terça-feira, 19 de outubro de 2021

História de Isabel!

 

 História de Isabel!


Nenhuma descrição de foto disponível.Nasci em um lar cristão. Meu pai era severo na religião, tudo tinha que ser como ele acreditava. Minha mãe, uma mulher maravilhosa e digna. Éramos três meninos e uma menina, eu. Diferença de dois e três anos com os meus irmãos meninos, saudáveis, inteligentes. Tudo estava indo bem.
Aos domingos era sagrada a missa pela manhã, ninguém podia faltar. Na volta, eu ajudava mamãe na cozinha. O almoço que ela preparava era muito bom. Mamãe era professora. Tão amável com seu alunos, eu também fui aluna dela. Eu a admirava muito, era tão organizada com tudo. Nunca presenciei briga com ela e o papai, apesar de ele ter gênio difícil, mas ela sempre dava um jeitinho para tudo ficar em paz.
Aos treze anos, já mocinha, adorava vestir as roupas dos meus irmãos; boné, bermuda larga e camiseta. Mamãe não se importava, até achava engraçado.
Aos quinze anos, eu continuava a vestir as roupas dos meninos, apesar de ser uma moça linda. Os vestidos não me agradavam.
Um dia, voltando da igreja, papai, mamãe, eu e meus irmãos, encontramos os vizinhos. A filha da Dona Carlota tinha a mesma idade que eu e se vestia lindamente, muito feminina. A Dona Carlota, nada discreta falou:
- Onde está Isabel? Não tenho visto mais ela!
Eu ali na frente dela, fez isso de propósito.
- Estou aqui, Dona Carlota!
- Nossa! Não te conheci, parece um rapazinho! Como sua mãe deixa você se vestir como um homem?
Todos se olharam.
Chegamos em casa. Papai não gostou do comentário, chamou mamãe e eu e perguntou:
- O que está acontecendo com você que não cuida da sua filha? Precisa a vizinha chamar a sua atenção? Sua filha está uma moça e continua a usar as roupas dos meninos? Dá um jeito nisso!
Naquele momento fiquei tão triste. Eu gostava das roupas. Depois da conversa, papai foi ler o jornal e eu e mamãe, preparar o almoço. Percebi mamãe preocupada. O almoço naquele domingo foi um silêncio, como se algo ruim fosse acontecer.
Mamãe me chamou no quarto e disse:
- Minha querida, sei que gosta dessas roupas, mas é bom mudar. Olha quantos vestidos lindos você tem! Esse foi a madrinha que te deu. Não aborreça o seu pai desobedecendo.
Respondi:
- Não levo jeito para vestidos, sou desajeitada.
Mamãe me compreendia, parecia que lia a minha alma, me abraçou e disse:
- Meu bem, amo muito você e quero que seja uma grande mulher. Sempre vou te respeitar, sempre pode contar comigo!
E com tanto carinho assim, eu coloquei o vestido. Nossa, que saudades das bermudas dos meus irmãos.
Passou anos e papai me falou:
- Está com dezoito anos e você não tem namorado ou você namora escondido?
Respondi:
- Papai, eu estou focada nos estudos. Não quero namorar por enquanto.
Ele respondeu:
- Os seus irmãos, todos estão namorando, só você que não. Será que vai ficar pra titia?
Mamãe prestava atenção de longe. Papai continuou:
- Domingo o Bento, filho de Dona Carlota vem almoçar conosco, faço gosto que namore com ele.
O olhar de mamãe foi aconchegante e ela respondeu para papai:
- A nossa filha é que tem que escolher quem ela quer namorar!
E chegou domingo.
Além do filho Bento, veio a sua irmã e Dona Carlota, ela era viúva. Na mesa todos interagindo, eu calada. Só pensava:
- Não quero namorar Bento, não gosto dele.
Bento me pediu em namoro, eu disse não. Então ele se revoltou e disse:
- Tirei minhas dúvidas á seu respeito. Sabia que não gostava e nunca gostou de meninos.
Papai ficou pálido.
- Que isso rapaz, não é bem assim.
- O pior cego é aquele que não quer enxergar. Ela é um homem disfarçado de mulher. E ele não parava de falar. Eu saí da mesa chorando e fui para o meu quarto.
Mamãe foi me consolar. Papai entrou no quarto nervoso. Mamãe era o meu anjo protetor, não deixou papai me bater de cinto.
- Vamos conversar. Se ela não quer namorar Bento, vai conhecer alguém que ela goste.
Naquele momento respondi:
- Eu não gosto de meninos. Nunca gostei. Não me sinto uma mulher. É como se meu Espírito fosse masculino!
Papai queria me expulsar de casa.
Brigou como nunca tinha brigado com mamãe. Ele não me aceitava e nem quis me entender.
Ficou semanas sem conversar com nós duas. Me ignorava e não deixou eu ir com ele na igreja no domingo. Na verdade, não entendia o que estava acontecendo comigo, fiquei muito triste.
Um dia, voltando da faculdade encontrei Bento que me olhou com tanta raiva e me humilhou muito. Disse:
- Se você quer ser um homem, vem brigar de homem pra homem.
Assustada, não sabia o que fazer. Comecei a correr...
Estava perto de casa, mas era uma noite sem luar. Então corri e atravessei a rua, olhei para trás e não vi mais o Bento. Não percebi que ao atravessar a rua atrás de mim, Bento foi arremessado longe por um veículo.
Entrei em casa, fui para o meu quarto e em seguida começou um movimento na rua de pessoas e ambulância. Bento não resistiu e faleceu. Eu fui no velório dele.
Daquele dia em diante, o Espírito de Bento não me deixou em paz. Ele aparecia todo o tempo onde eu estivesse e me culpava pela sua morte.
Com o tempo, eu não tinha mais forças para esconder de mamãe e falei pra ela do ocorrido. Passei a ser perseguida até em sonhos com pesadelos. Tinha medo de dormir, não conseguia mais estudar.
Papai não entendia o que se passava comigo e separou-se de mamãe.
Todas as vezes que Bento aparecia pra mim me acusava e me fazia sentir-se culpada por tudo. Bento queria me levar com ele, falava isso o tempo todo. Eu estava enlouquecendo.
Papai as vezes vinha me visitar, mas eu não queria falar com ninguém, só ficava no meu quarto.
Papai insistiu:
- Quero te ajudar minha filha! Me perdoe por não te compreender no momento em que você mais precisou de mim. Deve existir uma maneira de você melhorar, já não me importo se você gosta de se vestir diferente. Quero você de volta!
Dona Carlota também estava triste pelo filho Bento e convidou mamãe para ir em um grupo de oração das irmãs da igreja e me levaram.
Essa a senhora que fazia revelações quando orava disse:
- Dona Carlota, seu filho Bento está aqui entre nós
- Está aonde?
Bento segurava minha cabeça e eu sentia muita dor.
Disse ela:
- Vamos orar!
Mesmo com a energia boas da oração, Bento não saía de perto de mim. Ele não me perdoava pelo ocorrido. Estava com ódio. Ele precisava entender que eu não fiz por mal não aceitar namorar com ele.Eu não aguentava mais. Estava doente, fraca e pálida.
Papai conheceu um mulher e se casou. Contou a ela como eu estava. Então foram me visitar. Papai que não acreditava em vidas após a morte teve uma experiência que marcou sua vida. A mulher que papai casou era medium, conseguia ver e falar com Bento. Falou pra eu pedir perdão á ele. Então falei:
- Bento, me perdoe. Sempre admirei você como amigo. Eu sabia que você sofria por gostar de mim. Não quis o seu mal.
Senti que Bento se afastou de mim e ficou de longe me olhando. A médium relatava pra mim o que Bento falava, quando entrou no quarto o pai de Bento que faleceu quando Bento tinha cinco anos. Abraçou Bento e falou:
- Eu te amo meu filho! Vem com o papai!
A médium relatava que haviam Espíritos iluminados no quarto que levaram Bento.
Depois de uma semana eu me levantei. Minha cabeça não doía mais, me alimentei e com o tempo eu voltei para os estudos.
Depois de anos, me formei psicóloga e muitos casos parecidos como o meu eu me deparava, ensinava e orientava a importância do diálogo com os filhos para entender os sentimentos deles.
Eu era confusa com os meus sentimentos quando criança porque queria ser igual aos meus irmãos. Achava eles lindos e via como papai interagia com eles e comigo não. Pensava:
- Se eu for igual á eles, papai vai gostar de mim mais ainda.
Fiz terapia que me ajudou a entender quem eu realmente era e mesmo assim decidi viver só eu e mamãe.
Me dediquei a cuidar dela e quando ela desencarnou, eu já estava com sessenta anos e fui trabalhar em um lar de idosos. Era psicóloga deles, e quantas emoções eles traziam ao longo dos anos. Aquele lar passou a ser meu também até completar o meu tempo na Terra.
Hoje estou nessa Colônia já há muito tempo me preparando para reencarnar com Bento. Já encontrei ele aqui e nos tornamos amigos e decidimos voltar em mais uma experiência lá na Terra.

Aprendizados da História de Isabel

* Toda criança é dependente dos ensinamentos dos pais desde seu nascimento, pois elas não tem discernimento do que é certo ou errado, então cabe aos pais orientá-las para que quando chegue a adolescência, possam ter estrutura emocional para enfrentar os desafios de forma mais leve.

* Por mais que os pais acham bonitos, engraçados certos comportamentos da criança, precisam orientar, ensinar o que é certo para que a criança não fique confusa quanto as suas escolhas.

* Os pais precisam se atentar muito aos comportamentos de seus filhos para que possam ajudá-los, pois as crianças ainda estão aprendendo sobre as emoções e na maioria das vezes não conseguem se expressar adequadamente guardando para si seus sentimentos e sofrendo muito por isso.

* Para o crescimento e evolução do Espírito ora podemos vim como homem, ora como mulher e se necessário poderemos vir como homossexuais para nosso aprendizado.

* A responsabilidade da educação dos filhos cabe tanto ao pai, quanto a mãe e estes devem ter muito diálogo entre si para os ajustes necessários na orientação das crianças.

* O amor, o respeito e a tolerância são muito importantes e devem ser ensinados desde sempre às crianças bem como o perdão!

E você, o que aprendeu?

Por Sônia Lopes Escritora da Espiritualidade