Um dedo por um braço..

Não faltou até quem cobrasse a proteção que Saturnino deveria receber pela atividade religiosa intensa a qual se dedicara com tanto amor. Saturnino recebeu carinho e respeito de todos, agradeceu generosamente, sorria resignado, agradeceu a Deus, porém estava triste. À noite, compareceu em companhia da esposa à sessão íntima no templo espírita que frequentava. Foi então quando Macário, o orientador espiritual das tarefas, dirigiu-se a ele bondoso para que o mesmo não se sentisse desamparado e tampouco triste, pois todas as dores são decretadas pela Justiça Divina.
“ - Há oitenta anos, era você poderoso sitiante no litoral brasileiro e, certo dia, porque pobre empregado enfermo não lhe pudesse obedecer às determinações, você, com as próprias mãos, obrigou-o a triturar o braço direito no engenho rústico. Por muito tempo, no Plano Espiritual, você andou perturbado, contemplando mentalmente o caldo de cana enrubescido pelo sangue da vítima, cujos gritos lhe ecoavam no coração. Por muito tempo, por muito tempo...”.
E continuou: “- E você implorou existência humilde em que viesse a perder no trabalho o braço mais útil. Mas você, Saturnino, desde a primeira mocidade, ao conhecer a Doutrina Espírita, tem os pés no caminho do bem aos outros. Você tem trabalhado, esmerando-se no dever... Não estamos aqui para elogiar, porque você continua lutando, lutando... e o plantio disso ou daquilo só pode ser avaliado em definitivo por ocasião da colheita. Sei, porém, que hoje, por débito legítimo, alijaria você todo o braço, mas perdeu só um dedo... Regozije-se, meu amigo! Você está pagando, em amor, seu empenho à justiça...”. De cabeça baixa, Saturnino derramava grossas lágrimas. Lágrimas de conforto, de apaziguamento e alegria...
É o amor que cobre uma multidão de pecados como bem asseverou nosso Mestre Jesus em Evangelho de Pedro I, IV, 8. Através das boas ações podemos diminuir o impacto de nossas provas diante da lei.
Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.
(1ª Carta de Pedro, 4:8)
Concluímos que todos nós estamos sujeitos à Lei de Causa e Efeito, Ação e Reação conforme nossa necessidade espiritual, possuindo certa liberdade na nossa escolha no que se refere ao caminho do bem ou do mal que vamos seguir. Devendo nos atentar para o fato de que através do amor que dedicamos na nossa existência conquistamos recursos vitais que vão amenizar nossas penas. Ressalte-se também que não há uma folha que se desprenda e caia que não esteja sobre o controle das divinas leis, mas não quer dizer com isso que estivesse previamente programado ou que tenha sido por obra dos espíritos. Por fim, devemos nos lembrar de que a cada um será dado segundo suas obras, e que o espírito terá tantas quantas oportunidades forem necessárias para seu aprimoramento moral.
(Fonte- A vida Escreve, Hilário Pires pela psicografia de Francisco Cândido Xavier -Edição FEB- e André Afonso Monteiro-Correio Espírita)