História de Ataíde!
Eu sempre fui tímido, envergonhado. Na verdade, nasci na roça, catava algodão e tudo o que se plantava. Ganhava muito pouco e o sol do norte do Paraná, era de estralar a cabeça.
Os donos das terras, o patrão, ele enriqueceu. Ele fazia coisas erradas. Sempre plantava em pedaços de terra que era do vizinho e isso não era bom, dava brigas.Na hora do almoço, nós sentávamos embaixo das árvores para comer e descansar um pouco, pois levantávamos de madrugada.
Vi muitas coisas no meio das roças e aquilo me incomodava; sempre via um casal e não estavam brigando, passeando juntinhos como namorados. Mas tinha dias que via gente brigando pelas terras e isso eu não gostava de ver.
Minha mãe sempre me ensinou a ser bom e nunca bulir no que é dos outros.
E assim foi a minha vida dos doze aos dezoito anos, trabalhando de sol a sol para sobreviver, pois o dinheiro era pouco. Eu não tinha estudo e nem conseguia pronunciar as palavras corretamente e também falava pouco.
Um dia, quando parei para tomar água, uma moça tão bonita se aproximou e disse:
- Estou com sede, posso tomar água?
Eu, envergonhado, dei água pra ela.
- Agradecida! Ela foi caminhando pelas plantações.
Nossa! Até me deu um frio na barriga. E fiquei com ela no pensamento. E volta e meia ela aparecia pra mim.
Vixi Maria, como eu ficava contente.
Fui rezar para minha Santinha:
- Quero casar com essa moça!
A minha mãe ouviu a minha reza e perguntou:
- Ataíde! Que história é essa de casar? É a filha da dona Dora?
- Não senhora!
- De onde é essa moça?
- É lá das lavouras, trabalha lá! Ela é tão bonita!
A minha mãe falou:
- Ora, traz ela aqui pra gente conhecer. Vou fazer um bolo de milho e café.
Nossa! Fiquei tão alegre.
No outro dia esperei ela aparecer e nada. O meu coração ficou triste, perdi até a vontade de almoçar. E olha que a minha mãe caprichava na marmita e no pão caseiro com banha de porco.
Passou a semana e ela não veio.
Fui falar com minha Santinha:
- Mãe Santíssima, olha o jeito que está o meu coração, aflito! Quero ver a moça de novo. Me ajuda, pois ela tem jeito de ser bem cuidada. Pele branquinha, nossa! Falando nisso, como ela trabalha alí e o sol não deixa ela como eu, moreno?
Tudo isso eu falava com a Virgem Maria, e a minha mãe sempre escutava a minha oração e falou:
- Ataíde, meu filho! Você não me vai se envolver com a moça rica, só vai fazer você sofrer! Vai procurar saber mais dessa moça! Não quero você encrencado!
- Tá bom mãe!
E comecei a perguntar para as pessoas que trabalhavam na lavoura, se conheciam a tal moça. Ninguém conhecia. Até que um dia uma mulher falou:
- Acho que é da fazenda vizinha. Cuidado, pois se o patrão ver, eles são inimigos!
Eu só queria ver ela novamente. Nem trabalhei direito, fui andar pela imensidão daquela fazenda, até chegar na fazenda vizinha e fui a pé. Quando de longe a vi e ela sorriu pra mim. O meu coração ia sair pela boca de tanto que batia forte. Ela me estendeu a mão e disse:
- Esperei você vir me procurar. O meu nome é Maria Esther e o seu é Ataíde?
- Como você sabe? Nunca te falei meu nome!
Ela sorriu e me abraçou. Naquele momento eu flutuei. Então ela me falou:
- Eu vim ajudar o meu pai que é dono dessas terras. Sou da cidade e você me chamou a atenção pelo seu bom coração e vejo que é um rapaz honesto e trabalhador. Eu quero te ajudar!
- Me ajudar no que?
Enquanto conversávamos, eu ouvia a voz da minha mãe orando por mim, pedindo para que eu não me colocasse em confusão.
Então Maria Esther, ela me envolvia de um jeito que eu esquecia de tudo e admirava sua beleza. Parecia que me hipnotizava. Eu estava apaixonado!
Voltei pra casa feliz. Cheguei, o meu pai já havia chego do trabalho. Estava tomando café com uma caneca de esmalte branco, me olhou com reprovação e falou:
- Você não trabalhou hoje? Onde esteve?
E quando me olhava assim, vinha bronca.
Mamãe quis apaziguar, mas ele foi firme comigo:
- Me fala, aonde andou?
Eu respeitava muito meus pais, admirava eles. Eram honestos e trabalhadores. Trabalhavam tanto e não tinham luxo.
No domingo, mamãe fazia almoço e depois estendia uma toalha embaixo de uma grande mangueira e lá passávamos o domingo.
Respondi:
- Pai, eu me encantei por uma moça e fui procurar ela. É da fazenda vizinha. Só conversamos. Meu pai me disse:
- Meu filho, só quero que você seja feliz! Mas não se meta em encrenca por aí!
- Tá bom pai! E abracei ele.
Na simples casa morava eu, meu pai, minha mãe, minha irmã Ritinha de quatro anos e Antenor de quinze. Eu era o mais velho.
Voltei a me encontrar com Maria Esther. Encontros mais longos, mas ela não me convidava pra conhecer seus pais e não aceitava conhecer a minha família e isso me entristecia.
Os encontros eram próximos de onde ela morava. Aos poucos, ela começou a mudar a minha forma de pensar. Ela falava:
- Não é justo você trabalhar tanto e ganhar tão pouco! Você é jovem, precisa pensar em ganhar mais dinheiro! Como pretende se casar comigo?
E aos poucos, ela foi me convencendo que eu precisava ter ambição.
- Olha o quanto seu patrão ganha! E olha pra você, até parece um maltrapilho! Eu sei como você pode ficar rico, e se você não fizer o que eu quero, não vamos mais nos ver!
- Eu faço tudo o que você quiser, mas não me abandone...
Meus pais sentiram minha mudança e se entristeceram.
Eu era tão apaixonado por ela! Passei a não dar mais importância para os conselhos de meus pais. Mas isso também não me estava agradando, mesmo assim, me revoltei contra meu patrão e Maria Esther me manipulava. Eu fazia tudo o que ela queria, sem enxergar a verdade.
Um dia, entrei na casa do patrão para levar o dinheiro que eu achava que era justo eu ganhar e me deparei com uma senhora na sala que me olhou e disse:
- Então você também faz as vontades de Maria Esther? Ela vai te complicar! Não dê ouvidos á ela. Ela é do mal, você não percebe?
A senhora continuou:
- Eu conheço ela. Ela escolheu você, porque você consegue ver ela!
Mas eu não dei importância pra senhora e peguei o dinheiro e saí fugido. Me encontrei com ela no mesmo lugar de sempre. Disse ela:
- Esconda esse dinheiro!
- Onde?
- Faça um buraco e esconda bem!
E todo o tempo ela pedia pra eu fazer algo estranho. Pedia pra roubar equipamentos e assim eu fui me transformando. Eu não era mais o mesmo.
O que aquela mulher fez comigo?
Um dia fui rezar pra minha Santinha, a minha energia estava tão ruim que não consegui me concentrar na oração. Mas me lembrei da senhora que me alertou:
- você foi escolhido porque você vê ela!
Aquilo me chamou a atenção. Pensei:
- Tem alguma coisa errada nisso!
E fui procurar aquela senhora.
Entrei escondido na propriedade do meu patrão. Dessa vez não era pra roubar. Estava angustiado. E veio a senhora, me olhou e disse:
- Vejo você em escuridão. Se afaste dela ou você vai se perder.
- Como? Eu não consigo! Respondi. Ela não me deixa conhecer sua família e também não vai conhecer a minha!
Então a senhora falou:
- Eu sou um Espírito e você está conversando comigo.
- Espírito! Valha me Deus!
Disse ela:
- Calma, não quero te assustar. Vá até a fazenda onde Maria Esther diz morar. Nos fundos da fazenda, lá perto do lago, você vai encontrar a resposta. Agora saia dessa casa, pois podem te ver e isso não é bom.
Fugi rápido. Saí correndo pela mata, no escuro e chorando. Estava tão perdido. Andei a noite a dentro até chegar na fazenda. Entrei com cuidado.
- Nossa! Parece tudo abandonado, que estranho! Onde estão todos?
Vi um senhor que varria folhas que caiam no chão e me disse:
- Rapaz! O que faz aqui?
- Vim procurar a família de Maria Esther!
O homem balançou a cabeça.
- Tem certeza? Vá até os fundos, próximo do lago.
Eu fui e fiquei esperando eles aparecerem.
Então estava indo embora, quando o senhor que varria me chamou e disse:
- Meu rapaz, vejo você completamente perdido. Entre e vou te mostrar.
Entrei.
Uma sala grande, os móveis cobertos com lençol, retratos sobre a mesa.
- Veja essa fazenda, fazem mais de quarenta anos que está assim abandonada!
- Por que?
- Muitas coisas aconteceram aqui. Brigas por terras. Os donos desse local morreram, não pelas brigas, mas ficaram doentes, pois a filha que eles tiveram, trouxe á eles muitas preocupações. Essas terras já tiveram muitos donos, mas não é uma terra abençoada. Muitos que morreram, vivem por aqui.
- Valha me Deus! Respondi. Mas vim até aqui procurar Maria Esther.
- Meu rapaz, você ainda não percebeu?
- O quê?
Olhando a casa com teias de aranha por tudo. A casa escura, pensei:
- Como Maria Esther mora nessa casa? Meu Deus! Me deu um arrepio.
O senhor que conversava comigo disse:
- Procure ajuda, pois você está perturbado. Ela fez isso com muitos. Ela enlouquece as pessoas. Você ainda não percebeu que ela é um Espírito? Ela morreu há muitos anos. Meu rapaz, você está se relacionando com um Espírito!
- O senhor está louco?
- Não, não estou louco! Você está hipnotizado por ela e não quer ver a verdade! Ela já enlouqueceu outros rapazes, levando-os à morte. Fuja dela! Se proteja em oração. Ela é perversa, se ela aparecer, não dê ouvidos á ela!
Repentinamente, me vi sozinho naquela casa imensa e abandonada, confuso, sem saber o que pensar.
Saí dali e andava pela plantações sem rumo.
De repente ela, Maria Esther apareceu e disse:
- Você vai acreditar no que falam? Não é verdade!
Eu não estava convencido de nada. Tudo era confuso. Então ela me levou novamente para aquela casa abandonada. Ela me hipnotizava.
Quando meu pai e outras pessoas entraram na casa. Meu pai disse:
- Meu filho! Você enlouqueceu? O que está acontecendo? Por que está escondido aqui? Por que roubou o patrão? Faz meses que você não aparece em casa! Olha pra você!
O meu pai me levou até perto do lago e me mostrou a lápide de Maria Esther:
- Veja, ela desencarnou! Olha a foto dela!
Mas eu não conseguia raciocinar, parecia hipnotizado! Eles me levaram da casa abandonada.
Depois que me senti melhor, o meu patrão me chamou e disse:
- Sei que está perturbado. Vou te contar que essa família morava ali eu tinha quatro anos de idade. O meu pai sempre falou que aquelas terras não eram benditas, pois passou de geração em geração e muitos morreram e continuaram ali. Por isso nessas terras ninguém consegue morar. Sempre escutei histórias sobre Maria Esther. Era ambiciosa e encrenqueira e depois que ela desencarnou, continuou ali. Ela não permite que ninguém se torne dono da fazenda, tão forte é o apego dela.
Eu respondi:
- Ela parece tão real, foi ela que me convenceu de roubar o senhor. Mas eu não gastei o dinheiro, eu enterrei.
Quando fui mostrar o lugar onde estava enterrado o dinheiro, ela apareceu e me olhou com ódio e disse:
- Você vai me desobedecer? Esse dinheiro é meu!
Dizem que eu falava sozinho, mas eu falava com ela e todos ficaram com medo. Eu não tinha percebido, mas acharam mais dinheiro enterrado, ouro e ela gritava. Gritava comigo:
- TUDO ISSO É MEU! NINGUÉM VAI LEVAR!
Eu estava me sentindo muito mal e a minha cabeça doía, foi aí que desmaiei e me levaram dali.
O patrão me perdoou e ainda pagou médico pra mim.
Eu não me conformava que tudo aquilo que vivi não era real. Fiquei cada dia mais depressivo e só pensava nela. Eu queria esquecer, mas não conseguia. Sentia que ela queria me levar para morar com ela. Era uma sensação estranha. Todas as pessoas da lavoura souberam que eu tinha enlouquecido. Foi então que uma jovem que veio me visitar, falou:
- Você tem uma mediunidade. Você vê e se comunica com Espíritos.
- Mas eu não quero ver Espíritos! Quero a minha vida de volta, mas Maria Esther não deixa!
- Bem, disse a moça. Convido você para me ajudar com as pessoas que enlouqueceram e não entendiam, assim como você! Veja, o Espírito é imortal, ele não morre.
E aquela moça foi me explicando e me ensinou a orar pelas pessoas doentes. Meu patrão também doava alimentos e nos ajudava com aquelas pessoas.
Eu gostei de fazer tudo isso e estava bem melhor. Não andava mais falando sozinho e nem depressivo.
Um dia, orando, vi Esther me olhando e me assustei. Então disse á ela:
- O que você quer comigo? Sou uma pessoa do bem, não gosto de fazer mal á ninguém. Por que você ainda não aceitou que desencarnou? Você sofre e faz tanta gente sofrer! Por que está presa ainda no ódio e na ganância? Você pode ser feliz! Não precisa ficar apegada àquela casa abandonada! Se liberte disso! Vou ensinar você a orar!
Mesmo com medo, me concentrei e pedi que um anjo viesse buscar ela.
Nossa! E vieram mesmo! Eu vi quando seres iluminados levaram ela. Fiquei surpreso e feliz. Contei pra moça que me ensinou a ajudar os Espíritos perdidos.
E assim foi a minha vida. Eu me casei com essa moça que tinha um Espírito iluminado e que me ensinou que podemos sim ajudar o próximo.
Eu continuei a ver Espíritos, mas conseguia ajudá-los com oração. Ia em hospitais onde estivesse uma pessoa doente e fazia orações e doações de alimentos.
Anos se passaram, eu já com sessenta anos, estava orando para um senhor doente com perturbações mentais causadas pela obsessão de um Espírito vingativo de vidas passadas. Sempre que eu orava, vinha um Espírito de Luz ou uma Mentora. Naquele dia, junto com o Mentor, veio Esther.
Nossa! Eu fiquei agitado.
O Mentor falou:
- Calma meu amigo! Esther, assim como você evoluiu na sua Espiritualidade, ela também. Hoje ela consegue ajudar, não aqui na Terra, mas nas Colônias Espirituais! Muito em breve vão se encontrar na Espiritualidade quando você cumprir o seu tempo na Terra.
E assim foi...
Ensinei meus dois filhos a importância da caridade com amor e aos setenta anos retornei para o nosso lar que é a Cidade Espiritual.
Depois que encontrei Maria Esther aqui na Espiritualidade, compreendi melhor e a perdoei.
Bem, tudo o que fazemos para prejudicar alguém, um dia, precisamos reparar. E para reparar isso, muito trabalho em ajudar o próximo.
Maria Esther faz um trabalho intenso, visitando hospitais psiquiátricos na Terra, pois sabemos que as loucuras são causadas por Espíritos obsessores que nos hipnotizam por várias razões.
O trabalho que Esther faz é ajudar esses Espíritos a perdoar e deixar de obssediar o encarnado, assim sem a influência da energia do obsessor, o encarnado melhora.
E assim são os ciclos da vida, ora estamos encarnados, ora estamos vivendo nas Cidades Espirituais!
Psicografado pela Escritora da Espiritualidade, Sônia Lopes