o seu nome rapaz?
Ele olhou e respondeu com o pensamento. Mas ele parecia não se lembrar. Eu falei:
- Sou Dira e tenho que ir para a escola, apontei: ESCOLA!
Ele balançou a cabeça e disse através do pensamento:
- Me ajuda! E foi andando. Eu não sabia se entrava na escola ou ia com ele. E fui caminhando. O local tinha muitas árvores. Fiquei com medo. Fomos passando por um local que entendi ser um cemitério, um jardim com muitas flores e algumas tinham o formato de cruz. De longe avistei um galpão velho. De repente apareceu um conhecido do meu pai e falou:
- O que você faz aqui menina? É perigoso! Sozinha? O seu pai vai saber disso! Onde já se viu! Me pegou pelo braço, me colocou na carroça e me levou.
No caminho expliquei para ele que estava ajudando um amigo:
- O senhor não viu o rapaz que estava comigo?
- Não vi ninguém! É assim que começa. Você está namorando escondido?
- Não senhor! O senhor me conhece!
- Por isso mesmo, sei que é uma menina correta, não deve vir pra cá sozinha!
- Mas o que tem nesse lugar senhor Joaquim?
Ele falou:
- Há muitos anos atrás, uma família inteira morreu nesse local. Brigas por terras.
Perguntei:
- E de quem eram as terras?
- Bem, era um casal, um filho com deficiência auditiva e uma moça e parece que o rapaz não estava no dia do acidente.
- Que acidente?
- Ninguém sabe ao certo. Foram encontrados já sem vida. O rapaz escapou porque vivia em um seminário. Sua madrasta não aceitava ele por ser deficiente.
- Nossa! O senhor sabe o que aconteceu com o rapaz?
- Me parece que ele depois que soube o que houve com a família, ele veio pra casa e ficou na casa sozinho.
Perguntei:
- Mas a madrasta também morreu nas brigas das terras?
- Foi a única que sobreviveu e mora lá pelos lados da cidade. É dona de comércio.
- E onde fica o comércio? E fui o caminho todo especulando.
- Senhor Joaquim, não fale para o meu pai que me viu aqui sozinha, eles não vão entender. Talvez o Senhor possa me ajudar a entender o que o meu amigo precisa!
- Mas que amigo, menina? Não vi ninguém com você! Não vou falar desta vez para os seus pais. Mas se te encontrar outra vez lá sozinha...
- Prometo, não vou mais...
Voltei para casa e não fui pra escola. Gastei o tempo indo naquele lugar estranho. Eu quero ir lá na cidade saber sobre a madrasta do rapaz, mas como vou? Fui me deitar e de repente o rapaz estava do meu lado! Dei um pulo da cama:
- Como entrou aqui? Vai embora! Se meu pai te ver... Nossa! Tem uma varinha atrás da porta e eu não quero experimentar outra vez...
- Ele me olhava, parecia não entender o que eu falava. Mamãe entrou no quarto e perguntou:
- Dira, está falando com quem? E o rapaz na frente da mamãe e ela não via.
Respondi:
- Estava orando! Perguntei:
- Mamãe, quando uma pessoa morre, pra onde ela vai? Pra onde todas as pessoas vão?
Mamãe pensou:
- Minha filha, não sei direito. Acho que vai para o céu com Jesus.
- E as que não vão para o céu?
- Vira assombração! Agora chega de conversa, amanhã às seis horas você levanta. Pensei:
- Você é uma assombração? VOCÊ É SIM!
E os dias iam passando e o rapaz ficava o tempo todo comigo e ninguém via ele. Um dia na hora da janta, perguntei:
- Papai! As pessoas que morrem que não vão para o céu, vão para onde?
Papai falou:
- Bem, quando eu era criança, eu via coisas que ninguém via, mas com o tempo, passou, não vi mais. Sua avó ensinava orar para as almas, para elas irem para a luz.
- E se elas não forem para a luz? O que fazer?
- Bem, disse meu pai. Deve estar presa com alguma preocupação.
Terminando a janta, ajudei mamãe na cozinha e fui para o meu quarto.
Escrevi em uma folha de caderno tudo o que estava acontecendo. Que eu via um rapaz e que eu pensava que era uma alma. O rapaz do meu lado sorriu. Eu perguntei:
- Você é uma alma?
Ele balançou a cabeça.
- Então você morreu?
- Sim, ele fazia sinais.
- E o que você quer? Ajuda?
Naquele momento ele pegou no meu braço e eu não tinha domínio. E comecei a escrever sem parar até doer a minha mão. quando li o que ele através de mim escreveu. Dizia:
"Meu nome é Arthur, sou mudo. Minha mãe faleceu eu era bebê. Meu pai casou- se com uma mulher que roubou ele e matou minha família. Quero sua ajuda"
E daquele dia em diante, ele escrevia tudo. Eu escrevia com a mão dele.
Um dia minha mãe viu, ficou apavorada e me levou para uma senhora que fazia benzimentos.
Então ela explicou:
- A sua filha não está doente. Ela está sendo guiada por um Espírito que necessita de ajuda!
Mamãe ficou pálida. A senhora falou:
- Eu não posso ajudar nesse sentido, não sei o que fazer! Talvez alguém com conhecimento maior!
Mamãe me levou para o padre. Ele pedia para rezar.
As vezes, mamãe falava que eu tinha atitudes que não eram minhas. Sempre fui obediente e calma, mas ultimamente, dizia ela, não parecia ser eu. Me sentia revoltada, com raiva. Mas tudo isso era dele. Ele estava com raiva da madrasta.
Dira estava tentando ajudar Arthur e não percebia o quanto ela também precisava de ajuda, porque muitas vezes, ela não tinha domínio das suas ações.
Um dia, fui conversar com o Senhor Joaquim. Contei o que tinha acontecido comigo. Que aquele Espírito não ia embora e através de mim, fazia coisas que eu não faria.
- Por que ele quer se vingar da madrasta?
- Bem, disse o Senhor Joaquim. Tudo o que somos, com as atitudes e emoções, quando morremos, continuamos a sentir! Se formos bons, o nosso anjo guardião nos intui em nossa trajetória aqui na Terra, para o bom caminho. Quando morremos, seguimos para o caminho da luz apoiados pelo nosso anjo guardião que nos ajuda a entender que o corpo físico, o fluído vital se esgotou. Mas se carregamos ao longo da vida descontentamento, revolta, quando morremos, não seguimos o caminho da luz, pois queremos resolver o assunto que ficou mal resolvido. Seja qual for o assunto, não tem como resolver a não ser em uma próxima vida.
- Existe próxima vida?
- Sim!
- Por que?
- Porque ao longo da vida, trazemos no arquivo de Espírito muitas fraquezas, por isso precisamos cada vez que renascer na Terra, se esforçar para sermos melhores!
- Como o senhor sabe de tudo isso?
Respondeu o Senhor Joaquim:
- Trazemos no arquivo de Espírito, bons aprendizados.
- Quero aprender para ajudar Arthur, como faço?
- Bem, disse Senhor Joaquim. Ensine o perdão. Diga á ele que se perdoar, encontrará a luz!
Passei a ensinar Arthur a perdoar, até porque eu estava cansada. Ele não saía de perto de mim. Ele queria que eu fizesse coisas que eu não gostava, mas ele não ia embora. Ele gostava de através da minha mão escrever. Depois que eu lia, entendia melhor a história de vida dele. Ele odiava a madrasta, culpava ela por tudo, mas ele não via os seus próprios erros. Eu não sabia se tudo o que ele escrevia, era verdade, pois ele estava muito revoltado.
Resolvi ir até então ao lugar onde ele estudou. Um internato onde os padres ensinavam. E contei a verdade para um padre. Levei tudo o que eu escrevia para o padre ver. Então ele disse:
- Acredito em você, pois também vi o Espírito de Arthur muitas vezes e orei por ele e ele estava revoltado.
- Como ele morreu? O padre não queria falar.
- Por favor, eu quero ajudar Arthur ir para a luz, ele está me enlouquecendo, não sei mais o que fazer!
- Minha filha, disse o padre. O caso dele é bem complicado. Ele tirou sua própria vida!
- Como ele fez isso?
- Bem, quando ele veio para cá, a sua madrasta já não conseguia mais cuidar dele, era revoltado. Ele criou muitas histórias na mente dele, mas nem tudo é real!
- Como posso ajudar ele?
Disse o padre:
- Bem, eu sei que o Espírito é imortal. A vida não acaba quando morremos. Conheço alguém que pode te ajudar. Um homem iluminado que tem mediunidade capaz de te ajudar e orientar!
A minha rotina era de ir em busca de ajuda para mim e para Arthur, até chegar nesse homem que me olhou bem nos olhos e disse:
- Minha querida, vejo você confusa e perdida. Arthur é vingança do seu passado!
Perguntei:
- Como assim?
Ele explicou:
- Veja bem, tudo o que você vivenciou não era dessa vida!
- Não estou entendendo o que o senhor quer falar...
Então ele explicou:
- Minha querida, você desencarnou. É teu Espírito que tem vivenciado tudo isso!
- Mas como eu desencarnei? Eu não me lembro! Tudo é tão confuso na minha mente! E Arthur? E os meus pais? E o padre? E o Senhor Joaquim? Como cheguei até aqui? Como eu desencarnei?
Então ele me explicou:
- Quando o desencarne é muito rápido, o Espírito sai do corpo e continua a viver como se nada tivesse acontecido. Leva muito tempo para compreender. Naquele dia em que você cuidava das crianças e que Arthur apareceu pela primeira vez, você já tinha desencarnado.
- Mas como? Como assim? Eu não estava doente! Aí o senhor explicou:
- A sua avó dava gemada pra te fortalecer, porque sua saúde era frágil, uma anemia que não curava. Além de Arthur, você também é um Espírito.
Perguntei:
- Mas você também morreu?
Ele explicou:
- Não sou desencarnado! Vejo e me comunico com os Espíritos. Você deve ir pra Luz!
Respondi:
- Mas eu não quero! Eu quero ir com minha família.
Perguntei de Arthur. O homem respondeu:
- Ele aceitou ir para a luz com os irmãos espirituais.
- Mas que lugar é esse? Quantos anos eu tinha quando morri? Não estou entendendo nada!
Então ele me respondeu:
- Minha querida, só vemos o que queremos ver, o que nos é conveniente, pois você teve várias provas que tinha desencarnado e não aceitou. O seu Espírito continuou fazendo o que você fazia quando encarnada e estava acostumada a fazer. Sua confusão mental não permite agora a você entender, mas quando você aceitar ajuda de um Mentor de luz e ser ajudada, vai entender. Respondi:
- Eu não me conformo que morri, quero voltar pra minha casa, ver meus pais!
E de repente, eu vi o meu bisavô que já tinha morrido, me abraçou e depois quando acordei, estava aqui nesta Colônia Espiritual.
O meu Orientador explicou o quanto ficamos confusos quando desencarnamos, porque fora do corpo, outras lembranças de outras vidas vem e confundem. Só com a ajuda de Mentores de Luz aprendemos a controlar as lembranças e as emoções.
Com a ajuda do Orientador, compreendi que eu fui a madrasta de Arthur na vida passada e é preciso reencarnar com ele, pois há muitos aprendizados entre eu e ele para se resolver.
Sou muito grata á todos os irmãos desta Colônia Espiritual que me ajudaram.
Vou reencarnar com mediunidade para ajudar á muitos que estão perdidos, assim como eu estava, sem compreender que eu já tinha desencarnado.
Essa próxima Vida, irá ser um grande aprendizado!
Psicografado pela Escritora da Espiritualidade Sônia Lopes