MORRI DORMINDO
(História psicografada)
"Alguns pensamentos se concretizam, mesmo imerecidamente!"
– Riqueza de detalhes sobre dois Planos.
PELO ESPÍRITO WALDIR
Como quase todo mundo, eu desejava, quando chegasse a minha hora, "dormir e não acordar", mas julgava estar longe da minha "morte" e, intimamente, não acreditava nessa possibilidade de desencarnar. Tinha em torno de 50 anos e morava sozinho em peças de aluguel. Meus familiares de sangue viviam em outro estado e há muito não tinha contato com eles; apenas telefonava de vez em quando para a minha ex-esposa e as duas enteadas, que eu muito estimava. Havia me separado, por incompatibilidade e sem brigas, conservando a amizade; pensava em recomeçar brevemente, com futura pessoa. Eu trabalhava em cidade vizinha e era simpatizante do Espiritismo. Havia lido alguns romances dessa boa literatura, mas como eu tinha vícios (e lido à respeito), não quis vincular-me à Doutrina Espírita.
Estava dormindo e acordei de repente para ir ao banheiro. Levantei e fui urinar e não acendi as luzes, porque a casa possuía claridade externa e podia enxergar perfeitamente dentro dela. Quando voltei, levei um susto, vendo "alguém" deitado em meu lugar. Tentei ligar a luz, mas não consegui. Achei que a energia havia faltado. Me aproximei bem devagar e vi que era "eu", meu corpo. Uma dúzia de interrogações vieram na minha mente, mas iniciei um monólogo:
"– Morri??? Se é um sonho, vamos ver: eu fui ao banheiro! Como é que "morto" vai ao banheiro??? E eu não senti nada; nenhuma dor ou mal-estar..!"
Retornei à sala e, testando se era sonho ou não, fechei os olhos, concentrei-me e tentei atravessar o braço na porta da frente fechada. Deu certo e aí atravessei-me de todo. Estava do lado de fora da casa, com a porta fechada. Fui até o portão para olhar a rua. Vi outras pessoas caminhando nos dois sentidos e, um ou outro, diferente dos demais. Comparei e vi que eu estava semelhante "aos demais" – semi-nítido. Lembrei de algumas histórias espíritas e concluí:
"– São vagantes!" – tive medo.
Voltei para onde estava o corpo. Tentei novamente acender as luzes, mas não consegui mexer no interruptor. Tentei também pegar alguns objetos, para arrumar o quarto: não consegui. E pior: quis pegar meu cigarro e fumar, mas não deu.
"– E agora???" – acabei rindo, porque lembrei do livro "Morri e Agora?", que relata muitas mortes súbitas.
Que situação!!! Passei, então, a tentar lembrar de tudo o que li a respeito e veio à mente os Postos de Socorro. Ótimo, já sabia o que fazer: era só encontrar um. Pensei: "não fui socorrido, certamente pelos meus vícios". E falei em voz alta:
"– É capaz ainda de eu ir parar no Umbral. Mas acho que pensando em Deus, talvez eu consiga chegar num Posto de Socorro Espiritual antes. Vamos ver onde tem um!"
Passei a raciocinar, onde poderia haver um Posto de Socorro mais próximo: um cemitério!!! À cerca de dois quilômetros de onde eu estava. Tentei me deslocar pelo pensamento, mas não deu. Nem saí do lugar.
"– O negócio é ir à pé, então!" – exclamei.
Saí da minha rua e entrei na avenida transversal, que levaria à esquina da rua que subia para o cemitério. Vi movimento de carros e, devido o avançado da hora, o movimento de pedestres deveria ser quase nulo, mas não era! Como já havia visto antes, eram vagantes e raramente um ou outro encarnado. Notava-se nitidamente a diferença.
Foi quando eu vi uma cena inédita: dois homens que caminhavam quase juntos; um rapaz, visivelmente nítido, ia na frente fumando e o outro, com baixa nitidez (desencarnado) e quase colado atrás, puxava a fumaça para si – e não tossia! Aguçou-me a vontade de fumar, mas não ousei intervir. Resolvi "conversar com Deus":
"– Senhor, ilumine o meu caminho! Ajuda-me à chegar no Posto de Socorro!"
Já havia caminhado uns duzentos metros, quando vi um bar aberto e lotado. Olhando melhor, os mais nítidos eram poucos. Um dos muitos com baixa nitidez (desencarnados), acenou para mim entrar. Curioso, me aproximei e ele disse:
"— Olá, "irmão"! Fique à vontade aqui com nós! Quer beber? Fumar..?"
"– Um cigarrinho, se possível." – respondi.
"– Claro! Encoste naquele ali. Toque nele, quando ele fumar. Faça o mesmo, se quiser beber! Comer, agora, vai ser difícil: ninguém está comendo! Seria da mesma forma!"
"– Obrigado!"
Fiz conforme a instrução e senti quase o mesmo prazer do cigarro. Percebi, nessa atitude, que algo saiu de mim para o encarnado fumante. Resolvi experimentar com a bebida, com o mesmo encarnado. Repetiram as percepções! Agradeci ao "irmão" que me chamou e voltei ao meu caminho.
Havia boa tranqüilidade à minha frente. Os que caminhavam na calçada, tinham uma larga distância entre si e não vi nenhum alvoroço, nem mesmo ninguém mais se dirigiu a mim. Pareciam andarem indiferentes. Limitavam-se em me olhar, vez ou outra. Estavam alheios até para os veículos que cruzavam a avenida, nos dois sentidos. Não vi nenhum desencarnado ousar desrespeitá-los, quando atravessavam a avenida.
Comecei a pensar no dia seguinte: "E o meu corpo? Coitados dos proprietários da casa! E o emprego? A ex-mulher é quem deveria tomar à frente os trâmites, mas ela era alienada desses pormenores e nem sequer sabia direito onde eu morava. No celular, o contato não estava como "esposa" e as enteadas estavam só como "amigas". Felizmente o emprego e vários colegas estavam registrados nele. Exclamei:
"– Tomara que haja bom senso em verem direito o celular! Ainda bem que eu não pus nenhuma senha de tela. Puxa, que recurso tão dependente é esse!"
Passei, outra vez, a lembrar dos livros que li sobre a espiritualidade, enquanto caminhava. E os primeiros que me vieram à tona foram os quatro livros de Patrícia ("Violetas na Janela", ...) e de André Luiz, relatando em detalhes o Umbral e as conseqüências para os viciados. Mas também, os mesmos livros instruiam como reverter esse problema. "Deus sempre acima de tudo!" – pensei.
Quando eu entrei na rua que subia para o cemitério, o movimento de desencarnados aumentou drasticamente. Vi uma turma descendo e um deles se dirigiu a mim:
"– E aí, tio! Beleza? Quer vir com a gente? Vai 'rolar' cigarro, bebidas e mulheres!" – respondi:
"– Não, obrigado! Tenho que resolver um problema!"
Mas pensei: "até que seria interessante tais coisas, à essas alturas!" Entretanto, o bom senso, temendo "uma temporada" no Umbral, repeliu essa idéia.
O POSTO DE SOCORRO
Finalmente cheguei no cemitério e vi o ambiente muito diferente dàquele costumeiro. Havia uma estranha algazarra, com "pessoas", umas puxando as outras, gritarias zombeteiras, gargalhadas, choros, lamentos e uma anarquia generalizada. Lembrei-me de André Luiz, em um de seus relatos. Quase desisti de chegar mais perto, mas lembrei-me do Posto de Socorro, apesar de ainda não o vê-lo. Então, em pensamento, disse:
"– Senhor, estou aqui. Tende piedade de mim e desses também! Me envie um de Seus Socorristas!"
Senti uma mão em meu ombro e virei para ver. Dois homens vestidos de branco e um deles me falou:
"– Está cansado, irmão?"
Não é que só então, comecei a sentir um forte cansasso, além de um torpor estranho? Respondi:
"– Sim."
"– Então durma!!!"
Impôs a mão na minha testa e eu perdi os sentidos.
Não sei por quanto tempo eu dormi, mas acordei num leito de hospital e percebi que já era dia. Logo em seguida, o mesmo irmão veio me ver:
"– Como está se sentindo?" – perguntou.
"– Muito bem! Onde estou? Em uma Colônia?"
Ele sorriu e respondeu:
"– Não, Walter. Você ainda está no hospital do Posto de Socorro que Você procurou, há três dias. Se tudo correr bem, será encaminhado para a sua Colônia... Ou para o "seu" Umbral. Dependerá de Você!"
"– Três dias??? Parece que foi ontem! E ainda por cima, posso ir parar no Umbral? Achei que estando aqui, já teria me livrado desse risco. Diga-me, por que morri assim, de repente?" – indaguei ousadamente.
Pacientemente ele elucidou:
"– Querido irmão, tiveste o que tu mesmo desejava: desencarnou enquanto dormia. E isso não é para todos! Seria preciso "merecimento", mas quem somos nós para questionar os desígnios de Deus??? O motivo? Um infarto, parada respiratória... Não importa! É agora assunto terreno, assim como todas as outras preocupações: 'terrenas'. Você é provido de determinados conhecimentos e, mesmo assim, fez uso do vampirismo para saciar os seus vícios (já deve ter lido sobre isso!). Por essa razão, requer mais tempo internado e é também "o porquê" da possibilidade de ser, ainda, encaminhado para o Umbral. Mas não se assuste: se for, é para as Regiões Amenas. Deus não é cruel."
"– Jesus! Misericórdia! – exclamei.
"– Isso! Continue nessa sintonia, não vacile!" – recomendou ele. "– Suas vibrações ainda estão incompatíveis com as Colônias. É isso que vamos tratar, neste Hospital. Vou trazer-lhe remédio e alimentos."
O UMBRAL "DIFERENTE"
Fiquei sentado na cama, pensando em tudo. Os pensamentos rodeavam àqueles momentos que eu estive no bar e de como tive acesso aos vícios. Pensei em voz alta:
"– Talvez o Umbral, não seja tão ruim assim!"
No mesmo instante, como num passe de mágica, o quarto do Hospital se transformou em uma rua movimentada, e o leito, em que eu estava sentado, numa calçada e eu junto à uma parede. Meu próprio instinto respondeu-me: estava no Umbral. O susto, foi só pela troca de ambiente repentina. Levantei e pensei:
"– O enfermeiro disse que eu iria para uma "região amena"! Realmente, nada tem de assustador!"
Tudo claro, movimento digno de uma grande cidade: comércio farto, calçadas e ruas bem populosas. Olhei para o céu e ele estava escuro, com algumas nuvens mas, em baixo, onde eu estava, claridade extrema! Andando devagar, passei a observar tudo e todos. "Gente" de toda espécie, trajados de todas as maneiras, como também muitos mendigos e deformados. As ruas repletas de "pessoas" e alguns carros. Mas não eram carros motorizados, eram levados ou puxados por homens serviçais. Dava para perceber que não eram escravos e, sim, opção de trabalho. Muitos camelôs, lojas, bares e casas de diversão. Lembrei-me dos relatos de André Luiz e pensei:
"– Certamente ele relatava outra época e outra região. Mas não é bom pensar!!! Já vi que "pensamentos" têm força."
Parei frente à um camelô que vendia cigarros e perguntei "quanto custava?". A resposta foi interessante:
"– Dez "bônus-hora"! Tá barato, aproveite!"
"– Como conseguir "bônus-hora"?" – perguntei.
"– Já vi que é novato! Vai ter que se virar. Arrume um trabalho, se não, para fumar terá de ir à Terra. Sabe fazer isso? Não? Então vá à luta!"
Surpreso e cheio de interrogações, segui andando pelas ruas. Percebi, então, nos comércios, plaquinhas de preços na "moeda" vigente: "bônus-hora". Vi um senhor, com idade parecida com a minha, parado junto à uma parede e resolvi perguntar-lhe:
"– Como faço para conseguir trabalho?"
"– Vá até a "cidade alta" e lá procure pelos doutores ou chefes. Sempre tem alguma coisa." – respondeu.
"– Onde fica? Como chego lá?"
"– Vai perguntando!" – respondeu rispidamente.
E assim fui, perguntando e olhando pra cima, já que seria "cidade alta". Por indicação cheguei numa rua que subia e, chegando ao seu final, nova realidade se despontava: palacetes e prédios robustos, ruas mais largas e melhor aprimoradas, além do movimento bastante reduzido. Não teve como não lembrar de mais um relato de André Luiz. Pensei:
"– Como é mesmo aquele livro? Ah, sim... "Libertação". Acho melhor não me envolver com essa gente!" – discretamente dei meia volta.
Retornando à "parte pobre" do lugar, além de pensar em cigarro e um 'trago', também começava a sentir fome. Já que "pensamentos têm força", tentei me lembrar de alguém como eu e que estivesse ali. Não demorou para que aquele mesmo homem, que estava no bar e havia me chamado, aparecer na minha frente:
"– Ôoo, irmão! Você por aqui?"
"– Pois é, estou num aperto! Estou sem dinheiro e com fome." – me queixei.
"– Ah, sim! Mas por aqui, só pagando! Vamos dar uma volta!"
Pôs a mão em meu ombro e, em segundos, estávamos no mesmo bar, na Terra. Disse-me:
"– Agora tem, gente comendo! Faça como te ensinei."
Ia lhe perguntar como fez para trocar de lugar, mas os aromas dos alimentos "gritaram" mais alto.
Após saciar-me, de lambuja também consegui fumar. Ele, então, se apresentou:
"– Meu nome é Edgar! Faço sempre assim, pra não me envolver com trabalhos duvidosos."
"– Prazer, sou Walter! Está se referindo aos trabalhos oferecidos na "cidade alta"?"
"– Isso mesmo! Pagam bem, mas..."
"– Eu já li algo à respeito! Parece que depois que começa, não tem como parar! Pensei em ir lá, mas desisti."
"– Ora, ora! Você sabe das coisas. Fez bem, dizem que não é bom. Então... prá você basta apenas aprender poucas coisas?!!"
"– Certamente! Como deslocar-me, por exemplo."
"– É só treinar. Deseje muito estar num lugar e... ualá!!!"
Lembrando dos relatos de Patrícia ("Vivendo no Mundo dos Espíritos"), perguntei:
"– Não tem medo dos trevosos lhe pegarem para escravo?"
"– Acho que eles têm "gente" mais interessante do que eu. Não os procurando na "cidade alta", creio que posso ir levando assim."
Veio-me à mente uma frase dàquele livro: "Mais cedo ou mais tarde, acabam por se tornarem escravos...". Querendo retribuir a gentileza que o amigo me fez, disse-lhe:
"– Ouvi dizer que, cedo ou tarde, de um jeito ou de outro, por causa dessas coisas, de resolver necessidades com os encarnados, acabaremos por sermos obrigados a fazer isso e sabe lá o que mais?!!"
"– Pois é, um amigo meu, que andava comigo, desapareceu de repente! Faz tempo e nunca mais ouvi falar dele!"
"– Pode estar nas "partes baixas" do Umbral, como escravo, ou talvez tenha sido resgatado e agora vive em uma Colônia!" – arrisquei.
"– É... talvez!"
"– Não pensa em seus familiares? Mãe, pai, irmãos, filhos?" – perguntei.
"– Raramente! Nem sei por onde andam!" – respondeu.
"– Pode ser que estejam em uma Colônia! Não tem vontade de estar lá?"
"– Às vezes, mas desisto ao saber das disciplinas e privações: lá não pode fumar, beber, divertir-se...!" – respondeu Edgar.
"– Soube que "divertir-se" é possível e de muitas formas. Eu também estou errado, me prendendo por causa de nossas necessidades! Se eu continuar assim, acabarei por me tornar trevoso e, depois, escravo! Fumar e beber é errado, principalmente às custas dos outros."
"– Então, diga-me, como seria a vida na Colônia!" – falou Edgar, curioso.
"– Realmente não tem vícios, mas há tratamentos para isso. Existem trabalhos, aprendizados, como também períodos e áreas de lazer e diversão. A alimentação é saudável e não interessa se tem ou não dinheiro! É "bônus-hora" que se diz, não é mesmo?!!"
"– Sim, isso mesmo!" – confirmou Edgar.
"– Além de estarmos com nossos entes queridos, onde os trevosos não têm acesso, estaremos melhorando e progredindo cada vez mais!" – eu falava, baseado no que já tinha lido. E continuei:
"– Também soube que ninguém é obrigado à nada. Quando não se adapta à Colônia, é transferido de Plano. Como vê, não custa nada tentar."
"– Mas aí tem a... reencarnação! Não queria isso tão cedo." – retrucou Edgar.
"– É por livre arbítrio! A não ser que tenha feito erros graves. Há muitas maneiras de corrigir-se, para só reencarnar quando estiver melhor preparado!" – respondi.
"– E como pensa em ir para lá?" – indagou Edgar.
"– Eu quase estava lá! Por fraquejar, é que eu mesmo vim para "este lado". Penso que para reverter, teria que procurar um Socorrista, acho que no Umbral mesmo."
"– Ah, sim, os "bons"! Sei como fazer isso. Na cidade, onde estávamos, é mais difícil. No deserto é mais fácil."
PROCURANDO UMA COLÔNIA
Perguntei, animado, para Edgar:
"– Você me ajudaria, então?"
"– Se como Você disse, eu poderia voltar para onde estava, se não gostar...!"
"– Beleza! Vamos?"
Edgar botou a mão em meu ombro e as proximidades do bar, onde estávamos, se transformaram em um imenso deserto, apavorante.
Agora sim, tudo escuro, só clareando com relâmpagos, que pareciam quase nos atingir. Via-se vultos distantes: eram "pessoas" que vagavam, uns desnorteados, outros alheios e alguns em desespero. Mal vestidos, esfarrapados ou semi nus, desnutridos, desfigurados, sujos, legítimos farrapos humanos. Chão lamacento e rochoso, troncos de árvores retorcidas, sem folhas e poucos galhos, tal como os piores pesadelos. Planícies longínquas, cujos relâmpagos revelavam um vazio temeroso. Algumas poças de água turva e barrenta, sem condições de consumo. Edgar comentou:
"– Um "viva" à nossa cidade! Agora é só esperar os "bons"! Ainda bem que nós estamos alimentados!"
Chorei ao ver velhinhos mendigando alimento e água. Envergonhei-me de haver recorrido aos encarnados, por causa disso e dos malditos vícios. Daria tudo para levar estes para se aliviarem também. Deu vontade de ir à Terra e voltar aqui, trazendo sacolas de alimentos e água. Entretanto, uma só palavra de Jesus lembrada, calou esses pensamentos: "À cada um, segundo as suas obras".
Uma turma de trevosos se aproximava e Edgar disse:
"– Vamos nos esconder naquelas rochas! Não é bom que nos vejam!"
Escondidos vimos, sem poder fazer nada, os servidores das trevas hostilizarem os já sofridos, ferindo-os e aumentando ainda mais os seus suplícios. Depois foram embora, deixando alguns gritando de dor, outros chorando.
Passou-se algum tempo e Edgar exclamou:
"– Lá vem eles!!!"
Um pequeno grupo, em cima de uma espécie de veículo, sem nenhuma tração, se aproximava lentamente. Eram "pessoas" alvas, agradáveis de se ver. Grande parte dos sofredores que vagavam, se afastaram. Ao pararem, apenas os mais moribundos aceitaram assistência. Desses, só dois ou três subiram no veículo. Aproveitamos para chegar perto e eu disse-lhes:
"– Irmãos, que Deus permita que nós seja socorridos!"
"– Venham!" – responderam.
Quando o veículo andou, um deles disse:
"– Vamos ainda parar, logo adiante, para socorrer dois irmãozinhos!"
De fato, depois de uns quinze minutos, nos deparamos com um abismo. O veículo desceu suavemente e as luzes desse, clareavam o lugar. Parou diante de um homem desfalecido, com os quatro membros presos por correntes e afastados um do outro, ao limite. Rapidamente o soltaram e o deitaram no chão do veículo. Depois o tal carro desceu mais ainda e o que contemplamos, não parecia humano.
"– Pobre irmã"! – lamentou um dos Socorristas.
Era uma mulher, então. A aparência era de um monstro repulsivo, com inúmeras deformações, causando medo ao olhar. Também estava inconsciente e amarrada como o outro. A colocaram ao lado do outro e começaram a subir. Eu e Edgar fomos tomados de comoção extrema e uma estranha compaixão fez-nos derramar lágrimas. Um dos Socorristas nos falou:
"– Não existe nada melhor do que o Amor Fraternal. Algumas lágrimas sinceras, corrigem centenas de erros!"
Chegando à superfície, andamos por cerca de meia hora, até encontrar uma fortaleza iluminada: era um Posto de Socorro, em pleno Umbral. Os dois inconscientes foram internados em alas especiais; outros feridos, na enfermaria. Eu e Edgar, fomos alimentados, higienizados e convidados à repousar nos leitos disponíveis. Adormeci profundamente e acredito que meu companheiro também.
Acordei, dias depois no leito de um Hospital diferente. Dessa vez, um médico veio me ver:
"– Bom dia, Walter! Seja bem vindo à esta Colônia! Como se sente?"
"– Estou ótimo... "Colônia"???"
"– Sim, agora está com as vibrações correspondentes! Trouxe um irmão do Umbral, que já foi encaminhado para a Colônia dele, reconheceu seus erros e despreendeu compaixão fraterna instintiva, além de ter vontade de melhorar-se!"
Recebi a visita de minha mãe, remoçada e feliz, iniciei tratamento contra meus vícios e logo estava integrado nesta Colônia abençoada. Fiz muitos aprendizados e trabalho auxiliando os Socorristas a resgatarem quantos puderem no Umbral. Sou convidado para palestras e relatos mediúnicos, sobre os pensamentos, negativos e suas conseqüências, e os positivos com suas virtudes. É bom lembrar também, que não bastam "pensamentos". O Amor Fraterno requer atitudes!!!
Que Deus abençoe à todos!
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CONSIDERAÇÕES
O presente relato demonstra que não existem regras gerais na espiritualidade, sobre as desencarnações. Espíritos que desencarnam durante o sono físico, em sua grande maioria, são os que alcançaram determinada evolução, pela prática do Bem, não sendo necessariamente os que atravessaram expiações sofridas ou dolorosas. Também demonstra que a Bondade de Deus e o Amor Fraterno incondicional são respondidos à qualquer tempo.
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Fonte: b de acervo, 2017 – Sociedade Beneficente Espírita Bezerra de Menezes – Porto Alegre/RS – 103 anos.