REVISTA ESPÍRITA 1859 » MARÇO » MÉDIUNS INTERESSEIROS
A mediunidade é uma faculdade dada para o bem e os bons Espíritos se afastam de quem quer que pretenda transformá-la em escada para alcançar seja o que for que não corresponda aos desígnios da Providência. O egoísmo é a chaga da Sociedade. Os bons Espíritos combatem-no e, portanto, não é possível supor que venham incentivá-lo. Isto é tão racional, que sobre tal ponto seria inútil insistir.
A cupidez no rol dos defeitos que podem dar acesso aos Espíritos imperfeitos.
Na primeira linha dos médiuns interesseiros devem colocar-se aqueles que poderiam fazer de sua faculdade uma profissão, dando o que se costuma chamar de sessões ou consultas remuneradas.
Quem quiser comunicações sérias deve antes de tudo informar-se quanto à natureza das simpatias do médium com os seres de além-túmulo. Aquelas que são dadas pela ambição do lucro só podem inspirar uma confiança bem medíocre.
Médiuns interesseiros não são apenas os que poderiam exigir uma determinada importância. O interesse não se traduz apenas na expectativa de um lucro material, mas também nos pontos de vista ambiciosos de qualquer natureza, sobre os quais pode fundar-se a esperança pessoal. É ainda um tropeço que os Espíritos zombeteiros sabem utilizar muito bem, e de que se aproveitam com uma destreza e com uma desfaçatez verdadeiramente notáveis, acalentando enganadoras ilusões naqueles que assim se colocam sob sua dependência.
REVISTA ESPÍRITA 1859 » MARÇO » ESTUDO SOBRE OS MÉDIUNS
Como intérpretes das comunicações espíritas, os médiuns têm um papel de extrema importância e nunca seria demasiada a atenção dada ao estudo de todas as causas que podem influenciá-los, e isto não só em seu próprio interesse, como também no daqueles que, não sendo médiuns, deles se servem como intermediários. Poderão assim julgar o grau de confiança que merecem as comunicações por eles recebidas.
Todos, já o dissemos, são mais ou menos médiuns.
De todos os gêneros de médiuns, o mais comum é o dos escreventes, e isso por ser o mais fácil de adquirir pelo exercício. Eis por que, e com razão, para ela se dirigem geralmente os desejos e os esforços dos aspirantes. Também apresenta duas variedades, igualmente encontradas nas outras categorias: os escreventes mecânicos e os escreventes intuitivos. Nos primeiros o impulso da mão independe da vontade. Ela se move por si, sem que o médium tenha consciência do que escreve. Seu pensamento pode até mesmo ser dirigido para outra coisa. No médium intuitivo o Espírito age sobre o cérebro; seu pensamento atravessa, se assim podemos dizer, o pensamento do médium, sem que haja confusão. Em consequência, ele tem consciência do que escreve, por vezes mesmo uma consciência prévia, porque a intuição precede o movimento da mão; entretanto, o pensamento expresso não é o do médium. Uma comparação muito simples nos dá a compreender o fenômeno.
Ensinou-nos a experiência que os médiuns mecânicos e os intuitivos são igualmente bons, igualmente aptos para a recepção e a transmissão de boas comunicações. Como meio de convicção, os primeiros têm mais valor, sem dúvida, mas quando a convicção já foi adquirida, não há preferência útil. A atenção deve ser inteiramente concentrada sobre a natureza das comunicações, isto é, sobre a aptidão do médium para receber as dos bons e as dos maus Espíritos.
REVISTA ESPÍRITA 1860 » MAIO » DITADOS ESPONTÂNEOS » OS MÉDIUNS
Deus encarregou-me de uma missão a cumprir junto aos crentes que ele favorece com o mediunato. Quanto mais graças receberem do Altíssimo, mais perigos correm. Esses perigos são tanto maiores, quanto nascem dos próprios favores que Deus lhes concede.
As faculdades de que desfrutam os médiuns lhes atraem elogios dos homens: felicitações, adulação, eis o escolho. Esses mesmos médiuns, que deveriam ter sempre na memória a sua incapacidade primitiva, a esquecem; fazem mais: o que só devem a Deus, atribuem ao seu próprio mérito. Que acontece então? Os bons Espíritos os abandonam; não mais tendo bússola para orientá-los, tornam-se joguetes dos Espíritos enganadores. Quanto mais capazes, mais são levados a considerar sua faculdade um mérito, até que, enfim, para os punir, Deus lhes retira o dom que apenas lhes pode ser fatal.
Nunca seria demais lembrar-vos que vos recomendeis ao vosso anjo guardião, para que vos ajude a vos manter em guarda contra vosso mais cruel inimigo, que é o orgulho. Lembrai-vos de que, sem o apoio do vosso divino Mestre, vós, que tendes a felicidade de servir de intermediários entre os Espíritos e os homens, sereis punidos, tanto mais severamente quanto mais favorecidos, se não tiverdes aproveitado a luz.
JOANA D’ARC
REVISTA ESPÍRITA 1860 » NOVEMBRO » DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS » AOS MÉDIUNS
(MÉDIUM, SR. DARCOL)
Quando quiserdes receber comunicações de bons Espíritos, importa que vos prepareis para esse favor pelo recolhimento, pelas intenções sãs e pelo desejo de fazer o bem, visando o progresso geral. Lembrai-vos de que o egoísmo é uma causa de retardamento em todo avanço. Lembrai-vos de que se Deus permite que alguns dentre vós recebam o sopro de alguns de seus filhos que pela sua conduta souberam merecer a felicidade de compreender sua bondade infinita, é que ele quer, por solicitação nossa, e à vista de vossas boas intenções, vos dar os meios de avançar no seu caminho. Assim, pois, ó médiuns! tirai proveito dessa faculdade que Deus vos quer conceder. Tende fé na mansuetude do nosso Mestre; tende a caridade sempre em prática; jamais vos canseis de exercer esta sublime virtude, bem como a tolerância. Que as vossas ações estejam sempre em harmonia com a vossa consciência. É um meio certo de centuplicar vossa felicidade nesta vida passageira e de vos possibilitar uma existência ainda mil vezes mais suave.
Abstenha-se o médium que entre vós não se sentir com forças de perseverar no ensino espírita, porque não aproveitando a luz que o esclarece, será menos escusável do que um outro, e só terá que expiar sua própria cegueira.
FRANCISCO DE SALLES
REVISTA ESPÍRITA 1861 » FEVEREIRO » ESCASSEZ DE MÉDIUNS
Os melhores médiuns estão sujeitos a intermitências mais ou menos longas, durante as quais há suspensão total ou parcial da faculdade mediúnica, sem falar das numerosas causas acidentais, que momentaneamente podem privar-nos de seu concurso. Acrescentemos ainda que os médiuns perfeitamente flexíveis, os que se prestam a todos os gêneros de comunicações, são ainda mais raros. Em geral possuem aptidões especiais, das quais importa não desviá-los. Vê-se portanto que se não houver elementos de reserva, podemos ficar desprevenidos quando menos o esperamos, e seria aborrecido que em tais condições os trabalhos fossem interrompidos.
O ensino fundamental que se vem buscar nas reuniões espíritas sérias é, sem dúvida, dado pelos Espíritos. Mas que frutos tiraria um aluno das lições dadas pelo mais hábil professor se ele também não trabalhasse? Se não meditasse sobre o que ouviu? Que progressos faria a sua inteligência se tivesse constantemente o mestre ao seu lado, para lhe mastigar a tarefa e lhe poupar o esforço de pensar?
Nas reuniões espíritas, os Espíritos desempenham dois papéis: uns são professores que desenvolvem os princípios da Ciência, elucidam os pontos duvidosos, e sobretudo ensinam as leis da verdadeira moral; outros são material de observação e de estudo, que servem de aplicação. Dominada a lição, sua tarefa está acabada e a nossa principiada: a de trabalhar naquilo que nos foi ensinado, a fim de melhor compreendermos e de melhor apreendermos o seu sentido e o seu alcance. É a fim de nos deixar o tempo livre para cumprirmos o nosso dever ─ permitam-nos a expressão clássica ─ que os Espíritos suspendem, por vezes, as suas comunicações. Bem que eles nos querem instruir, mas com a condição de que lhes secundemos os esforços. Eles se cansam de repetir incessantemente, mas inutilmente, a mesma coisa. Eles advertem. Se não são ouvidos, retiram-se, a fim de termos tempo para refletir.
Na ausência de médiuns, uma reunião que se propõe algo mais que ver manejar um lápis, tem mil e um meios de empregar o tempo de maneira proveitosa.
O LIVRO DOS MÉDIUNS » SEGUNDA PARTE - DAS MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS » CAPÍTULO XXXI - DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS » SOBRE AS SOCIEDADES ESPÍRITAS » XXV
Com que fim, as mais das vezes, pedis comunicações aos Espíritos? Para terdes belos trechos de prosa, que mostrareis às pessoas das vossas relações como amostras do nosso talento?
Preciosamente as conservais nas vossas pastas, porém, nos vossos corações não há lugar para elas. Julgais porventura que muito nos lisonjeia o comparecermos às vossas assembléias, como a um concurso, para fazermos torneios de eloqüência, a fim de que possais dizer que a sessão foi muito interessante? Que vos resta, depois de haverdes achado admirável uma comunicação? Supondes que vimos em busca dos vossos aplausos? Desenganai-vos. Não nos agrada divertir-vos mais de um modo que doutro. Ainda aí o que há, em vós, é curiosidade, que debalde procurais dissimular.
O nosso objetivo é tornar-vos melhores. Ora, quando verificamos que as nossas palavras nenhum fruto produzem, que, da vossa parte, tudo se resume numa estéril aprovação, vamos em busca de almas mais dóceis. Cedemos então o lugar aos Espíritos que só fazem questão de falar e esses não faltam. Causa-vos espanto que deixemos tomem eles os nossos nomes. Que vos importa, uma vez que, para vós, não há nisso nem mais, nem menos? Ficai, porém, sabendo que não o permitimos em se tratando daqueles por quem realmente nos interessamos, isto é, daqueles com quem o nosso tempo não é perdido. Esses são os que preferimos e cuidadosamente os preservamos da mentira. Se, portanto, sois tão freqüentemente enganados, queixai-vos tão-só de vós mesmos. Para nós, o homem sério não é aquele que se abstém de rir, mas aquele cujo coração as nossas palavras tocam, que as medita e tira delas proveito. (Veja-se o n. 268, perguntas 19 e 20.)
MASSILION
Pesquisa dos textos : Marciano Rodrigues Barbosa