terça-feira, 19 de outubro de 2021

História de Tamara!

 

 História de Tamara!


Pode ser uma imagem de 1 pessoaFui índia até os treze anos, quando fui capturada e me levaram para uma cidade onde eu não entendia a língua. As pessoas falavam e eu não entendia.
Cheguei de navio e comigo outras pessoas também. Tive muito medo, sentia saudades da minha família e não sabia o que iria acontecer comigo. Fiquei muito assustada.
Fui levada para uma fazenda, não era no Brasil. Eram casas grandes, muitos escravos. Quando fui apresentada para quem seria o meu patrão, ele me olhou nos olhos e disse para o homem que me capturou:
- Por que trouxe uma índia? É só uma criança! Você não fez mal á ela, né?
- Não senhor!
Percebi que o patrão sentiu pena de mim. Ele foi até a cozinha e disse a senhora cozinheira:
- Maria, cuide dessa menina, ela não fala a nossa língua, ajude ela!
- Sim senhor patrão!
Então aquela mulher me deu comida, roupas limpas e um lugar para dormir.
No outro dia, já alimentada, pela manhã o patrão veio. Era um senhor jovem e disse:
- Maria, não deixe ninguém maltratar a menina! Ela vai te ajudar nos afazeres da casa. Só na casa! Não quero ela lá fora!
- Sim senhor!
- Outra coisa, disse o patrão, ensine ela a nossa língua.
Eu me sentia protegida com Maria. Ela era uma senhora forte, africana, cantava. Tinha uma voz forte.
Aos poucos fui aprendendo a falar, estava em Portugal.
O patrão foi viajar e quando voltou, trouxe a esposa e a filha com quase a minha idade.
Maria me ensinou a servir a mesa. Eu tinha a pele bronzeada, cabelos negros longos e era muito tímida.
Quando entrei na sala para servir, a patroa me olhou e disse:
- Quem é essa mestiça? Não gosto de mestiça me servindo!
Eu tremi de medo daquela mulher. Era tão linda, porém, má.
O patrão respondeu:
- Tamara é o nome dela!
Na verdade esse não era o meu nome de tribo, foi o patrão que me chamou assim e assim ficou.
Ele era um homem alto e bem afeiçoado. Disse á ela:
- Se você não quer ser servida por uma mestiça, ficará sem ser servida. Vá e faça os deveres da casa, já que implica com tudo!
Ela me olhou com olhos faiscantes.
Eu trêmula servi a mesa e saí, fui chorar na cozinha.
- Calma, disse Maria. A patroa é assim mesmo, não liga pra ela!
Eu quase não falava com ninguém e nem saía de casa.
Os anos passaram. Eu me tornei uma moça bonita. Já sabia falar bem o idioma da cidade.
Um dia na cozinha, escolhendo feijões, o patrão entrou. Eu fiquei perturbada. Ele sorriu e disse:
- Calma! Não precisa ficar nervosa, quero te falar que vai ter uma escola aqui na fazenda. Quero que você aprenda a escrever. Respondi que não precisava.
- Precisa sim! Quero te ajudar. Sinto muito que separaram você de sua família. Não fui eu quem pedi isso. Se você quiser um dia, posso levar você novamente para sua aldeia. Não chore, quero te ajudar!
Tirou o lenço e me deu para enxugar as lágrimas. Naquele momento a patroa entrou e fez uma gritaria. Queria me mandar para o castigo. O patrão gritou com ela. Disse:
- Você é desumana! Não admito que você maltrate nenhum dos empregados!
Com a gritaria, Maria entrou assustada na cozinha com um feixe de lenha nos braços:
- O que houve patrão? Perguntou ela.
- Cuide da Tamara! Não deixe ninguém maltratar ela. E saiu atrás da patroa que estava com muita raiva de mim. Eu escutava os gritos dela.
Maria me deu água e disse:
- Conheço a patroa. Desde criança ela sempre foi de um temperamento muito difícil. Essas fazendas eram dos pais dela. Eu vi ela crescer aqui e sempre foi mal educada com os pais, tratava eles muito mal. O pai adoeceu, sofria dos nervos. É o terceiro casamento dela. O primeiro foi embora, o segundo teve uma parada cardíaca provocada por ela. Deu veneno pra ele. Ela piorou muito na ruindade, mas o patrão, homem bom, comprou essas terras e casou com ela. Agora essas terras são dele. Depois daquele dia agitado, fui para o quartinho onde eu fiquei pensando:
- Por que ele, o patrão me trata tão bem, é respeitoso comigo? E comecei a admirá-lo, pois era bondoso.
Um dia o patrão foi viajar, ficava dias fora. A patroa me mandou prender no tronco. Na verdade, ela fez por raiva e ela mesma me chicoteou até eu perder os sentidos.
Vieram avisar Maria que ficou desesperada.
A patroa não deixou mais eu entrar na casa. Fiquei dias sendo cuidada por Maria em uma cabana escondida, pois a ordem era de me deixar morrer.
Quando eu estava muito mal, meu Espírito foi até a aldeia. Vi meu povo, vi meus pais, meus irmãos e minha avó índia que me disse:
- Você não deve sair daquela casa. Aprenda tudo o que puder e depois volte ajudar o seu povo.
Passei dias com febre e muitas dores. Quando abri os olhos, vi ele, o patrão. Maria tinha avisado ele.
Disse:
- Sinto muito! Vou levar você para sua aldeia.
Respondi:
- Não, eu não quero! Quero ficar! Preciso aprender a escrever para ajudar o meu povo.
Maria fez remédios de muitas ervas até eu melhorar.
Por dias não vi o patrão. Os meus sentimentos por ele eram diferentes. Talvez estivesse apaixonada e isso só iria piorar a minha situação, mas ele me via como uma filha, apesar de ser novo ainda e muito bonito.
Me recuperei e comecei a perceber coisas estranhas. É como se eu estivesse vendo gente todo tempo por perto de mim.
Quando passei pelo local onde fui chicoteada, vi pessoas sentadas ao redor do lugar. Parei para perguntar o que houve, mas eram muitas pessoas.
Maria me falou:
- Você não está bem da cabeça, não tem ninguém aí!
- Tem sim, eu vi!
Quando o patrão chegou e perguntou o que eu tinha visto, respondi que vi muita gente naquele local. Ele explicou:
- Sim, são Espíritos dos escravos e de outros que viveram por aqui.
Olhei espantada para ele, que continuou:
- Não se assuste. Deve ter um jeito de ajudar eles, só não descobri como, mas você vê eles?
- Sim, vejo!
- E você deve se esconder, voltar para aquela casa não vai dar certo.
Fiquei triste, como iria fazer para ver o patrão?
Maria percebeu e me disse:
- Tamara, o patrão é um homem bom, apesar dele ter uma esposa louca, mas ele cuida dela. É perturbada pelo Espírito do marido que ela matou com veneno. Eu conheci ele. Estou nessa casa trabalhando desde criança. Olha pra mim, já estou beirando os oitenta anos. Já vi muita coisa nessa casa. Nem todas as pessoas que morrem vão para um lugar perto de Deus, eu quero ir, não vou ficar aqui vagando não! E sorriu.
Maria e o patrão eram as pessoas que eu amava e quando Maria desencarnou, sofri muito, mas vi que Espíritos de Luz levaram ela.
E agora sem minha protetora, o que iria ser de mim?
Continuei escondida. Trabalhava na lavoura da fazenda e não via mais o patrão.
Estava tão triste sentada debaixo de uma árvore, cansada do trabalho, descalça, quando vejo o patrão a cavalo. Veio ver como estavam as plantações. Ele me olhou e disse:
- Tamara, quero te falar para voltar lá pra casa. Você aprendeu a cozinhar, colocar a mesa. A lavoura é pesada para você. Eu já conversei com a minha esposa, ela não vai te fazer mal. E me levou pra grande casa.
Eu tive medo, mas fazia a comida, cuidava da casa.
Um dia, quando limpava o chão, ouvi uma conversa. A casa era tão grande, fui vigiar e vi a patroa, ela dava dinheiro para um empregado fazer uma emboscada contra o patrão na estrada.
O meu coração ficou desesperado. O que vou fazer? Como vou avisar ele? Ele cuidou de mim, preciso cuidar dele! Eu não sabia onde ele estava, aquelas terras eram grandes demais. O que seria de mim sem Maria e ele?
Naquela noite não dormi, escutava barulhos, gente falando, ruídos. Todas as pessoas que viveram naquela casa, estavam ali. Fui até a cozinha beber água e vi uma mulher parada, me assustei. Ela disse:
- Fuja desta casa, você será a próxima! Pegue o caminho dos rios! Vá pra longe!
- Mas quem é você?
- Eu já vivi nesta casa!
- Você é um Espírito?
E a mulher sumiu. Não sabia o que fazer. Fui pelo caminho que ela me falou. Andei muito.
Andei muito. Meus pés não aguentavam mais, quanto ouvi barulhos de cavalos próximo ao rio. Era o patrão. Ele veio me socorrer. Eu disse:
- Estão atrás de você em emboscada.
E novamente vi a mulher que mostrava o caminho que eu tinha que ir. Falei para o patrão:
- Vamos por ali!
Nos escondemos e os viajantes que vinham com o meu patrão foram surpreendidos pelos mandantes da patroa.
Todo o tempo eu via a mulher que ia indicando o caminho para seguir. E fomos até encontrar um barco, onde remamos e chegamos em uma ilha. O patrão teve febre. Eu cuidei dele. A noite, quando exausta eu dormi, meu Espírito foi até a aldeia e vi novamente o Espírito de minha avó, que me falou:
- O Espírito de seu patrão é o mesmo que viveu com você quando você foi escrava. Você amava muito ele. Quando ele desencarnou, havia muito pouco recurso quando se ficava doente e a pessoa que causou a doença dele foi a sua patroa dessa vida. Ela ainda não aprendeu o amor, por isso sofre perturbações pelas suas maldades.
Eu acordei e vi ele melhor, sem febre. Ele disse:
- Não podemos fugir a vida inteira. Não posso deixar os empregados sofrerem na mão daquela mulher louca.
Respondi:
- Vamos esperar mais um pouco, quando não tiver mais perigo, você volta.
E ele respondeu:
- Não sem você Tamara. Sinto que não posso viver sem você, não tenho mais ninguém!
Perguntei:
- E sua filha?
- Ela só é filha de Antônia. Eu não sei mais lidar com as loucuras dela. Você aceita ser a minha esposa? Vou levar você para a cidade. Vou vender aquelas terras e viveremos juntos se você aceitar!
Eu falava muito pouco e era muito envergonhada.
Saímos do lugar onde estávamos escondidos e fomos pra cidade.
Fiquei em uma casa de aluguel.
Agora eu não chamava mais ele de patrão, era Rodolfo.
Eu tinha medo que acontecesse alguma coisa com ele.
Depois da nossa fuga e que a patroa soube, mandou queimar as lavouras e os empregados saíram da fazenda. Novamente vi o Espírito da mulher que disse:
- Não deixe ele ir até a fazenda, ainda buscam matá-lo.
- Por que e quem é você? Por que aparece para mim e me ajuda?
Ela respondeu:
- Quando temos fé e oramos, Deus envia ajuda!
- O que vamos fazer? Perguntei.
- Você tem um bebê no seu ventre, fale para seu marido!
Quando falei, ele chorou e me abraçou:
- Vou ter uma família!
- Sim, mas ainda corremos perigo!
- Como sabe?
- Um Espírito fala pra mim! Sempre me ajuda e me orienta!
Nasceu a criança, era um menino, que alegria!
Rodolfo queria enfrentar a patroa, pois as terras eram dele.
Tive medo e falei a ele:
- Não vá! É perigoso! Espere até eu ter uma orientação.
Mas passou dias e o Espírito não veio...
Quando dormi, meu Espírito foi até a aldeia e então fui orientada a ir com ele até a fazenda, já não tinha mais perigo, a patroa tinha enlouquecido, adoeceu e faleceu.
Voltamos pra fazenda e quase tudo estava destruído.
Foi então que entrei no quarto que era da patroa e ela estava lá. Eu vi ela e disse:
- Quero te ajudar porque você sofre! Naquele momento senti uma luz que me envolvia e eu falei:
- Eu já te perdoei dessa vida e da vida passada, vai pra Luz!
O semblante dela era assustador quando novamente teve a ajuda Espiritual.
Então a patroa que desencarnou louca, atormentada pelos seus desafetos foi ajudada e também outros que estavam na casa. Senti paz e não senti mais medo.
Eu e Rodolfo tivemos mais três filhos. Eu não quis mais voltar para a aldeia. A bondade dele era admirável. Muitas coisas foram mudadas na fazenda que voltou a produzir. Todos os empregados eram bem tratados e a escola foi construída e muitos aprenderam a ler e a escrever. Os filhos cresceram bonitos como o pai, aprenderam o quanto temos que respeitar nossos irmãos, sejam eles quem for.
Em um domingo quando eu e Rodolfo descansávamos, adormecemos e vieram nos buscar. Irmãos de Luz nos levaram para um lugar que hoje sei que é uma cidade Espiritual. Rodolfo com noventa e cinco anos e eu com sessenta e dois anos.
A vida é um ciclo, ora se fecha, ora se abre e a vida continua...
O que podemos aprender com a história de Tamara?
* Tamara, Rodolfo e Antônia escolheram vivenciar essa vida juntos para se perdoarem;
* Antônia precisava resgatar o amor e o perdão com Rodolfo que em vida passada provocara sua morte, impossibilitando que ele e Tamara vivenciassem o amor que sentiam um pelo outro;
* A bondade que Rodolfo demonstrou nessa vida, ele já trazia como força no seu arquivo de Espírito;
* Tamara escolheu não voltar para sua aldeia para ajudar o seu povo, mas ajudou o povo que vivia na fazenda a terem uma vida melhor;
* Quando fazemos nossas escolhas no plano reencarnatório, os acontecimentos vão nos levando para que tudo seja cumprido, como o fato de Tamara sair de uma tribo indígena e ir viver em Portugal. Como isso vai acontecer, também está relacionado á necessidade de cada Espírito;
* O tempo que vivemos na Terra está condicionado á necessidade e escolha de evolução;
* Observando que em uma vida isso não seria possível, somos abençoados pelas reencarnações.
Estamos exatamente na família que escolhemos para evolução do Espírito.
Portanto, devemos ter gratidão pela família e seguir os ensinamentos de Jesus que é o perdão, a tolerância e a compaixão diante dos conflitos que vivenciamos no dia a dia!
E você?
O que aprendeu com essa história?

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Psicografado pela Escritora da Espiritualidade Sônia Lopes