História de Geraldo!
Nasci em Ouro Preto, mas muito novo, com quatro anos mudamos para o Rio de Janeiro.
Meu pai era comerciante, vendia de porta em porta e minha mãe era cozinheira, trabalhavam muito.Morávamos em um cômodo alugado. Com doze anos, comecei a ajudar a vender com meu pai. Vendíamos de tudo, chinelos, bolsas, pão caseiro feito pela minha mãe todos os dias e sobrevivemos. Com esforço do papai, construímos a nossa casa, pequena mas aconchegante.
Eu não tinha vergonha de sair vender com ele, era um trabalho digno e honesto.
Um dia, batendo de porta em porta para vender, uma porta se abriu e vi um rosto muito lindo de uma moça. Os nossos olhos não se desgrudaram e papai cutucou:
- Acorda rapaz! Está hipnotizado?
Então perguntei:
- Você quer comprar pão?
Ela deu um sorriso tão suave e disse:
- Sim, vou comprar pra experimentar!
Papai naquele momento já estava atendendo outra senhora na casa ao lado, onde haviam muitas dálias no jardim. As paredes amarelas e às janelas brancas, muitos passarinhos nas flores. No momento pensei em colher uma flor e dar pra ela, pra bela moça, mas não tive coragem. Ela pegou o pão, agradeceu, fechou a porta e eu realmente fiquei hipnotizado por ela que era tão linda.
Ela fechou a porta e eu fiquei parado, imóvel até papai me chamar:
- Geraldo!
Naquele momento eu voltei e olhei para papai que perguntou:
- Meu filho, o que houve com você? Não pode olhar assim para uma senhora!
- Mas que senhora? Eu vendi pão para uma linda moça!
- Rapaz, toma prumo! Não vi moça nenhuma ali, é a dona Marieta!
Nossa, fiquei tão confuso e o dia não foi normal pra mim.
Aquele sorriso não saiu da minha mente. Passei dias pensando. Mamãe percebeu que eu estava distante. Ela desenformava os pães caseiros e eu embalava e estava com o pensamento longe quando mamãe me chamou a atenção:
- Filho, acorda! Onde você está? Conta pra sua mãe o que você tem? Está com febre?
- Não mãe! É que ontem bati na porta de uma casa, aquela que fica do lado da casa amarela com jardim bonito!
- Sim, eu sei, o que tem a casa da Dona Marieta?
- Então, quando bati e a porta se abriu, vi uma moça linda, de um sorriso maravilhoso, fiquei deslumbrado, por isso estou assim.
Mamãe me abraçou:
- Meu querido, você está com dezessete anos, é fácil se apaixonar, mas não lembro que Dona Marieta tenha neta.
Nesse momento papai entrou na cozinha para pegar os pães para vender. Rápido eu falei:
- Deixa que eu levo o pão para Dona Marieta.
Papai me olhou e disse:
- Meu filho, respeite a Dona Marieta. Ela é uma senhora!
- Não é por ela pai, é a moça que mora lá!
- Deixe, disse mamãe. Ele é um bom menino, deixe ele fazer amizade com a moça. Ele só estuda e trabalha, precisa ter diversão. Tem que conversar com as pessoas da mesma idade dele.
Papai falou:
- Tá certo, vou pedir pra Dona Marieta deixar você ser amigo da neta dela.
Corri me arrumar, até passei o perfume de barba do papai. Estava alegre. Bati na porta da Dona Marieta. Ela abriu:
- Oi meu filho! Obrigada por trazer pão.
Papai puxou assunto e perguntou da neta. Dona Marieta olhou para papai:
- Eu ainda não fui agraciada por essa benção. Nem sequer tenho filhos.
- Me perdoe, disse papai. Mas e a moça que mora com a senhora e que Geraldo viu?
- Não sei! Só mora eu e Abelardo, que só fica sentado lendo jornal na sala.
Naquele momento me senti triste. Papai falou:
- Tá vendo! Me fez passar vergonha. Vamos trabalhar.
O dia ficou nublado. E a cada dois dias eu ia entregar os pães. Então perguntei:
- Dona Marieta, a senhora precisa de alguém para limpar o seu jardim? Está sem vida, parece abandonado. Olha o jardim da casa amarela, que lindo!
- Ah meu filho! Não posso pagar.
- Eu ajudo a senhora!
- Tá bom, eu aceito!
Pedi para papai e ele deixou. Era um sábado pela manhã. Eu usava sempre uma camisa manga curta branca, suspensório e bermuda, cabelo sempre bem penteado, coisas da minha mãe.
Dona Marieta veio me receber e disse:
- Você está lindo para mexer na terra!
- Não tem problema!
Ela disse:
- No porão estão as ferramentas que você precisa para limpar.
- Deixa comigo!
Comecei a limpar e tinha uma roseira grande branca, bonita.Limpei tudo, mas a minha intenção era descobrir quem era a moça e por que Dona Marieta mentiu. Era quase meio dia e Dona Marieta chamou:
- Geraldo, vem meu filho almoçar! Lave as mãos.
- Tá bom! Pensei:
- É agora! Vou entrar na casa.
Tirei o calçado sujo, era uma casa antiga de madeira, pedi licença. O senhor Abelardo lendo jornal, sentado na mesa da cozinha. Eu olhei por tudo, cada canto e não vi ninguém.
- Meu Deus, será que vi coisas?
- Come meu filho, disse Dona Marieta, pois eu estava com o pensamento longe. Perguntei:
- Vocês moram aqui há muito tempo?
- Uns vinte anos, mas antes de nós já moravam outras famílias. Essa casa é antiga, apesar de ser em uma avenida.
O senhor Abelardo que pensei que nem estava prestando atenção na conversa, pois lia o jornal, falou:
- O que você andou vendo nessa casa? Estranhei o seu interesse em vim limpar o jardim.
Eu tive medo de falar.
- Meu rapaz, sou um homem experiente, confie em mim. Então falei:
- Vi uma moça linda que abriu a porta no dia em que vim entregar os pães.
Todos ficaram em silêncio.
- Já ouvimos essa história.
- Que história?
- Dessa moça que aparece.
Perguntei:
- Onde ela mora? Quero falar com ela!
Dona Marieta falou:
- Esqueça isso! Vai terminar o que você começou.
No final do dia, terminei e fui pra casa chateado. Não descobri onde a moça mora.
Sempre passava na frente da casa, mesmo quando não era o dia de entregar pães. Um dia, percebi que a roseira floresceu várias rosas brancas e lá estava ela no jardim me olhando. Ela sorriu e me chamava.
- Meu Deus, é ela! Eu quero entrar no jardim de Dona Marieta!
Fiquei muito ansioso e nervoso.
- Por que será que mentiram pra mim?
Mamãe me levou ao médico, pois disse que eu estava estranho, triste, não dormia. O médico disse:
- Crise de ansiedade. É o mal do século. Deve tomar essa medicação e se não melhorar deve voltar para investigar com exames.
Eu não melhorei. Só pensava nela. Tomei os remédios para me acalmar, pois tinha feito uma coisa muito feia. Pulei o portão da casa da dona Marieta e ela não gostou.
- O que está acontecendo comigo? Não comia direito, não trabalhava mais. Um dia acordei na madrugada, quando acendi a luz gritei:
- Mamãe! Ela veio me visitar, sabia que um dia ela viria.
Mamãe me abraçou.
- Calma, estou aqui! Não tenha medo, o que foi que você viu?
- Vi a moça. A mesma da casa lá da Dona Marieta!
Mamãe me levou ao médico psiquiatra, pois eu estava tendo alucinações. Ele me deu medicamentos.
Os meus pais estavam preocupados comigo, pois eu era sempre alegre, trabalhava, estudava e agora já não tinha mais força pra nada.
A minha mãe procurou minha madrinha e me levaram em uma senhora muito conhecida que fazia atendimentos e receitava ervas para chás.
Quando ela me olhou, disse:
- Benjamim?
- Não, o nome dele é Geraldo.
Respondeu a senhora:
- Benjamim é o nome dele da vida anterior. Maria Odete é a moça que aparece pra ele linda antes de desencarnar, que ele mesmo trancou ela em um porão. Estava com muita raiva, tinha muito ciúme dela. A paixão dele era doentia, possessiva.
Mamãe perguntou:
- Como pode ser isso? Não acredito em vida anterior.
A senhora respondeu:
- Então a senhora explica o que está acontecendo com seu filho?
- Não sei! Como um Espírito pode interferir assim na vida de uma pessoa?
Ela respondeu:
- O Espírito não morre, somente o corpo físico, o corpo Espiritual continua.
- Sim, mas o que ela quer? Por que está enlouquecendo meu filho?
- Seu filho, disse a senhora. Tinha uma paixão doentia por ela na vida passada. A beleza dela encantava. Era uma moça simpática, carismática com todos, mas o ciúme o fazia ver coisas que não existiam, por isso trancou ela num porão para castigá- la, mas ela não resistiu, ficou desnutrida demais. Quando ele foi buscá-la, já tinha desencarnado. Por meses ele chorou, mas seguiu em frente, mas o Espírito dela se revoltou contra ele e o perseguiu nessa vida. Quando ele pensa nela, ela vem e hipnotiza ele para que ele a veja. A energia dela de raiva e revolta deixa ele assim, depressivo, perturbado.
- E o que podemos fazer para salvar o meu filho?
Então a senhora colocou a mão sobre minha cabeça e eu comecei a tremer e chorar.
Ela disse:
- Peça perdão para que ela possa ser ajudada e ir para um lugar de Luz.
Depois daquele dia, passei a me sentir melhor. Minha mente já não estava mais tão perturbada e voltei mais vezes para aquele atendimento com a senhora bondosa que me ajudou. Tive coragem e perguntei:
- A moça foi pra onde?
Respondeu ela:
- Meu filho, você já deve ter ouvido falar nas Escrituras Bíblicas, onde Jesus relata que na casa de meu Pai há várias moradas.
- Sim.
- As cidades Espirituais, onde é a nossa origem, fomos todos criados Espíritos e para viver as experiências na terra precisamos de um corpo físico. Mas tudo o que aprendemos, tudo o que sentimos, fica no Espírito e não no corpo que morre. São apenas células, por isso devemos ser bons um para com os outros. Você veio nessa vida para superar as suas fraquezas, que é o ciúme. Vai chegar um determinado tempo que os desafios da vida vão te cobrar equilíbrio, senão você vai voltar a cometer os mesmos erros do passado.
Aprendi muito com aquela senhora.
Voltamos a morar em Ouro Preto, e lá conheci Yasmim. Me casei, tive filhos e quando o meu mais novo casou-se, nasceu Isabela. Senti que era o mesmo Espírito de Maria Odete da vida passada. O meu Espírito ficou agitado e fui procurar aquela senhora, mas ela já tinha falecido.
Um dia orando, pedi sabedoria a Deus em sonhos e a senhora que tanto me ajudou espiritualmente disse:
- Tudo se cumpre meu filho. Nada é ao acaso. Sua neta é o mesmo Espírito de Maria Odete e precisa sentir um amor puro e equilibrado da tua parte. Tudo o que você aprendeu a respeito do perdão, ensine no futuro para sua neta, e eu acordei.
E os anos em que passei com Isabela a minha neta, foram os mais felizes.
Sou muito grato á Deus pela oportunidade de fazer o bem para quem um dia eu fiz tanto mal.
Aprendizados da História de Geraldo
* Muitos casos de alucinações diagnosticadas dentro da psiquiatria e da psicologia em diversas patologias são na verdade consequências de obsessão, então além de buscar a ajuda da medicina é necessário buscar ajuda Espiritual;
* A falta de perdão desencadeia o desejo de vingança impedindo que o Espírito siga na Luz. O desejo de vingança cega e impede a evolução, por isso tantos Espíritos vagam pela Terra na busca de saciar esse desejo;
* Todos trazemos fraquezas em nosso Espírito que precisamos evoluir nessa vida. Os eventos externos que acontecem ao nosso redor são na verdade oportunidades para exercitarmos a superação dessas fraquezas;
* O perdão é a mais importante lição que precisamos aprender em nossa vida!
E você, o que aprendeu com essa história?
Psicografado por Sônia Lopes, Escritora da Espiritualidade