Morte e Vida Além Túmulo
Autor: Léon Denis
Todas as religiões e todas as filosofias têm
tentado explicar a morte; bem poucas lhe têm
conservado o verdadeiro caráter.
O Cristianismo divinizou-a; seus santos
encararam-na nobremente, seus poetas
cantaram-na por uma libertação. Entretanto, os
santos do Catolicismo só viram nela as
exonerações da servidão da carne, o resgate do
pecado, e, por isso mesmo, os ritos funerários
da liturgia católica espalham uma espécie de
terror sobre essa peroração, aliás, tão natural, da
existência terrestre.
A morte é simplesmente um segundo
nascimento; deixamos o mundo pela mesma
razão por que nele entramos, segundo a ordem
da mesma lei.
Algum tempo antes da morte, um trabalho
silencioso se executa. A desmaterialização já
está começada. Poderiam verificá-la por certos
sinais, quantos rodeiam o moribundo, se não
estivessem distraídos pelos fatos externos. A
moléstia goza aqui de papel considerável. Ela
acaba em alguns meses, em algumas semanas,
em alguns dias, apenas, o que o lento trabalho
da idade havia preparado: é a obra de
“dissolução” de que fala o Apóstolo Paulo. Essa
palavra dissolução é muito significativa: indica
nitidamente que o organismo se desagrega e que
o perispírito se “desliga” do resto da carne em
que estava envolvido.
Ninguém morre só, pela mesma forma que
ninguém nasce só. Os invisíveis que o
conheceram, que o amaram, que o assistiram
aqui, em nosso orbe, vêm ajudar o moribundo a
desembaraçar-se das últimas cadeias do
cativeiro terrestre.
A desmaterialização está completa; o perispírito
se desprende do invólucro carnal, que vive ainda
algumas horas, talvez, de uma vida puramente
vegetativa. Assim, os estados sucessivos da
personalidade humana desenrolam-se em ordem
inversa àquela que preside ao nascimento.
As Almas, por instinto infalível, vão para a esfera
proporcionada a seu grau de evolução, à sua
faculdade de iluminação, à sua aptidão atual de
perfectibilidade.
As afinidades fluídicas conduzem-na, qual doce
mas imperiosa brisa que impele um batel, para
outras Almas similares, com as quais vai unir-se
em uma espécie de amizade, de parentesco
magnético; e assim, a vida, uma vida
verdadeiramente social, mas de grau superior,
reconstitui-se, tal qual outrora na Terra, porque
a Alma humana não poderia renunciar à sua
natureza. A estrutura íntima, sua faculdade de
irradiação, lhe impõe a sociedade que merece.
As altas missões da Alma jamais cessam. Os
Espíritos sublimes, que têm instituído e
melhorado seus semelhantes na Terra,
continuam em mundo superior, em quadro mais
vasto, seu apostolado de luz e sua redenção de
amor.
Conforme dissemos no início destas páginas, é
assim que a História eternamente recomeça e se
torna cada vez mais universal. A lei circulatória
que preside ao eterno progresso dos Estados e
dos mundos desenrola-se sem cessar em
esferas e mundos cada vez mais engrandecidos;
tudo recomeça no Alto, em virtude da mesma lei
que faz tudo evolver no plano inferior. Todo o
segredo do Universo aí está.
Livro: O Grande Enigma